“Que todos falemos a mesma voz”

Ele saiu com desvantagem de alguns meses em relação aos demais prefeitos, assumiu o governo de Criciúma apenas em 1º de abril de 2013. Nada que abale os seus planos à frente da administração municipal. O prefeito Márcio Búrigo (PP) entrou em cena como cabeça de chapa após Clésio Salvaro (PSDB), com quem concorreu como vice, vencer as eleições de 2012 e ser considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral. Embora seja um governo de continuidade, até o momento Márcio precisou concentrar forças na reorganização da casa. E garante que 2014 será um ano de muitas ações.
 
 
Priscila Loch
Criciúma
 
 
Notisul – O sul catarinense tem enfim caminhado para o fim do bairrismo. O senhor concorda que este é o melhor caminho para o desenvolvimento da região?
Márcio – Com certeza. Principalmente Tubarão e Criciúma precisam deixar essa disputa boba de qual é a melhor cidade. Isso é uma bobagem, cada uma tem os seus focos pontuais, as suas dinâmicas, as suas problemáticas e todas as cidades do sul devem ter uma preocupação com a região como um todo, porque o sul de Santa Catarina é muito forte. Economicamente, basta fazer algumas análises: o sul colabora com R$ 23 bilhões na economia catarinense, recolhe algo em torno de R$ 800 milhões em impostos e exporta US$ 700 milhões todos os anos. É uma economia forte, temos 15% da população de Santa Catarina. Evidente que Criciúma, por ser a maior cidade, é a referência econômica entre Porto Alegre e Florianópolis, mas o povo de Criciúma não está mais pensando de forma monolítica, e sim de uma forma absolutamente inclusiva, pensando em todas cidades. Independente de tamanho, cada uma tem o seu papel e importância. Definitivamente, lutar de forma conjunta pelas melhorias é impactante para a economia do sul. Segundo levantamento da Unisul, o sul deixou para trás R$ 32 bilhões, valor muito significativo, por causa de atrasos das obras na BR-101. Então imagina se o nosso porto e os aeroportos funcionassem de forma adequada. Que todos falemos a mesma voz, para que todos consigamos os pleitos de forma única para toda a região sul, e não só para a região de Criciúma, ou para a região de Tubarão. Precisamos falar do sul como um todo, porque a nossa convicção é que somados seremos muito mais fortes do que pensando de forma isolada.
 
Notisul – E isso é comprovado. Muito mais resultados apareceram depois que se batalhou junto em prol de melhorias para todos…
Márcio – Percebo e tenho certeza que outros prefeitos da região também estão percebendo uma palavra muito moderna que se usa hoje, a conurbação. Os municípios estão se encostando, e não posso resolver os problemas de Criciúma sem pensar na Içara, por exemplo, que está colada. Assim como o prefeito Olavio Falchetti não pode pensar somente em Tubarão, sem pensar nas zonas de conurbação que tem com Gravatal, Capivari de Baixo. Pedi a nossos deputados federais que voltem a debater a questão das regiões metropolitanas. Na minha visão, pelo empresário que sou, não podemos mais administrar pensando apenas no próprio município.  
 
Notisul – Afinal, foi para isso que as regiões metropolitanas foram criadas. Mas na prática não funciona tão bem como deveria.
Márcio – Em governos anteriores, elas estavam praticamente definidas, mas depois houve um recuo, desapareceu o assunto da pauta. Não se pode mais pensar de forma única e singular. Eu não posso e não consigo governar a cidade de Criciúma pensando só nela, tenho que pensar nela e nos municípios do entorno.
 
Notisul – Falando em trabalhar juntos, o senhor acredita que enfim chegou o momento do sul crescer? Durante muito tempo, fomos penalizados pela falta de investimento em infraestrutura.
Márcio – Eu não sei quem é o culpado pela decisão equivocada de interromper a duplicação da BR-101 no município de Palhoça, com a divisão do trabalho em duas etapas. Isso nos causou sérios problemas. Nós fomos preteridos, deram dez anos de preferência ao norte do estado. O sul não cresceu na mesma velocidade que cresceu o norte e a média de todo o estado. Por isso nós estamos ficando para trás. Por isso a economia de Criciúma, que já foi a quarta do estado, hoje é a décima. Por isso todos os nossos índices econômicos foram diminuídos nos últimos tempos. 
 
Notisul – O que é necessário para que isso ocorra na prática?
Márcio – Investimentos. O governo precisa olhar com outros olhos para o sul de Santa Catarina, de Palhoça para baixo. Tem que incrementar o aporte de recursos para a região e diminuir para as regiões que já foram mais favorecidas. Quantas indústrias estão indo para o norte? O desenvolvimento econômico será inalcançável, porque eles sozinhos vão proporcionar um desenvolvimento que não precisam mais do governo do estado.
 
