“São poucos os que vestem a camisa da instituição”

Bertoldo Weber
Braço do Norte

Notisul – Qual a sua experiência na área da saúde?
Edemir
– Na saúde, a minha única experiência é como membro titular do Conselho Municipal de Saúde de Braço do Norte. Já, administrativamente, tenho bom conhecimento.

Notisul – Quando assumiu a Sociedade Beneficente Santa Teresinha?
Edemir
– Em novembro de 2006, com mandato previsto para dois anos, prorrogado por mais dois por orientação do Ministério da Saúde para todos os hospitais com caráter filantrópico. Encerro o mandato em dezembro do próximo ano.

Notisul – Qual a situação da instituição hoje?
Edemir
– A entidade estava desacreditada, com o atendimento ruim e muitas reclamações da comunidade. Acredito que conseguimos mudar esta visão. O atendimento está bem melhor, o hospital está mais equipado e com maior número de profissionais. Na parte financeira, liquidamos 184 protestos contra a instituição. Pagamos apenas um financiamento do Refins e também uma dívida com a Casan. Atualmente, as contas de fornecedores e folha de pagamento, entre outras questões, estão rigorosamente em dia.

Notisul – Que ações importantes foram desenvolvidas na sua gestão?
Edemir
– Começamos com o controle completo sobre as contas. Lançamos a campanha Contribuição Familiar, onde a população pode inscrever-se e colaborar com R$ 10,00 mensais. Isto tem nos ajudo muito. Também partimos em busca de recursos das prefeituras, da câmara de Braço do Norte e cooperativas para manter o plantão 24 horas. Neste sentido, obtivemos êxito, apesar do valor ter ficado abaixo do esperado e necessário. Também tivemos êxito nesta questão que trata de liberações de recursos extras e fomos atrás de subvenções com o estado, deputados federais, senadores e governo federal. Além disso, o fato de termos melhorado o atendimento, refletiu diretamente sobre o volume de serviços, que aumentou. A consequência foi também aumento no faturamento da instituição.

Notisul – Os membros da diretoria e conselho fiscal são atuantes?
Edemir
– Digamos que 50% dos membros são atuantes, presentes e participativos. Inclusive, começamos a rever a possibilidade de existir uma substituição dos membros que não querem mais participar ou que deixam a desejar neste sentido.

Notisul – Qual a sua avaliação do corpo clínico?
Edemir
– É muito difícil avaliar. Digo isso porque dentro dele temos grandes e bons profissionais. Mas, que vestem a camisa da instituição são poucos. Se tivéssemos um corpo clínico 100% defendendo a instituição e os objetivos, com certeza, a nossa população teria um atendimento melhor ainda.

Notisul – Então falta comprometimento dos funcionários?
Edemir
– Do corpo clínico. Quanto aos funcionários, a maioria está comprometida. Mas, em uma equipe de 67, diria que alguns ainda não abraçaram a causa que é a recuperação completa e em todos os sentidos do Hospital Santa Teresinha. Esta é a maior bandeira. Temos feito reuniões e treinamentos constantes para que todos sejam sensibilizados a lutar por esta missão nobre em favor de toda a comunidade de Braço do Norte e região.

Notisul – Como está o relacionamento entre a direção do hospital, a administração e o corpo clínico?
Edemir
– A direção e a administração entendem-se muito bem. Caminhamos juntos. Já com o Corpo Clínico, o relacionamento com alguns profissionais é muito ruim ou não existe. É uma situação lamentável. Já com outros, é muito bom.

Notisul – O que é feito para resolver esta situação?
Edemir
– Queremos uma solução definitiva para este problema. A população não pode ser prejudicada por alguns profissionais. O objetivo da instituição é crescer e prestar serviços de qualidade. Os profissionais precisam decidir de qual lado estão.

Notisul – O plantão continua a ser o maior problema?
Edemir
– Sim. Em primeiro lugar, o plantão é para emergências e urgências. Mas, aproximadamente 90% dos atendimentos são ambulatoriais, são problemas que deveriam ser tratados nos postos. É difícil fazer com que os médicos plantonistas permaneçam na entidade devido ao grande volume de atendimentos ambulatoriais. Aí, quando surgem emergências e urgências, os médicos plantonistas não possuem apoio do profissional da especialidade que faz parte do corpo clínico. De forma bem clara, esta é a situação hoje.

Notisul – Que outros problemas existem?
Edemir
– Outro problema é que não temos condições de pagar sobreaviso para os médicos. Ocorre que, quando há uma emergência, e chamamos um médico da especialidade, ele não comparece porque não receberá para isso. Aí a situação complica-se.

