“Fui derrotado quatro anos atrás e soube perder”

Foto: Priscila Loch/Notisul
Foto: Priscila Loch/Notisul

O peemedebista Deyvisonn de Souza ganhou destaque na mídia nacional ao vencer a eleição deste ano por apenas um voto de diferença. Depois, em decorrência de uma ação judicial que pede a anulação do pleito, uma urna foi invalidada e essa diferença aumentou para 76 votos. Ele conta que ainda não teve acesso a informações oficiais da prefeitura e, mesmo assim, já corre atrás de recursos para dar “cara de cidade” a Pescaria Brava.

Priscila Loch
Tubarão

Notisul – A eleição em Pescaria Brava virou notícia nacional. Primeiro, por causa da votação apertada, com apenas um voto de diferença entre você e o atual prefeito. Depois, por causa da denúncia de votos de eleitores que não teriam comparecido, inclusive uma pessoa já falecida. Como você vê toda essa situação?
Deyvisonn – Primeiro, quero dizer que não somos citados em nenhum momento, nem eu, nem ninguém da nossa coligação. Segundo, que está muito fácil de resolver isso e chegar numa conclusão: é só entrevistar, investigar ou ouvir os mesários que estavam lá (na urna 90) naquele dia. Só eles vão poder dizer o que aconteceu. Eles foram chamados a depor, mas ficaram em silêncio. Está muito fácil desvendar esse mistério. O que estranhou foi na segunda-feira já depois da eleição a chapa adversária identificar o problema. Mas estamos tranquilos, organizando o governo para a partir de janeiro de 2017, já com alguns nomes. Fui derrotado quatro anos atrás e soube perder. Respeitei a vontade popular, a democracia, fui trabalhar e esqueci. Eu esperava o mesmo dele (o atual prefeito, Antônio Honorato). Mas não vou aqui discutir se ele tem direito ou não. Quem tem que avaliar isso é a justiça, não eu. E decisão judicial não se discute, se cumpre.

Notisul – Poucos prefeitos reelegeram-se este ano. Na sua opinião, por que os eleitores o escolheram dessa vez?
Deyvisonn –
Foi criada uma expectativa muito grande em relação ao governo do atual prefeito no início. Ele prometeu muita coisa para se eleger, enquanto eu dizia que no início ia ser muito difícil, que não poderíamos passar de quatro secretarias, teria que ser uma coisa muito enxuta, pois não sabíamos o que iríamos encontrar. Mas ele falava que iria asfaltar, que iria calçar, que iria isso, que iria aquilo. E eu muito realista, pé no chão. Como fui nessa eleição agora. Eu sempre falei que o primeiro ano é para recuperar a saúde financeira da prefeitura, fazer gestão, fazer administração, trabalhar com o mínimo do mínimo de pessoas. Sempre falei nos comícios que tenho pena de quem for trabalhar comigo, porque tem que trabalhar mesmo, muito. Não vai ter cabide de empregos, não tenho compromisso político, a não ser a secretaria da saúde, que vou entregar para o PP. O restante vai ser com pessoas técnicas. Vou fazer um governo visando fazer gestão e administração, sem gastar mais do que pode e trabalhar muito forte na busca por recursos nos governos do estado e federal.

