“O que se tem não vale nada se você não for humilde”

Pedro João de Almeida, 63 anos, é tubaronense, e viveu praticamente toda a sua vida na Cidade Azul. É casado com Silésia Souza de Almeida, com quem teve três filhos. Desde muito cedo, aos 8 anos, começou a pegar na enxada. Filho de agricultores, ajudava seu pai na roça. Com 18 anos, foi para Florianópolis e, depois, retornou à sua cidade natal. Nada do que conquistou foi de ‘mão beijada’. Tudo foi muito batalhado, com persistência e esforço braçal.

 
 
 
 
Mirna Graciela
Tubarão
 
Notisul – Como conseguir ser dono do próprio negócio?
Pedro – Depois de trabalhar desde cedo na área, comecei aos 15 anos, como empregado, montei uma empresa, uma prestadora de serviços, de construção civil. Isso foi logo depois da enchente de 1974. Achei que já tinha condições de ter meu próprio negócio, com dificuldade, claro. E a criei com um sócio, o José dos Passos do Amaral. Até hoje somos parceiros. Inclusive, dois morroteiros. Foi quando surgiu a Construtora Almeida Amaral. Em 1995, passou a não mais existir. Hoje, presto apoio, assessoro as empresas dos meus filhos e o do meu parceiro em empreendimentos da construção civil. 
 
Notisul – Como o senhor analisa hoje o mercado da construção civil?
Pedro – Acho que estamos muito bem, nunca se viu tantas obras, muitas empresas se instalaram, tivemos um aumento significativo no número de profissionais. É um bom momento, o governo está incentivando bastante com este programa ‘Minha Casa Minha Vida’, mais voltado para a classe média baixa. Hoje, não compra apartamento quem não quer. Na época em que trabalhávamos, era muito rigoroso financiar um imóvel, o prazo era longo e havia uma série de burocracias. E também uma correção galopante, chegamos a ter uma inflação de 70%. Quem queria adquirir a casa própria tinha medo. Atualmente, está muito mais fácil. Se a família ganha dois, três salários, pode ter o seu teto. Tudo isto motivou. As opções de preços e condições estão bem facilitadas. Em Tubarão, há cerca de cinco, seis anos, a situação melhorou bastante. Atuamos mais em obras públicas, para o governo. 
 
Notisul – E os teus filhos seguirem caminhos semelhantes.
Pedro – Tenho três filhos. Um deles, o Alexandro Souza Almeida, que é engenheiro, é 100% no ramo da construção. Ele preparava-se para o vestibular, não sabia ainda o que queria. Então um dia lembro que ele disse: “Pai, já me decidi, vou fazer engenharia civil, porque depois, quando o senhor for embora, quem vai ficar no teu lugar? Darei continuidade ao teu trabalho”. E hoje está aí, graças a Deus, atua com muita honestidade e transparência. O Evandro Souza Almeida, que é o nosso vereador, tem a política, a qual gosta muito. Mas a política é complicada, ele tinha que optar por outra coisa, então, disse que gostaria também trabalhar no ramo da construção civil. Ele é formado em administração. Já o Max Sandro Souza Almeida é empresário, gosta da área de vendas, e tem uma loja de carros. 
 
Notisul – Antigamente, era mais fácil educar os filhos?
Pedro – Naquela época, tudo era mais difícil, falo por mim, pela formação da minha família. Às vezes, meu pai me batia porque minha mãe forçava. Eu também não era muito cristão quando novo (risos). Uma vez, ele puxou o facão e, sem intenção, no impulso, me cortou. A ponta da bainha do facão estava furada e ele não viu. Depois, ficou com pena de mim. Hoje, está tudo mais fácil. A pessoa que não anda correto é porque não quer. Eu andava muito para chegar à escola. Hoje, você abre a porta e está em um colégio. Às vezes, por ser mais fácil, é que eles erram mais. As coisas estão praticamente na mão. Eduquei meus filhos pela educação que herdei de meus pais. Os meus filhos não são de estar esnobando. A pessoa tem que ter humildade, mesmo que tenha sucesso na vida. Você pode ser bem sucedido, mas, se não tiver humildade, aquilo que você tem não vale nada. Quem não olha pelos outros e não ajuda as pessoas que têm necessidade não é humano. Tem que ter coração, harmonia. Muita gente pensa somente em si, não levamos nada depois. Estamos aqui também para ser solidários. As pessoas que não fazem isso não sei se são felizes na vida. Você tem que se doar para ser bem humorado.   
 