Notisul – Quanto custa mensalmente manter o plantão?
Edemir
– Aproximadamente R$ 29 mil. Quem ajuda a pagar é a prefeitura de Braço do Norte, a câmara de vereadores, a Cerbranorte, a Cergapa e a prefeitura de Grão-Pará. Os plantonistas revezam-se a cada seis horas. São todos médicos de fora da cidade.

Notisul – Ainda ocorre do hospital ficar sem plantonista?
Edemir
– Sim. Muitas vezes, o médico agendado avisa na última hora que não irá e aí as alternativas são poucas. Os nossos parceiros do corpo clínico que quebram o galho para urgência e emergências. Fizemos o possível para resolver.

Notisul – O que vocês farão para resolver a questão da superlotação do plantão?
Edemir
– Para ter uma ideia, a população inteira de Braço do Norte passa pelo plantão do Hospital Santa Teresinha a cada dez meses. São em média 100 atendimentos por dia. As pessoas precisam entender que o hospital é para casos de urgência e emergência. Consultas básicas e pequenos procedimentos devem ser feitos nos postos do programa Estratégia Saúde da Família de cada bairro. O profissional que está lá (nos postos de saúde) tem as mesmas condições dos médicos plantonistas. É justamente por esta carga excessiva de trabalho que temos grande dificuldade em contratar profissionais para atuar no plantão.

Notisul – Que tipo de atendimento absurdo você refere-se?
Edemir
– Temos exemplos clássicos. No ano passado, atendemos um homem na emergência 64 vezes ao longo dos 12 meses. Há casos ainda de pessoas que vão até o hospital pedir atestado para não trabalhar na segunda-feira. Pessoas que nos procuram para desencravar unha, tirar farpa do dedo, fazer curativos. Tudo isso é serviço dos postos de saúde. Mas parece que ninguém entende ou faz de conta que não entende.

Notisul – Vocês não podem recusar-se a atender estas pessoas?
Edemir
– No caso do atestado, até deixamos. Em outros, poderíamos, mas não o fizemos. Nunca negamos nenhum atendimento, independente da situação. O caminho é a conscientização das pessoas e o bom atendimento nos postos de saúde.

Notisul – O que as pessoas argumentam para irem na emergência?
Edemir
– As principais justificativas são que o posto está fechado, o médico não foi trabalhar, não tem equipamento para fazer os serviços, falta materiais ou então que os atendentes dos postos os mandaram procurar o hospital. Boa parte da população também admite que não utiliza o serviço dos postos de saúde por não achar que os profissionais do município confiáveis.

Notisul – Falta muito para quitar as dívidas antigas do hospital?
Edemir
– Estamos pagando o Refins, faltam aproximadamente 30 parcelas, e a dívida com a Casan, que faltam aproximadamente 40 parcelas. O dispensado para isso, por mês, não chega a R$ 2 mil, se somadas as duas parcelas. Além destas duas contas, precisamos quitar um montante aproximado de R$ 48 mil. Depois que conseguirmos isso, tudo voltará a ficar em dia, como sempre deveria estar.

Notisul – Quantos funcionários o hospital possui hoje?
Edemir
– Ao todo, somos em 67 colaboradores: dois na manutenção, cinco na limpeza, quatro na farmácia, sete na administração e 49 no setor de enfermagem. Por mês, gastamos aproximadamente R$ 52 mil, mais os encargos, de folha salarial.

Notisul – E os médicos?
Edemir
– No total, são 25 profissionais: 16 profissionais entre o corpo clínico e médico, e mais um total de nove plantonistas. Eles estão divididos em várias especialidades: clínica médica, cirurgia geral, cirurgia do aparelho digestivo, cardiologia, geriatria, otorrinolaringologia, pediatria, obstetrícia, ginecologia, mastologia, urologia, enfectologia, anestesiologia, ortopedia, oftalmologia e psiquiatria.

Notisul – Como está a estrutura física da instituição?
Edemir
– É um prédio de 2.838 metros quadrados construído nos anos 50, que passou por várias reformas. Hoje, mesmo com os melhoramentos efetuados, a estrutura ainda não atende às necessidades. É tudo muito antigo, com muitos corredores e áreas sem utilidade. Adequamos da melhor forma possível para fazermos o aproveitamento do espaço.