Notisul – Você já começou a trabalhar em busca destes recursos?
Deyvisonn –
Já prospectei alguma coisa. Estou em negociação com a Casan para já nos primeiros dias de janeiro assinar um contrato de 25 anos para que explore a água de Pescaria. Hoje, o sistema ainda pertence a Laguna. Entendo que precisamos assinar para colocar água em toda a comunidade de Barreiros, a maior de Pescaria, que tem de 3,5 mil a 4 mil habitantes. Foi um compromisso que assumimos e pretendemos colocar em prática já nos primeiros dias, em face desse contrato que vamos assinar. Em contrapartida, estamos negociando para que a Casan entre com um convênio de pavimentação  drenagem. Estamos só negociando o valor. O vice-governador Eduardo Pinho Moreira já entrou em contato comigo para eu marcar a minha posse junto com a agenda dele, para que ele possa trazer o convênio do projeto do asfalto entre a Estiva e o Siqueiro. Já estou buscando um terreno para que a prefeitura possa adquirir e construir uma escola nova na comunidade de Barreiros. A escola, que está caindo, reformaremos para fazer o posto de saúde e a secretaria de saúde, deixando de pagar aluguel. Estou correndo atrás dessas situações. O deputado Ronaldo Benedet já acenou com um valor considerável de emendas, o deputado Jorge Boeira também se declarou parceiro. Enfim, estou imprimindo o meu ritmo de forma muito tranquila, pé no chão, na humildade. Vou fazer uma coisa muito simples, vou fazer gestão, enxugar o máximo para que sobrem recursos. Domingo passado, começamos a esboçar o organograma. Pescaria tem em torno de 120 a 130 funcionários efetivos. Só a folha dos efetivos, com encargos, dá em torno de R$ 180 mil. Uma cidade com 10 mil habitantes. Não é possível tocar a prefeitura com menos de 80 pessoas, o mínimo do mínimo. Informações extraoficiais apontam que a prefeitura estava sendo tocada com 450. Eu to pensando em 220, metade. Mesmo assim, a folha pode chegar a R$ 400 mil. Olha o absurdo! O salário dos secretários é R$ 3,9 mil, nada de exorbitante; do diretor de departamento, R$ 2,3 mil; gerentes, R$ 1,6 mil. Nada fora do normal. Os encargos incidem muito, é obrigatório ter a secretaria de ação social, senão não consegue receber recursos federais. Tem que ter secretarias de saúde, educação, obras, administração e finanças, e procuradoria. Ainda falta agricultura, esporte, meio ambiente, planejamento. Vou ter que agrupar, e mesmo enxugando tenho a consciência e a preocupação que não vai ser fácil. 

Notisul – Qual a receita de Pescaria hoje?
Deyvisonn –
Deve oscilar na casa de R$ 1 milhão, R$ 1,2 milhão. É muito pouco. Além da folha de pagamento, tem o valor repassado à Câmara de Vereadores e aos sistemas obrigatórios, internet, lixo, merenda, transporte escolar.

Notisul – Você foi favorável à emancipação…
Deyvisonn –
Sim, demais. Laguna com Pescaria junto tinha 440 quilômetros de área quadrada. Pescaria tem 126 quilômetros de área quadrada. A partir do momento que Laguna deixou de cuidar de Pescaria, perdeu 126 quilômetros de área e perdeu também em torno de R$ 70 mil de FPM. Quando Laguna administrava Pescaria, mantinha três ESFs e 14 escolas, e gastava por mês, com pessoal e estrutura, R$ 130 mil. Pescaria saiu de R$ 130 mil para R$ 1 milhão. Foi um baita negócio. Se for bem gerido, se for bem administrado, com certeza é negócio. Já fui vereador em Laguna, presidente da câmara, e vejo que não tinha outra saída. Laguna tem a ilha, região do Farol de Santa Marta, o distrito de Ribeirão, tinha Pescaria Brava e tem ainda a região de Itapirubá. É humanamente impossível um prefeito dar conta de tudo isso. Na minha visão, foi a melhor saída naquele momento. Só que sempre defendemos a ideia de fazer uma administração austera, pé no chão, sem inchar, sem trazer pessoas de fora. A não ser quando é mão de obra que só tenha fora. Outra questão importante é valorizar os comerciantes locais, para gerar ISS, fazer o recurso girar dentro da cidade. Dar oportunidade para que possam participar de forma igualitária, proteger o nosso pessoal. São coisas básicas, mínimas. Quando o saudoso ex-governador Luiz Henrique da Silveira veio assinar houve a emancipação, me deu a caneta, porque participei ativamente do processo. Outra questão é a fábrica de álcool, que está desativada desde 1976. A área é fruto de uma briga judicial, e estamos estudando de que forma legal é possível por meio de uma parceria com o BNDES para que incorporemos no patrimônio da prefeitura e transformemos em uma área industrial. Tem em torno de 10 hectares. Pequenas ações que vemos com bons olhos e que vai dar impacto no início. Sempre defendi e vou continuar defendendo: Pescaria tem que ter um ar de cidade. E como fazer isso? Já éramos para ter uma agência bancária. Duas semanas atrás, estive com o superintendente da Caixa Econômica e vou ter uma audiência em Brasília com o presidente da Caixa, no dia 7 (próxima segunda-feira), para colocarmos as contas da prefeitura na Caixa e em contrapartida ela fazer uma agência em Pescaria. Até já conversamos sobre isso, o pessoal da Caixa acha interessante fazer uma agência próxima da BR-101, para atender também o público que está passando na rodovia. É uma ideia preliminar, estamos amadurecendo. Também não temos uma agência dos Correios. Marquei uma audiência com o presidente dos Correios para dia 8. Não temos um posto da Epagri, não temos um posto da Cidasc, não temos uma delegacia, que acertei a vinda a partir do ano que vem.

