“Queremos implantar um programa de transferência de embrião”

Bertoldo Weber
Braço do Norte

Notisul – O que é de fato um Programa de Transferência de Embrião?
Edésio
– A transferência de embriões pode ser definida como o processo de remover um ou mais embriões de uma fêmea (vaca) doadora e transferi-los a uma ou mais fêmeas receptoras. Neste caso, a ovulação é estimulada, é feita a coleta, uma análise e identificação, inserido o sêmen e feita a fecundação em outra fêmea. O outro animal serve somente como mãe de aluguel. É uma maneira rápida para aumentar a qualidade genética nas propriedades. E a coleta é feita em fêmeas de alta qualidade genética.

Notisul – Qual a diferença de inseminação artificial?
Edésio
– Na inseminação, o processo resume-se em aplicar o sêmen do macho na fêmea.

Notisul – Então, a questão é aproveitar a fêmea sem muita genética para gerar animais de qualidade?
Edésio
– Esse é o ponto. Isso mesmo. Por esse motivo, o Programa visa beneficiar os pequenos agricultores, aqueles que possuem vontade de melhorar geneticamente o rebanho, mas não têm condições financeiras para comprar uma novilha de raça pura (PO). E penso que através do poder público é possível ser realizado isso. No caso de Braço do Norte, uma parceria entre os governos federal, municipal e o Sindicato Rural.

Notisul – Existe pessoal qualificado na região para fazer esta transferência?
Edésio
– Para nossa felicidade, sim. É por este motivo que prentendemos implantar este programa em Braço do Norte, cidade polo do Vale. Local onde temos e somos considerados uma potência na raça jersey na América Latina. Aqui é um dos poucos lugares no mundo onde se comercializa novilhas registradas com peso de 300 quilos ao preço de R$ 3 mil. E vacas de primeira ou segunda cria ao preço de R$ 4 mil a R$ 5 mil. Inclusive, já comercializamos animal ao preço de R$ 25 mil. Hoje, nós somos exportadores de qualidade. Aumentar este potencial é preciso. O mercado está aí.

Notisul – A fêmea mãe de aluguel também precisa ser preparada?
Edésio
– Sim. É preciso um acompanhamento à mãe de aluguel, inclusive um tempo antes de ser fecundada. E mais, acreditamos que este programa se tornará realidade em Braço do Norte e já antecipo que os pequenos agricultores precisão, além, de mostrar a vontade em melhorar seu rebanho, em muitos casos, mudar hábitos se necessário e aperfeiçoarem-se em questões de organização em determinados setores da propriedade. Toda melhora exige um pouco mais de empenho e dedicação.

Notisul – É verdade que o senhor é o principal responsável por trazer a alta genética para a região?
Edésio
– Sempre estive atento a tudo aquilo que pudesse melhorar as propriedades rurais. Desde 1971, estou viajando e buscando algo que pudéssemos implantar no município. Em 1972, montei a primeira granja e iniciei a produção de suíno tipo carne. Em 1981, trouxe as primeiras vacas PO (registradas). E aí, juntamente com técnicos e outros criadores aderindo, chegamos a este patrimônio genético que temos hoje. Também iniciei em minha propriedade o trabalho de inseminação artificial, adquiri animais de qualidade. Tive a felicidade de trazer outras tecnologias para a região, como a distribuição de esterco. Os investimentos que fiz em viagens a outros países como Alemanha, EUA, Canadá, França, Inglaterra, Espanha e Israel me deram uma bagagem fantástica para analisar técnicas, manejo e determinados conhecimentos. Implantamos o que foi possível. Em resumo, foram nestas viagens que percebemos a distribuição de esterco através de tanques e irrigação. São ideias trazidas e não criadas. A própria silagem. Lembro que também pude contribuir para que a inspeção fosse implantada nos pequenos abatedouros. É muito bom poder ajudar a melhorar a vida das pessoas.