Notisul – O que já foi feito em relação ao novo hospital?
Edemir
– O terreno doado pelo pecuarista Edésio Oenning já está totalmente escriturado em nome da entidade. O projeto e a planta já estão prontos e pagos através de um auxílio financeiro do governo do estado no valor de R$ 300 mil. Vale lembrar que, antes do projeto e do terreno, foi realizado um estudo de viabilidade. Neste estudo, foi confirmada a necessidade de construção de um novo hospital e a região de sua localização. Este estudo foi pago pela Cerbranorte. O investimento foi de R$ 12 mil.

Notisul – E quais serão os próximos passos?
Edemir
– Na primeira quinzena deste mês, o engenheiro apresentou para a diretoria a primeira fase de construção. Se aprovada, será levada ao secretário estadual de saúde, Eduardo Cherem, onde reivindicaremos, juntamente com o secretário de desenvolvimento regional em Braço do Norte, Gelson Luiz Padilha (PSDB), um total de R$ 5 milhões para o início da construção. Este valor já foi sinalizado, porém, o secretário estadual pediu que fizéssemos a obra por etapas. Então, dividimos o empreendimento em três fases. A obra está assinalada da secretaria regional como prioridade para o Vale.

Notisul – Foi feito mais algum pedido de recursos?
Edemir
– Estivemos em Brasília com a senadora Ideli Salvatti (PT), onde deixamos uma cópia do projeto do novo hospital e ela comprometeu-se em liberar recursos ainda neste ano e conseguir um fixo de R$ 60 mil por ano para o hospital. O deputado Odacir Zonta comprometeu-se no valor aproximado a R$ 1,5 milhões. E o deputado Edinho Bez (PMDB) diz estar engajado em também liberar recursos para o Hospital Santa Teresinha, cerca de R$ 100 mil por ano.

Notisul – É verdade que o Ministério da Saúde liberou recursos significativos para a entidade?
Edemir
– Sim, é verdade. Este ano, será adquirido um tomógrafo, no valor de R$ 540 mil, e também equipamentos de UTI para dez leitos, cujo investimento ultrapassará R$ 1 milhão. Os recursos já estão depositados na conta da entidade e são oriundos do Ministério da Saúde. No ano passado, já tinha vindo R$ 100 mil para nós, também do Ministério da Saúde.

Notisul – Quem pagou as seis passagens das três viagens que fizeram a Brasília?
Edemir
– O hospital pagou apenas uma passagem. As demais foram pagas por empresas da cidade. O importante é que o resultado foi um volume expressivo de recursos para a entidade: cerca de R$ 1,6 milhão.

Notisul – Quais as metas da diretoria para este ano?
Edemir
– A construção das salas para instalação dos dez leitos da UTI e também a construção da sala para o tomógrafo. E o mais importante: tentar a liberação de recursos para iniciar a construção da primeira fase do novo prédios do hospital.

Notisul – Os membros da diretoria recebem salário mensal?
Edemir
– Não. Nenhum membro recebe. É um trabalho voluntário e todos disponibilizam de muito tempo, inclusive de horários de lazer com a família, em prol desta causa. Tem um velho ditado que diz o seguinte: quem se doa com amor, Deus recompensa em dobro. É nisto que acredito!

Notisul – A eleição da diretoria é acirrada?
Edemir
– Não é. Tenho certeza que, se os membros fossem remunerados, não faltariam candidatos para disputar os cargos e assumir a direção do Hospital Santa Teresinha. Como não é, chega a ser difícil montar uma chapa.

Notisul – O que a população pode esperar da atual diretoria?
Edemir
– O compromisso de melhorar o atendimento, torná-lo humanizado. Muitas coisas foram melhoradas, outras irão seguir por este mesmo caminho. Mas continuamos pedindo à população paciência em determinadas situações. Trabalhando com garra e, aos poucos, as coisas entrarão nos trilhos, como se diz no popular.

Notisul – O hospital atende somente pelo Sistema Único de Saúde?
Edemir
– Não. Além do SUS, atendemos por convênios e ainda particulares. Inclusive a hotelaria para convênios e particulares foi totalmente reformada.

Notisul – Quem é dono do hospital?
Edemir
– O Hospital Santa Teresinha foi fundado em julho de 1935. E, em 1976, mudou a razão social e passou a ser chamado de Sociedade Beneficente Santa Teresinha. Os documentos mais antigos que encontramos constam em registro e uma lista de presença com 69 sócios. Nós, da atual diretoria, entramos em contato com estas pessoas para se reapresentarem como sócios da entidade. Os já falecidos foram representados por um familiar.