Notisul – E como está a transição de governo? Essa ação na justiça pedindo a anulação da eleição atrapalhou?
Deyvisonn –
Não tem transição. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, até porque não sou parte interessada na ação que pede a anulação da eleição. Não por mim, não por ele (Honorato), mas por Pescaria, tem dados que são essenciais para que possamos fazer o planejamento. Em toda a campanha, falei que a prefeitura era uma caixa preta de avião. Em quatro anos, não se mandou um único balancete para a Câmara de Vereadores. Isso é um absurdo. Não conseguimos saber a movimentação financeira, o percentual aplicado na saúde, na educação… Procuramos de forma amistosa buscar o entendimento para iniciar, mas não tivemos sucesso. Montamos uma comissão, presidida pelo Marcelinho Mendes, que é funcionário efetivo da educação, que entregou um documento no protocolo e não recebemos resposta. Protocolamos pela segunda vez e de novo não houve resposta. Estamos estudando se vamos judicializar. Estou tranquilo, já temos o secretariado praticamente montado, o organograma do que vamos fazer.

Notisul – Que problemas terão que ser resolvidos já nos primeiros dias de mandato?
Deyvisonn –
Nos primeiros dias, vamos fazer uma grande auditoria, um inventário, para sabermos a questão de patrimônio, saber o que estamos pegando, do que estamos falando. Precisamos saber onde estamos pisando. Tomar pé de toda a situação administrativa para que possamos planejar os próximos passos. Também teremos que ver no início o convênio com a secretaria de infraestrutura para o asfaltamento do trecho de nove quilômetros entre a Estiva e o Siqueiro. Vamos focar também na vinda de uma agência bancária e de uma dos Correios, de um posto da Cidasc, da Epagri, da delegacia. Quero visitar todas as comunidades, dialogar para verificar as necessidades de cada uma. Por exemplo, Barranca é uma comunidade do interior, onde moram várias famílias, e uma enxurrada dois anos atrás levou uma ponte. Foi feita uma ‘enjambração’. Eu já estou atrás de recursos para fazer essa ponte, que deve custar entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. É a única comunicação que a comunidade tem. Daí cai a ponte e ficam todos ilhados, têm que sair por Imaruí. Estou vendo os problemas pontuais que o município tem e focando. Por exemplo, o asfalto que tem o compromisso do vice-governador vai ser de grande importância, pois vai fazer parte do contorno viário do município. Já existe asfalto do Santiago no Barreiros, vai faltar do Barreiros ao Siqueiro, cerca de seis quilômetros. Já vamos ter de 75% a 80% do município asfaltados, vão ficar as estradas vicinais, que são poucas. Com esse contrato que vou assinar com a Casan, com a contrapartida que eles vão dar em pavimentação e drenagem, já vamos conseguir pavimentar uma boa quantidade de ruas. Vai ser um bom incremento para a cidade, sem contar a receita de ISS que vai promover. Outra questão que vamos focar é o Plano Diretor. O município não tem ainda um Plano Diretor, um Código de Posturas, não foi ainda instituído IPTU. Vamos fazer um estudo. Apenas 3% da população paga IPTU hoje. Vamos procurar nos primeiros dias licitar uma empresa que primeiro faça o cadastramento das casas para depois fazer o Plano Diretor e o Código de Posturas, delimitando o que é área urbana e o que é área rural. Dentro disso, planejar uma política no sentido de buscar pequenas empresas. Queremos focar naquelas empresas de 20, 30 empregos. Um plano bem pé no chão.