Notisul – Uma qualidade genética para o mundo?
Edésio
– Sim. Assim como todas as coisas na vida, é preciso iniciar, acreditar e persistir. Fizemos isso e fico feliz em ver que, cada vez mais, as propriedades em Braço do Norte e todo o Vale estão se organizando, produzindo com qualidade. E mais as famílias rurais estão se conscientizando da importância de serem organizadas. Os nossos números são extremamente representativos. Não é por acaso que na revista internacional do Canadá da raça jersey, no mês de agosto de 2008, trouxe uma página onde um dos maiores jurados canadenses faz altas considerações em relação à qualidade e quantidade de animais da raça jersey de nossa cidade.

Notisul – E a raça holandesa?
Edésio
– Essa raça é mais adequada para quem possui terrenos mais planos e para quem possui facilidade de fazer volumes de comida. Nós temos alguns bons criadores nesta raça no município e região. Mas são poucos. Vale lembrar que é uma raça que produz muito leite. Mas as características de pequenas propriedades e terrenos acidentados dificultam um pouco.

Notisul – Você comentou sobre números. Que números são estes?
Edésio
– Hoje, 12% da suinocultura de Santa Catarina está concentrada no Vale do Braço do Norte. O município de Braço do Norte é o segundo no ranking em Santa Catarina na produção de leite. O Vale também possui a maior concentração de gado jersey com alta genética na América Latina. E nossa cidade também possui a maior concentração mundial de suínos por quilômetro quadrado e com altíssima qualidade. Sem falar nas nossas agroindústrias. Nós temos no Vale dezenas de abatedouros inspecionados que prestam grandes serviços e já informo com antecipação que trabalhando forte para a inspeção unificada torne-se realidade. Uma só. Sei que algumas necessitarão de investimentos para adaptações. Vamos trabalhar para buscar liberações e crédito mais facilitado. Com a unificação e podendo vender para todo o Brasil, o mercado abre-se e, aos produtores, é garantia maior na comercialização. Já aconteceram conversas e debates sobre a questão. E não é diferente para os laticínios, que são mais de 10 no Vale. É a mesma situação. É possível acontecer. Todos ganharão.

Notisul – Números tão positivos também devem trazer problemas. Na região, os dejetos são problema. Que ações são desenvolvidas?
Edésio
– É preciso acabar com determinados comentários. Atualmente, todo produtor que passa a comercializar com empresas que têm inspeção federal e exportações, por lei, precisam de uma licença ambiental para comercialização. O importante de tudo é que já existe uma consciência por parte dos produtores terem uma ação em relação aos rejeitos produzidos. Todos sabem que precisam produzir e dar destino a tudo que agrida o meio ambiente. Admito que manejos errados ainda são praticados. Mas nada comparado com o que acontecia. Melhorou muito. Todos sabem que a água em especial é vida e que precisamos preservar. E a nova geração que está assumindo as propriedades está contribuindo em muito nesta questão.

Notisul – O senhor esteve reunido com o ministro da agricultura, Reinhold Stephanes. Que assuntos foram tratados?
Edésio
– Sim, eu estive reunido com o ministro da agricultura. Vários assuntos estiveram em pauta. Um deles foi o Programa de Transferência de Embrião.

Notisul – Como foi a conversa em relação a este assunto?
Edésio
– O ministro ficou impressionado com os números, a história do município e da região e como o desenvolvimento genético aconteceu. Mostramos para ele que os pequenos agricultores precisam ter acesso à qualidade genética e que este programa dará esta oportunidade. Ele demonstrou muito interesse quando apresentei números. Solicitei R$ 300 mil para implantar o programa através da prenheis garantida. Ou seja, com estes recursos, podemos fazer com que aproximadamente 100 propriedades no município passem a iniciar uma produção de animais com alta genética. E o mais interessante, o dinheiro é a fundo perdido. Ganharão o município e as famílias rurais. Temos a orientação que os recursos serão liberados através do Departamento de Desenvolvimento Pecuário.

Notisul – Os animais da raça jersey de Braço do Norte são conhecidos nacionalmente…
Edésio
– A grande campeã e reservada da raça jersey que participou de uma grande exposição em São Paulo em 2008 é de Braço do Norte. O pessoal veio aqui, comprou os animais e está participando de eventos. Existe coisa melhor do que isso? Orgulho para o produtor que comercializou o animal, para o município e também para o estado.

