“Não estou preocupado com impopularidade. Quero fazer o que é o correto”

Foto:Divulgação/Notisul
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Eleito prefeito de Braço do Norte para o próximo mandato com 64,33% dos votos válidos, o ex-vereador e ex-secretário de desenvolvimento regional, Roberto Kuerten Marcelino (PSD), já tem planejadas algumas ações que precisará executar nos primeiros meses de governo. Ele tem ciência de que não conseguirá agradar a todos, inclusive aliados políticos.

Priscila Loch
Braço do Norte

Notisul – Assim como outros prefeitos eleitos da região, você já começou a trabalhar em busca de recursos para Braço do Norte. Já há boas notícias nesse sentido?
Beto – Eu sempre trabalhei dessa forma: só anuncio recursos, e fiz isso na SDR também, quando tenho 100% de garantia. Mas estive em Brasília semana passada, no congresso dos novos gestores, e aproveitei para visitar alguns gabinetes, como já havia feito após a eleição aqui em Santa Catarina, com alguns deputados federais e estaduais, e o próprio governador. Temos boas sinalizações sim. Porém, isso só vai se confirmar no início do ano que vem, em fevereiro, março. Pelas conversas com os deputados, acredito que já temos a garantia de R$ 2 milhões para a nova unidade básica de saúde, que foi uma promessa de campanha aos bairros Nossa Senhora das Graças, Santa Luiza, Bela Vista, São Januário e Sertão do Rio Bonito. Além de recursos para a infraestrutura e área da saúde. Mas vou esperar para realmente confirmar a hora que o recurso chegar. Essa perspectiva já existe. Os contatos com o próprio governador, que vai ser parceiro, o deputado José Nei Ascari quer muito ajudar. Porém, vai ser um ano de muitas dificuldades, sabemos disso. 

Notisul – O fato de seres do mesmo partido do governador Raimundo Colombo pode te ajudar?
Beto –
Ajuda sim, o próprio governador disse que quer ajudar Braço do Norte. Eu estive com ele semana passada na visitação à Serra do Corvo Branco e ele reafirmou isso. Já trabalhamos junto três anos.

Notisul – Qual a atual situação da administração municipal de Braço do Norte hoje?
Beto –
Deixamos para o fim de novembro ou início de dezembro para buscar a real situação financeira. Quanto mais próximo do encerramento do mandato dá para saber os compromissos que a prefeitura tem que honrar, vamos ter uma realidade mais completa. O que já visualizamos foi a questão dos contratos. Todos os contratos, todos os convênios, o que vai ser encerrado, o que vai ser renovado, até para tomarmos atitudes em relação a aluguéis são revistos. Em todas as locações iremos exigir acessibilidade. A própria sede da prefeitura não tem, eu disse na campanha que resolveria nos primeiros dias. As visitas às secretarias para conhecer o maquinário, patrimônio do município, foram solicitadas. Tomamos já algumas medidas para o ano que vem. Este ano, a própria administração adotou que as crianças de 4 anos iriam para a escola, e não para a creche. Em 2017, as crianças de 4 anos voltarão para as creches, achamos um absurdo uma criança de 4 anos ir para a escola. Ela tem que estar matriculada, mas pode ser no próprio CEI. Já modificamos esta medida para o início do próximo ano letivo.

