“Temos forte preocupação em não propagar inverdades”

José Nazareno Corrêa é natural de Capivari de Baixo, tem 57 anos, é casado e pai de duas filhas. Ele é formado em administração de empresas pela Unisul e pós-graduado em previdência privada pela Faculdade de Ciências Sociais (Cesusc), em Florianópolis. Trabalhou na Eletrosul/Tractebel durante 34 anos. Foi presidente e diretor de previdência do Sindicato dos Eletricitários do Sul de SC (Sintresc). Atuou como conselheiro deliberativo da Fundação Elos (Fundo de Previdência Privada dos Trabalhadores da Eletrosul). Exerceu por sete anos o cargo de diretor administrativo e financeiro do Fundo de Previdência Privada dos trabalhadores da Tractebel (Previg) e demais empresas do grupo no Brasil. É vereador em Capivari de Baixo, em seu primeiro mandato, eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Jailson Vieira
Capivari de Baixo

Notisul – Quais foram as suas maiores ações nesses três anos de mandato?
Nazareno Corrêa – Desde a posse, me dedico constantemente a cumprir a principal função de um vereador, que é fiscalizar. Estudo, analiso e reflito antes de falar ou tomar decisões, usar a tribuna e votar. No meu mandato, há uma forte preocupação em não propagar inverdades, injustiças ou qualquer informação que possa ser refutada. Também optamos por ser um mandato participativo, ou seja, acessível e receptível a qualquer cidadão, independente de partido, ideologia, mas a serviço do município. Outra característica que procuramos manter é o diálogo permanente com a população, estamos sempre em algum bairro, visitando, interagindo com os moradores, na forma de compreender melhor e ser porta-voz das necessidades.  

Notisul – O senhor encaminhou um pedido ao prefeito, onde solicitava um caminhão-pipa para o município. E recebeu um ofício do executivo que alegava a já existência de um contrato com a Saneatec Saneamento e Tecnologia. Esse acerto era de seu conhecimento? 
Nazareno –
Na verdade, não se trata de um pedido, mas de um projeto de lei, aprovado por unanimidade pelos vereadores o qual determina que o morador de Capivari que ficar mais de 24 horas, ininterruptamente, sem o fornecimento de água, terá direito a abastecimento por caminhão-pipa, no qual pagará os mesmos valores cobrados pelo fornecimento via medidor. Porém, o prefeito vetou o projeto. E no conteúdo do ofício do veto é citada a empresa Saneatec Saneamento e Tecnologia, o que automaticamente chamou nossa atenção, pois até então conhecíamos as empresas Raiz Soluções Inteligentes e MBC Saneamento Ambiental. O aparecimento de uma terceira nos causou estranheza e preocupação, o que nos levou à pesquisa, investigação e levantamento de informações. Descobrimos que a Saneatec Saneamento e Tecnologia e a Raiz Soluções Inteligentes são a mesma empresa, possuem o mesmo CNPJ. Esta última mudou a razão social em agosto do ano passado, talvez com o objetivo de modificar a imagem da empresa frente aos escândalos de desvio de dinheiro público.  

Notisul – Se há esse problema, existe uma solução a ser tomada?
Nazareno –
Sabemos que há um contrato desde 2010 com a empresa Raiz Soluções Inteligentes, contudo nunca tivemos acesso ao documento, nem mesmo por meio de requerimento que já solicitei ou pelo Portal da Transparência. O tema ‘água’ em Capivari é polêmico e antigo, e se arrasta desde 2010, quando os serviços foram municipalizados. Tudo acumulou e se agravou em decorrência do tempo. Problemas com a falta e a qualidade de água, questões financeiras, processos judiciais. Apesar de haver uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) instalada na câmara de vereadores, nosso mandato está em ampla investigação, pesquisa e consulta com poderes governamentais e profissionais da área, com o propósito de contribuirmos para a solução do problema. Sou defensor da volta da Casan, por questões simples. Um município de pouco mais de 23 mil habitantes e com cerca de 7,5 mil pontos de consumo. Se pensarmos no ciclo completo: captação da água, tratamento, distribuição, captação e tratamento do esgoto, e devolução à natureza, o custo do metro cúbico será extremamente elevado ao consumidor, pois não há ganho de escala (poucos consumidores para custos fixos elevados).  

Notisul – O concurso público da câmara na última gestão gerou polêmica. Até agora não houve um entendimento. E o da prefeitura, as vagas estão mapeadas?
Nazareno –
O concurso público da câmara de vereadores está em processo judicial conforme informação da promotoria pública. No ano passado, o Ministério Público propôs à câmara um Termo de Ajustamento e Conduta (TAC), que não foi acatado pelo presidente do legislativo na época. Dessa forma, o ministério encaminhou a abertura de processo judicial. Quanto aos concursos públicos lançados pelo executivo em 2014, encontramos discrepâncias e contradições ao ponto de efetuarmos a denúncia ao Ministério Público, que juntaram mais de 200 páginas. Não posso afirmar algo sobre mapeamento, relato que tenho procurado e solicitado a lista com o nome dos aprovados do concurso 02/2014 e não tive resposta. Usei a tribuna, enviei requerimentos, fiz contato com a empresa que aplicou o concurso, pesquisei no portal da transparência, no site da prefeitura, publiquei nas mídias sociais e até esse momento nenhum nome de aprovado nos foi revelado. Além das dúvidas, isso dá margem a qualquer interpretação. 