Notisul – E o seu envolvimento com a política, como ocorreu?
Pedro – Sempre gostei, desde jovem. Sem os políticos, também não sobrevivemos. Quem diz que não precisa deles não é verdadeiro, dos bons, é lógico. Para qualquer segmento da sociedade. Na verdade, comecei a me interessar mais pela política quando virei empresário. Antes, era mais difícil se comunicar com eles, você tinha que ter uma identidade para se aproximar, hoje é mais fácil. O político era mais reservado. Consegui agilizar obras por ter ligação com alguns políticos. O primeiro financiamento que consegui pela Caixa Econômica Federal foi em 1978, com o apoio do meu amigo Edinho Bez. Fomos juntos em Florianópolis, ele era o gerente do banco, em Tubarão, e ajudou muito. As pessoas têm que entender que a gente tem história. Já fui beneficiado pelo Edinho, assim como já tive problemas por causa disso, ele sabe. Somos muito ligados, é uma boa amizade, um respeita o outro, assim como também estou à disposição quando ele precisa. 
 
Notisul – Na sua visão, por que o deputado Edinho não conseguiu eleger-se prefeito de Tubarão no ano passado?
Pedro – Os próprios partidos aqui se arrebentaram, não se uniram. E o Olavio Falchetti vinha correndo por trás, sempre disse que não desejava coligação, sairia sozinho, e deu certo. Quando o PMDB, o PSDB e o PSD se dividiram, reforçaram o PT. E o povo já está chateado com esse negócio de coligação, isto está desgastado. Ainda acho que o Edinho não perdeu, mas sim nós, o povo. Mas vamos torcer que o Olavio, que tem capacidade também, faça um bom governo, mas ele tem que estar bem assessorado. Não conheço todo o seu secretariado. 
 
Notisul – Por que o seu filho Evandro (presidente da câmara de vereadores de Tubarão) ingressou na política? 
Pedro – Certamente por causa de mim. O meu filho trabalhou para o Pepê Collaço, na primeira vez que ele saiu para vereador. O Evandro tinha uns 17 anos e uma tendência para o Partido Progressista. Então, eu disse: quando fizeres 21 anos, te lança como candidato a vereador. E foi o que ocorreu. O Evandro está no segundo mandato, na primeira vez não se elegeu. Edinho Bez o inscreveu no PMDB, eu aceitei. Acho que sou amigo dos políticos, sou PMDB até por uma situação do meu filho, tenho que estar junto, já que dei apoio. Achei que ele tinha problemas por eu não ser do mesmo partido. Eu era do Partido Progressista. Filiei-me no PMDB há cerca de dois anos por causa disso.   
 
Notisul – Que características um homem deve ter para ser um bom político e exercer bem o seu papel?
Pedro – Primeiro, tem que ter perfil para isso. Não adianta pensar que porque ajudou as pessoas ou alguma instituição deve ser candidato. É difícil. Não é porque é o meu filho (Evandro), mas ele tem esse perfil, gosta da política. É uma pessoa aplicada, dedicada, atende a todos. Envolve-se diariamente. O político tem que ser confiável, há muitos que mentem. Dizem uma coisa agora e voltam atrás. Ou é ou não é. Tem que ser positivo. Se você é um político, tem que ter respeito ao povo, mas primeiro tem que ter caráter. Então, não se meta, porque de picareta estamos cheios.    
 
