“Diretores não denunciam o caos”

A professora Terezinha Botelho Martins, anos, conhece a palavra greve desde pequena. E a luta pelos direitos dos trabalhadores foi travada desde cedo por ela. Em Tubarão, começou na década de 80, na fundação dos professores. Antes de se mudar para o município, trabalhou em várias cidades catarinenses como professora estadual nas séries iniciais. Depois de 15 anos, formou-se em pedagogia com habilitação em supervisão escolar e começou a atuar como supervisora. É casada, tem três filhos. Nenhum é professor. Hoje, Terezinha é a coordenadora regional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte) na região de Tubarão.

Karen Novochadlo
Tubarão

Notisul – Como iniciou a sua participação na coordenação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina?
Terezinha
– Nós começamos a participar como âncoras, auxiliando a diretoria. Na gestão atual, eu assumi a coordenação. Hoje, o estado não libera mais professores para atuar nas regionais do sindicato. Antes, quem estava na coordenação, era a professora Maria Aparecida de Farias, a Quinha. Ela tinha 50 horas de aula. Trabalhava 30 horas nas escolas, 20 horas no sindicato. Depois, o estado cortou as regionais. Então, eu assumi. Não teria mais uma pessoa disponível para trabalhar na regional. Hoje, um professor só tem liberação quando ele vai para a executiva do sindicato estadual. Só 16 pessoas são liberadas. As regionais ficaram órfãs.

Notisul – Eu não recordo de uma outra greve dos professores como esta…
Terezinha
– A última grande greve foi em 1987. Durou 57 dias, em que diretores também participaram. Na época, tínhamos eleição para diretores. A greve atual tem uma característica diferente, porque lutamos pela aplicação de uma lei. Não pedimos um aumento no salário, e sim a aplicação de uma lei valorizará quanto o profissional.

Notisul – Mas vocês também têm outras reivindicações, como eleição para diretor…
Terezinha
– É muito importante a eleição direta para diretor, a gestão democrática na escola. Hoje, tudo é indicação política. O comprometimento do diretor de uma escola é com o partido, não é com a comunidade escolar. Ele está ali para representar o partido. Isto sempre está na nossa pauta de reivindicações, mas o governador não tocou no assunto desta vez. Todos escolhem o presidente, senador, prefeito, menos diretor na escola. Alguns diretores de escola são do PMDB, outros do PSDB e do DEM. Em Tubarão, aconteceu algo que achamos cômico. Os diretores fizeram um rodízio nas escolas. Então, chega uma pessoa que não tem identidade com a comunidade e a escola. Qual o papel dele lá dentro? Imagine uma escola com aulas profissionalizantes de informática, com 20 computadores. Destes, apenas cinco funcionam. Qual o papel que a escola tem que cumprir? Cobrar, chamar a comunidade e mostrar. Se tivermos 500 alunos na escola? Vai ser 100 alunos para cada computador. Isso eu já vi. Os diretores não denunciam o caos da escola.

Notisul – Como está a negociação. Há algum avanço?
Terezinha
– Não considero nenhum avanço em termos de negociação com o governo. É um retrocesso. É a terceira proposta e tem umas palavras bem comprometedores, como poderá, deverá. Na proposta dele, está a formação de um grupo para, a partir de janeiro, recompor a regência e o plano de carreira. Estudar mudanças. O governo reduz a regência para 15%, 17% e 25%.

Notisul – A proposta continua a ser a que foi apresentada há cerca de duas semanas? Como você vê essas ameaças de descontos nos salários feitas aos professores?
Terezinha
– Por enquanto, eles não fizeram nenhum desconto. Nós lutamos por esta lei há três anos. A contraproposta do Sinte não foi analisada a proposta.

Notisul – Vocês, do movimento, tentaram conversar com os pais para explicar a situação da greve dos professores. Chegaram a realizar uma reunião na semana passada.
Terezinha – No evento, não foram muitos pais. Alguns pais foram solidários ao movimento. Outros sugeriram que fizéssemos reunião por escola, o que será feito a partir desta semana.

Notisul – O que é importante colocar para os pais dos alunos sobre esta greve?
Terezinha
– É importante colocar que a nossa luta é pelo cumprimento da lei. Nós não estamos lutando por aumento de salário. Nós pedimos a aplicação de uma lei que dará resultados na qualidade da educação. Nosso estado é o sétimo em arrecadação. Mas, no ranking de pagar os professores, está em 24º. E a qualidade da educação no estado é uma das melhores do país, mesmo com os professores mal pagos. Nossos professores fazem milagre com as condições precárias que têm. Excesso de carga horária, salas superlotadas. Nós temos professores hoje que têm que trabalhar em duas, três escolas. E o professor que trabalha em três ou quatro escolas tem que levar a marmita junto, porque não pode comer a merenda, que foi terceirizada, com os alunos. O professor tem que se alimentar bem. Tem que ter dignidade. Um exemplo é o do professor João Batista Delfino, que mora na Guarda, trabalha em Gravatal e em Capivari. Como ele pode voltar para casa? Com a terceirização da merenda, os professores não têm direito de entrar na cozinha.

Notisul – Por que a regência é tão importante ao professor e os sindicatos não abrem mão?
Terezinha
– É um estímulo para trabalhar em sala de aula. É um diferencial. Se o salário é de R$ 700,00, um professor de séries iniciais ganha 40% do valor para estar na sala da aula. Como não há valorização do profissional, é preciso ter essa conquista. A regência é de 25% para quem ministra aulas para as séries finais (a partir da 6ª série). É um valor baixo. De repente, você está no fim de carreira e eles querem tirar o seu direito.

Notisul – Como o sindicato encara a situação de que o governo quer retirar alguns prêmios?
Terezinha
– O governo fala em retirar os prêmios educar, jubilar e assiduidade. O assiduidade é para o professor que não tem faltas durante o ano. Pode ter duas faltas em cada semestre, no máximo. Tem professor que trabalha doente. Nós chamamos o prêmio de castigo. Os prêmios somem da sua folha quando fica doente.

Notisul – Como está movimento hoje?
Terezinha
– Está bem fortalecido no estado. Existe o refluxo? Sim, mas saiu um professor e entra dois. Hoje, 90% dos professores estão em greve. Na nossa região, estão em 80%. Se você for em Braço do Norte, 100% está parado. Se você for em Rio Fortuna, 100% está parado. Jaguaruna também.

Notisul – Quais os próximos movimentos?
Terezinha
– Teremos um encaminhamento do comando estadual. Na semana passada, tivemos várias assembleias.

Notisul – Existe alguma possibilidade de encerrar a greve?
Terezinha
– Com o Supremo Tribunal Federal não se discute, cumpre-se. Eu não sei o que acontece. Tem que aplicar a decisão do supremo e os alunos estão sem aula.

Terezinha por Terezinha
Deus: Tudo. Sem ele não sou nada.
Família: Tudo. Sempre em primeiro.
Trabalho: Respeito e dignidade.
Passado: Lições de aprendizado e referência de vida.
Presente: Luta e esperança.
Futuro: Resultados das transformações do presente.

"Se o professor fosse valorizado em sala de aula, não precisaria de regência. Por isso, o professor não abre mão. Nesse momento da luta, está claro que queremos aplicação do piso na carreira, com todas as conquistas que tivemos até hoje."

"O estado é o sétimo em arrecadação. Nós temos estados do nordeste que arrecadam menos e pagam melhor os professores que Santa Catarina. Há alguma coisa errada ”.