Notisul – Recentemente uma empresa saiu do município, pois os moradores reclamavam do barulho e outras situações adversas. Não haveria um local mais afastado para que a empresa pudesse se instalar?  
Nazareno –
Hoje, Capivari não possui um metro quadrado para instalação de novas empresas e observamos que na área industrial algumas não produzem absolutamente nada. Importante destacar que na primeira administração, o então prefeito Agostinho Sachetti decretou várias áreas da antiga Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de utilidade pública, dentre elas uma que fica entre a BR-101 e o Rio Capivari. Estranhamente, no primeiro ou segundo governo do ex-prefeito Brunel, por iniciativa dele, a câmara de vereadores da época derrubou o decreto de utilidade pública daquela área, onde são retirados o carvão fino que a CSN depositou por décadas. Poderíamos ter aquele local ainda público com concessão da retirada do carvão fino rendendo dividendos diretos ao município e depois de concluso ser a grande área industrial de Capivari de Baixo. Tudo isso longe de residências e oportunizando não apenas a permanência de empresas no município como também a vinda de novas. Esperamos que o novo plano diretor possa estabelecer condições para a instalação de novas empresas. 

Notisul – Após um ano e quatro meses, o Prontoatendimento está prestes a ser inaugurado. Essa obra demorou tanto por quê?      
Nazareno –
Quando o Prontoatendimento 24 horas fechou no fim de setembro de 2013, afirmei que os cupins e o risco de curtos-circuitos foram os bodes expiatórios do real problema, que eram as contas da prefeitura, pelo ritmo de gastos naquele momento, sobretudo com a folha de pagamento e assim continuou fechado por tanto tempo pelo mesmo motivo. Na época, mostrei os números ao Ministério Público provando que o problema era financeiro. Afinal, por causa de uma obra não é necessário fechar toda a estrutura. 
      
Notisul – Por que o vice-prefeito foi à câmara na última segunda-feira esclarecer algumas questões? Ele e o prefeito não estão em consonância?
Nazareno –
Já é de conhecimento público que os dois estão rompidos há algum tempo. Estranho é que somente agora, após dois anos de um dos fatos, o vice-prefeito resolveu denunciar os gastos com a reforma da capela mortuária no valor de aproximadamente R$ 93 mil, ocorrida no início de 2013. Isto caracteriza prevaricação, ou seja, conhecer os fatos e não denunciar. 

Notisul – O senhor pretende ser candidato a prefeito no próximo ano? 
Nazareno –
Sim, pretendo. Sou defensor de uma administração mais enxuta, com cargos de confiança, mas com capacidade de gerenciamento e gestão, combinando o político e o técnico. Uma gestão com menos secretarias e cargos comissionados. Nossa cidade é pequena, onde a maioria das pessoas se conhece ou sabe quem é quem. E com essa característica específica, proponho uma prefeitura mais próxima da população, com uma comunicação direta e participativa. Como administrador de empresas, defendo a implantação do orçamento participativo e da prestação de contas da prefeitura publicada à disposição dos cidadãos. 

Notisul – E sobre as diárias dos vereadores? Qual a sua posição? 
Nazareno –
Em relação às diárias, fui em dois eventos pela câmara de vereadores, em Florianópolis, em 2013. Estive várias vezes na capital devido a demandas do mandato, mas não utilizei qualquer estrutura ou recursos do legislativo. Não que condene, pois muitas vezes cursos, viagens e reuniões são essenciais ao mandato. Acredito que possa ocorrer um exagero na participação em cursos, sendo que boa parte do conteúdo não me atraiu, razão da minha não participação. 

Notisul – Os políticos que estão na ativa há muitos anos, não deveriam dar lugar a novos gestores?
Nazareno –
Sim. Isto é uma tarefa que está muito mais nas mãos do eleitor, na observação do comportamento dos candidatos durante suas campanhas. De nada adianta a população votar em um novo gestor com discurso renovador, quando a sua campanha é recheada de velhas práticas políticas, que vão das festas regadas a muita bebida, combustível em troca do adesivo no carro, compra de voto e promessas de emprego. Mudança não é trocar os atores para a mesma novela. Defendo o limite de reeleições para os cargos legislativos a exemplo dos executivos. Não que se deva impedir que um parlamentar, após um período sem mandato, não possa disputar nova eleição. Agora, não adianta falar em novos gestores com velhas práticas. 

Nazareno por Nazareno
Deus
– O tempo todo presente
Família – Fundamental! O nosso porto seguro
Trabalho – Me sinto útil e faço com prazer, a exemplo deste mandato como vereador
Passado – Uma referência muito acolhedora de lembranças e formação humana
Presente – Viver em harmonia e respeito com o próximo e a natureza
Futuro – De dias cada vez melhores

"Vivemos um momento de grandes manifestações contra a corrupção que tem a sua causa na nossa legislação eleitoral, no modelo de financiamento privado de campanha".