“O voto em lista fechada é um golpe contra a democracia”

Amanda Menger
Tubarão

Notisul – O senhor é cotado para ser candidato a governador no próximo ano. Como estão as negociações para isso?
Colombo
– Estamos trabalhando para que isso aconteça. O nosso partido está se mobilizando, acho que nós avançamos muito e essa primeira missão estamos encerrando no fim deste mês. E, a partir daí, queremos ir para a sociedade, abrir mais a discussão. Agora, nós fazemos parte da tríplice aliança e acho que a realidade política do Brasil fará com que haja uma aglutinação dos partidos políticos já no primeiro turno. Em nível nacional deve ocorrer a candidatura do governo e a candidatura da oposição. E isso deve se refletir nos estados, fazendo com que as coligações aconteçam no primeiro turno. O nosso entendimento é que o partido está mobilizado, tem uma unidade muito forte, o partido renovou bastante, acredito que a nossa mensagem é uma mensagem atual, forte e que viabiliza a nossa candidatura.

Notisul – A tríplice aliança seria para primeiro ou segundo turno?
Colombo
– O nosso desejo é que ocorra no primeiro turno. Porque decorre de uma realidade nacional. O candidato a presidência vai querer ter um palanque único aqui. Mas, também, particularmente acredito que a aliança de segundo turno é uma aliança que se dá de fortalecimento eleitoral. No primeiro turno é que tem compromisso político, você caminha nas ruas, você conhece as pessoas. Você, o vice e os deputados integram-se com a comunidade, com aquilo que ela deseja que seja feito, você consegue fazer um trabalho com maior unidade. No meu entendimento, é que a coligação deva ocorrer no primeiro turno.

Notisul – O seu nome como cabeça-de-chapa?
Colombo
– Eu tenho uma tese. Agora, cada partido tem o seu candidato. É natural que seja assim. Vai chegar a um momento, no fim do ano, que teremos que tomar uma decisão. O candidato será aquele que tiver uma melhor posição eleitoral, tanto em nível de aceitação, de menor rejeição, e neste conjunto a gente faz uma engenharia política para manter a tríplice aliança. Claro que isso não depende só de nós, depende dos outros parceiros também. E também não é impossível que outra aliança seja feita. Acredito que o ideal é mantermos a tríplice aliança, que o governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) construiu com competência e que mantém com equilíbrio.

Notisul – O que lhe credencia para ser governador do estado?
Colombo
– Acho que a votação para o senado, que foi expressiva e maior do que eu esperava. Entendo que temos uma proposta que irá empolgar as pessoas. Mas, o que me deixa mais seguro são as pesquisas internas, que apontam uma boa aceitação.

Notisul – Como o senhor avalia o Democratas hoje no estado, tomando como base o resultado eleitoral de outubro de 2008?
Colombo
– Penso que o nosso partido cresceu bastante, está mobilizado. Nós nos fortalecemos no movimento jovem, que, aliás, cresceu muito dentro do partido. O segmento das mulheres também está muito engajado. Mas temos consciência que os partidos hoje são apenas máquinas eleitorais. Temos trabalhado para mudar essa visão. Queremos formar no nosso partido uma base intelectual para a sociedade, com espaço para o novo, e a gente está tentando também praticar um partido com maior vida comunitária. Participar da vida do hospital filantrópico, da creche, do asilo, viver mais intensamente a vida da comunidade. A gente também tem feito reuniões onde as pessoas têm falado mais e não apenas ouvido. Neste sábado, o deputado estadual Júlio Garcia e o secretário estadual de administração José Nei Ascari organizam um trabalho em que faremos uma olimpíada esportiva. Queremos integrar as pessoas também. Queremos inovar neste campo. Não ficar apenas naquelas reuniões chatas, cansativas, sempre as mesmas pessoas, os mesmos discursos, queremos dinamizar bastante o partido em cima destes princípios.

Notisul – O senhor jogou futsal durante um tempo, voltará a praticar neste sábado?
Colombo
– Ninguém me convidou ainda, mas se derem chance quero jogar (aos risos).