Notisul – A transição tem ocorrido com tranquilidade? Que informações foram solicitadas ao atual prefeito, Ademir Matos?
Beto –
O processo está tranquilo, todas as solicitações têm sido atendidas. Até hoje, pedimos a relação de todos os contratos, convênios, visitamos as secretarias de saúde, obras, educação e de planejamento. A equipe de transição já está acompanhando os contratos de aluguéis e todos os que estão para serem encerrados. Já avisamos que só vamos pagar aquilo que realmente esteja empenhado, já é decisão tomada. Tomamos conhecimento também do leilão que houve na secretaria da saúde, temos R$ 142 mil para serem utilizados, recursos garantidos. Tomamos conhecimento também que muitos dos programas federais que estão em andamento não cobrem 20% das despesas. Paralelo a isso, estamos já iniciando a escolha dos nomes para compor o secretariado. O que definimos é que das dez secretarias vamos iniciar com quatro a cinco secretarias. Em relação aos cargos comissionados, vamos honrar nosso compromisso de campanha de reduzir 20% dos cargos comissionados, justamente pelo planejamento e pela dificuldade financeira. Pode ser até mais de 20%. Da nossa equipe somente foi escolhido até agora o procurador jurídico, Maicon Shmoeller Fernandes. Os outros nomes estão bem alinhados. Outro detalhe que vamos honrar é que a pessoa escolhida será de acordo com perfil e conhecimento, vai ter que realmente matar no peito e ajudar o prefeito e o vice-prefeito, uma pessoa realmente de confiança com condições de resolver os problemas, não que só nos traga os problemas. Estamos à procura de secretários dessa forma. Nas secretarias, também vamos reduzir 20% dos cargos comissionados. No total, teremos oito secretarias, mas vamos iniciar com quatro ou cinco. Queremos repassar mais responsabilidades e mais cobrança para quem for nomeado. Não continuará no cargo aquele que não der rendimento. Quem pensar que por ser indicado por um partido está garantido está enganado.

Notisul – Que problemas terão que ser resolvidos já nos primeiros dias de mandato?
Beto –
As primeiras ações precisam ser no interior. Janeiro e fevereiro são meses de fortes chuvas, então temos que prevenir, fazer uma limpeza geral, nas bocas de lobo, cuidando das estradas. Tem também a questão do início do ano letivo. Teremos dois Centros de Educação Infantil abertos nas colônias de férias, as matrículas já iniciaram. Temos uma decisão que será tomada ainda nos próximos dias sobre a prorrogação do processo seletivo dos professores ACTs por mais um ano ou a realização de um novo. Como é troca de gestão, é possível prorrogar. Na área da saúde, as compras e programação para o ano de 2017, questão de medicamentos. Esses são os principais pontos do início do mandato. Já em fevereiro já tem que realmente ter respostas. Baseado nisso, temos um cronograma para os próximos quatro anos, sobre obras, sobre o que é realmente necessário. Já iniciamos isso visitando as lideranças para buscar recursos, na montagem da equipe e o que combinamos durante a campanha é que vou trabalhar com os mapas dos bairros, com as prioridades que foram levantadas pelas próprias comunidades. No setor de planejamento, o futuro secretário, que será do Partido dos Trabalhadores, será nomeado em março ou abril, mas já solicitamos e eles aceitaram que o secretário já inicie o mandato mesmo antes de ser nomeado, de forma voluntária. O planejamento no primeiro ano é importantíssimo, pois quanto mais projetos fazer no início da gestão, mais fácil é de fazer lá na frente. Quem tem projeto já tem metade do caminho andado, por isso vamos focar no primeiro ano naquilo que pretendemos realizar, fazer uma programação. 

Notisul – E falando dos quatro anos de mandato, o que podemos esperar?
Beto –
A nossa campanha, e eu me resguardo muito nisso, teve o princípio de prometer somente aquilo que podemos fazer. Tanto é que na eleição assumimos três compromissos: a nova unidade básica de saúde, a reforma do estádio Lauro Koch e a reforma da ponte na comunidade de Rio pequeno, que está bastante perigosa há anos. Essas foram as promessas que fizemos em campanha. Agora objetivos, promessa de empenho e de trabalho, de grandes projetos, é claro que tem a questão do anel viário, a nova ponte que liga à comunidade Lado da União, prometemos empenho para continuidade da obra do novo hospital. O deputado federal Jorge Boeira já colocou uma emenda, registrada e aprovada, de R$ 5 milhões em equipamentos para o hospital atual. Para o novo hospital, foi sinalizado R$ 1 milhão, mas tem a questão burocrática e esperamos ter uma boa notícia nos próximos dias. O que esperar da administração do Beto e do Ronaldo, além dos recursos que citei, pavimentações, compra de equipamentos, queremos fazer uma moderna, com transparência dos atos, seriedade, redução dos custos, escolha de nomes não políticos e sim com condições técnicos e perfil. A população aguarda que o prefeito e o vice-prefeito trabalhem dessa forma. Queremos que os secretários apresentem novas propostas. Braço do Norte tem um potencial turístico esquecido, não temos mais recreação e unidade entre as famílias. Queremos fazer um mandato com a participação da população. Não tem mais aquele negócio de “fui na prefeitura procurar o prefeito, mas ele saiu por uma porta e não me atendeu”. Hoje temos um instrumento em Braço do Norte que vai ajudar muito de forma voluntária, que é o Conselho de Desenvolvimento Econômico Local, através de parceria com a Acivale, com mais de 200 pessoas envolvidas, de acordo com cada área de especialidade. Ninguém nada sozinho, é claro que temos que ir à busca de recursos, com pessoas colaborando, investindo, apostando. 

