“Enterrar tubo não dá voto, mas dá dignidade”

Assim como nas últimas eleições municipais, o prefeito de Tubarão Olavio Falchetti, 66 anos, e o vice Akilson Machado, 67, ambos do PT, concorrem à reeleição com chapa pura. Em 2012, a dupla conquistou 44,54% do eleitorado, com 26.921 votos. Antes disso, Olavio foi candidato a deputado estadual em 2012, quando fez 14.850 votos, e em 2008 concorreu pela primeira vez à prefeitura, com 11.357 votos. Akilson foi candidato a vereador em 2008 e foi a escolha de 1.065 eleitores.

Priscila Loch
Tubarão

Notisul – O que os credencia a se reelegerem como prefeito e vice de Tubarão?
Olavio – Quando iniciamos os trabalhos, em 2013, encontramos a prefeitura com muitos problemas. Sem negativas, administrativamente bastante conturbada, muitas dívidas. E até colocar a prefeitura nos trilhos demoramos um pouco. Encontramos a prefeitura sem projeto nenhum e aí começamos a trabalhar com planejamento, a fazer projetos para encaminhar para Brasília e Florianópolis, e para maturação isso demora muito. De qualquer maneira, temos muito mais para apresentar, não deu tempo para fazer tudo que programamos, haja vista que nós realmente fizemos um bom trabalho. Hoje, temos todas as negativas. Se não estivesse tudo certo, não conseguiríamos fazer todas essas parcerias com os governos do estado e federal. O próximo prefeito, seja eu ou quem for, precisa ter sempre em mãos as negativas, senão, não tem parcerias, pois o nosso orçamento é muito curto e precisamos captar recursos de fora. O nosso planejamento estratégico concluímos quase 90%. Só que um dos problemas da cidade de Tubarão que ninguém percebe é a drenagem pluvial. Como técnico, como engenheiro, seria uma covardia minha não deixar no mínimo um apanhado mostrando o que está acontecendo com a drenagem pluvial da cidade. Por isso, contratamos o IPH, Instituto de Pesquisas Hidráulicas, do Rio Grande do Sul, para deixar uma cartilha, formar um conselho, para que os próximos prefeitos olhem com carinho a questão da drenagem. Não se admite no centro da cidade e nos bairros os alagamentos constantes como tinha. Há poucos dias, houve uma precipitação de 110 milímetros e, se não tivéssemos olhado com carinho, com olho clínico, para diminuir os alagamentos em diversos pontos, teria alagado a cidade inteira. Na avenida Padre Geraldo Spettmann, na rua dos Ferroviários e diversas outras que alagavam não teve esse problema dessa vez. Mesmo antes dos estudos do IPH, já sabemos onde atacar. Então, saímos um pouco do nosso planejamento. Onde estava com problema tínhamos como obrigação resolver. Muitas vezes me disseram: “Mas, Olavio, enterrar tubo não dá voto”. Não dá voto, mas dá dignidade. Estamos enclausurando diversas valas a céu aberto, que tinham um cheiro horrível. Isso é uma obrigação. Não vamos incentivar empreendedores a virem para nossa cidade em locais onde coloquem em risco os seus negócios, ou coloquem em risco suas famílias, entrando água em suas casas, acabando com os móveis. Os próximos prefeitos que administrarem Tubarão, se não tiverem um olho clínico em cima do manejamento das águas pluviais, estão fadados a falir, não vai haver progresso para a nossa cidade. Recebemos uma ação direta da maré. É só a maré subir que dá problema, não sai mais água. Por isso que estamos sempre limpando o rio Cubículo, o rio Congonhas, e outros, para resolver esse problema. 

Akilson – A seriedade com que levamos essa gestão, o cuidado com o dinheiro público, que nos permitiu fazer essas obras todas de drenagem. Porque para essas obras não tem recurso federal, nem estadual. Na medida em que trabalhamos com seriedade nas licitações, conseguimos economizar para poder aplicar o dinheiro. Cada centavo do tubaronense foi aplicado ou na saúde ou na educação e, principalmente, nessas obras de drenagem. Justamente o que nos credencia é o trabalho que temos feito, melhorando a área da saúde, da educação. Hoje, temos todas as nossas escolas com contraturno. Hoje, temos em todas as nossas escolas balcão térmico, para que as crianças tenham autonomia na hora da alimentação. Uma série de fatores nos credencia para continuarmos mais quatro anos.
Olavio – Uma questão importante é que também estamos ajudando os agricultores familiares da região, comprando 67% da merenda escolar deles. Temos no Ceasa uma central de logística, com câmara térmica, que conserva todos os alimentos, e um caminhão que sai para distribuir para as escolas. Também estamos incentivando a criarem uma cooperativa de agricultores, que já está formada, para fazer gerenciamento. Agricultor sabe plantar e sabe colher, mas tem que ter o apoio do poder público para resolver o problema de 700 quilômetros de estradas de chão batido em todo o nosso interior.
Akilson  – Temos 50 quilômetros na área urbana de vias sem pavimentação. Conseguimos na nossa gestão em torno de sete a oito quilômetros de asfalto, mas precisa continuar.
Olavio – Temos também dado apoio, com a nossa patrulha mecanizada, para ajudar nos açudes, a limpar valas em propriedades. 
Akilson – Temos hoje na merenda escolar tilápias criadas por produtores cujos açudes foram patrocinados pela prefeitura.