Notisul – E aí entra a necessidade de melhorar os acessos por terra, céu e mar…
Márcio – Exatamente. Temos muita dificuldade para ir à nossa capital hoje. Eu não consigo saber se vou chegar a tempo para pegar o avião ou não. Às vezes saio de Criciúma com quatro, cinco horas de antecedência e ainda assim perco o voo, por causa das interrupções no túnel do Morro do Formigão, congestionamentos na ponte de Laguna, Morro dos Cavalos… Temos diversos gargalos para acessar um transporte aéreo de qualidade. Em Forquilhinha, temos um ou dois voos, mas são voos que deixam a desejam por causa dos horários ou pelos destinos. Muitas vezes, eu tenho preferido pegar o avião em Porto Alegre, pois tenho certeza que em menos de três horas estou no Aeroporto Salgado Filho. Mas nunca tenho certeza quanto ao Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis. 
 
Notisul – Na sua visão, a efetiva operação do Aeroporto Regional Sul, em Jaguaruna, vai minimizar estes problemas?
Márcio – Sim. Inclusive, este aeroporto foi um marco para o fim do bairrismo no sul. Para que o pessoal de Tubarão não precise mais ir a Florianópolis e o de Criciúma não mais a Porto Alegre. O objetivo é que tenhamos um transporte de qualidade. O aeroporto de Forquilhinha vai continuar cumprindo a sua vocação, para pequenas aeronaves. Criciúma deve ter umas 20 aeronaves particulares, e eles continuarão a pousar aqui. Todos os dias chegam jatinhos e aviões particulares de pessoas que vêm à região fazer os seus negócios. E queremos que o aeroporto para demanda nacional seja o de Jaguaruna, defendemos um transporte aéreo de melhor qualidade para o cidadão do sul catarinense. 
 
Notisul – A respeito de seu governo, como avalia estes primeiros meses como prefeito?
Márcio – Levamos cinco meses para fazer todo o planejamento estratégico para os próximos quatro anos, fazer o levantamento de toda a situação financeira da prefeitura. Agora estamos nos encaminhando para a construção do governo de Criciúma, fazendo uma série de atividades paralelas, com a contratação de  uma empresa para desenvolver projetos para a cidade, várias caminhadas a Florianópolis e Brasília em busca de recursos, estudo das demandas do que pode ser aplicado na cidade nos próximos anos, obtenção de recursos com empréstimos nacionais ou internacionais. Enfim, estamos terminando toda a operação e reengenharia para o nosso governo e tenho certeza absoluta que a partir de janeiro ou fevereiro do próximo ano as pessoas começarão a sentir as respostas de todo esse trabalho de bastidores que temos feito. 
 
Notisul – E quais são os principais desafios em relação a investimentos?
Márcio – Temos algumas pautas extremamente importantes em Criciúma. A primeira delas, que tenho lutado muito, é a finalização da planta do Hospital Materno Infantil Santa Catarina, que atende todos os cidadãos do sul. A UTI tem ocupação de mais de 70% de crianças que não moram na cidade, é a única UTI pediátrica entre Florianópolis e Porto Alegre, e precisamos ter uma atenção especial à regionalização dos serviços. Estamos terminando todos os projetos para finalização da planta, para depois discutirmos a questão do custeio. Hoje, ele é custeado única e exclusivamente pelo município de Criciúma, e assim que tiver plenitude de funcionamento a prefeitura não vai dar mais conta de recursos. O nosso foco é que seja um hospital regional e, de preferência, público. Outras prioridades relacionam-se com demandas internas da nossa cidade, que falam muito daquilo que tenho insistido: pensando na questão regional. Obras como a Via Rápida, o anel de contorno viário, que vai determinar um círculo em volta da nossa cidade, facilitando a mobilidade de quem sai, por exemplo, de Cocal do Sul e quer ir para Siderópolis, ou Araranguá, para que esse cidadão não passe obrigatoriamente pelo centro de Criciúma, como ocorre hoje. Esta é uma ação regional, embora estas obras sejam dentro do município de Criciúma. Quero que as pessoas entendam que quando se fala da quarta etapa do anel viário tem que ser um projeto defendido pelo prefeito de Içara, pelo prefeito de Forquilhinha, de Morro da Fumaça, de Siderópolis, de Treviso, cidades que têm a mobilidade dependente do centro de Criciúma. Nosso foco é diminuir os engarrafamentos provocados por esta dependência de mobilidade. É claro que vamos ter que ir atrás de recursos, porque não temos caixa, nem perspectiva para obras que vão custar algo em torno de R$ 100 milhões, segundo levantamentos prévios. Talvez não façamos tudo neste governo, mas fica uma tarefa a ser cumprida por nossos governantes. 
 
