“Trabalhar com a construção é mais difícil do que se imagina”

Eraldo Tadeu da Rosa tem 45 anos e é natural de Armazém. Começou a trabalhar aos 12 anos em um bar com o pai, que logo em seguida foi ser pedreiro e contava com a ajuda de Eraldo como auxiliar. Já aos 17 anos entrou em um estágio no Besc por seis meses remunerado e outros seis meses sem a renovação do contrato, mas pelo aprendizado. Aos 20 anos começou a negociar carros em Armazém. Nesse trabalho ficou até os 25 anos, quando começou a negociar caminhões pesados em Tubarão. Ainda lembra, com o sorriso de um garoto, quando chegava nas empresas para comprar e todos perguntavam se era realmente o Eraldo dos Caminhões. “Não me davam muito crédito porque eu era um garoto que negociava caminhões caros, eu tinha dois, mas eram caros”, relembra. Depois disso, montou uma filial em Joinville e no interior de São Paulo, onde acredita ter sido a melhor escola de sua vida. Aos 40 anos montou a Eraldo Construções e tem como principal projeto o desejo de consumo dos clientes pela qualidade dos produtos. Foi casado duas vezes e tem três filhas. Estudou até o segundo grau e hoje incentiva as filhas e os funcionários da empresa.
 
 
Fernando Silva
Tubarão
 
 
Notisul – Como está o mercado para a construção civil no município de Tubarão?
Eraldo Tadeu Rosa – Hoje, o mercado da construção civil em Tubarão está extremamente aquecido. Se vai ter demanda para tudo isso nos próximos cinco anos é uma lacuna. Agora, é fato que Tubarão, para se morar, hoje na região da Amurel, é o sonho de muita gente. É o melhor município que tem. Tubarão está próxima da serra, do mar, de Porto Alegre e de Florianópolis. Com a finalização da BR-101, que esperamos que em mais dois anos esteja toda pronta, nós estamos próximos de tudo. Então, acredito que nos próximos dez anos, muita gente vai querer vir morar aqui pela qualidade de vida. Temos a universidade, temos os melhores médicos do sul. Tubarão está muito bem estruturada.
 
Mas do seu ponto de vista, o que a cidade precisa melhorar?
Eraldo – Cada um tem que fazer a sua parte para uma cidade mais bonita. Hoje, temos casos de pessoas que ficam apenas criticando que o prefeito que tem que fiscalizar e fazer tudo mais…Quero deixar claro que concordo que ele tem que fazer a parte dele, mas cada um faz a sua. Porque daí é fácil falar que o prefeito não faz nada, se eu também não faço. Hoje, qualquer um que passar na beira-rio pode ver um terreno que nós compramos, era mato e a calçada estava quebrada. Hoje, tem tapume, calçada e nós não vamos construir. Outra coisa que me preocupa é que existe uma disparidade de cultura da seguinte forma: Tem muita gente que tem terrenos aqui na cidade que valem de R$ 300 a R$ 500 mil, terrenos sujos, sem cercar. E esse mesmo cidadão compra um carro de 40 mil reais e ele lava e encera todas as semanas, e esse carro vai depreciar, enquanto o terreno valoriza. Então, ele está deixando de cuidar de um bem maior dele, para cuidar de algo que desvaloriza. Nós pensamos de outra forma. Cuidar dos terrenos ajuda a embelezar a cidade. Se cada um fizer a sua parte melhora 50%.
 
Notisul – Sobre a questão de acessibilidade em Tubarão, como você avalia hoje?
Eraldo – Estamos em um momento em que as pessoas reclamam que Tubarão está de mais, que não dá para andar em dia de chuva, mas não é só Tubarão. Eu sei porque conheço a realidade de outras cidades no Brasil e todas tem esses problemas. Houve uma avalanche de carro nos últimos dez anos, com maior facilidade das montadoras em produzirem e venderem. Só que está na hora de nós recuperarmos o tempo perdido em relação à acessibilidade de bicicletas. Se nós priorizarmos e realizarmos as próximas ruas e obras aqui ou em qualquer lugar, diminuindo o espaço do carro na rua, forçando que as pessoas façam o trânsito de bicicleta, eu apoio essa situação. Aqui na nossa beira-rio foi feito um projeto. Iniciou-se a obra e faz 12 anos que mexeram e não terminaram. Então, porque começar? Causaram um transtorno, você vem caminhando e em alguns pontos tem que ir para o meio da rua e voltar. Porque já não foi pensado melhor? Então, assim, dá para melhorar, dá, mas temos que nos empenhar mais.
 
