“Trabalho tem. Falta quem queira trabalhar”

Amanda Menger
Tubarão

Notisul – A construção civil é um setor em expansão na região?
Sylvio
– O cenário da construção civil não só em Tubarão, mas no estado, e no país afora, é bom, principalmente com o programa Minha Casa, Minha Vida. Inclusive, devido a este programa, está faltando mão-de-obra. A região atravessa uma fase muito boa com a obra de duplicação da BR-101, do Aeroporto Regional Sul, dos portos. Estas obras fazem parte da construção civil e do crescimento da região. A dificuldade das empresas ligadas ao Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) é a mão-de-obra qualificada, está em falta. Trabalho tem, falta gente que queira trabalhar.

Notisul – Quantas empresas estão filiadas ao Sinduscon?
Sylvio
– São 18 construtoras de Tubarão. Nós estamos mudando o estatuto com apoio da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) para expandir para a Amurel. Com isso, pode até triplicar o número de empresas. Braço do Norte tem sete, oito construtoras, Gravatal tem mais duas, Jaguaruna mais três. Estas são empresas que nós conhecemos porque participam das concorrências públicas nas licitações do estado e dos municípios, fora construtoras de outros municípios.

Notisul – A construção civil tem crescido de forma geral, ou a parte residencial cresce mais do que as obras públicas?
Sylvio
– As obras públicas do estado sempre ocorreram. Em Tubarão, eu vejo que o governo do estado deixou um pouco a desejar, outros governos investiram mais. Na parte de obras públicas, está um pouco parado. Na construção de empreendimentos de incorporação, Tubarão cresceu 100%. Antes, tinham poucas construtoras que faziam incorporação. Hoje, tem mais de 20 empreendimentos em andamento. Antes, eram cinco, seis. Você pode andar pela Vila Moema, Centro, Dehon, por todos os lados tem construção civil e empreendimentos grandes, com mais de dez pavimentos.

Notisul – Tem se falado que este ano é atípico, com problemas financeiros decorrentes da crise mundial, das enchentes, da gripe A. Os prefeitos têm reclamado muito. As medidas tomadas pelo governo federal, com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de materiais de construção e o lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida evitaram que a crise chegasse aos canteiros de obras?
Sylvio
– A redução do IPI foi importante e o programa Minha Casa, Minha Vida também. Porque a classe C tem hoje a possibilidade de adquirir o seu próprio imóvel neste programa. Para as prefeituras, ficou difícil para administrar, porque tinham um custo e a redução do IPI refletiu nos repasses federais para os municípios. O prefeito Manoel Bertoncini (PSDB) está em início de governo, mas acredito que Tubarão poderia estar um pouco mais à frente. A prefeitura deveria investir mais em infraestrutura, para abrir mais a construção civil na cidade. Por que construir só na Vila Moema, no Centro e perto da Unisul? Por que não em Oficinas, no São João margem esquerda, no São Martinho, em Humaitá de Cima? São bairros mais afastados, mas ainda perto do centro, por que não investir lá? Para isso, precisa uma rua com esgoto, água, luz, calçada, tem que ter esse atrativo para o empreendedor ir lá comprar esse imóvel.

Notisul – O que pode ser feito para evitar esses loteamentos irregulares?
Sylvio
– O prefeito tomou uma decisão importante há alguns meses. O pessoal da Celesc e do Águas de Tubarão e mais o Conselho Municipal de Segurança propôs que para qualquer aprovação de projeto a pessoa tem que apresentar na prefeitura toda a documentação. Hoje, os loteadores têm que entregar aos compradores fossa, meio-fio, esgoto, energia elétrica e água.

Notisul – Qual é a tendência hoje da construção civil em Tubarão? Na Vila Moema e no Centro, os prédios são de alto padrão, realmente há mercado para isso?
Sylvio
– Mercado sempre existiu. Tu constróis e queres vender. Eu tiro pela minha empresa. Estou construindo hoje um prédio popular. O cliente que comprar e gostar do produto, quando eu lançar um outro empreendimento de padrão médio e ele tiver condições de comprar, dará o anterior de entrada e vai comprar um médio, daqui a pouco ele melhora o padrão de vida novamente e parte para um outro apartamento, com mais quartos, em outra localização. Com a concorrência, é preciso inovar. Há alguns anos, entregávamos o hall de entrada seco, hoje já é mobiliado. O público cobra isso e as construtoras observam. E o programa Minha Casa, Minha Vida, dará a possibilidade de mais pessoas terem a sua casa, seu apartamento.

Notisul – O fato de termos em Tubarão, na Unisul cursos de arquitetura e engenharia civil ajudou a melhorar o padrão das construções?
Sylvio
– Bota ajudar nisso! Há uns dez anos, nós tínhamos em Tubarão uns quatro engenheiros e dois arquitetos e você ficava preso a estes profissionais. Se eles investiam em suas carreiras, você tinha prédios cada vez mais bonitos, com novidades. Se eles ficassem quietos, a construção seria sempre quadrada, só ia mudar a pintura (risos), um era azul, outro amarelo (risos). Hoje, cada lançamento tem uma novidade. É um prédio redondo, com uma fachada cheia de detalhes, com cerâmicas diferenciadas, pintura com texturas.

