“Tem que existir um entendimento corporal”

Victória Brasil é a Tóia. Uma mulher apaixonada pelo trabalho. Aos 53 anos, 35 são dedicados à academia de atividade física e reabilitação. Formada há 13 anos em fisioterapia pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), atualmente cursa educação física. Ama dançar e ensinar. Tóia passa grande parte da sua vida dentro da academia que, conforme ela mesma define, é uma extensão do lar. Casada há 28 anos com Henry Brasil Filho, ambos atuam juntos, com tarefas distintas. Administram o espaço com o cuidado de manter um ambiente familiar com características de uma academia de bairro. Gerações passaram, momentos únicos de alegrias, tristezas, aprendizado e vivência. E nesta jornada, a dedicação e a paixão pelo trabalho é o que fazem esta mulher guerreira levantar diariamente e estar pronta para viver mais um dia de realizações.

Letícia Matos 
Tubarão

 

Notisul – Este mês marca os 35 anos da Academia Tóia. Como tudo começou?
Tóia –
Meu interesse iniciou na adolescência quando a Iara Cabral abriu um espaço no Clube 29 de Junho e dava aulas de dança. Ali descobri o que realmente gostava. A professora precisou fazer uma viagem ao exterior e fiquei de substituta. Na época, a academia se chamava Roda Viva e foi lá que comecei, em 1979. Minha família viu o meu interesse, sentiu que eu gostava mesmo de dar aulas. Então, meu irmão e meu pai se engajaram e me deram a primeira salinha. De 1980 a 1986, minha mãe era minha parceira e cuidava de tudo na academia. 

Notisul – Com qual modalidade você se identificou?
Tóia –
O jazz era o meu carro-chefe, mas minha formação é em balé clássico. A base para qualquer estilo de dança tem que ser o balé clássico. Com 17 anos, comecei no Ballet Stagium, onde participei durante anos dos cursos de férias. Os primeiros foram em Porto Alegre, no Ballet Vera Bublitz e Academia Mudança, que ensinavam vários estilos. Ali conheci todas as modalidades e ritmos. Meu primeiro curso de férias em São Paulo foi no Ballet Stagium. Tinha dança para iniciante, intermediário, e eu sempre fazia o clássico com o jazz. Na década de 80, o jazz era muito forte e existiam muitas escolas em São Paulo e todas próximas. Em Tubarão, foi um período em que fui professora de ótimas alunas. Nós tínhamos um grupo, onde elas se destacavam e dançavam muito bem. Posso citar alguns nomes como o de Vanessa Francalacci, Mirna Graciela e Regina Antunes… Elas eram demais. Hoje cada uma seguiu sua profissão. Durante muito tempo trabalhei somente com aula de dança. Era uma meninada que hoje são casadas, mães, avós e ainda alunas. Criamos dentro da academia uma família muito grande. Tive a oportunidade de sair para centros maiores, mas sempre gostei do que fiz e quis realizar aqui em Tubarão.  

Notisul – Quando veio o interesse em fazer a graduação em fisioterapia?
Tóia –
Nos anos de 1985 e 1986, iniciamos a ginástica aeróbica. Então comecei a estudar. Estive na Ala Szerman, pioneira em promover atividades físicas. Como eu tinha muito a base da dança, ela possuía toda a questão postural, de ginástica localizada. A ginástica aeróbica era o ritmo do jazz, que começou a sair de moda.  Então, muitas pessoas da dança migraram para a aeróbica, tanto que virou uma modalidade competitiva por muito tempo. Era uma ginástica coreografada. E, aos poucos, chegou o alongamento. Depois, com a regulamentação da educação física, eu já tinha muitos anos de academia e dentro do Conselho Regional de Educação Física (Cref), sou instrutora de ginástica. Fiz a fisioterapia há 13 anos pela Unisul. O curso abriu um outro leque no meu conhecimento. Agradeço muito a oportunidade de ter feito aqui em Tubarão a graduação e agora curso algumas disciplinas de educação física. Também espero me formar, mas devagar, aos poucos, porque a academia me toma bastante tempo. 