Notisul – E dentro das obras? É comum ver prédios antigos que não apresentam o mínimo de acessibilidade para as pessoas.
Eraldo – Somos preocupados com a acessibilidade. Tanto é que todo salão de festa nosso tem banheiro para deficientes. Desde os projetos do Minha casa, Minha Vida, até os de padrão mais elevado. Agora, é fato que há dez anos atrás não se preocupavam com isso. Existem alguns prédios mais antigos com uma série de problemas assim. Mas hoje, esse cenário mudou. Tudo é pensado na facilidade do acesso. Mesmo porque o público quer isso. As pessoas cobram isso. Então quem não está focado no que o público exige e que fica simpático para a sociedade. Penso que algumas coisas são erradas no caso de prédios no centro com 80 apartamentos com apenas uma vaga para cada um. Isso quer dizer que vão ter carros estacionados nas ruas, nas proximidades, porque as famílias tem mais de um carro, e todos recebem visitantes.
 
Notisul – Em relação ao plano diretor da cidade, como está?
Eraldo – Eu penso que enquanto não votarmos o plano diretor, que está pronto e na Câmara, que precisa de urgência, vão continuar a fazer obras dentro de Tubarão da maneira errada. Hoje, tem prédios que se entrar um caminhão baú na rua nada passa, por causa da marquise do prédio. Porque muitas vezes, quem constrói tem o aval do plano diretor. Já estamos fazendo uma pressão nessa questão com o nosso sindicato, mas quando chega nos vereadores começam os interesses, as discussões partidárias e quem acaba perdendo é o município. Tomara que votem neste ano. Agora, depende deles, de forma urgente. Precisamos votar. Organizar melhor a cidade. Deixar mais bonita, melhorar a funcionalidade das coisas.
 
Notisul – Uma das questões mais discutidas é a mão de obra na construção civil. Quais as dificuldades da região hoje?
Eraldo – Temos, aqui no sul, uma mão de obra com qualidade maior do que em outros locais, porém, nossa grande dificuldade, hoje, é pelo nível das obras que são feitas, que são mais complexas e, em segundo, porque o pessoal não está querendo mais ser auxiliar de pedreiro. Porque o pedreiro, o carpinteiro e o ferreiro se encontram. Mas os auxiliares, que são os meninos que estão começando, esses estão escassos. Daí temos que partir para a construção mecanizada, utilizando máquinas e ferramentas mais modernas como, por exemplo, gruas nas obras, que é a única maneira de minimizar essa falta. Hoje, temos uma máquina que levanta 17 metros de altura e se move 17 metros para frente. Ou seja, ela pega um pallet de tijolos do caminhão e coloca lá na laje. Então, uma máquina dessas faz o trabalho de 20 homens, o que acelera o processo. A grua substitui de 15 a 20 homens. Fala-se em tirar, mas o termo é realocá-los. Porque cada um pode trabalhar melhor na sua função, melhorando a qualidade do serviço, sem ter que descarregar peso, proporcionando também uma melhor condição de trabalho. Temos uma preocupação muito grande também com a segurança no trabalho. Hoje, um técnico fiscaliza diariamente nossas quatro obras para ver se tudo está de maneira correta. Além disso, trabalhamos com uma política de tratar bem os funcionários, incentivo às palestras e capacitação. Temos buscado muito isso. A maior qualificação da mão de obra. 
 
Notisul – Também há casos de rotatividade dos trabalhadores e contratação fixa dos funcionários das obras?
Eraldo – Com três meses é um contrato normal, de experiência. Depois disso, se a empresa ver que o funcionário tem aquilo que procuramos, ele é efetivado, registrado conforme a categoria e são dados todos os direitos como férias, décimo terceiro, vale alimentação, uniformes. Mas há o grande entra e sai dos auxiliares, esses sim, troca-se muito. 
 
