“Infelizmente, ainda teremos mais um verão de congestionamentos na BR-101”

Sempre muito atarefado e com a mesa cheia de papéis e documentos, o supervisor da unidade local do Dnit, engenheiro civil Avani Aguiar de Sá, formado na Universidade Federal de Santa Catarina e natural de Araranguá, trabalha em uma das últimas atividades que deverá exercer dentro do departamento. A justificativa é a aposentadoria, adiada pelo desejo de participar da construção de um marco para a região sul do Brasil, as obras da Ponte Anita Garibaldi. Nas horas de folga, a família e a literatura são as suas companhias, para os filhos já independentes, bom exemplo e a liberdade da escolha profissional é a melhor herança. Nas páginas de uma boa literatura nacional, a história de grandes personalidades o encanta, assim como as obras de duplicação da rodovia.

 

Silvana Lucas
Tubarão
 
Notisul – Qual é o corpo funcional do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit) na região, entre técnicos e operacionais? Em quais áreas atuam?
Avani Aguiar de Sá – O Dnit, na região, como em todo estado, é muito enxuto, porque a maioria dos serviços é terceirizado. Estamos com 12 pessoas, entre os que trabalham em escritórios e os que fazem limpeza, além de dois engenheiros.
 
Notisul – A supervisão da unidade local do Dnit de Tubarão, cobre que extensão da BR-101?
Avani – A jurisdição de manutenção vai desde o bairro de Nova Brasília, no município de Imbituba, até a divisa com o Rio Grande do Sul, ou seja, do quilômetro 283 ao quilômetro 465.
 
Notisul – Quando o senhor iniciou os trabalhos na região?
Avani – Comecei a trabalhar por aqui em 1974, a BR-101 foi inaugurada em 1971. Antes, eu trabalhava na região de Joaçaba, no antigo Departamento de Estradas e Rodagens (DER), depois prestei concurso e passei para o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), já extinto em 2002, hoje Dnit. 
 
Notisul – Qual é o planejamento de trabalho do Dnit da região, após a conclusão das obras de duplicação na rodovia?
Avani – O caminho natural, atualmente, é concessionar a rodovia. Após a conclusão ela passa a ser gerida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Esta mudança não deve demorar muito a ocorrer, porque este é um programa que apresenta mais resultados ao governo federal. Com a conclusão do trecho de Araranguá, as obras vão ficar com 95% duplicadas e prontas até o fim do ano. Com o túnel na Cidade Azul finalizado e a ponte sobre o Canal de Laranjeiras, em Laguna, na metade do próximo ano, os trabalhos ficarão 99% finalizados, ficará ainda as obras do túnel do Morro dos Cavalos, neste momento então já pode ser feito a concessão da estrada.
 
Notisul – Depois do término de todas as obras, o senhor pretende trabalhar em que trecho?
Avani – Já era para eu estar aposentado. Fiquei por causa da construção da ponte da Cidade Juliana. Uma obra desta grandiosidade vai marcar a história da região e a minha em particular. É uma escolha pessoal. Terminando, eu vou parar, pretendo descansar. O Dnit dará maior atenção à BR-285, obra de nossa jurisdição de Araranguá até São Borja, no Rio Grande do Sul. Depois, com a passagem para ANTT, talvez haja algumas transformações, ainda sem definição, mas com certeza será concessionada.
 
Notisul – É rentável para o governo federal privatizar o trecho sul da rodovia?
Avani – Acho que é rentável. Nas primeiras concessões, os preços estavam muito altos, agora isto já mudou um pouco. Aqui no estado, o valor do pedágio é de R$ 1,80 a R$ 3,50, preço que considero justo para ter uma estrada em boas condições e segura. Acho que é mais conveniente.
 
Notisul – O que precisa melhorar na trafegabilidade nacional?
Avani – Precisa-se de rodovias. Mas é necessário muito mais ferrovias e hidrovias. Tem que funcionar todos os modais em conjunto. Dá década 70 para os dias atuais, incrementou-se muito as rodovias, deixando de lado as ferrovias, agora em ativação aos poucos. Um sistema tem que complementar o outro, porque há tipos diferentes de transportes, uns tem que ser realizados somente por rodovias, por outro lado, tem muitas coisas que devem ser por outras vias. O governo já tem consciência disto e elabora um macroprojeto para trabalhar com todos os modais.
 