Notisul – Prefere o ataque ou a defesa?
Colombo
– Você sabe que Júlio Garcia foi um dos grandes goleiros do futsal de Santa Catarina e eu também. Eu jogava pela seleção de Lages e ele pela de Florianópolis. Mas o tempo passa, e na função de goleiro não dá mais (risos), eu não enxergo mais a bola (risos). Teria que jogar de óculos, então, a minha posição atual é centroavante (risos).

Notisul – Com a mudança do nome do partido de PFL para Democratas, mudou também o símbolo, que hoje é uma árvore e antes era apenas a sigla. Isso ajudou a atrair a juventude para o partido?
Colombo
– O nosso esforço está sendo neste sentido e nós temos bons resultados. Se você observar, nós temos o prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing, que é um jovem. O de Rio do Sul também, o de Chapecó e muitos outros, como Joaçaba, todos são jovens. A nossa bancada também é jovem. O deputado César Souza Júnior foi candidato a prefeito de Florianópolis com 29 anos, o Jean Kuhlmann, que é um deputado muito bem votado, tem esta faixa de idade. Os secretários também são jovens, como é o caso do titular da fazenda do estado, Antonio Gavazzoni, o de administração Zé Nei, estão nesta faixa de 30 anos. Então, acho que houve esta renovação e isso é muito bom para nós. Acho que dá uma característica de mudança e é isso que precisamos fazer. A política no Brasil está desgastada, desmoralizada até, os políticos precisam enfrentar isso. E os jovens enfrentam isso com mais naturalidade, desprendimento, independência, desapego, coragem. Então, é fundamental a integração do jovem no processo político, no nosso partido ou em qualquer outro, mas ele precisa participar.

Notisul – E o que atrai os jovens para o Democratas?
Colombo
– Hoje, as nossas ideias. Nós temos ideias que são muito claras, que são muito fortes para nós. A nossa proposta é para os pobres, nós sabemos como fazer saúde, como fazer educação, quais são os nossos compromissos com o processo político, e muita transparência nas ações, que é o que o jovem quer.

Notisul – Então, o senhor acredita que o Democratas mudou a visão que se tinha do PFL? De um partido de direita, de elite, de coronéis até mesmo?
Colombo
– A história do nosso partido é uma história que nos orgulha muito. Nós nascemos exatamente para fazer a transição entre a ditadura e a democracia, que foi a Frente Liberal. Esse passado é glorioso. Agora, durante algum tempo, nós recebemos um carimbo por parte do PT. Eles diziam que nós representávamos interesses de grandes grupos, de banqueiros, que os juros não baixavam por causa do PFL, que a privatização era culpa do PFL, e que, quando o PT chegasse ao governo, faria diferente. E hoje o que se vê é que o PT fracassou. Então, acho que o PFL não deve nada ao seu passado. Mas, evidentemente, nós temos a coragem de construir o novo. A mudança da sigla, de PFL para DEM, não é apenas as ‘letrinhas’, é realmente uma visão de futuro.

Notisul – O senhor falou que a política hoje está desgastada, desmoralizada no país. Diante de tantos escândalos, o senhor acredita que é preciso mudar a estrutura do senado?
Colombo
– Claro que precisa. Inegavelmente, nós tivemos o comando da burocracia. Os senadores não cuidavam do dia-a-dia da casa, apenas alguns poucos. E nenhum de nós sabia de tudo isso que está sendo divulgado agora. Nós estamos sendo chamados à responsabilidade, porque ela é nossa, de corrigir estas coisas todas. A coisa é muito pior do que se imaginava. Ouvíamos isso nos corredores, essas coisas, mas nunca tinha visto na prática. Lá, tem uma burocracia que é permanente, vem um senador, passa, vem outro, passa e a burocracia é permanente. O que se constatou é que ela tinha um comando, e foram construindo excessos que envergonham a todos e que precisam ser corrigidos.