Notisul – Hoje, as obras geram grandes quantidades de lixo, como madeira por exemplo. Há formas de reduzir isso?
Eraldo – Sim. Utilizamos escoras de metal em vez das de madeiras. A escora de madeira custa 10% do que é investido na metálica. Mas a metálica é mais prática, se utiliza em outra obra. Porque não temos mais onde descartar as madeiras. Além disso, o aspecto da obra muda. Fica com um visual externo durante a construção, mais leve. Então, em relação ao sistema construtivo, Tubarão precisa melhorar bastante. Mas já está próximo do ideal. Outra coisa que utilizamos são cubas de plástico para moldar a laje, que são utilizadas em até 20 prédios. Então, não há descarte de madeira nesse caso também. Os ferros compramos dobrados e medidos do tamanho certo, para evitar ter que cortar e gerar sobras. E, dessa forma aumenta o custo da obra, mas a longo prazo compensa o investimento. Uma grua, hoje, custa R$ 300 mil. Para uma obra não vale a pena, mas já na terceira, ela está paga.
 
Notisul – Como é trabalhar com a construção civil?
Eraldo – É mais complexo do que muitos imaginam. Por exemplo, você compra um carro hoje, usa, não gosta. Depois de um tempo você vai em uma revenda e troca. Um apartamento, é um sonho de uma família e as pessoas fantasiam com isso, de que vão morar em tal lugar. Mas chega no prazo não está pronto. E quando fica pronto, começa a se incomodar, e aí chama os responsáveis e não vem  ninguém. Então, eu sou muito detalhista, foco muito nisso. Hoje, quem comprar conosco tem um padrinho aqui dentro. Se houver problema na entrega é essa pessoa que vai buscar solucionar a questão. Então, quando se mexe com sonhos não pode se ter margem de erro. Fico preocupado quando vejo prédios sendo lançados com seis meses de projeto. Acho que não é tempo para se por toda a alma naquele negócio. Tem que amadurecer a ideia. É um detalhe de uma porta, um rodapé, um acesso simplificado. Hoje, temos 330 funcionários diretos, desde engenheiros até o pessoal da obra. Então, você também tem um grande número de pessoas dependendo e contando com você.
 
Notisul – Nessa questão da demora das entregas, como você avalia?
Eraldo – Como eu falei, se trabalha com sonhos e quando se mentaliza que no dia 30 de dezembro de 2014 vai entrar em um apartamento e chega no dia e você não entra… Para o dono da construtora é fácil porque ele está vivendo bem, mas você está de aluguel. Então, a nossa filosofia é de tocar aquilo que temos condições de cumprir. Se são quatro obras, assim faremos. Quero honrar minha palavra. Até agora, em cinco anos entregamos 11 obras. Todas no prazo.
 
Notisul – Há fiscalização nessa questão dos atrasos?
Eraldo – A pessoa tem um contrato onde diz que a empresa pode atrasar até seis meses. Porque pode realmente acontecer de pegar meses com muitos dias de chuva. Aqui, em outubro chove muito. Mas, por outro lado, dá para pegar o cronograma, e para fugir disso acelerar. Mas se olharmos a história, nas grandes cidades, no ano de 2010, as construtoras lançaram tudo o que tinham nas gavetas. Houve uma explosão no crescimento da engenharia civil. Só que não contavam, ninguém sabia que faltaria mão de obra. Todas as grandes construtoras tiveram perda de ações na bolsa, todas tiveram prejuízo em 2011, por ter lançado muitos projetos em 2010. Temos obras em atraso de dois anos aqui em Tubarão. Em Criciúma, temos empresas proibidas de lançar qualquer empreendimento. Isso porque todos foram na onda do calor do mercado. Há cinco anos atrás, para se construir um prédio com o nosso padrão, o custo da mão de obra por metro quadrado era de R$ 300,00. Hoje custa com o mesmo padrão R$ 480,00. Ou seja, temos um aumento de 60% de aumento na mão de obra. O pedreiro que ganhava R$ 1,5 mil, hoje recebe R$ 2,8 mil, fichado e não se acha. Tudo subiu, mas a mão de obra foi muito mais. 
 
