“Muitas pessoas não confiam na polícia”

O sonho de muitos meninos em investigar crimes é uma realidade para Rubem Antônio Teston da Silva, de 33 anos. Ele é o delegado responsável pela Divisão de Investigação Crimina (DIC), em Tubarão. Natural de Porto Alegre (RS), já foi policial militar e veio para Santa Catarina, quando passou em concurso público. Atuou na delegacia de Capivari de Baixo, na Central de Plantão Policial (CPP) e na Dpcapmi. Em 2012, iniciou na DIC. Para aliviar as tensões da profissão, assiste a filmes, pratica esportes e lê bons livros, uma terapia que divide com a família.

 

Silvana Lucas
Tubarão

Notisul – Há três anos como delegado na Divisão de Investigação Criminal (DIC), em Tubarão. Qual avaliação pode ser feita?
Rubem Antônio Teston da Silva – A DIC atua principalmente nos crimes contra a vida e o tráfico de drogas. Damos uma atenção especial aos homicídios. Como este tipo de crime quase sempre tem ligação com o tráfico, o trabalho nestes dois delitos fica integrado. Em 2013, meu primeiro ano nesta divisão, houve um índice expressivo de prisões e apreensões de drogas. Ano passado, superamos este trabalho devido aos nossos excelentes profissionais. Batemos o recorde na DIC, criada em 2009. Costumo dizer que pode trocar o delegado, mas os agentes, os escrivães, continuarão mantendo esta excelência. 

Notisul – Como é a dinâmica dos trabalhos na DIC?
Rubem –
Cada delegacia regional do estado possui uma divisão de investigação para prevenir e reprimir alguns tipos de crimes, como tráfico de drogas, assassinatos, tentativas de homicídios, sequestro. Enfim, delitos graves de grande clamor social. Como por exemplo, os praticados por associações que envolvem o Primeiro Grupo Catarinense (PGC) e outras facções. A DIC, normalmente, trabalha em uma sede afastada das demais delegacias, justamente pelo caráter de reserva que deve ter, pois faz investigações veladas, principalmente por equipes em viaturas não caracterizadas que usam roupas comuns. É uma unidade criada especificamente para atuar na investigação, porém o público percebe nosso trabalho pelas prisões e o auxílio que oferecemos, não só na elucidação dos crimes, mas aos familiares das vítimas. Para outros tipos de ocorrências, existem as demais delegacias. Não atuamos nos crimes patrimoniais, pois há outra unidade, com as mesmas excelências de produtividade, que é a Divisão de Combate a Furtos e Roubos (DCFR) da Central de Plantão Policial (CPP). Assim como a Delegacia de Crimes Ambientais e a Delegacia da Criança, do Adolescente, e de Proteção à Mulher e ao Idoso (Dpcapmi), que atua com o menor infrator e a violência doméstica.

Notisul – Três homicídios ocorreram em Tubarão neste ano. No ano passado, foram dez. Como você avalia este quadro?
Rubem –
A maioria dos homicídios, não só no município, envolve o tráfico de drogas. Questões entre traficantes e usuários, traficantes que disputam áreas, lucros da venda. Aqui não é diferente. Apesar de já termos três assassinatos desde o dia 1º de janeiro, em comparação com outras cidades de mesmo porte, estamos com uma taxa considerada normal. Porém, em cada vida perdida, mesmo em confrontos entre facções, as investigações recebem a mesma atenção da DIC. Desvendar homicídios é como colocar um tabuleiro de xadrez à sua frente e jogar. Uma peça errada, um movimento incorreto, cria reações que podem trazer mais assassinatos. As testemunhas têm que ser ouvidas e protegidas, pois infelizmente ainda impera a lei do silêncio. Em função disso, divulgamos a importância do número 197 e pedimos à população que nos auxilie com informações. Dos três homicídios, um está elucidado, o da jovem Mariana Matei. Os outros estamos próximos, não somente da identificação dos autores, mas do desfecho. 

Notisul – A Polícia Civil age na prevenção para evitar homicídios?
Rubem –
A função preventiva é da Polícia Militar, porém a Polícia Civil muitas vezes também executa este trabalho. Nosso papel primordial é ser investigativa e judiciária. Quem realiza investigação é a Polícia Civil, por meio das delegacias de áreas distintas. Porém, às vezes, também vamos a campo, em uma ação com viatura caracterizada, com policiais vestidos com emblemas oficiais. Tentamos evitar que as pessoas andem armadas e coibir o tráfico. A própria repressão, o fato de identificar e encaminhar alguém para a pena privativa de liberdade contribui para a prevenção. A comunidade vê que quem praticou um crime está preso ou é processado. Este é o momento que nosso trabalho é reconhecido e ficamos tranquilos quando a decisão final da autoridade judiciária não foi destoada das apurações contidas em um inquérito policial.  

