“Não vou entrar lá para reclamar”

Foto:Priscila Loch/Notisul
Foto:Priscila Loch/Notisul

Arregaçar as mangas e trabalhar em busca das soluções é o ‘trunfo’ do prefeito eleito Nivaldo Sousa (PSB) para tirar Capivari de Baixo literalmente do buraco. Município com arrecadação bastante invejada pelos vizinhos, Capivari parece ter parado no tempo no que diz respeito a investimentos. Estradas esburacadas, Prontoatendimento 24 horas fechado, necessidade de redução da máquina pública e outros problemas têm solução, avalia.

Priscila Loch
Capivari de Baixo

Notisul – A que fatores você atribui a escolha da maioria dos eleitores para que você fosse o prefeito de Capivari de Baixo pelos próximos quatro anos?
Nivaldo –
Primeiro, entendo que foi a vontade de mudança da população de Capivari, daquela mesmice dos últimos mandatos. Depois, a própria administração do atual prefeito, que está complicadíssima. Eu fui vice-prefeito duas vezes, fui secretário de obras duas vezes, mas nunca tinha sido prefeito. Era novidade para ser prefeito, mas com alguma experiência, e a população chegou no limite, em função de tudo que existe na política hoje, tanto lá em cima, quanto no nosso município. Nós ganhamos as eleições com as pessoas. Se dependesse de número de partidos, com certeza teríamos dificuldades de ganhar. Até porque, com a desistência da terceira candidatura, juntaram-se todos no outro lado. Nós continuamos com a mesma coligação, formada por quatro partidos apenas (PSB, PPS, PR e PDT). Isso tenho certeza que contribuiu, pela situação que está o município. As pessoas queriam apostar em alguém que não fosse ligado nem a um nem a outro. Tivemos uma vitória junto com a população. Esse que foi o diferencial. A população foi às ruas, nós fizemos uma campanha voltada para as pessoas o tempo todo. Começamos a pré-campanha em fevereiro e terminamos no último dia 2 com o mesmo discurso, o mesmo compromisso, e também com os mesmos três partidos com quem fizemos a convenção, não agregamos mais ninguém. Uma das coisas muito fortes foi a diminuição do tamanho da máquina pública que pregamos e assumimos o compromisso de fazer. Capivari tem uma estrutura administrativa, principalmente em cargos comissionados e secretarias, totalmente fora da realidade.

Notisul – Como fazer esse enxugamento sem se incomodar com os aliados? Qual o número ideal de secretarias?
Nivaldo –
Vai ser feito já no primeiro dia de governo. Vamos mandar um projeto para a câmara. O fato de ter poucos partidos coligados ajuda. Entendo que precisaríamos ganhar a eleição para poder promover essa mudança. Se não fosse para fazer essas mudanças, não adiantaria ir para lá. Se agrego mais três ou quatro partidos, com certeza eu teria dificuldades para colocar em prática, mas, da forma que está, os partidos que estão comigo sabem disso, nunca escondi. Hoje, existem em Capivari em torno de 20 secretarias e diretorias com status de secretarias, com o mesmo salário. Claro que não estão todas ocupadas, mas estão aprovadas e, se não extinguir, aos poucos esses espaços podem ser ocupados. Queremos, de início, reduzir para sete ou oito secretarias, no máximo. Esse é o número ideal, que tínhamos até 2008. Eu fui secretário de obras e cuidava de uma secretaria que foi transformada em cinco depois. Funcionava bem. O organograma de uma secretaria envolve vários cargos, e ao transformar em diretoria você reduz a equipe e os custos. É isso que Capivari precisa, fazer uma grande economia lá dentro, na área administrativa, para investir lá fora, na educação, na recuperação da cidade, na própria infraestrutura. Hoje, não há ruas para transitar, precisam ser totalmente recuperadas. Essa economia tem que ser feita em locais onde não atinja números tão grandes de pessoas. Quando faz economia na saúde ou na educação, atinge a maioria da população. Foi isso que aconteceu em Capivari com o fechamento do Prontoatendimento, que atingiu no mínimo 70% das pessoas que não têm plano de saúde, que a qualquer situação vão ter que ir para Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, que é um baita hospital de referência, mas para atender situações mais graves.