Notisul – A maior parte dos materiais usados nas obras é daqui da região?
Sylvio
– Nós temos grandes grupos como a Cecrisa, a Itagres, a Eliane, a Portobello que atendem a construção de Tubarão. Não vou dizer que atendem 100%, tem empresas de São Paulo, tem porcelanato importado também. Hoje, a China tomou conta do mundo inteiro, não é só o vestuário. Eles têm grandes empresas de revestimento cerâmico, de tintas e produtos de qualidade. É uma briga boa. As empresas brasileiras terão que investir em maquinário, investimento para reduzir custos. Hoje, tem empresas de cerâmica que compram o produto da China e embalam no Brasil, com a marca brasileira, para ver que o produto tem qualidade e o custo é mais baixo. A lei trabalhista deles é um pouco complicada. Acho que no Brasil é preciso repensar isso também, porque a concorrência é grande.

Notisul – Como estão as negociações para a abertura da escola da construção civil?
Sylvio
– Essa é uma conquista muito bacana. Nós envolvemos muita gente. Não só do Sinduscon, mas de outros sindicatos, como os madeireiros, da cerâmica. Recebemos o apoio da Fiesc e, após uma reunião com eles, decidimos pela escola. Alguns me chamaram de louco. Mas todos vestiram a camisa. Conseguimos um terreno de 20 mil metros quadrados que já foi doado à Fiesc. Esta foi uma conquista que teve o apoio também do vereador Dionísio Bressan Lemos (PP) e do secretário de indústria e comércio de Tubarão, Estener Soratto Júnior. Aliás, Estener é uma grande revelação. Quando falaram que ele ia ser o secretário, não imaginava que ele ia fazer o que está fazendo hoje. Achei que seria mais um que pegaria um cargo político e não faria nada. Mas ele me surpreendeu, com boas ideias, pensa para frente. Aí apresentamos a ideia da escola para o prefeito e ele comprometeu-se em dar a infraestrutura para o terreno, já no ano que vem. E a Fiesc fará o projeto e a construção. Será uma escola com diversos cursos do Senai, de carpintaria, mecânica, cerâmica, hidráulica. A escola será próximo ao Estádio Domingos Silveira Gonzales. Esta será uma obra de uns 18 a 24 meses e irá desenvolver muito o bairro.

Notisul – Todas as áreas da construção civil têm dificuldade de encontrar profissional qualificado?
Sylvio
– A Unisul forma, todos os anos, engenheiros e arquitetos. Uma parte fica em Tubarão e outros saem. Essa parte técnica tem bons profissionais. Mas pedreiro, servente, carpinteiro, colocador de piso, encanador, eletricista é difícil. Hoje o meu colocador de piso trabalha para outras duas empresas também. Se as três empresas estão colocando piso, a coisa complica. Eu tenho que trazer mão-de-obra de Araranguá, de Arroio do Silva, de Florianópolis, para tocar obra em Tubarão.

Notisul – Em termos financeiros, é bom trabalhar na construção civil? Por que se tem aquela ideia de que a construção civil é a opção para aquele que não quis estudar…
Sylvio
– Nossa, eu tenho até vergonha de falar isso (pausa). A família da minha esposa é de professores, e eu comento muito lá em casa, que hoje, um bom pedreiro, um colocador de piso, ganha três vezes mais do que um professor. É uma pena a gente falar isso. Uma pessoa que não estudou ganha mais do que um professor. E o professor tem que estar sempre fazendo cursos de atualização, leva trabalho para casa, além de se incomodar com os pais de alunos, e o compromisso que ele tem perante a comunidade: de formar as crianças e ganhar o salário que ganha. Já falei para muitos colegas que trabalham em educação: vai fazer um cursinho técnico de colocador de piso. Tu vai ganhar mais, não vai ter que corrigir prova. Deu o fim do expediente e vai para casa descansar. Sabemos que a maioria dos trabalhadores da construção civil não tem uma escolaridade alta, por isso, queremos levá-los para a escola. Para que possam melhorar o seu trabalho e até ganhar mais. Tive uma reunião esta semana na Unisul, com a participação do secretário de indústria e comércio da prefeitura, e vamos ver como a universidade pode ajudar a qualificar a mão-de-obra da construção civil.

Notisul – Isso é importante, até porque a tecnologia também chega ao canteiro de obra…
Sylvio
– Com certeza, porque quando chega a novidade, ele não sabe usar. Às vezes, é só apertar um botão, mas tem que ler o manual de instruções. Muitos não sabem ler, e os que sabem leem e não entendem. É difícil ter que explicar tudo e isso toma tempo. Em obra, isso é fundamental. Esse é outro motivo para levá-los para a escola.