“O crescimento não pode ser engessado”

Zahyra Mattar
Tubarão

Notisul – Você tem 30 anos de experiência como corretor de imóveis. Consegue traçar um paralelo entre os dias atuais e a época passada?
Fernando Matos
– O setor da construção civil tem mudado muito nos últimos anos. Tubarão cresceu, mudou. As exigências de hoje não são mais as mesmas de 20 anos atrás. No início, quando comecei a atuar na área, o corretor era visto como um picareta. E usavam esta expressão mesmo. Não existia um mercado profissional. Era uma atividade desenvolvida nas horas vagas. Hoje, a classe é organizada nos municípios, nos estados e no país. Somente neste quesito, já se pode observar uma mudança enorme.

Notisul – Mas e na questão de imóveis?
Fernando Matos
– Com certeza também. Neste aspecto, já é muito mais visível. Há 20 anos, quando Tubarão começou a ser verticalizada, um prédio era construído e estantaneamente vendido. Hoje, o volume de vendas é grande ainda, mas o consumidor está muito mais exigente. Não quer qualquer apartamento, quer a realização do seu sonho. Antes, os prédios eram sem sacada, não tinha garagem para todos os condôminos. Hoje, é difícil vender um apartamento sem sacada e garagem. Pelo contrário. Você sabe como as construtoras começam a planejar um novo empreendimento? Pela garagem.

Notisul – Como você observa o Plano Diretor? Acha que vai mudar algo para o setor?
Fernando Matos
– Não sei onde, mas obviamente o Plano Diretor trará mudanças. Não conheço a lei, então, fica complicado aprofundar. Acredito que a lei deveria ser feita por tubaronenses. Sob qualquer hipótese, longe, muito longe disso, questiono o profissionalismo dos técnicos que efetuam o plano. Pelo contrário. Mas acredito que falta uma observação de quem vive em Tubarão, de quem faz a cidade.

Notisul – O Plano Diretor mudará a questão de zoneamento e ocupação de solo de Tubarão. Isto não lhe preocupa?
Fernando Matos
– Preocupa. Por isso que acredito que as instituições, os técnicos e o poder público deveriam estar junto na formulação da lei. Tubarão tem um problema de solo. Quem é do setor da construção civil sabe. Parte da cidade é morro, a outra é banhado. Então, não adianta a lei dizer que só podem construir no espaço A. Primeiro, temos que saber qual a estrutura para o espaço A. Tem escola? Comércio. Quais as ruas de acesso. Tem transporte coletivo? Tudo isso conta. O que não pode é o Plano Diretor engessar o crescimento.

Notisul – Você acredita que o Plano Diretor pode engessar o desenvolvimento do setor imobiliário?
Fernando Matos
– Caso não seja melhor analisado, debatido, pode ser que isso ocorra de certa forma. Mas volto a repetir: o Plano Diretor é a arma do municípios para organizar a cidade. Longe de mim ser contrário a algo que será tão benéfico. Não podemos pensar individualmente. Uma cidade remete ao coletivo. Mas é preciso ter cuidado para não privar o próprio coletivo de investimentos que farão todos crescerem.

Notisul – Como você avalia os programas habitacionais do governo, como o Minha Casa, Minha Vida?
Fernando Matos
– Definitivamente, em alguns anos, suprirá boa parte do déficit habitacional do país. Em Tubarão, muitas construtoras apostam nesta parcela do mercado. Um outro detalhe é quanto aos próprios empreendimentos. E desta vez voltamos para a pergunta que você fez no começo, sobre a evolução do mercado imobiliário na cidade. Há 20 anos, quando se falava em condomínio popular ou com preços populares, a imagem que vinha na cabeça era aquela coisa horrível, com um pintura de segunda, cheio de problemas estruturais, infiltrações. Uma coisa completamente insalubre. Tubarão tem alguns exemplos disso. Hoje, todo tipo de consumidor é exigente. Se ele vai investir em algo, quer algo bom, bonito, seguro. O mercado, o perfil do consumidor, sempre pauta o setor imobiliário. Tanto que hoje temos, na cidade, uma infinidade de novos empreendimentos em construção, outros tantos engatilhados. E são prédios para todos os gostos e bolsos.

Notisul – A nova Lei do Inquilinato é boa?
Fernando Matos
– Preserva todos os lados. Sabe que há alguns anos alugar algo em Tubarão era até um pouco complicado. Hoje, além de ter mais opções é mais fácil. Digo isso porque quem pode, começou a investir mais em imóveis para locação, por causa da Unisul. Não vejo com maus olhos a Lei do Inquilinato. Acredito que esta é mais uma tendência do mercado. Quando o assunto é imóveis, é o comportamento do consumidor que rege, que pauta.

Notisul – A que você credita este boom no mercado imobiliário de Tubarão?
Fernando Matos
– A um pouco de tudo (risos). Mas é verdade. Ainda que a duplicação esteja um pouco longe de acabar, teremos uma rodovia melhor no futuro, um aeroporto. Isto gera melhor infraestrutura na cidade, porque os empresários passam a investir mais. Além disso, Tubarão é o centro universitário da região sul. O que precisamos é que haja ordenamento e incentivo para que este crescimento seja constante e uniforme, não apenas no lado A ou B.