Notisul – Esse é o caminho para Pescaria se desenvolver?
Deyvisonn –
Com certeza. Primeiro, como falei anteriormente, o foco é recuperar a saúde financeira da prefeitura. Aliado a isso, trazer algumas obras estruturantes, fazer o Plano Diretor, fazer um concurso público no segundo semestre, trazer esses órgãos para que comecemos a dar uma cara de cidade para Pescaria, sempre dando oportunidade para a nossa gente, para que o nosso povo preste serviços para a prefeitura, participe do dia a dia. 

Notisul – O que podemos esperar do seu mandato durante os quatro anos?
Deyvisonn –
Transparência, muito trabalho, seriedade, muito respeito com o cidadão, zelo com o dinheiro público. Vou procurar honrar não só as pessoas que acreditaram, como também que não acreditou, para mostrar que tínhamos credencial para ganhar essa eleição.

Notisul – Saúde e educação estão entre as áreas mais carentes nos municípios de uma forma geral. Como está a realidade em Pescaria hoje e o que é possível fazer?
Deyvisonn –
Na questão da saúde, já marcamos uma reunião com a direção do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, para este mês, para fazermos um convênio com o objetivo de garantir atendimento aos habitantes de Pescaria. Não temos um hospital, não temos um posto 24 horas. Vamos buscar uma parceria, ver se está dentro das nossas condições financeiras. Não vamos medir esforços para buscar essa parceria. Se couber em nosso orçamento, vamos ser parceiros. Hoje, temos quatro unidades de saúde. Vamos manter os postos que temos hoje, trabalhar com duas farmácias básicas, uma no Barreiros e outra na Laranjeiras, para poder atender a demanda das pessoas que necessitam de remédios. Vamos tentar ampliar o atendimento dos médicos nas comunidades. Por exemplo, em Taquaruçu não tinha um médico permanente e vamos colocar a cada 15 dias. Também projetamos aumentar o número de atendimentos. Por exemplo, no Siqueiro só eram disponibilizadas sete fichas a cada 15 dias. É nosso desejo oferecer um bom número de atendimentos. Além disso, estamos em contato com a Amurel para oferecer um maior número de exames por meio do CIS – Convênio Intermunicipal de Saúde, principalmente os de alto custo. Nossa população, em sua maioria, não tem plano de saúde e necessita do poder público. Vamos tentar flexibilizar o máximo que pudermos e ampliar esse atendimento. Na educação, é meu desejo privatizar o transporte escolar, para dar maior agilidade, mais tranquilidade. A todo momento, deixaram faltar diesel nos ônibus, os veículos quebravam e os pais tinham que ir buscar os filhos, às vezes já à noite. Assim, não nos incomodaremos com questões como oficina, motorista, e poderemos cobrar da empresa vencedora da licitação que faça um trabalho digno e com competência. Além disso, vamos manter o transporte dos universitários. É o mínimo que a prefeitura pode fazer. Vamos capacitar os professores. Embora não tenha havido a transição, não estamos dormindo de touca, já estamos com tudo esquematizado, já sabemos onde vai ter ensino fundamental, as creches, quais são as escolas que vamos nuclear. 

Notisul – Qual a sua avaliação sobre a possibilidade do município receber um pedágio na BR-101?
Deyvisonn –
Teríamos que ver qual o benefício Pescaria teria, se haveria isenção do pedágio para os moradores. Tudo é uma questão de conversar. Quero deixar bem claro que primeiro tem que ver o benefício, o que Pescaria ganha. Segundo, vai ter isenção? Podemos conversar e buscar o melhor entendimento.