Notisul – São discutidas mudanças a respeito da reforma política, como o voto em lista fechada, financiamento público de campanha, entre outros. O senhor é favorável? Será que calerão em 2010?
Colombo
– Eu não acredito que isso será implantado agora, porque não há racionalidade para isso. O voto distrital misto seria o melhor modelo, é uma evolução, mas não implantar agora. Isso seria um golpe, a política está muito desgastada. Os partidos que não têm tradição, implantar a lista agora seria um golpe. Porque os eleitores teriam que votar em algo abstrato, e eu sou totalmente contrário a implantar agora. Acho que a discussão é válida. Nós temos que fazer uma reforma política com voto distrital, acho que deva ter financiamento público de campanha, ter fidelidade partidária, proibir a coligação nas eleições proporcionais – ainda mais para diminuir o número de partidos, porque muitos são apenas siglas de aluguel. Agora, a gente vê que as coisas não caminham em Brasília. As pessoas sabem o que precisa ser feito, chegam a um consenso, mas não conseguem fazer. É muito difícil, a burocracia dominou e os interesses de quem governa, suplanta a vontade das pessoas. A primeira reforma, a mais importante, que se deve fazer é a política, porque tudo vem em decorrência dela.

Notisul – O voto em lista ficará então para outras eleições?
Colombo
– Hoje, a imprensa já dá isso como assunto encerrado, ele não vai ocorrer. Tivemos uma reunião esta semana entre as lideranças em Brasília, e as pessoas não veem como operacionalizar isso. Até admite fazer para o futuro, mas para esta eleição está sepultado. O voto em lista é uma evolução, mas não para a realidade de hoje.

Notisul – E de que forma os partidos poderão ser fortalecidos?
Colombo
– Para isso, tem que implantar primeiro o voto distrital, isso aproxima as pessoas, organiza as pessoas. Até poderia ser o voto distrital misto, eu inclusive sou o relator do projeto de reforma da Constituição para o voto distrital misto que é o exemplo da Alemanha. Você tem dois votos para deputado estadual, o voto distrital e o da lista, ou seja, 20 elegem-se pelo distrital e 20 pela lista. Porque aí o partido irá escolher aqueles que têm mais poder de argumentação, vivência partidária intensa. Qual o partido que não gostaria de ter um Jorge Bornhausen como deputado? Antonio Carlos Konder Reis? São pessoas emblemáticas dentro do partido que poderiam estar na lista. Aí o partido preserva essas suas figuras ilustres. Se observarmos a história Winsston Churchill que foi o primeiro ministro da Inglaterra durante a 2ª guerra mundial, quando acabou a guerra e ele foi disputar a eleição de deputado em seu distrito, ele perdeu, porque estava cuidando das grandes causas nacionais e não cuidava do dia-a-dia das pessoas. Então, tem que ter o voto misto, é o melhor modelo. Agora, ficou afastado o risco da lista fechada para 2010, por uma razão simples: com o desgaste da classe política com todos estes escândalos, a lista serviria como uma fuga para aqueles que se desgastaram. Não precisariam nem de votos, entrariam de carona. Isso é inaceitável hoje. Por outro lado, quais são os critérios internos para constituir a lista? Praticamente asseguraria a reeleição dos que já estão no poder, então ele é um golpe. Outro golpe que está sendo discutido lá, é o prazo de filiação partidária, de um ano antes da eleição, para seis meses. Isso é muito ruim, porque quebra o princípio da fidelidade partidária e isso é lei ordinária simples, a outra é emenda constitucional. Esse é um golpe que está em curso e que temos que combater. Essa é uma proposta que o PMDB em nível nacional está fazendo na câmara dos deputados. Agora, tem muita coisa surgindo, falam de um terceiro mandato para presidente, o que é absurdo, sou contra, é uma violência contra a democracia. Mas acredito que nada mudará o que já está aí, acho difícil qualquer mudança, porque a tramitação é tão lenta, tão possível de ser congelada e botar na gaveta que acaba não mudando o que está aí.

