“Não fazemos baderna, fazemos manifestação de forma pacífica”

Elizandra Rodrigues Anselmo é comerciária, atualmente preside o Sindicato dos Comerciários de Tubarão e Região. Tem o ensino médio completo, casada, não possui filhos, e atua há 14 anos no Sindicato dos  Comerciários. “Sou uma eterna sonhadora. Às vezes, posso parecer meio utópica. Lutar pelos direitos dos trabalhadores é a minha vida. Sempre fui uma pessoa que lutei por meus direitos, busco por justiça desde o tempo escolar”, lembra.
 
 
Maycon Vianna
Tubarão
 
Notisul – O que falta para o pleno desenvolvimento do comércio na cidade?
Elizandra Rodrigues Anselmo – Se tivéssemos mais indústrias na cidade ou, quem sabe, empresas maiores, acredito que o comércio se desenvolveria mais, pois também teríamos aumento de renda e assim fortaleceria ainda mais o nosso comércio. Temos potencial para evoluir.
 
Notisul – Como você avalia a atuação do poder executivo no que diz respeito à vinda de indústrias para Tubarão?
Elizandra – Já está a caminho, desde a assinatura para a construção do Parque Industrial no terreno cedido pela Tractebel, estamos no rumo certo. Basta agora o poder executivo, de fato, ir atrás para que as indústrias venham para a nossa cidade. Até hoje, não entendi o motivo que os outros prefeitos não buscaram isso, não sei se tem algum impedimento dos comerciantes que não querem, mas Tubarão tem potencial para trazer indústrias e empresas maiores para gerar mais renda e mais emprego para os tubaronenses.
 
Notisul – Como é a atuação do Sindicato dos Comerciários e qual o número de filiados?
Elizandra – Atuamos em 16 municípios da região, atendemos os trabalhadores nas questões de rescisões para orientar sobre os seus direitos, acionar o advogado. Somos 16 mil trabalhadores na base, porém o número de associados é pequeno em relação à quantidade de empregados. Hoje, temos somente mil filiados. É pouquíssimo e o valor é só R$ 8,00. As pessoas ainda não têm interesse de se filiar ao sindicato. É uma pena! Eles deveriam perceber a importância do Sindicato dos Comerciários. Querem saber só dos benefícios, por exemplo, médicos, dentistas. Este não é o papel do sindicato. O nosso papel é prestar assessoria, buscar qualidade de vida aos trabalhadores, direitos salariais, enfim, questões que envolvem, de fato, a vida do trabalhador, porque não vamos buscar assistencialismo.
 
Notisul – Existe uma boa relação de parceria entre o Sindicato dos Comerciários, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Tubarão e Região (Sindilojas) e outras entidades empresariais de Tubarão?
Elizandra – Confesso que não temos qualquer tipo de parceria com Acit, CDL ou Sindilojas. Aliás, não temos qualquer tipo de relação. Infelizmente, não temos. Já tentamos diversas vezes uma conversa com a diretoria do CDL, fato que não ocorre mesmo. Na realidade, em outras oportunidades, nós já procuramos a CDL para conversar sobre a questão de horários, é o que mais causa conflito. Eles dizem que não é a CDL que define isso e sim o Sindilojas. Por conta desta questão, passamos a tratar sobre estes assuntos somente com os integrantes do Sindilojas, mas sabemos que a CDL sugere horários para a abertura do comércio e quando vamos conversar sobre isso, eles acabam dizendo que não. Então, em virtude de não conseguirmos qualquer tipo de avanço a respeito da vida do trabalhador tanto com a CDL, quanto com a Acit, acabamos não tendo qualquer tipo de relação com essas entidades.
 
Notisul – Quais as principais reivindicações dos empregados?
Elizandra: É um horário de trabalho justo. Hoje, os funcionários do nosso comércio têm, em média, uma carga de 51 horas semanais. Isso em dias comuns, imagina, em horário especial de Natal.  Então, por isso, sempre que chega a época do Natal existe uma polêmica muito grande. Os trabalhadores querem um bom salário? Lógico que sim. Mas quando chamamos para uma assembleia para discutir questões salariais vêm menos trabalhadores. Para discutir questões voltadas aos horários, nosso auditório fica cheio. O que mais preocupa os colaboradores é o horário, até para eles ficarem mais tempo com os seus familiares.
 
Notisul – O Sindicato dos Comerciários é tachado como revolucionário?
Elizandra – Teve uma época que eles faziam isso mesmo. Como baderneiros, que só queriam fazer confusão. Se a direção do sindicato patronal levar a fundo mesmo, eles sabem que não somos isso. Até porque nós sempre procuramos o diálogo com as outras entidades. Um exemplo foi na época do Alberto Botega (ex-presidente do Sindilojas). Sempre conseguimos ter uma boa relação, teve momentos que tivemos que encaminhar para dissídio e não houve manifestações dos trabalhadores. Então, conseguimos estabelecer essa conversa. E na atual gestão deste presidente, o patronal nos chamou de baderneiros por conta das manifestações que fizemos. Não fazemos baderna, fazemos manifestações de forma pacífica e a forma que o trabalhador tem de reivindicar é essa. Os empresários da cidade nos conhecem e sabem do nosso trabalho.
 