Notisul – Tem dimensão da real situação em que se encontra o município? 
Nivaldo –
Eu sei que a situação é bem difícil. Números ainda não tenho. Estamos começando a fazer isso agora. Eu sei que a situação é difícil, por isso já tomei essas posições durante a campanha e a pré-campanha, de trabalhar de uma maneira diferente. Porque eu sei que vamos ter que enxugar muito, economizar muito. Primeiro, para prestar os atendimentos à população, e depois para a reconstrução. Será preciso reconstruir tudo. Não temos estrutura, os carros são alugados, não vamos ter uma frota pronta para trabalhar, vai ter alguns carros funcionando que vão ter que ser direcionados para a saúde. Já disse para a equipe que pretendo formar, que vai ser pequena de início, que cada um vai ter que trabalhar com a estrutura que já tem, levar da sua casa. Não vamos ter condições de oferecer a estrutura necessária no começo. Também não pretendo alugar carros. A princípio, nós vamos rever tudo que existe, como aluguéis e terceirizações. O município é pequeno e dá de se fazer um controle com o próprio pessoal da prefeitura. As terceirizações encarecem muito. Pretendo trabalhar dessa forma: fazer uma grande economia para que possamos atender ao que a população precisa.

Notisul – Quais são os problemas a serem resolvidos já nos primeiros dias de governo?
Nivaldo –
Tenho algumas situações, mas sei que preciso organizar a casa primeiro. Vou ter que trabalhar com a maioria dos servidores concursados, de carreira, que são mais de 700. É uma quantidade enorme de concursados. Temos áreas com sobra de concursados e áreas em que temos falta. O remanejamento é difícil, a não ser nas situações em que já estão deslocados. Aí é um desafio que vamos ter que enfrentar de começo, sabemos disso. Já tive contato com grande parte desses funcionários, quando fui secretário e vice-prefeito, e eles podem nos ajudar. Vou fazer um contato com eles, deixei bem claro na campanha que ia apostar nos funcionários de carreira e concursados. Até porque não posso levar um número grande de fora para cargos comissionados, que também vou reduzir. Sabemos que precisamos organizar a prefeitura, colocar as pessoas certas nos lugares certos, ter muito cuidado na hora de nomear e aproveitar os concursados. Os comissionados, com certeza, o atual prefeito vai levar todos embora com ele. Se não levar, nós no primeiro dia faremos isso.

Notisul – Você acredita que investir em estradas, uma das maiores necessidades mais urgentes de Capivari, vai ser possível já no início do mandato?
Nivaldo –
A recuperação dos buracos, que é o que mais tem em Capivari, vamos tentar resolver de imediato. Vamos ter que buscar investimentos, torcer que em números não nos assuste muito o que vai ficar para ser pago. Já sei que vai ficar, mas que dê pelo menos de fazer uma negociação. Torço muito para que não fique folha de pagamento atrasada, porque para mim o salário é sagrado e todos que trabalham durante o mês têm compromissos. Fornecedores com certeza vamos ter que negociar, fazer um cronograma. Vamos ter que verificar tudo que aconteceu dentro da prefeitura nos últimos anos e trabalhar em cima disso. O que tenho é que não vou entrar lá para reclamar, quando normalmente fazem os prefeitos recém-chegados. Não vou fazer isso, nossa equipe vai ter que arregaçar as mangas para trabalhar e o que tiver de errado vamos cobrar via judicial. Não adianta reclamarmos porque nós sabemos a situação do Capivari e a população também sabe. Não quero reclamar e não quero que a equipe que vai trabalhar comigo faça isso. Temos é que apresentar soluções. Sabemos que são lentas no começo, mas precisamos dar um rumo diferente assim que chegarmos lá. Vamos atrás de crédito. Sei que o atual prefeito tem complicações com crédito, mas quando entra uma pessoa nova sempre tem alguma esperança. Precisamos buscar uma quantidade de asfalto para fazer essa recuperação. Os postos de saúde precisam ser reorganizados, a saúde humanizada, melhorar a qualidade do atendimento… Isso se consegue com o tempo, precisa adequar a realidade e depende muito da equipe. Estou tomando muito cuidando porque também não fiz o comprometimento antecipado de cargos, tanto que devo nomear algumas pessoas. Mesmo com sete secretarias, não vai ser com sete que vamos começar, vai ser com bem menos, e o restante vamos trabalhar com departamentos. Aos poucos, podemos ir nomeando para as sete secretarias.