Notisul – O senhor concorda com os comentários que quando acabarem as obras de duplicação já será necessário uma triplicação?
Avani – Não concordo. O que acho é que nas zonas urbanas as coisas se encaminham para uma maior necessidade. Como exemplo, temos Florianópolis e Camboriú. Estes contornos necessariamente terão que ser revisto. Aqui em Tubarão, daqui alguns anos, talvez tenha que existir uma nova solução. O que me refiro é como a via dutra é a estrada federal mais movimentada, que foi duplicada em 1964, ainda há trechos iguais aos nossos.
 
Notisul – O que ficará pronto das obras de duplicação da BR-101, no trecho sul, neste ano?
Avani – Certamente o contorno de Araranguá, que estamos para abrir neste mês ainda. O túnel do Morro do Formigão e a demolição da ponte sobre o Rio Tubarão, conhecida como Ponte Cavalcanti, a construção de uma nova estrutura para o local, ainda está um pouco complicada de finalizarmos em 2014. Houve um problema na licitação, mas tínhamos este cronograma fechado em nossa programação. Já a Ponte de Cabeçuda ainda há um fundo de esperança, mas é difícil concluí-la neste ano, ou para o verão. Mesmo as obras da ponte seguindo em ritmo muito rápido, existe muito trabalho a ser feito.
 
Notisul – A Ponte Anita Garibaldi será a maior estaiada do Brasil? 
Avani – Será a segunda maior. Temos uma estrutura sobre o Rio Negro, na região norte do país. Em área quadrada, a nossa é maior, mas em comprimento aquela passagem é maior e mais estreita. A ponte de lá é de três mil quilômetros e uns quebrados, a de Laguna mede 2.830 mil metros. 
 
Notisul – Quando está prevista a obra da ponte sobre o Rio Tubarão, a conhecida Cavalcanti?
Avani – Está obra será construída em regime integrado, ou seja, a executora, em um preço fechado, fará todo o processo da demolição à construção. A definição de como vai ser a demolição faz parte da obra. Neste momento está em estudos a retirada da antiga estrutura. Falta ainda a assinatura do contrato, que quando ocorrer, esperamos que já iniciem os trabalhos no local.
 
Notisul – A demolição da Ponte Cavalcanti é um trabalho complexo?
Avani – É problemático. Primeiro, porque é uma estrutura grande. São 120 metros de vão, com três mil metros cúbicos de concreto em cima do rio. A questão é a retirada do material demolido. Uma das ideias, que vai ser novamente estudada com os responsáveis pelo meio ambiente, é fazer uma dragagem no local onde passa a ponte, deixa-lo bem mais profundo. Detonar a estrutura e colocar tudo neste buraco, que com o tempo estes materiais vão ficar cobertos com areia, não vai haver prejuízos para a calha do rio. Estes materias são inertes, são ferro e concreto, que não causam reação alguma. Não são poluidores. Defendo esta ideia de escavar e ver o volume que é necessário, sem problemas para a população.
 
Notisul – Já foram medidos os impactos ambientais causados pela construção da Ponte de Cabeçuda?
Avani – Praticamente não existe nenhum impacto. Inclusive o material que é retirado está recuperando áreas de deposição, onde antes existia uma criação de camarões, uma área que foi degradada, agora passa a ser recuperada e, com relação à execução da obra, este material que vai para o bota fora, retirado para fazer os canais de navegação, são os os que saem das estacas, também seguem para esta área de recuperação.
 
Notisul – Quantos homens trabalham atualmente na construção da Ponte Anita Garibaldi?
Avani – Hoje, são em torno de 1,5 mil a 1,55 mil homens no total, entre os diretos e os indiretos. Agora, deve reduzir um pouco, porque está para acabar os trabalhos de fundação das estacas. A empresa que faz este serviço logo terá que ir embora  e, com isto, diminuirá um pouco o número de homens no local. 
 
Notisul – Como estão as obras de construção do túnel do Morro do Formigão?
Avani – Tudo muito bem! Dos 530 metros de extensão, já foram perfurados 425 da calota, ou seja, da parte superior. Primeiro se faz esta parte para depois fazer o rebaixo de três metros e 80 centímetros, que é um trabalho mais simples. Porque a parte interna superior no decorrer dos trabalhos pode cair na escavação, se fosse toda a estrutura de pedra no local não haveria problema, mas quando há solo, tem que escavar e segurar as paredes. Porque não tem como sondar a estrutura do morro totalmente, somente forma-se uma ideia do local, os obstáculos em uma escavação aparecem na realização do trabalho. 
 
