Indústria impulsiona pleno emprego em SC

Em seu tradicional balanço do ano, o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, disse que o setor ficou um pouco frustrado, porque a perspectiva era de que a economia pudesse retomar o crescimento já no início de 2019. Mas a curva, que era descendente, passou a ser ascendente no segundo semestre e o setor apresentou muitos indicadores positivos, que posicionaram a economia catarinense bem acima da média brasileira. O destaque foi para a taxa de desemprego, de 5,8%, entre julho a setembro, a menor do Brasil e praticamente a metade da média nacional, que foi de 11,8%. O presidente ressaltou que a taxa de desocupação no Estado é de quase pleno emprego e acredita que na indústria, que emprega 34% da mão de obra, ela seja ainda menor.

[Pelo Estado] – Como a Fiesc avalia o desempenho da indústria em 2019? 

Mário Cezar de Aguiar – A Federação monitora 12 indicadores em tempo real. Verificamos realmente a diferença de Santa Catarina com relação ao Brasil. No primeiro indicador, que mede a atividade econômica, o crescimento de Santa Catarina foi de 2,8% até outubro, contra uma média de 0,9% do Brasil. A produção industrial no estado cresceu 2,6% de janeiro a outubro, contra um decréscimo do Brasil de 1,1%. As vendas industriais também cresceram 2,4%, contra um decréscimo de 1,1% do Brasil. É importante crescer mais do que média brasileira, mas queremos que a economia nacional se recupere rapidamente, para que nós possamos crescer ainda mais. É motivo de preocupação até porque, em função de a demanda externa estar um pouquinho complicada, pela guerra entre Estados Unidos e China, que compromete o comércio internacional, nossa produção dependerá muito da capacidade do mercado nacional de adquirir nossos produtos. É importante crescer mais do que média brasileira, mas queremos que a economia nacional se recupere rapidamente, para que nós possamos crescer ainda mais.

[Pelo Estado] – Por que o senhor destaca a geração de empregos?

Aguiar – A geração de postos de trabalho foi sem dúvida, um grande destaque. Dos 148.114 empregos gerados, Santa Catarina se posiciona em primeiríssimo lugar, com 36.557 novas vagas, superando estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul. Somos campeões absolutos no saldo de empregos no setor. Nosso número dá quase 25% do saldo de empregos total gerados em Santa Catarina.

[Pelo Estado] – Presidente, 5,8% é em todos os setores de emprego, ou só na indústria?

Aguiar – É a taxa de desemprego em Santa Catarina, de todo o estado. Na indústria, talvez seja até menor. A indústria emprega 34% da mão de obra em Santa Catarina. Depois do sistema financeiro, é o setor que melhor paga para seus colaboradores. O estado de Santa Catarina tem sido procurado por vários secretários de Fazenda de outros estados, tentando, através de incentivos, atrair a tradicional indústria catarinense. [Pelo Estado] – qual é a explicação para essa queda na exportação. Foi menor do que a do Brasil, mas foi uma queda. Aguiar – O mercado externo está muito volátil. Nesse final de ano, o câmbio vai nos favorecer, mas houve uma demanda menor no mundo. Temos concorrentes muito fortes. Estive com o ministro Paulo Guedes, com representantes do setor calçadista. Hoje o consumo interno no Brasil é de 3,8 milhões de pares, contra uma diferença de 3,9 milhões. Essa diferença é que exportamos. Mas nos 3,8 milhões tem uma parte que é importada. E aí cito vários países, como o Vietnã e a China. Da mesma forma, a produção de frango. Fomos beneficiados com a questão da China, com a carne suína e bovina.

[Pelo Estado] – Como estão os investimentos das empresas? Estão investindo no estado ou fora? 

Aguiar – O estado de Santa Catarina tem sido procurado por vários secretários de Fazenda de outros estados, tentando, através de incentivos, atrair a tradicional indústria catarinense. Por quê? O Espírito Santo tem visitado prefeitos mostrando vantagens fiscais. A Bahia produz boa parte dos calçados que eram produzidos em Santa Catarina. O Ceará levou muito da produção em confecções de Santa Catarina por conta de vantagens fiscais e mão de obra mais barata. Algumas indústrias catarinenses fizeram investimento internacional, outras em SC, como a Tupy e a Aurora. [Pelo Estado] – Ano que vem é ano de eleições municipais. Do ponto de vista da indústria, qual tema precisa ser mais debatido? Aguiar – Eleições municipais são sempre muito localizadas. Mas a grande deficiência do estado é a infraestrutura. Acho que tem que haver união dos prefeitos para defender o emprego nas suas cidades.

[Pelo Estado] – Quais as informações mais atualizadas que a Fiesc tem de Brasília com relação a concessões e recursos para obras, como, por exemplo, as BR-470 e BR-280?

Aguiar – Em termos de recursos, as notícias não são boas. O orçamento para 2020 prevê para toda infraestrutura em Santa Catarina apenas R$ 120 milhões, para essas duas rodovias. Nada para as outras. É um cenário muito difícil. O que abre uma janela de oportunidades são as emendas impositivas que vão ocorrer para o ano que vem e que poderão acrescentar R$ 500 milhões a esses investimentos. Como vemos que por ano são necessários R$ 2,89 bilhões de investimento, fica muito aquém da necessidade. Por isso defendemos as concessões, parcerias público-privadas, para solucionar essa problemática da infraestrutura.

[Pelo Estado] – Diante dessa tragédia, de apenas R$ 120 milhões, onde entra o governo do Estado? 

Aguiar – Temos conversado com alguma dificuldade com o governo estadual. Mas o secretário de Infraestrutura e a vice-governadora têm participado das reuniões. Levamos a nossa preocupação com o fornecimento de combustíveis e apresentamos uma proposta de intermodalidade, com a Fiesc pagando 30% do valor, em parceria com os portos privados, a concessionária da rodovia e algumas empresas.

[Pelo Estado] – Quais as projeções para 2020?

Aguiar – Os especialistas identificam crescimento nacional da ordem de 2% a 2,5% do PIB. Como Santa Catarina tem crescido acima dessa média, é quase certo que atingirá crescimento de 3% do PIB.