Notisul – Acredita que a transição de governo ocorrerá tranquilamente, sem imprevistos ou dificuldades impostas?
Nivaldo –
Tivemos um primeiro encontro na semana passada para começar a trabalhar a transição. Pedimos um espaço para nos instalarmos, deve ser na Associação dos Empregados da prefeitura. A princípio, o prefeito nos disse que iria colocar tudo à disposição. Temos interesse de buscar os números. Teremos que começar isso pela contabilidade, a parte administrativa, finanças, que são o coração da prefeitura. Claro que também vamos buscar isso na saúde e na educação. É importante sabermos a realidade para que possamos ainda nestes dois meses que faltam para assumirmos ir em busca dessas soluções, fazer planejamento. Só espero que não seja pior do que eu esteja pensando. A princípio, o prefeito disse que não colocaria nenhuma dificuldade. Devemos trabalhar em forma de ofício para buscar as informações. Gostaria que a equipe tivesse acesso para buscar essas informações cara a cara. Vamos marcar um novo encontro, para os próximos dias, e buscar alguma informação neste sentido. Eu e o vice Aurimar vamos participar de tudo, quero estar presente. 

Notisul – É possível reabrir o Prontoatendimento para funcionar 24 horas?
Nivaldo –
Está no nosso plano de governo o compromisso de reabrir o Prontoatendimento. Eu até dizia que gostaria de melhorar o atendimento, mas para isso precisaria estar aberto. Infelizmente, virou motivo de campanha. Eu sempre fui um defensor do Prontoatendimento aberto. Só que coloquei no meu plano a informação de que vou abrir de forma planejada. Precisamos abrir sem perigo de fechar três ou quatro meses depois. Disse também durante a campanha que quero dar prioridade para esta abertura, não será dia 1° de janeiro, com certeza, mas que seja o mais rápido possível. Se for para abrir 24 horas, vou ter que esperar mais um pouco, mas podemos fazer uma avaliação e de início abrir em horário alternativo, funcionando à noite, depois dos postos fecharem. E dentro desse planejamento chegar a 24 horas. Precisamos equipar, buscar equipamentos nossos. O raio-x, por exemplo, é alugado. O ultrassom é antigo. Vamos tentar buscar convênios. Hoje, Capivari tem a maior receita da Amurel, comparando o tamanho dos municípios, mas tem muita coisa comprometida com dívidas passadas, de INSS, FGTS. As coisas básicas do dia a dia teremos que fazer com a economia da nossa receita. Os projetos maiores vamos mandar para Florianópolis, Brasília. Quem não faz isso com certeza não administra bem. 

Notisul – Falando em dívidas, é difícil aceitar um prefeito não deixar todas as contas em dia se existe a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Nivaldo –
A Lei de Responsabilidade Fiscal na verdade indica o que não se deve fazer. Mas claro que temos visto por aí administrações que deixam dívidas. Em Capivari, ainda tem dívidas da administração passada. Dessa administração, com certeza, deve ficar alguma coisa. A lei faz esse indicativo e pode punir quem não cumprir. Mas tem que mandar para o Tribunal de Contas, e, mesmo que as contas forem rejeitadas, depende da Câmara de Vereadores. Na prática, é complicado. Os prefeitos não podem deixar dívidas, mas infelizmente continuam deixando e isso atrapalha muito. Eu entendo que tem que seguir sim, tanto que folha de pagamento tem um teto, quando chega a 50% está no limite já. Folha de pagamento não deve passar de 40%, no máximo 43%, senão não dá para fazer investimentos e fica praticamente impossível prestar atendimentos. Se passar de 50% já vira velhaco, daí começa a não pagar os fornecedores. E é isso que vem acontecendo na maioria das administrações. O administrador, o gestor que a população elege, tem que trabalhar muito próximo a uma administração privada. Capivari tinha uma receita de R$ 5 milhões, R$ 5,5 milhões, e os políticos acham que nunca vai acabar. Se gastar mais em um mês é preciso economizar mais no outro.