Notisul – E mudando de assunto, você gosta muito de futebol. Como foi a sua passagem como presidente do Tubarão? 
Pedro – Sou um apaixonado por futebol. Comecei aos 14 anos, quando eu vinha no campo do Hercílio Luz. Lembro até a escalação, todos os nomes dos jogadores daquela época. Acho que eu tinha 17 anos. Eu era hercilista. Depois disso, o Olavio Falchetti foi o presidente do clube e eu o vice. Sempre ajudei, fui presidente de patrimônio também. E, um tempo depois, em uma determinada época, achamos que não conseguiríamos chegar a lugar algum, porque estávamos divididos em dois times. Enfim, uma turma de hercilistas e de ferroviários. Então, nos juntamos e fizemos a união, que foi o Tubarão Esporte Clube. Fui o presidente em 1996 e 1997 e, neste período, o time foi vice-campeão do estado duas vezes. A gente se desgasta, porque em Tubarão é muito complicado. Faltam recursos, o empresariado tem que apoiar mais. Mas, às vezes, somos culpados também por má administração, por não termos muito tempo para cuidar, já que existem outros afazeres. Saí da presidência e fiquei afastado uns dez anos. Voltei em 2008 a ser presidente, mas do Cidade Azul, por dois anos. Somente aceitei se trocassem as cores da camisa e o nome para Atlético Tubarão.  
 
Notisul – E hoje, na sua avaliação, o que seria o ideal para o futebol em Tubarão?
Pedro – Recursos financeiros. Tem muitos empresários na cidade que dizem investir se for um clube somente. Tenho certeza que, se fizer apenas um time, não vão ajudar igual, isso é uma válvula de escape. Alguns até podem contribuir. Mas eles têm que optar. Vocês querem quem? Não desejam ser nem de ‘A’ e nem de ‘B’. Sou favorável à unificação, como antes. Nós chegamos a ir para a imprensa e pedir ao Hercílio Luz para juntarmos, mas querem que seja o nome deles, e tem que ser o nome da cidade. Com vemos o Joinville, Criciúma, Ibirama, entre outros. Estamos agora com a empresa Sul Participações e Investimentos, que será lançada no próximo dia 23, no Restaurante Lagoa, em Cabeçuda. Teremos os investidores. Se antes ajudávamos financeiramente, a pessoa, agora com este projeto, poderá comprar cotas.
 
Pedro por Pedro
Deus – O que seria de nós sem?
Família – Em primeiro lugar.
Trabalho – Precisamos e faz bem à saúde.
Passado – É bom às vezes não lembrar, mas também é necessário.
Presente – Viver com harmonia e respeitar o ser humano.
Futuro – Quero viver muito ainda.
 
"Ainda adolescente, com uns 15 anos, fui trabalhar em Capivari de Baixo. Eu saía cedinho. Hoje não é assim, os jovens querem andar somente de carro. Eu saía do Bom Pastor para trabalhar lá, onde colocava pedra, calçamento, em uma empresa para a siderúrgica. Hoje, ninguém mais quer andar de bicicleta, que faz muito bem para a saúde. Se for um pouco distante, não vai a pé. Eu saía de casa com uma bicicleta velha, que custei a comprar. A BR-101 era estrada de chão batido, o vento era contra, eu pedalava, pedalava, dava mais ou menos uns 15 quilômetros. E pensava: quem sabe à tarde o vento me ajuda. Mas não, o vento virava e eu tinha que pedalar forte e fazer muita força. Eu levava quase duas horas". 
 
"Construí prédios em Criciúma, Florianópolis. Em Tubarão, acho que uns 20”.
 
“Desde criança, sempre trabalhei, lutei muito. Quem trabalha sério, Deus ajuda, com certeza”.
 
"Quando passo hoje em Florianópolis, até faço questão de entrar no bairro Estreito, passar no Morro do Geraldo, para olhar e lembrar a primeira obra, um prédio, que comecei a trabalhar de empregado lá".
 
"Acho que todos nós temos uma cruz para carregar, alguns mais leve e outros mais pesada. Mas temos que ter capacidade para administrar, porque existe o dia bom e o ruim. Agora, se você se apavorar, não vai conseguir se encontrar e resolver nada. Tem que ter calma. Para tudo se dá jeito. Já tive muitos problemas e situações em que achava que não levantaria mais, e dei a volta por cima. Estou vivendo". 
 
"Naquele tempo, apanhávamos muito na escola. Hoje, ninguém pode bater, dá processo. Uma vez, uma professora me pediu para arrumar uma vara de marmelo. Consegui em um morro. E o primeiro a batizar a vara fui eu. Mas isto tudo foi um aprendizado. Hoje, acho que apanhar também não é correto, mas um puxão de orelha você pode dar. Às vezes, a professora fazia o papel dos pais quando não havia muita educação em casa".