Notisul – Durante a campanha, você bateu muito na necessidade de enxugamento da estrutura da prefeitura em 20%. Como pretende fazer isso sem prejudicar os serviços e atendimentos, e sem se indispor com os partidos aliados, já que o número de cargos de confiança será menor?
Beto –
Para não prejudicar os atendimentos, não podemos tirar médicos dos postos de saúde, tirar professor de sala de aula. Essas funções não serão reduzidas e, muito pelo contrário, vamos exigir mais trabalho, mais empenho e se puder aumentar essa estrutura nós faremos. Na questão dos médicos, o cumprimento do horário é uma das maiores solicitações da comunidade. O prefeito tem que ter pulso firme. Não estou preocupado com indisposição e impopularidade. Quero fazer o que é o correto. Não estou preocupado na próxima eleição. Como o povo definiu que eu fosse o prefeito, isso veio de forma natural, muito natural, e do trabalho que desenvolvi na SDR, em prol da comunidade. Sobre a indisposição com os partidos aliados e o próprio PSD, é impossível abrigar a todos, ainda mais com esses cortes. Se for pra prefeitura pensando em agradar todo mundo, não vamos conseguir caminhar. Claro que terão pessoas escolhidas e outras que infelizmente não serão escolhidas. Nossa eleição foi histórica, com uma votação enorme e gerou muita expectativa, muitas pessoas querendo fazer parte da administração. Isso é legal, mas não tem espaço pra todos, ainda mais num momento que tu vai reduzir drasticamente. Vai haver sim certa revolta, mas tudo isso vai ser em favor de Braço do Norte. Uma equipe reduzida será mais cobrada e só vai assumir se aceitar o desafio. Se não for assim, vamos em busca de outro nome.

Notisul – Na entrevista que nos concedeu ainda durante a campanha você falou da necessidade de se pensar na sustentabilidade e citou a coleta seletiva de lixo como uma ação que não deveria ter sido deixada de lado. Há algum encaminhamento nesse sentido?
Beto –
Hoje, é uma obrigação do prefeito que não quiser ser penalizado pelos órgãos fiscalizadores. A Lei dos Resíduos Sólidos, que alguns municípios já implantaram, passa a ser obrigação. Vamos solicitar no próximo contrato, e isso vai ter que ser resolvido já nos primeiros dias da gestão, a coleta seletiva. Temos que buscar também uma usina de beneficiamento, temos que já pensar nisso, temos várias cidades que vêm dando certo. É nossa intenção, além de ser exigência e obrigação. Não temos que pensar só nesses quatro anos que vamos administrar, temos que pensar daqui a oito, 12, 20 anos. É igual uma corrida de bastão, um vai passando para o outro até chegar no final. É assim que pensamos e queremos trabalhar.

