“Esta injustiça é porque querem me tirar do caminho”

Zahyra Mattar
Tubarão

Notisul – Como está o clima agora que a poeira começou a baixar?
Maurício da Silva
– Continuo a me sentir injustiçado. Jamais imaginaria que iriam me tirar o mandato por ser vereador e gerente de educação. Situação esta perfeitamente permitida pela Constituição. Enquanto isso, a robalheira gratuita neste país continua. Vemos história de dinheiro na meia, na cueca, mensaleiro e mensalinho. Todos continuam em suas funções. Eu fui cassado e não entendo o motivo. Nunca fiz nada errado. Sinto-me injustiçado, estou injustiçado. Mas também tenho a expectativa positiva de que esta situação vai ser revertida.

Notisul – No seu artigo de despedida, o senhor diz que esta ação é um implicância com a sua pessoa. Por quê?
Maurício da Silva
– Não tenho a menor dúvida de que seja implicância. Em um momento, lá em 2003, o juiz nos chamou e disse: “Olha, vocês têm que escolher. Eu escolhi a câmara, saí da gerência de educação. E para minha surpresa o processo prosseguiu. Se atendi a ordem da justiça e o processo prosseguiu, qual a conclusão que chego? É que queriam me tirar da câmara de qualquer jeito. Eu não tenho como pensar de outra forma a não ser desta maneira. É isso.

Notisul – O senhor diz que foi alertado por diversas pessoas de que haviam pessoas que queriam tirá-lo do caminho. Foi alertado de que exatamente? Por quem?
Maurício da Silva
– Várias pessoas, algumas mais próximas, outras nem tanto, diziam para eu tomar cuidado porque meu nome estava aparecendo muito. O mais forte foi quando comecei a trabalhar com o projeto do Acolher e Encaminhar. Foi quando surgiram perguntas bem claras, do tipo: “Você sabe com quem está se metendo?”. Eu sempre respondia: “Estou me metendo com a coletividade de Tubarão. Minha proposta tem um objetivo muito claro: a segurança do povo”. Sei que são ameaças veladas, forma de intimidar, algumas poucas mais explícitas. Mas nunca recuei. Sempre fiz o que tinha que ser feito.

Notisul – O senhor não se arrepende?
Maurício da Silva
– De que, de ser autêntico e verdadeiro? Eu falo o que penso e faço o que entendo que tem que ser feito. É evidente que sei que contrario interesses muito poderosos. Sempre sofri intimidações e ameaças, como disse, veladas. Mas isso não é novo e já estava, ou melhor, estou acostumado. Quando houve a lei dos bares, o mesmo ocorreu. Na época, a lei foi totalmente desfigurada, e não foi de graça, porque era contrária a interesses de gente muito grande. Na época, diziam que nunca mais eu iria me eleger e que teria muita dificuldade. No fim, me reelegi, e muito bem. Mas garanto: se tivesse que perder o mandato na urna para continuar a defender o que acredito, não tenha a menor dúvida de que prefiro perder com dignidade na urna. Um homem não pode abandonar o que pensa porque alguém não concorda. É covardia e não sou covarde, nem tenho duas caras. Eu prefiro perder na urna, mas continuar convicto de que não fui omisso. Perderia de cabeça levantada. E eu posso andar com a cabeça levantada. Agora fui cassado, mas minha cabeça continua em pé, porque não cometi irregularidades. Nesta vida, ninguém nunca pode me chamar de vadio, de burro ou de ladrão. Estou há 32 anos na vida pública e ninguém pode colar estes adjetivos em mim.

Notisul – O senhor acha que até mesmo esta denúncia contra o senhor, em 2003, já era um reflexo de que o senhor já estava incomodando?
Maurício da Silva
– Não tenho a menor dúvida disso. É a tentativa de me tirar do caminho. E lamento por ter conseguido. Ainda que tenha fé de que seja por pouco tempo. Antes de mim, aqui mesmo em Tubarão, outros vereadores já tinham assumido cargo comissionado. Por que começaram esta questão comigo? Por que comigo? Não tenho a menor dúvida de que foi uma forma de me tirar do caminho. Não tenho a menor dúvida disso.

Notisul – Então, não seria melhor o senhor ter recuado, como estratégia?
Maurício da Silva
– Jamais. Minha consciência está lá no céu!

Notisul – O senhor tem uma chance de voltar à câmara. Se isso ocorrer, o Maurício que retorna é o mesmo Maurício que teve que sair?
Maurício da Silva
– Com certeza, somente um pouco mais revigorado. Os compromissos que assumi antes de ser afastado continuam de pé. Nesta semana, participei do seminário da enchente, na próxima vou cumprir a agenda do Conselho de Segurança. Perdi o mandato, nunca vão me calar, nunca vão me tirar a vontade de lutar. É evidente que quero retornar à câmara, porque, como vereador, tenho mais ferramentas para trabalhar, consigo fazer as coisas ocorrerem mais rápido. Mas vou continuar a dar minha contribuição mesmo agora, sem mandato.

Notisul – Como o senhor analisa todas estas mudanças na câmara?
Maurício da Silva
– O acordo feito restringe-se à condução do poder legislativo. Eu participei por telefone. A bancada do meu partido estava em Tubarão. Do outro lado, tivemos os tucanos (Carlos) Stüpp, João Batista de Andrade, Tony Bittencourt, Nilton de Campos e João Fernandes. Este acordo não tem nada demais. É apenas no sentido de gerenciar a câmara, acabar com aquelas brigas infundadas do ano passado. A postura do PMDB continuará a mesma. A bancada aprovará tudo que for bom para a cidade, continuará a fazer requerimentos, a cobrar. Nada mudou como todos acham. Quem levantou esta coisa de manobra, de negociata para fazer tudo parecer algo escuso, foi quem ficou de fora do acordo. Toda eleição de mesa tem manobra. A diferença está em como o vereador comporta-se dali para frente. No PMDB, na câmara, nenhum acordo precisa de papel, nós temos palavra. E acho que foi por isso que o PSDB aproximou-se. Foi feita uma lipoescultura na câmara. João, até então o vilão, teve a honra lavada. Acho que o PSDB fez a lipo que precisava ter sido feito já em 2009, teria evitado muita coisa ruim.