Notisul – Já houve, na região, pagamento aos moradores por prejuízos em residências por causa das detonações?
Avani – Já. O que ocorre de problema em alguma casa, é mais de recuperação. Situação que mesmo com todos os cuidados podem aparecer. Sempre que se constrói uma obra próxima às áreas urbanas pode haver problemas, é alertado, mas se for constatado avarias indenizamos. A indicação é que se alguém sentir prejudicado deve procurar, primeiramente, a empresa que está realizando a obra. Os nossos cuidados já iniciam antes mesmo de começar as detonações, quando é realizado um cadastramento das casas, se houver uma reclamação faremos um comparativo.
 
Notisul – O que é uma quarta pista, como está em negociação na construção do Morro dos Cavalos?
Avani – Por exemplo, quando se vai para Florianópolis, tem uma faixa e uma terceira faixa, sobem dois veículos de cada vez e no descer da rodovia, há somente uma pista. O que vai ser realizado é um alargamento no local para a colocação de uma outra pista, a quarta. Praticamente fica uma duplicação, um pouco apertada, é claro, perigosa. Tem que se trafegar com bastante atenção, porque a região também é muito ondulada, apesar de mais uma pista, a velocidade no local tem que ser reduzida. Acredito que depois desta obra, vá melhorar muito a trafegabilidade na região. Esta construção já está definida, deve sair em breve. Na verdade, não é a quarta pista, o correto é quarta faixa. A nossa estrada aqui é composta por duas pistas com quatro faixas, ficou conhecida, assim, o pessoal não está acostumado com esta terminologia.
 
Notisul – Ainda há indenizações a serem pagas no trecho entre Palhoça e Passos de Torres?
Avani – Praticamente nenhuma. O pouco que existe fica no lote um, em Bentos, na região de Laguna e segue até a comunidade de Bananal, em um trecho que ainda está em construção, para acesso à ponte. A pergunta seria porque este espaço não foi pavimentado? A resposta é que quando foi pensado em construir uma ponte para as obras de duplicação foi pensado primeiramente no outro lado da BR, mas a estrutura ficaria com 3.340 metros, vetado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e a Fundação do Meio Ambiente (Fatma), foi decidido construir a travessia, depois em seguida, fazer este trecho. 
 
Notisul – O que é mais difícil em uma obra federal?
Avani – Em minha cabeça é a burocracia. As indenizações, hoje, o tabu já acabou, estes trabalhos vão rápido, os preços definidos são o de mercado, não há problemas neste sentido. Na parte ambiental mudou muito, antes não existiam tantas exigências na construção de uma estrada, como as atuais, que concordo, mas também acredito que existe um pouco de exagero, temos que preservar, isto demora a ser definido.
 
Notisul – Na construção de grandes obras, como a Ponte de Cabeçuda e o túnel do Morro do Formigão, a classe política atrapalha o andamento do processo?
Avani – Temos condições de atender todos. Claro eles realizam a função deles, fiscalizar o investimento público, querem dar explicações para a população, entendemos, mas tem horas que é complicado, o que podemos fazer?
 
Notisul – Ainda falta construir alguma Obra de Arte (AO) no trecho sul da BR-101?
Avani – Falta sim. Depois da construção da ponte de Laranjeiras, passando o túnel em Tubarão, falta um viaduto pequeno, uma passagem inferior próximo à comunidade de Sertão dos Corrêa, são obras complementares que ainda estamos contratando. Depois, temos que construir três passarelas, uma no bairro São Cristóvão, outra próxima à Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e outra na região da empresa Vesul, todas na Cidade Azul.
 
Avani por Avani
Deus – Não gostaria de comentar
Família – É tudo
Trabalho – Muito importante
Passado –  Não há reclamações
Presente – Deveríamos ser mais evoluídos
Futuro – O país chegará onde merece
 
"A obra da ponte sobre o Canal de Laranjeiras é uma das maiores do Brasil neste momento”
 
"Defendo a ideia de se escavar o fundo do Rio Tubarão, em baixo da estrutura interditada para a deposição do material retirado da estrutura antiga"