“Respeito, mas se coligar estou fora”

Simpático e de uma educação ímpar, o empresário Olavio Falchetti, de Tubarão, é mais do que convicto sobre sua visão política. Ele a vive. Presidente do Partido dos Trabalhadores de Tubarão e pré-candidato da sigla às eleições de outubro deste ano, o jovem homem de 61 anos é assediado de todos os lados para fechar uma parceria política. Contrário a coligação, Olavio diz que prefere não concorrer se for para sair com outro grupo. “Um homem de bem é reconhecido pela sua transformação moral e pelos esforços que ele empreende para domar as suas más tendências. É assim que eu vivo, se mudar, não serei mais eu. Minha sabedoria é limitada. Eu tenho qualidades, mas também falhas. Por isso sou contra as coligações. Os cargos ficam nas mãos de interesseiros e não de pessoas capacitadas a solucionarem os problemas. Não pode ser assim. Esta é a grande falha da administração pública”, justifica.

Zahyra Mattar
Tubarão

Notisul – Como o PT sai para as eleições deste ano?
Olavio
– Sairemos com uma boa nominata. Cerca de 34 pessoas já disponibilizaram seus nomes. Em 2008, fomos em apenas nove pretendentes. Este aumento não significa que saímos por aí catando gente. Não. Isso é fruto de um trabalho sério e de dedicação. No ano passado. Fomos aos bairros. Realizamos reuniões para expor nosso pensamento, nossos objetivos, projetos e nosso jeito de fazer política. Este aumento no número de pessoas interessadas em fazer a diferença conosco é fruto deste trabalho.

Notisul – O número de filiados cresceu também?
Olavio
– Sim. Os jovens, principalmente, estão mais interessados. Fico tão feliz, mas tão feliz, quando eles chegam e falam: ‘Olavio, se for este o projeto, também quero participar’. Aumentamos em torno de 22% o número de filiados em relação às eleições passadas. E isso dentro do trabalho de apresentar nosso pensamento, nossa meta. Sem grandes festas de filiação.

Notisul – E qual é a meta?
Olavio
– Um saneamento político. Somente assim, vamos fazer com que as pessoas voltem a acreditar na política e no político. Na eleição passada (2010), eu tinha vergonha de pedir voto. Lia na cara das pessoas: lá vem mais um. Temos que ir contra este encaminhamento que é dado atualmente para a política. Esta é a proposta: um governo participativo, com a fiscalização da população. A promoção de um trabalho limpo, honesto e com pessoas dispostas a acertarem, a errarem e com dignidade para dizer: ‘Errei, mas vou consertar’. Afinal, não existe fórmula mágica.

Notisul – Você não acha que para isso é preciso fazer a reforma política?
Olavio
– Esta é uma questão urgente. E é preciso incluir nesta reforma a proibição das coligações, algo pernicioso, maléfico para a gestão pública. Não faz qualquer sentido. A coligação faz com que os cargos sejam ocupados, muitas vezes, por usurpadores, enquanto deveriam estar nas mãos de pessoas técnicas, capazes de promover ações à massa e não para um pequeno grupo. O país deveria ter três partidos: um de direita, um de esquerda e uma de centro. Como está, nem sabemos quem é quem. É preciso ainda acabar com a reeleição e com os pleitos a cada dois anos. Isso é um escândalo, um malefício para a política.

Notisul – O senhor estaria em qual lado: na esquerda, na direita ou no centro?
Olavio
– Eu fico do lado do meu projeto. Respeito todas as siglas, todas as pessoas, mas não posso trair quem sou. Não tenho medo nem vergonha de mudar de opinião. Em muitos aspectos, a mudança é sinônimo de crescimento. Mas no campo político, não terei nunca outra opinião. O bem não pode ser rotulado. A prática do bem não pode ter sigla, não pode ter religião, cor, condição social. Muitos me perguntam: ‘O que você está fazendo na política, então?’. A vida é política. Se tenho condições de fazer algo a mais por meu próximo, porque não participar? O povo tem que aprender, e rápido, que precisa envolver-se. O problema é de todos.