Notisul – Como vocês veem a cidade no passado, no presente e no futuro?
Olavio –
Hoje, vejo as entradas e saídas da cidade como muito importantes para melhorar a qualidade de vida. Assim como o parque linear, a manutenção das praças, que estavam praticamente abandonadas. O que estamos fazendo é revitalizar, e isso faz com que o povo tubaronense se anime . Outra coisa boa é que não estamos mais fazendo licitação com carta-convite, muito pouco, e sim com pregão, que faz com que diminuam os custos, para aplicarmos em várias áreas da cidade. Aumentando a autoestima da população faz com que automaticamente toda a região venha nos visitar. Estamos fazendo muitas parcerias com a iniciativa privada, que vê que tudo que recebemos é aplicado para o próprio povo. As pessoas veem que realmente a coisa é séria. O tripé que temos, justiça, ética e transparência, o rato não rói e a traça não corrói. As pessoas nos ajudam a tomar conta da cidade. Eu vou muito em obras, todas eu acompanho. Temos nossos fiscais, mas gosto de estar junto, olhar, tenho essa obrigação como técnico. Quando iniciamos o parque linear, os próprios comerciantes jogavam lixo na barranca, como se o nosso rio fosse uma lixeira. Todas essas limpezas de valas e rios que estamos promovendo fazem com que diminuam sensivelmente os alagamentos e as pessoas começam a ver a beleza do rio. Vamos fazer várias descidas para o rio, estamos preparando no projeto do parque linear. E quando digo que estamos fazendo muitas parcerias público-privadas é porque as pessoas acreditam no que estamos fazendo. Essa credibilidade para mim é ouro. Já temos outro deck pra fazer na beira rio, que o Genésio A. Mendes sinalizou que vai fazer. Está aberto a todos os empresários, pessoas físicas e jurídicas que queiram fazer uma parceria.
Akilson – Além disso, o Centro de Inovação vai permitir que Tubarão nos próximos anos seja um polo de excelência na área de ciência, tecnologia e inovação. Já estamos plantando para colher no futuro. Junto com o parque industrial, as entradas urbanas, a mobilidade, que tem melhorado bastante, faz com que Tubarão tenha um futuro muito promissor. 

Notisul – O que vocês podem fazer de diferente?
Akilson –
Não somos políticos profissionais. Temos nossas profissões. Eu como médico, Olavio como engenheiro. Terminou o mandato – e espero que seja em 2020 -, nós vamos para nossas casas, retomar nossas vidas, nossos negócios. Isso é o que nos diferencia. Nós não dependemos da política para viver. 
Olavio – O que faz a diferença na nossa administração é o tripé justiça, ética e transparência.
Akilson – Inclusive, o próprio Ministério Público Federal reconheceu esse nosso trabalho, deu nota 10 na transparência. Hoje, o cidadão tubaronense, acessando o site da prefeitura, vai saber onde cada centavo é aplicado, quanto ganha cada funcionário.
Olavio – Temos também as entidades que chamo de anjos da guarda, que vêm nos socorrer, e nós passamos a verba de pouco mais de R$ 2 milhões para quase R$ 6,5 milhões. Vimos essas entidades como parceiros, não como esmoleiros. Por isso, recebi o prêmio Prefeito Amigo da Criança. As nossas secretarias da educação, meio ambiente, saúde, assistência social, juntamente com essas entidades, como Aproet, Combemtu, Lar da Menina, Joanna De Angelis, fizeram com que nosso município fosse reconhecido. 

Notisul – Quais as principais carências de Tubarão hoje?
Akilson –
A drenagem é um problema que impede bastante coisa. Tem também o saneamento básico, que está sendo resolvido pela Tubarão Saneamento. O projeto da estação já está pronto, depende da liberação da licença ambiental para começar a construção, e isso vai fazer com que resolvamos uma carência séria.