Notisul – O poder público apoia como deveria as famílias rurais?
Edésio
– Os reflexos positivos da economia dos pequenos municípios saem do meio rural. Em Braço do Norte, o único prefeito, com todos os seus defeitos, que deu uma olhada maior para as famílias rurais foi Luiz Kuerten. E olha que poderia ter sido mais devido a importância. Não olham e investem como deveria. Um grande erro pelo que representam.

Notisul – O que mais você tratou com o ministro. Alguém o acompanhou?
Edésio
– Estava acompanhado do deputado federal Odacir Zonta. Tratamos da questão da suinocultura, o que representa a atividade, as dificuldades a serem superadas. Também falamos sobre a produção leiteira. Apresentei ao ministro informações no sentido de deixá-lo bem informado sobre os setores. Inclusive, o ministro chamou o responsável da área de sanidade animal e inspeção federal, o doutor Inácio. E, na ocasião, eu pedi o empenho para a unificação da inspeção. Sobre a suinocultura, o ministro disse que o negócio é vender e que estão adiantadas as negociações com a Rússia no sentido de o Brasil comprar trigo e nós vendermos muito mais suínos. O primeiro passo foi dado nesta direção. O ministro disse que o governo vai intensificar os trabalhos externos nesta questão. Hoje, o preço do suíno é de R$ 1,70 o quilo e o produtor está com R$ 0,60 de prejuízo. E, por último, fiz o convite oficial para o ministro prestigiar a Feagro Vale 2009 e solicitei o apoio com R$ 130 mil. A reunião foi extremamente positiva.

Notisul – Ao contrário da pecuária, tratando-se de política, a classe está desacreditada no município. Faça uma análise do resultado da eleição de 1º de março.
Edésio
– O tempo vai mostrar se as mudanças acontecerão. A população mostrou muita maturidade e responsabilidade pela maneira que fez a escolha. A maioria disse não há pessoas envolvidas e condenadas judicialmente. Acredito também que este resultado, diante do quadro que tínhamos, inibiu a ganância pelo poder. Assim como a população quer que Vânio faça uma administração voltada às questões de extrema importância e para o desenvolvimento do município de forma geral.

Notisul – Politicamente, quem perdeu com o resultado da eleição?
Edésio
– Eu diria que Braço do Norte passou a viver um outro momento na política. A participação e o envolvimento da juventude e pessoas até então anônimas foram grandes. Depois deste resultado, vai haver uma transformação muito grande nas atitudes das lideranças políticas do município e nos representantes. É preciso administrar para todos e não focado em interesses pessoais.

Notisul – Algumas lideranças que perderam muito com o resultado da eleição…
Edésio
– O governador Luiz Henrique da Silveira, ao vir quatro vezes em Braço do Norte para fazer campanha, mostrou o objetivo de favorecer algumas pessoas que a justiça já tinha mostrado e desaconselhado. Outro líder que teve um desgaste muito grande, devido ao seu comportamento político, foi o atual secretário estadual de administração, José Nei Alberton Ascari. Foi uma decepção. Explico. Em 1996, quando fui candidato a prefeito pelo PFL (hoje DEM), ele era coordenador da sigla na Amurel. Na convenção, perdi apenas três votos dos 45 da executiva. Mas, em nenhum momento, ele foi até a imprensa dizer que o partido tinha candidato a prefeito em Braço do Norte. Pelo contrário, prestou-se ao serviço de ajudar a fazer uma aliança em favor do candidato do PMDB na época. Pensei que tinha melhorado. Mas, nesta eleição, existia uma possibilidade clara e real de o Democratas colocar o prefeito de Braço do Norte e ele mais uma vez prestou-se a colocar os seus interesses pessoais acima dos interesses do partido e do próprio desenvolvimento da cidade. Afinal, o Democratas tinha Ronaldo Fornazza e Charles Bianchini, que, ao serem eleitos e com a capacidade e competência de ambos, poderiam fazer muito pela população e o município. Não é nada pessoal e sim minha análise sobre o comportamento político dele. É isso que precisa mudar e é neste ponto que acredito que a nova geração de líderes que se forma poderá contribuir e mostrar que as coisas estão mudando.