Notisul – Você prega que as coligações são perniciosas. Mas o PT, em nível nacional, venceu as eleições coligado. Lula reelegeu-se, algo que você também se diz contrário. Não há um choque de ideais aí?
Olavio
– Respeito a decisão do partido, mas, se fosse eu, estaria fora do embate. A lei permite reeleição e coligação, mas acho um escândalo. Fico triste de ver meu partido fazer isso. Mas o respeito é necessário em todas as situações. É a partir do entendimento das diferenças que mudamos o meio em que vivemos. É como água na pedra. A gotinha cai e um dia quebra a pedra. Pode demorar, mas vai ocorrer. Acho que minhas ideias podem ser consideradas utópicas ou impossíveis hoje, mas encontro cada vez mais pessoas com o mesmo pensamento. E é assim que promovemos a mudança. Dizem: ‘Olavio, você está fora da casinha’. Já fui muito desdenhado por ter estes ideais. Chegava nos lugares e percebia aquele risinho. Já escutei muito: ‘Coitado do Olavio, nunca vai chegar a lugar nenhum deste jeito’. Vou no meu estilo: Tá sujo? Olavio! (risos). Uma casa se constrói pela fundação e não pelo telhado. A política está sem chão e com teto de vidro. Não posso fazer parte disso. Então, sigo na construção do meu chão. Vejo que hoje semeio algo que o vento não leva. Hoje, muitos dizem: ‘Olavio, se você continuar com este pensamento, vai chegar lá’. Acredito nisso.

Notisul – Você não se sente pressionado a efetuar coligação. Afinal, o PT está fora do poder na cidade há muitos anos.
Olavio
– A pressão vem de todos os lados, e é grande. Acredito que é algo natural. Para mim, não existe qualquer possibilidade de diálogo. O partido, no momento, está comigo. Mas, se a sigla mudar de opinião, saio da disputa. Respeito e sigo militante, mas sem concorrer. Somente o fato de pensar nisso faz com que eu vá contra o que sou, o que falo, o que vivo. Quem votar em mim, vai votar por isso e pelo meu projeto de trabalho. Não porque vou distribuir cargos. Não existe possibilidade nenhuma de diálogo neste sentido. Você pode perguntar: onde fica o lado político? Não existe lado político, existe o coletivo. Política é o coletivo.

Olavio por Olavio

Deus – É amor. É tudo. Faz com que tenhamos força.
Família – Se todos soubessem que é na família que há vida, tudo seria diferente. A minha família é o meu coração.
Trabalho – A coisa mais dignificante que existe nesta terra.
Passado – De trabalho.
Presente – É uma dádiva diária. Não mereço tanta coisa boa.
Futuro – Difícil falar em futuro. Para mim, não é incerto porque no futuro colherei o que planto hoje. E eu procuro, todos os dias, jogar uma sementinha boa na terra.

“O seu voto, amigo, é algo seu. Dê ele para quem realmente mereça. É preciso mesmo ter uma lei de ficha limpa? Ser honesto não é virtude, não é qualidade, é obrigação do cidadão. A política verdadeira é correta”.

"Não sou talhado, não tenho jeito de convencer ninguém. Não sei falar bonito. Sou engenheiro, sei de matemática. Não sou bom em expressar. Tenho uma dificuldade terrível em falar em público, em participar de debates. Mas sou muito lúcido nas minhas ideias e nos meus ideais. Não consigo prometer nada para ninguém. Nas eleições de 2008, uma pessoa perguntou se eu ia construir uma ponte. Como eu ia dizer que sim? A palavra desperta, mas são as ações que mudam e provam as suas palavras. Não posso ser medíocre e hipócrita de prometer, de dizer A e viver B. Só prometo muito trabalho, muita dedicação, muita rentidão. Absolutamente mais nada."