Notisul – O que a academia disponibiliza hoje?
Tóia –
A ginástica, que chamo de ginástica integrada porque consegui colocar um pouquinho de informação de tudo que aprendi e o que entra no mercado. Dou minhas aulas continuamente com a preocupação de ensinar – uma característica forte que tenho dentro de mim. Gosto de corrigir, fico muito atenta ao detalhe. Enxergo os detalhes no corpo de cada um. Consigo chegar devagar e mostrar para o aluno que ele precisa entender o funcionamento de seu corpo para, assim, identificar o que realmente deseja. Também temos a aula de alongamento onde uso muito minha experiência do balé com minhas formações da fisioterapia. A reeducação postural global (RPG), o método Souchard, tem uma visão mais terapêutica e coloca dentro da execução a resistência, a força, a facilidade de como chegar à dificuldade por meio de uma boa postura, um bom alinhamento, uma boa respiração. Também tenho os alunos individuais, onde o trabalho é mais objetivo. Dentro da reabilitação, possuo um espaço com a reeducação – que é um método meu com a influência do pilates, o qual também tenho formação. Contamos com o professor Felipe Silvestre que trabalha dentro de um espaço de musculação – que favorece um número reduzido de alunos para manter a qualidade. 

Notisul – São mais de três décadas. Nesse período, os objetivos das pessoas mudaram?
Tóia –
Vivemos em um momento ainda onde o que o outro olha é o mais importante. Todos querem estética. Mas a estética é o resultado, o produto final de uma atividade bem feita. É uma soma. É aquilo que tu és, tua família, alimentação, trabalho, a consciência, esse ser como um todo. Agora, se deixar de comer para emagrecer ou fazer um treino muito desproporcional ao condicionamento, isso prejudica. É uma estética que terá o seu preço. O que procuro sempre passar é que a estética é importante, as pessoas querem estar bem. Mas a saúde, a qualidade de vida, aquilo que buscamos tem que acontecer junto. Assim teremos uma resposta bacana.

Notisul – Na academia tem um público muito fiel que te acompanha há anos. A que se deve esta fidelidade?
Tóia –
Não sei se é o cuidado que tenho com cada um ou a forma de como eles aprenderam a fazer a aula. Aquela coisa de encaixar, alinhar… Eles já têm uma facilidade na hora do trabalho. É uma academia, onde há 35 anos os profissionais estão em constante atualização. Sempre em cursos, congressos, seminários, nunca fiquei um ano sem saber o que está acontecendo e isso uso no meu trabalho sempre. Todos hoje possuem um tipo de aula, um método. A minha tem o meu estilo e sempre com novas informações. Mas sempre fiel aquilo em que acredito. Na simplicidade de uma aula bem feita sempre com a inovação. 

Notisul – Como você vê a busca pela atividade física nos dias de hoje?
Tóia –
A ginástica, a atividade física faz parte da vida. Está inserida no contexto de uma rotina exaustiva de trabalho, de estresse. A atividade física ajuda a ter disposição, pique, raciocínio mais rápido para fazer várias tarefas. Mas tem que ser bem executada. As pessoas têm que ter um entendimento corporal para ter ganhos. A atividade física traz saúde, flexibilidade, entendimento postural, várias habilidades. Mas, para que esse conjunto flua tem que fazer cada vez mais de forma consciente. Cada vez mais os médicos, nutricionistas, terapeutas, psicólogos, fisioterapeutas trabalham juntos com os profissionais da educação física. Para começar uma atividade segura, quem nunca fez, principalmente, é necessária uma avaliação, um check-up. E depois procurar uma atividade que agrade. A identificação com o exercício é muito importante, mas o principal hoje é se mexer. 

Notisul – As pessoas estão mais saudáveis?
Tóia –
Sim. Antes ouvíamos falar em exercício físico somente em novembro, dezembro. Hoje qualquer revista feminina, jornal eletrônico, tem alguma informação sobre atividade física. As pessoas estão aprendendo e resgatando a alimentação saudável. Todos já viram a resposta da comida industrializada: a obesidade, a hipertensão. Agora esse cuidado cresce. Está até precoce e isso é muito bom para o profissional da área da saúde. E com a questão da longevidade… Já tenho 53 anos e continuo pulando (risos)… Todos querem viver mais e melhor.

Tóia por Tóia
Deus
– Amor
Família – Gratidão
Trabalho – Vida
Passado – Aceitar
Presente – Sabedoria
Futuro – Reinventar

"Gosto de corrigir, fico muito atenta ao detalhe. Enxergo os detalhes no corpo de cada um".