Notisul – Quais são as maiores motivações dos homicídios?
Rubem –
Existem várias. Se analisarmos em Tubarão, nos últimos anos foram em função do tráfico. Inicia com uma pessoa, que vai a ‘boca de fumo’ comprar drogas e fica com uma dívida que não paga. Também por disputas por territórios para a venda ou quando alguém é considerado, na gíria dos criminosos, de ‘cagueta’. Existem as questões passionais, por uma espécie de explosão temperamental de momento. Este tipo de homicídio é o que traz mais clamor social e indignação. Foi o que ocorreu no caso da Mariana Matei e da Carol Seidler Calegari, que não tinham ligação com o tráfico. Esta situação cria muita insegurança e assusta. 

Notisul – No caso de prisões por apreensões de drogas, existe uma migração para outros crimes?
Rubem –
Existe. Isto inclusive é estudado pela criminologia. Normalmente, se você começa a prevenir e reprimir de uma forma ferrenha, o dinheiro do tráfico desaparece. Principalmente nas facções criminosas, que cobram ‘dízimo’, ou seja, a coleta de um valor para a compra de armamentos, para pagar defensores aos presos do grupo e manter o bando em funcionamento. Se o dinheiro do tráfico não entra, eles buscam outras formas, como o furto, o roubo, o estelionato. E também ocorre o contrário. 

Notisul – Se as drogas fossem legalizadas, o que mudaria? Qual o seu posicionamento?
Rubem –
Sou contra. O problema da droga é pensarmos que alguém é só um usuário, mas seu efeito traz consequências danosas. As pessoas ficam mais propensas a se envolverem em brigas, a serem negligentes, praticarem crimes. Além da dependência, pois a falta do dinheiro para comprar a droga leva aos furtos e roubos. Nos usuários de crack, esta tendência é ainda maior. Para consumi-lo, geralmente os furtos iniciam em casa. É complicado. Em países onde há a liberação, com toda a prevenção, ainda existe a criminalidade. 

Notisul – Quais os casos que mais lhe chocaram?
Rubem –
Eu diria não somente como profissional, mas como cidadão, pois envolveu mulheres e crianças. O homicídio ocorrido em 27 de maio do ano passado, em uma disputa entre traficantes, que vitimou por disparo de arma de fogo Ana Carolina Alexandre Soratto, de 5 anos. Os autores estão presos. O segundo foi o da Carol Seidler Calegari, de 7 anos, no dia 22 de dezembro. A mãe foi indiciada por homicídio qualificado, ainda não conseguimos entender como alguém pode agir de forma tão horrenda. O terceiro foi no dia 31 de janeiro, com a morte de Mariana Matei, de 15 anos, também com autor preso. Casos em que nos dedicamos em tempo integral. 

Notisul – E o caso de Carol Seidler Calegari, como estão as investigações?
Rubem –
Concluímos o inquérito, mas o trabalho de descobrir o paradeiro de Silvana Seidler segue incansavelmente. Recebemos algumas informações pelo 197, mas a maioria é inverídica. Nos últimos dias circulou nas redes sociais um boato, com uma suposta prisão dela. Este ‘estado de prisão’ meche com questões emocionais, de muitas famílias, da sociedade. Ao divulgar um fato, têm que ter atenção. Além de prejudicar a família, ainda afasta a polícia do foco e traz prejuízos à investigação. 

Notisul – Notamos um aumento dos crimes passionais, há realmente?
Rubem –
Sempre ocorreu. O primeiro passional que se tem na história é quando Caim matou Abel e isto tem sido uma constante ao longo da civilização. O ser humano age envolvido por imensos sentimentos, que podem ser a cobiça, o amor, o ódio, a ganância, enfim, uma série de emoções. Em nome disto, de forma exacerbada, acaba infelizmente atingindo o próximo. Os motivos podem ser o estresse motivado por várias questões. Do lado investigativo, este tipo de homicídio sobre a identificação e a coleta de provas é relativamente fácil, diferente do tráfico de drogas. Nos passionais, na grande maioria o autor é identificado e preso.

Rubem por Rubem
Deus
– Tudo
Família – Fundamental
Trabalho – Prazer
Passado – Aprendizagem
Presente – Viver o hoje
Futuro – Incógnita

“É importante que as pessoas colaborem com as investigações e liguem para o 197. Todas as informações são checadas e as identidades são mantidas em total sigilo”.