“O controle de eventos climáticos é baseado no planejamento”

 

Gaúcho de Pelotas, o engenheiro agrônomo Clair Teixeira de Souza considera-se catarinense de coração. Mora no estado desde 1982, e em Tubarão desde 1986. A partir de então, atua na área fazendo importantes trabalhos na região. É pai, marido e esportista. Tem convicções políticas bem argumentadas acerca dos assuntos que envolvem os problemas ambientais do planeta. É presidente da Associação Tubaronense de Natação, vice-presidente da Associação dos Produtores de Arroz, de Tubarão e região e diretor da Associação de Produtor de Palmito.
 
 
Lily Farias
Tubarão
 
Notisul – Qual a importância da agrometeorologia? 
Clair – Não fazemos previsão, trabalhamos com a relação que as plantas e os animais têm com a temperatura, direção e intensidade do vento.  É um segmento que define locais e épocas adequadas para plantio e para colheita e, ao mesmo tempo, previne eventos que são fundamentais para a manutenção das produtividades agrícolas e estabilidade do alimento nas prateleiras dos supermercado. A maioria das produções, produtividades, resultados e catástofres que ocorrem no mundo afeta de sobremaneira a questão alimentar, e como consequência irá afetar diretamente o homem e na sobrevivência do planeta.
 
Notisul – A agrometeorologia seria mais importante se as pessoas tivessem mais conhecimento do clima de um modo geral? 
Clair – Para as pessoas entenderem o clima e a agricultura, é preciso ter o conhecimento de que enquanto estamos no hemisfério sul plantando uma safra de verão, no hemisfério norte está na época de colheita. Enquanto uma região tem comida, a outra se prepara para ter. Hoje, o nosso produtor  planta com uma expectativa de preço muito maior do que era antes. Isso é bom para o produtor de milho e de soja. Mas é ruim para o produtor de suínos, de aves, que vai ter uma matéria prima que é muito mais cara e em consequência vai ter sua atividade inviabilizada. Quando as pessoas tiverem essa consciência da condição climática, será possível conseguir por meio de governos definir a possibilidade de importação e exportação de produtos, e até direcionar uma plantação para uma determinada região. Mas hoje as pessoas assistem à previsão do tempo preocupadas se o tempo está bom para viajar ou ficar em casa. As pessoas criticam quando erramos a previsão do tempo. São erros que acontecem por falta de dados, porque a tecnologia ainda não nos permite ser precisos. Hoje, temos certeza de 90% de acerto com até três dias de previsão.
 
Notisul – Em breve, será possível a população saber dados mais exatos sobre as condições climáticos de uma cidade ou região? 
Clair – Temos uma  estação em Tubarão, está localizada no bairro Vila Moema, mas nem todo mundo tem acesso às informações. Há cinco anos, tivemos a ideia de fazer um site e relacioná-lo a uma iniciativa da empresa Evoluma, que era de determinar o nível do Rio Tubarão e saber exatamente qual a condição climática da cidade. Essa iniciativa foi privada e até contestada pelo fato da possibilidade de criar pânico na população, porque saberá exatamente o que acontece no rio, que horas está subindo, quando desce. Mas as pessoas têm que ser informadas, independente de ser uma coisa boa ou ruim. Até o próximo ano, estaremos com o site no ar e contaremos com o apoio da Epagri/Ciram e  da Agência Nacional de Águas, de onde teremos informações. 
 
Notisul – Prever o tempo é uma atividade recente, mas os eventos climáticos não… 
Clair – Os fenômenos existem  desde sempre, a diferença é que as pessoas não tinham acesso à informação como têm hoje. O planeta passa por inúmeras fases, agora está esfriando, fator que gera grande discussão. As nossas medições de tempo são muito curtas, têm-se registro de medição com termômetros há cerca de 170 anos. É uma história curta, portanto, é muito comum profissionais levantarem dados e dizerem que uma chuva, por exemplo, foi a mais forte dos últimos anos. Temos informações meteorológicas na região de 70, 80 anos atrás, mas não significa que há 200 anos não pode ter dado uma chuva mais forte do que já registramos.
 