Notisul – Como é a atual relação da presidente Elizandra Anselmo, representando os comerciários, com o presidente Fernando Nandi, do lado do patronal?
Elizandra – Infelizmente, tivemos um momento que não conseguimos ter muito diálogo. Até teve as manifestações do Sábado Dia D, acredito que ele (Fernando) tenha ficado chateado com o Sindicato dos Comerciários e nós ficamos chateados com o Sindilojas. E, para tentar restabelecer um diálogo no ano passado, conseguimos fechar uma negociação. Achei que o Fernando e eu conseguiríamos nos entender. Até quando fomos assinar um acordo ele me disse que seria o último que assinaria. Pensei que o Fernando deixaria a presidência do Sindilojas e teríamos que negociar com um novo presidente. Não tenho nada contra o Fernando, mas em uma entrevista anterior ele disse que nós estamos fazendo pirraça com relação ao horário de Natal. A pirraça mesmo é de quem? Deixo essa pergunta no ar. Não existe problema entre o presidente Fernando e a presidente Elizandra. Não somos nós que decidimos sozinhos. Infelizmente, ele termina a gestão no fim deste ano com os ânimos meio aflorados com tudo o que ocorreu e não gostaria que fosse dessa forma.
 
Notisul – Por que algumas questões ganham grande proporção quando está envolvido o Sindicato dos Comerciários?
Elizandra – As questões mais polêmicas sempre são relacionadas aos horários de trabalho. Os empresários sempre querem mais e nós queremos menos. Não tem demanda para abrir para o comércio em horário tão extenso. Quando teve aquela manifestação contrária ao Sábado Dia D é porque a nossa categoria rejeitou. Os entraves e as desavenças entre os dois sindicatos ocorreram sempre por causa do horário. É uma pena!
 
Notisul – E neste embate entre os sindicatos patronal e comerciários, na sua opinião, quem, de fato, está com a razão?
Elizandra – Vou dizer que tenho razão e o patronal vai dizer que eles estão certos. Na minha opinião, nós, trabalhadores, temos total razão. Sempre vou defender, até porque a maioria é mulher, que vem para trabalhar no comércio. Elas deixam as suas famílias, vem com toda disposição para atender bem os seus clientes, passam por jornada dupla e falando especificamente do horário de Natal, elas querem trabalhar. E o sindicato patronal sempre quer que o empregado trabalhe praticamente dezembro inteiro, quando, na realidade, não precisa disso. A grande briga é: por que exigir tanto quando não há necessidade? Por que não abrir o comércio a partir de segunda-feira, dia 9? O movimento mesmo só ocorre nas últimas semanas que antecedem o Natal. Acaba criando uma animosidade. Foi dado um estereótipo a Tubarão porque é polo comercial, tem que abrir aos domingos pelo fato de ter um shopping. Para que o trabalhador vai querer continuar a se qualificar para atuar no comércio e ter um salário baixo para ter um horário extenso. Isso depende muito dos empresários. Se o patronal viesse com uma proposta salarial melhor, com certeza o colaborador gostaria de continuar no comércio. Por que, no caso de Florianópolis, no horário de Natal se abre somente um domingo e aqui são três? Que polo comercial é este da nossa cidade que escraviza os funcionários, que ainda existe muita ganância. Quero deixar claro que existem empresários maravilhosos e estão do lado dos funcionários, atuam ao lado deles, que não querem trabalhar dessa forma e remuneram muito bem os seus empregados. É uma pena que todo ano, quando chegamos na data base, acabamos em conflito. Seria bom que não fosse assim, que o empresário viesse com uma proposta de horário melhor. Entendo que na nossa assembleia passaria tranquilo e seria diferente deste ano.  Quando há uma imposição por parte do sindicato patronal, fica difícil. Nos outros anos, até conseguimos chegar um denominador comum, diferentemente de 2013.
 
Notisul – Se o reajuste de salário já tivesse sido definido há algumas semanas, por acaso não evitaria toda essa polêmica em torno do horário de Natal?
Elizandra – Sim, se talvez lá no início das negociações o sindicato patronal viesse com a proposta de horário e reajuste salarial definido, com algumas considerações, por exemplo, sem trabalhar na segunda ou terça-feira de Carnaval e um Sábado Dia D, com certeza nada dessa polêmica teria ocorrido. Na assembleia seria aprovado. Como veio um horário e salário imposto, sem negociação, acirrou os ânimos e tudo isso poderia ser evitado, pois não veio uma proposta que agradasse os trabalhadores.
 
Notisul – Você já soube de algum caso de punição por parte do trabalhador se o patrão souber que o seu empregado foi procurar os seus direitos no sindicato?
Elizandra – Isso já houve e ainda ocorre. Tanto que temos pessoas associadas ao sindicato que pagam diretamente no sindicato, escondidas do patrão porque senão são demitidas.  Caso o patrão souber que o empregado veio em uma assembleia, ao voltar para a empresa o trabalhador sofre uma série de restrições. Alguns empresários não suportam saber que os seus colaboradores participam do nosso sindicato. Já tivemos casos de oito trabalhadores demitidos de uma determinada empresa só porque vieram tirar uma dúvida conosco. Não dá para acreditar que no mundo de hoje ainda existe a prática anti-sindical.
 
Elizandra por Elizandra
Deus – é tudo!
Família – a base de tudo!
Trabalho – luta
Passado – um aprendizado
Presente – harmonia
Futuro – expectativa
 
"Basta agora o poder executivo ir atrás para que as indústrias venham para a nossa
cidade, até hoje não entendi porque os outros prefeitos não buscaram isso"
 
"Se tivéssemos um calendário natalino menor, os trabalhadores ficariam bem animados".
 
"Os entraves e as desavenças entre os dois sindicatos (patronal e dos comerciários) ocorreram sempre por causa do horário. É uma pena!"