Notisul – Existe algum projeto mais ousado para melhorar a mobilidade urbana na cidade?
Márcio – É preciso fazer um planejamento para os próximos 20, 30 anos. O plano Criciúma 2030 prevê um planejamento urbanístico. Precisamos responder à seguinte pergunta: qual a cidade quero deixar para meus filhos? Isso vai resultar em um estoque de projetos que os próximos prefeitos terão obrigação de fazer. Estamos envolvendo todas as associações empresariais da região, os clubes de lojistas, a sociedade organizada de forma geral, para estabelecer a visão metropolitana. 
 
Notisul – Voltando à questão da saúde, como está o imbróglio em torno da construção da Unidade de Prontoatendimento 24 horas, parada há mais de um ano por falta de recursos?
Márcio – A obra está sendo retomada. Viabilizamos mais R$ 1 milhão para finalizar a obra física. Depois, estamos em contato com Brasília, para conseguir de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão, para mobiliário e instalação dos equipamentos. Criciúma já está muito atrasada em relação a essa UPA, porque temos uma demanda regional grande. 
 
Notisul – Há uma previsão de quando a UPA estará em funcionamento?
Márcio – Nossa previsão, bastante otimista, é até o fim do próximo ano. O custeio mensal será algo em torno de R$ 500 mil a R$ 700 mil por mês, mas temos capacidade financeira. Temos certeza que será muito procurada e vai dar uma nova dinâmica para a saúde.
 
Notisul – E como ficou a questão da venda do inacabado prédio do complexo educacional Nereu Guidi?
Márcio – Quando me tornei prefeito, na primeira visita do governador Raimundo Colombo a Criciúma, solicitei um prédio que o governo do estado tinha comprado para destinar a um programa de balé, e este programa acabou não se concluindo pelo próprio governo do estado. Esse prédio, que tem ginásio de esportes e cerca de seis mil metros quadrados, tornou-se desocupado. Então, pedimos para o governo municipal, e o governador nos cedeu. Foi uma decisão colocar em leilão, com valor mínimo de venda de R$ 10,68 milhões, e todo o dinheiro será investido obrigatoriamente em educação. Inclusive, já temos um plano de aplicação para 26 escolas em 26 bairros diferentes.
 
Notisul – E as finanças do município, estão equilibradas?
Márcio – Este ano, tivemos e ainda estamos tendo muitas dificuldades para fazer o fechamento das contas. Demos uma reduzida muito forte no impulso da máquina, para poder economizar. Cada centavo passou a valer ouro. Vamos conseguir fechar as contas sem problema algum, para que possamos, a partir do ano que vem, com uma situação um pouco mais confortável de fluxo de caixa, governar a cidade de Criciúma de maneira um pouco diferente daquilo que estamos fazendo até agora. 
 
Notisul – É melhor organizar a casa antes de adquirir novas dívidas…
Márcio – Maquiavel dizia que todo remédio ruim tem que ser dado de uma vez só, e tudo que é bom tem que ser feito em várias etapas. Este acho que foi o ano de Maquiavel, tivemos que optar por muitos ‘nãos’, embora doía na nossa alma, mas precisávamos encontrar o equilíbrio financeiro. Estou certo de que vamos conseguir isso até o fim de dezembro e a partir de 2014 nova realidade se instalará dentro da cidade.
 
Márcio por Márcio
Família – Tudo.
Trabalho – Também é tudo. O homem que acorda pela manhã e não tem o que fazer é um homem triste.
Deus – O tudo na máxima potência.
Passado, presente e futuro – Sou muito ligado à história antiga, mas como político e empresário gosto do futuro, com planejamento estratégico. Então, meu foco tem muita visão futurística.
 
 
"Gosto muito da ideia de planejar a cidade para os próximos prefeitos que por aqui passarão. Para cuidar das questões do dia a dia da administração, o prefeito tem uma equipe competente. E o que cabe verdadeiramente ao prefeito é o estabelecimento de um planejamento, de uma direção, e convencer todos que estão ao seu redor de que está caminhando na direção certa, com passos firmes e seguros".
 
"Temos que ter responsabilidades compartilhadas, para que as regiões metropolitanas passem a ter um aspecto reconhecido pela Constituição Federal, com mais facilidade na obtenção de recursos". 
 
"O sul precisa ser olhado de uma forma diferenciada por nossos governantes, precisa ser a bola da vez, para que retome o desenvolvimento econômico em igualdade com as outras regiões". 
 
"Com certeza, o cidadão criciumense será surpreendido com grandes obras na cidade assim que sejam resolvidas nossas equações, quer sejam de ordem técnica ou financeira".