Notisul – Há alguns anos surgiu na cidade dúvidas a respeito de obras sem construtoras, por meio de sociedades. O que você acha do caso?
Eraldo – Acontece muito fácil em Tubarão. Hoje, confesso que não sei como anda, mas há dois anos algumas pessoas pegavam um terreno, chegavam e diziam: “Te prometo que esse apartamento de R$ 180 mil, que você está comprando, por R$ 100 mil”. Recolhiam o dinheiro e seguiam prometendo. Não cumprem prazo e há o problema de que se der um acidente de trabalho você e os demais condôminos são os responsáveis. Todos os riscos são divididos entre os moradores. Já a incorporadora, é ela que é responsável por todos os atos, mas, claro, existem casos de incorporadoras que não conseguem terminar a obra. Portanto, eu recomendo para quem tiver interesse em comprar um imóvel em construção, adquirir de empresas com dinheiro em caixa para a obra. Capitalizadas. Essas vão terminar o prédio. Conferir o histórico da empresa e a localização do imóvel. Fico com muito medo porque tem gente que tudo o que tem na vida são R$ 300 mil. E aí essas pessoas investem em um imóvel que dá problema e isso é muito triste.
 
Notisul –  Como é o incentivo do governo nas obras, com programas como, por exemplo, o Minha Casa, Minha Vida?  
Eraldo – Como tudo o que o governo tem lançado nos últimos tempos, fazem sem saber como vai funcionar direito e depois os ajustes. Eles lançaram o programa permitindo que as construtoras fizessem os empreendimentos em ruas sem calçamento e saneamento. Depois foi ajustado. Hoje, tem que ter. Mas acho isso correto. Temos muitas construtoras que pegam projetos do Minha Casa, Minha Vida para fazer depósito de pessoas. Mas existem boas obras, bem localizadas. O que fomenta muito o mercado da nossa região hoje. Se não tivéssemos ele, teríamos muitas obras sem poder avançar. Sem recurso. Porque a construtora recebe conforme o avanço da obra. O engenheiro da Caixa Econômica avalia conforme o cronograma apresentado para a caixa.  Enquanto isso, o comprador financia, mas paga o juro apenas daquela parte que foi paga pela Caixa. Além disso, é mais barato pagar a prestação do que um aluguel, até porque depois o imóvel é seu. Hoje, nós somos a única construtora do estado que, pela Caixa, montou um apartamento decorado do Minha Casa, Minha Vida, para mostrar aos clientes. Fica aqui em nosso escritório. Mas porque fomos os únicos? Pelo lucro gerado pelo programa, que é muito reduzido. Mas nós temos que mostrar ao comprador, ter o respeito de mostrar a ele. 
 
Notisul – Qual é o sentimento de quando um cliente chega ao ponto de conseguir trocar o primeiro apartamento dele com vocês por um melhor, também de vocês?
Eraldo – Aí é a colheita desse trabalho. Mas melhor que isso, ainda é chegar em um terreno baldio e visualizar. E depois por 160 famílias naquele terreno, criando uma nova fase, uma nova vida. Isso sim não tem preço. 
 
 
Eraldo por Eraldo
Deus – Tudo.
Família – Necessária.
Trabalho – Prazer.
Passado – Minha maior faculdade.
Presente – Certeza de estar no caminho certo.
Futuro -Se deus me der saúde, só paro aos 90 anos.
 
 
"Não posso fazer um imóvel e não aceitar ele na troca por um outro.” 
 
“Nosso trabalho é fidelizar o cliente”
 
"Entendo que a frente da minha casa, até a calçada, a responsabilidade é minha. Se o meio fio esta feio, eu tenho que arrumar".
 
"O tratamento de um comprador de um apartamento de R$ 100 mil e o que compra um de R$ 1 milhão tem que ser o mesmo. Cada um tem o seu sonho e isso não tem preço".