Notisul – E a reforma tributária?
Colombo
– É outra coisa. O presidente (José) Sarney era favorável e não fez; Fernando Collor de Mello e Itamar Franco eram favoráveis e não fizeram; Fernando Henrique Cardoso avançou um pouco mas não fez; (Luiz Inácio) Lula (da Silva) comprometeu-se e não fez. Então, eu não conheço nenhum líder partidário que não seja favorável à reforma tributária, os empresários também. Todo mundo é a favor, só que não acontece. Na América Latina, a maior carga tributária é a brasileira, com 36%, segundo dados de instituições financeiras internacionais. Então, imagine se o Brasil tivesse uma carga tributária razoável, o quanto estaríamos crescendo, gerando empregos e melhorando a vida das pessoas.

Notisul – O site Transparência Brasil fez uma pesquisa e afirma que 80% das suas propostas são de alto impacto. O que isso significa para o senhor?
Colombo
– Eu fiquei muito feliz, alegre com isso. Tenho trabalhado muito na questão tributária, porque, como a gente não consegue fazer a reforma tributária, tem algumas coisas simples que podemos fazer. Como, por exemplo, as microempresas de serviço têm a possibilidade de ter incentivos até R$ 130 mil de faturamento e eu estou passando para R$ 260 mil, inclusive este foi um projeto premiado. Com relação ao Imposto de Renda, corrigir a base do imposto. São projetos deste tipo que simplificam e reduzem a carga tributária. Eu apresentei neste ano cerca de 25% de todos os projetos que foram apresentados no senado.

Notisul – Como o senhor avalia estas discussões relativas ao Código Ambiental de Santa Catarina, uma vez que também foi pecuarista em Lages e conhece a realidade dos produtores?
Colombo
– É um avanço. Antes, você tinha a legislação ambiental da Amazônia igual à de Santa Catarina, e são realidades absolutamente diferentes e a lei não pode ser a mesma. Citando o artigo 24 da Constituição Federal, dá o direito aos estados de legislarem sobre coisas específicas; o global, claro, é um só. O Código Ambiental veio nesta hora e também emperrou um pouco na arrogância dos ambientalistas, que se negavam a discutir o assunto. Todos os estados brasileiros estão se mobilizando para fazer o seu Código Ambiental e, no próprio Ministério do Meio Ambiente, os ambientalistas estão admitindo a conversa para a gente fazer o melhor. Ninguém quer agredir o meio ambiente, derrubar árvores, mas temos uma realidade consolidada no estado e, neste aspecto, o Código Ambiental é um avanço.

Notisul – Como o senhor observa o cenário político para 2010? A doença da ministra da casa civil, Dilma Rousseff, apontada como a candidata do governo, pode influenciar no resultado?
Colombo
– Nacionalmente, teremos duas candidaturas fortes, um da oposição e outro do governo. Com relação a Dilma, acho que usar a doença dela politicamente é absurdo. A gente tem que estar preocupado com a recuperação dela, com a saúde dela, e não falar de política envolvendo o nome dela, porque seria ferir o bom senso. No meu entendimento, acho que isso favoreceu a uma paralisação, porque a discussão estava muito antecipada, e isso talvez tenha dado uma congelada nisso, o que é o certo porque a eleição é só no ano que vem e nós ainda estamos em maio. O processo está muito acelerado. Acredito que deve dar uma segurada, o que é muito bom para todos, incluindo os governantes.

Notisul – As visitas que o senhor tem feito ao interior do estado, tem qual objetivo?
Colombo
– De mobilizar o partido. Discutir com os companheiros o momento político, a posição do nosso partido, as nossas opções, os caminhos que queremos seguir. Temos grandes lideranças, como o deputado estadual Júlio Garcia, que conseguiu reeleger-se como presidente da assembleia por unanimidade, fato que nunca ocorreu na história do estado e isso mostra a capacidade dele de articular politicamente. É assim que queremos construir o partido, com renovação e com a capacidade de entender a vontade do povo expressa em suas lideranças.