Notisul – Que projetos do plano de governo merecem destaque?
Olavio –
A principal prioridade é continuar a fazer o que estamos fazendo. O IPH vai fazer um projeto para a prefeitura executar as obras estruturantes e educacionais necessárias. A drenagem pluvial temos que ter continuidade. Estamos concluindo a macrodrenagem juntamente com a microdrenagem. Estavam iniciando pelo lado errado, e o gasto era muito com bomba. As pessoas têm que enxergar que o trabalho tem que ser feito com dedicação, sabedoria. Outra obra importante é o parque industrial, que vamos concluir em 2018. Um dos problemas que acho gravíssimo entre os administradores é largar o trabalho do antecessor. Arena Multiuso foi iniciada antes e concluímos; a macrodrenagem, que estava parada, estamos concluindo; o próprio Centro de Inovação. Tubarão destaca-se pelo comércio, serviços, mas temos que dar um direcionamento industrial também, e aí vamos aumentar a arrecadação.
Akilson – Outra prioridade será o orçamento participativo, onde a população é que indica as obras. Nossos recursos próprios vão ser destinados basicamente às obras de drenagem e às indicadas no orçamento participativo.
Olavio – Eu sou contra jogar asfalto em cima de calçamento, de paralelepípedo. Se joga é porque está combalido, e se está combalido é porque a fundação não está boa. Não adianta jogar uma malha em cima, isso para mim é crime. Temos que tirar o paralelepípedo e colocar em outras ruas vicinais, que tenha menos trânsito, para acabar com a poeira, com o lodo. Jogar massa asfáltica em cima de outro pavimento que tenha problema de fundação é jogar dinheiro fora. Um trabalho que fizemos na Defesa Civil, o plano de contingência, veio gente de outra cidade para copiar. O plano foi elaborado com muita maestria e tem que cada vez mais fortalecer o monitoramento do rio. Antigamente, as pessoas iam lá medir com uma varinha. Hoje, não precisa mais disso.
Akilson – Agora, a população pode olhar o nível do rio pela internet porque instalamos cinco estações de medição pluviométrica, onde as pessoas veem a quantidade de chuva em vários bairros. Foi um investimento feito pela prefeitura para minimizar os problemas de alagamento e inundações. Com o plano de contingência e prevenção de catástrofes, hoje, se der uma enchente, já temos as rotas de fuga todas planejadas pela Defesa Civil.
Olavio – Temos também o Lar Legal, muito importante, para legalizar os imóveis irregulares, e tomar conta para que isso não mais aconteça. É um erro do passado, não foi feita a fiscalização. Quantas vezes essas pessoas precisaram entrar com um pedido na Caixa Econômica para ampliar ou reformar e não podiam?! 

Notisul – A área da saúde é uma das mais críticas e bastante criticada pela população. Que investimentos são realmente viáveis?
Akilson –
Pretendemos continuar o que está sendo feito. Já dobramos, por exemplo, a quantidade de medicamentos. Passou de R$ 1,9 milhão em 2012 para R$ 4,5 milhões aplicados em 2015. Estamos implantando o programa Agenda Aberta, já em funcionamento em 15 unidades de saúde, o qual acabaram as filas. O que nos compete temos feito com eficiência na área de saúde. Aumentamos a quantidade de medicamentos, mas no momento que falta um as pessoas reclamam. Os outros 150 que estão disponíveis ninguém fala. 
Olavio – Quanto mais o poder público oferece coisas de qualidade, tanto na educação, quanto na saúde e na infraestrutura, mais aumenta a procura. A pessoa pode ter um filho na escola particular e, se o poder público está oferecendo uma escola de qualidade, ela tira da particular e coloca na pública. Assim ocorre em todas as áreas.  Tem que ter paciência, pois não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. E os pedidos sempre vão aumentando, porque estamos oferecendo um ótimo serviço para a nossa população. 

Notisul – Ainda falando de necessidades, na educação, um dos maiores problemas é a falta de vagas nos centros de educação infantil. O que dá para fazer para resolver essa questão?
Olavio –
Nós construímos cinco grandes creches no nosso governo. Como há um melhoramento na educação, há uma procura muito grande. Me admiro muito a justiça vir pedir vagas até hoje, já estamos a três meses do fim do ano. 
Akilson – E tem um problema sério na solução disso. O município tem que respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que permite que gastemos no máximo 54% com pessoal. Cada cinco crianças que são admitidas em creches necessitam de pelo menos um professor. Município nenhum tem condições hoje de atender a totalidade das crianças que demandam creche, por ter um limitador de pessoal. Isso é um problema sério que tem que ser melhor equacionado pela legislação. 

Notisul – Com a crise instalada em todos os municípios brasileiros, como é possível driblar a falta de recursos e transformar projetos em realidade?
Olavio –
Trabalhar sério. Não tem mágica. A crise não é instrumento de destruição, muitas vezes é um instrumento de dar a volta por cima. Muitas empresas crescem com a crise, outras recuam, desanimam. Nós não paramos. Com o dinheiro arrecadado, com os pregões eletrônicos, que diminuíram muito os nossos custos, é possível sobrar para aplicarmos em todas as áreas. O ponto chave é a seriedade.

Notisul – A campanha nesse ano é diferente das eleições anteriores, com menor tempo e recursos mais restritos. Melhorou ou piorou?
Olavio –
É ótima, principalmente para os candidatos que não têm dinheiro. As placas, por exemplo, geravam uma poluição visual. Quem tinha condições de gastar tinha mais visibilidade. Agora, a inteligência, a capacidade de mostrar o que quer fazer pela cidade vão fazer a diferença. 

Esta é a última entrevista pingue-pongue com os candidatos à majoritária de Tubarão. Em ordem alfabética dos cabeças de chapa, já foram entrevistados Carlos Stüpp (PSDB) e Edson Firmino (PMDB – que posteriormente teve a candidatura impugnada e foi substituído por João Marcelo Fretta Zappelini); Edi Carlos de Almeida e Gladys Helena, do PSC; e Joares Ponticelli (PP) e Caio Tokarski (PSD). Nas edições dos próximos dois fins de semana, os entrevistados serão os candidatos de Braço do Norte.