Notisul – Como é o trabalho da Plantar Agronomia em relação aos eventos climáticos? 
Clair – É baseado no planejamento para controlar os eventos climáticos. Os agricultores precisam saber exatamente a direção do vento, umidade do ar e previsão de sol e chuva para saber com precisão quando podem começar uma nova safra, ou aplicar um produto químico na cultura. Procuramos usar essas ferramentas de meteorologia e racionalizar com os fenômenos naturais. Otimizamos os trabalhos deles e isso reflete na economia. Somos obrigados a produzir mais com preço menor. Literalmente, temos que economizar. Por meio da tecnologia, conseguimos prever o tempo em 30 dias ou até longo prazo, falando em meses, com a finalidade de reduzir custos, aumentar a renda e vender à população produtos mais baratos e de qualidade. 
 
Notisul – Em uma cidade relativamente pequena como Tubarão, há muitas variações climáticas? 
Clair – A tendência é dos aglomerados urbanos terem temperaturas maiores. Se compararmos a cidade com o meio rural, há uma variação de até 3 graus celsius. Na área litorânea, pode ser mais.  Essas variações  se dão porque na cidade quase não tem vegetação. Em Tubarão, uma cidade relativamente pequena, essas diferenças não são tão grandes, mas em cidades grandes, com áreas extensas impermeabilizadas em que o sol bate e reflete, aquecendo o ar, a diferença é gritante. Uma alternativa que está sendo utilizada e que não pode ser deixada de lado na nossa cidade é cada um ter qualquer tipo de vegetação na sua residência. Isso irá possibilitar mais conforto térmico. Essa é a grande necessidade das pessoas, ter conforto. Aí o ser humano entra em um grande dilema, é que todo mundo quer melhorar de vida, e a melhora de vida é baseada no consumo de energia.
 
Notisul – E o consumo de energia gera um grande impacto no meio ambiente. 
Clair – Se todo mundo que almeja uma padrão de vida melhor, sem pensar na escassez de recursos não tem planeta que aguente. Já estamos falando de uma problema ambiental que  envolve o mundo. Países europeus defendem muito o controle das emissões, mas não querem controlar as próprias emissões.  Esse salto de consumo de energia pode se relacionar à conscientização da população, por meio do aproveitamento de água, construção de prédios verdes, produção de energia por meio do sol e do vento.  Esse comportamento, desregrado ou não, de uma forma ou de outra afeta a área rural. É muito comum se falar em energia solar e eólica, mas as pessoas não entendem que a energia é ponto, o que é produzido agora é consumido no mesmo instante. Não tem como armazenar energia. A energia eólica vai evoluir muito na região, apesar de ter um custo muito alto. Vai fazer parte do mesmo sistema da energia solar que entra na casa das pessoas.
 
Notisul – Então, tudo está relacionado à questão energética e econômica? 
Clair – Para mim, sim. Um exemplo é a história do ciclismo. Quem precisa pedalar é quem anda de automóvel. O operário não precisa porque gasta energia com o próprio trabalho. De que forma conscientizar as pessoas? Talvez no futuro pode ser que se consiga que  as crianças tenham uma visão pouco diferente disso. Mas é difícil, por exemplo, convencer alguém de apagar uma lâmpada quando sai da sala. As pessoas pensam que não têm problema, mas não têm noção do impacto que isso gera no meio ambiente e que irá refletir no bolso. Por meio desses pequenos gestos, é que as coisas vão ficando mais caras porque tudo tem um custo. E isso vai obrigar as pessoas a economizarem. É injusto uma família que produz determinada quantidade de lixo por semana pagar a mesma coisa que a família que produz nada de lixo. Se não começar a diferenciar essas coisas, teremos uma sociedade incapaz de diminuir as diferenças.
 