Notisul – O seu plano de governo inclui concluir o anel viário, o novo Hospital Santa Teresinha e construir um centro administrativo. Dá de fazer uma previsão a respeito?
Beto –
Já estamos trabalhando para isso, tivemos doadores após o período eleitoral de terreno para construção de um centro administrativo. É uma das obras pautadas sim, já estamos em busca do terreno, vamos discutir com a sociedade. A minha opinião é que deve ser em outro bairro, pois valoriza e leva o desenvolvimento. Podemos vender a sede atual e adiantar de 60% a 70% da obra do centro administrativo e o restante buscar financiamento. Com certeza 2017 será crucial para esse processo. Sobre o anel viário, o investimento será de mais de R$ 20 milhões. O projeto está pronto, em análise no Deinfra, em Florianópolis, é uma obra robusta e é claro que esse pleito vamos buscar junto ao governo do estado. Na conversa que tive com o governador citei duas grandes obras: a nova ponte que liga a comunidade da União e o anel viário. É claro que no início do ano vamos retomar esse assunto. Já a obra do novo hospital está parada, não depende só do nosso trabalho, mas o prefeito tem que liderar esse processo. Já estou fazendo isso. Várias readequações foram solicitadas para liberar esse R$ 1 milhão. A obra está parada há cerca de quatro meses e nós estamos liderando o processo. Foram investidos R$ 6,2 milhões e a conta que é feita é que ainda faltam R$ 13 milhões. 

Notisul – Na sua visão, o que foi essencial para que a maioria dos eleitores apostasse em você e em seu vice Ronaldo Fonazza para governar Braço do Norte pelos próximos quatro anos?
Beto –
Acho que foi uma série de fatores. O que fez eu e Ronaldo sermos vitoriosos e fazermos uma eleição tão expressiva, ainda mais contra um candidato que tem vasta experiência, consolidado, foi a renovação. Acredito que a própria gestão atual influenciou na decisão da população. Ouvimos muito isso, principalmente no interior, a manutenção das estradas ficou bastante esquecida. Acho que também pelo trabalho que eu e o Ronaldo desenvolvemos. O trabalho na Secretaria de Desenvolvimento Regional (hoje ADR) foi o que decidiu na escolha do meu nome. Foram feitas várias pesquisas e meu nome aparecia em primeiro. Não veio por acaso. Sou jovem, vereador, com uma situação financeira longe daquilo que muitas pessoas dizem que tem que ter para ser candidato a prefeito. A minha trajetória de três anos na secretaria regional influenciou e o momento político é de muito desgaste, o político está desacreditado, o povo realmente quer acreditar que ainda é possível fazer uma gestão diferente. Esse momento nebuloso na política do país também contribuiu.

Notisul – Falando de economia, Braço do Norte sempre se destacou na suinocultura, produção de molduras, criação de gado leiteiro e de corte. Mas de uma certa forma estagnou. De que forma o poder público pode contribuir?
Beto –
Cerca de 42% da receita de Braço do Norte vem da agricultura. A suinocultura sabemos que passa por um momento de dificuldades, mas também vem vencendo. É um setor muito forte no município, possui a maior concentração suína por metro quadrado do mundo, e isso tem que ser explorado. O nosso produtor, o agricultor teve uma grande reclamação sobre a assistência técnica que não foi oferecida, principalmente em trafegabilidade. Hoje, para se ter uma ideia, Braço do Norte todos os laticínios, frigoríficos e embutidos têm condições de aumentar 50% de suas produções, mas no momento ainda não podem vender para fora do estado. Depende de uma ação do município disponibilizar um técnico veterinário para que faça essa inspeção, conveniado com a Cidasc. É um pleito já de mais de um ano e meio. Esse foi nosso compromisso de campanha, que pretendemos cumprir no decorrer de 2017. Com isso, vamos movimentar ainda mais o agronegócio, que é muito forte, é reconhecido no estado e fora também. Precisamos manter as estradas conservadas, ajuda muito no desenvolvimento. Vimos várias cenas de caminhão deixando de buscar o leite por causa da estrada, e assim deixavam de faturar. Outro ponto importante para a receita do município é fazer o recadastramento das propriedades, tem que dar contrapartida para os produtores para que eles deem contrapartida para o município. A indústria em Braço do Norte é muito forte, há muito tempo aguardamos com certa expectativa uma área industrial. O município é um berço muito forte de empreendedorismo, temos vários exemplos que começaram pequenos e hoje exportam para vários países. Esse incentivo à área industrial ou à criação de uma incubadora é muito importante. Muitas empresas precisam de oportunidade, para expandir, contratar mais funcionários. Tudo isso pode impulsionar mais a economia.