Notisul – Capivari de Baixo sempre teve uma vantagem sobre os municípios vizinhos em decorrência do “gordo” ICMS que recebe da Tractebel. Onde tem sido investido esse dinheiro? Afinal, a população tem sentido a falta de investimentos nos últimos anos…
Nivaldo –
Em função da Tractebel, que hoje é Engie, temos um percentual de retorno maior. A receita de agosto do município, com convênios e tudo, chegou a R$ 4,8 milhões. A Tractebel, em função do ICMS e também do ISS quando as empresas terceirizadas estão a todo vapor trabalhando na manutenção, pode chegar a R$ 1,5 milhão, até R$ 2 milhões. Estamos muito dependentes da Engie/Tractebel, precisamos começar a pensar em diversificar. Para isso, temos que recuperar o município. Pelo jeito que está, ninguém se instala em Capivari. Temos que começar a nos preparar, porque a tendência é ir diminuindo essa receita. A informação que tenho é que vamos ter uma queda de retorno de ICMS de 10% para 2017. Existem empresas que fazem um trabalho de consultoria para manter o ICMS pelo menos. Esse é um bolo que é dividido para todo o estado e se não fizer esse acompanhamento vai perdendo. O tamanho da máquina pública, com R$ 3 milhões de folha de pagamento, comprometeu tudo isso. Há uma despesa fixa. Tem nove postos de saúde funcionando, que têm convênios com o governo federal mas precisamos complementar, temos cinco escolas municipais, sete creches. É uma estrutura física e fixa que tem um gasto de manutenção diário. 

Notisul – Uma de suas bandeiras durante a campanha foi a de lutar pela valorização da indústria e do comércio. De que forma pretende alcançar esse objetivo?
Nivaldo –
Primeiro, é preciso tornar o município novamente atrativo. Hoje, quem sai de Capivari não volta mais, e quem mora está com vontade de ir embora. A recuperação é uma nova injeção de ânimo no comércio e nas indústrias. Queremos também atrair aqueles empresários que querem expandir para outras cidades. Somos privilegiados: cortados pela BR-101, próximo ao porto e ao aeroporto. Diferente de outros municípios isolados que estão crescendo. Então, alguma coisa está errada. Vamos valorizar o que é nosso. O próprio comércio e a indústria precisam fazer suas partes também. Se parar no tempo, não sobrevive. Tem que estar sempre investindo, melhorando o atendimento. Por isso, precisamos ser parceiros da CDL, das associações empresariais. Hoje, vejo tudo muito isolado, cada um tentando sobreviver sozinho. Estamos atravessando uma crise, mas cabe a nós buscar a sobrevivência para depois crescer. Quando o poder público não faz a parte dele, fica difícil. Não é só receber e não dar nada em troca.

Notisul – O que podemos esperar do seu mandato?
Nivaldo –
Vai ser um mandato de muita austeridade, muita transparência, temos que fazer as coisas de maneira clara. Foi isso que pregamos durante a campanha e é isso que vamos precisar para tirar Capivari dessa situação. Uma equipe competente, pequena, com as pessoas certas no lugar certo. Não adianta montar uma equipe política apenas para satisfazer os partidos, isso não funciona mais. Temos grandes profissionais funcionários de carreira que vamos aproveitar. Normalmente, se faz uma equipe com 70% de políticos e 30% de técnicos. Vamos ter que inverter. É difícil? É. Mas preguei isso, avisei as pessoas que estavam comigo. A eleição terminou no dia 2 e agora temos que enrolar as bandeiras, vou ser prefeito para todos. Temos que buscar a união da população. Vamos buscar a união dos vereadores. Temos seis, mas queremos ter os 11 vereadores votando nos projetos que são prioridades, de interesses coletivos. Vamos sofrer bastante no início, mas vamos fazer a nossa parte, chegar lá e arregaçar as mangas.