Notisul – Ao mesmo tempo que o governo investe em campanhas de conscientização, as pessoas estão cada dia menos preocupadas com o meio ambiente. 
Clair – Já foi pior. Há dez anos, por exemplo, as pessoas nem falavam em campanhas de conscientização como se fala hoje. Mas as coisas chegaram neste ponto por uma questão financeira. Você cobra determinados serviços gratuitos e as pessoas veem que, com o passar do tempo, elas terão que pagar, e acabam aprendendo que devem economizar. Isso já aconteceu com a água, que era gratuita. Isso acontecerá com o esgoto também. Esse rejeito não pagamos e jogamos nos rios, no esgoto pluvial da cidade, sem muito problema. A partir do momento que  as pessoas passarem a pagar por isso, vão começar a se preocupar. A educação está em função de cumprimento de legislação, mudança de padrões, diminuição das famílias, mas ainda demora uns 30, 40 anos. Na agricultura, é uma cobrança da sociedade em função de que temos que cumprir no campo algumas regras mínimas para produção de resíduos com baixo impacto no meio ambiente. Isso força a nossa atividade a se enquadrar legalmente. As pessoas perderam a noção da importância da agricultura. Elas só notam quando há uma crise que afeta toda a estrutura economia mundial. Mas isso é irreversível. Temos 15% da população brasileira no meio rural e a tendência é ficar com até 5% nos próximos 20 anos. 
 
Notisul – Na sua opinião, além do problema ambiental que envolve a “vida” do Rio Tubarão, o que mais pode ser feito para melhorar o desenvolvimento da cidade?
Clair – O grande problema da cidade, em função dos acontecimentos políticos nos últimos anos, é a dificuldade que as administrações tiveram no gerenciamento de Tubarão, de realmente focar o objetivo principal do município, que é proporcionar bem-estar às pessoas. E o reflexo disso foi sentido nesta eleição, que é mudar no sentido de que as estruturas existem para servir a quem realmente paga por ela, que é o cidadão. A visão que tenho da política da cidade não é de transformação para uma megalópole, até porque as pessoas que moram aqui gostam do perfil que ela tem, é relativamente tranquila e tem custo de vida baixo. A cidade precisa de um foco e é nítido que a coisa caminha para o passo certo. 
 
Notisul – Mas toda mudança tem um preço. 
Clair – Isso é fato. Será uma mudança difícil de ser implementada naturalmente, porque as pessoas estranham que tenham que definir prioridades. Que é preciso se atentar a coisas complexas como educação, saúde e sim, meio ambiente. Mas a partir do momento a arrecadação do município for usada exclusivamente para fazer Tubarão  desenvolver, teremos grandes resultados. Mas isso ainda leva tempo. Parece utópico, mas não é. Tenho  esperança de que isso comece a se concretizar ao longo destes quatro anos. Mas também se não der certo, nos próximos quatro anos muda de novo, a democracia foi feita para isso. Tubarão não é uma cidade poluída, enquadra-se dentro dos padrões da normalidade. Agravante é que não temos o saneamento básico resolvido, a sociedade deveria controlar mais o índice de poluição geral.
 
Clair por Clair
Deus – É vida.
Família – A base de tudo.
Trabalho – Fundamental.
Passado – Boas lembranças.
Presente – Trabalho.
Futuro – Muito trabalho. 
 
"As pessoas são focadas no que acontece ao redor delas. Os agricultores da região preocupam-se em diminuir os insumos químicos que usam no plantio. Para os tubaronenses, falar em meio ambiente e não citar o Rio Tubarão é impossível. Para eles, o rio é o maior problema a ser revolvido nesta área, principalmente porque têm medo de uma nova catástrofe como a de 1974. O rio sempre foi tratado como um esgoto da região, mas isso tem que mudar nos próximos anos. Como ele é o esgoto, tudo que se faz impacta diretamente no rio. O maior problema da região é a falta de saneamento básico, coisa que demanda muito dinheiro e aperto no bolso de cada um, mas isso é a longo prazo e parte para um processo de educação". 
 
"Toda atividade que se faz gera impactos ao meio ambiente, seja onde for”.
 
“Não são os eventos que 
estão se agravando, a população mundial aumenta 
e os riscos também”.