Defesa Civil: “Qualquer anúncio levaria a cidade ao pânico”

Zahyra Mattar
Tubarão

Notisul – Como foi organizada a ação para o episódio desta semana?
Zé Luiz
– Começamos a monitorar, já no começo da semana, as previsões meteorológicas e o volume de chuvas nas cidades da encosta da serra e do Vale do Braço do Norte. Na quarta-feira, às 8 horas, fizemos um histórico das dez últimas horas para saber quanto de água chegaria aqui. Esta cadeia de informação é importante para organizar as ações. Pela manhã, já sabíamos que ao meio-dia teríamos problemas, áreas inevitavelmente ficariam alagadas. A chuva da serra e no Vale leva de oito a dez horas, dependendo da intensidade, para chegar em Tubarão. Às 15 horas, o nível do Rio Tubarão começou a encher e continuou a subir até as 9h30min. A nossa previsão era que o rio chegaria a 5,20 metros acima do normal. Chegou a 5,30 metros.

Notisul – Como você chegou a este valor?
Zé Luiz
– Em 1996, fui presidente do Conselho da Defesa Civil. Naquela época, fiz um mapeamento das cheias em toda a cidade. Com 4 metros, o rio transborda na Madre, chega na estrada. Com 4,50, já atinge a casa das pessoas. Tanto que a Madre foi o primeiro lugar onde agimos. Depois é o Bom Pastor, onde o rio transborda com 4,80 metros. No centro, estabelecemos como nível de alerta total o nível de 5,20 metros. Com 5,50 metros, já temos alagados o São João, Andrino, KM 60 e 63, Guarda-MD, Passagem, Dehon. Na quarta-feira, quando chegou em 5,10 metros, fizemos a primeira reunião para definirmos as ações. Imediatamente, abrimos dois pontos de abrigo temporário – o ginásio Jacob May, na margem esquerda, e o Warmuth Teixeira (do ferroviário), na direita. Temos 16 locais cadastrados. Graças a Deus, não foi preciso utilizá-los.

Notisul – Mas o rio passou do previsto. Não se cogitou fechar as pontes e tirar as pessoas da casa como prevenção?
Zé Luiz
– Este tipo de ação, claro, integra o plano de contingência provisório. Mas qualquer anúncio neste sentido levaria a cidade ao pânico. Além disso, não chovia mais na serra e no Vale. Não havia motivo para tomar qualquer atitude neste sentido. Seria, no mínimo, irresponsável. Se tivéssemos qualquer indício de aumento, aí sim faríamos o alerta emergencial para toda a cidade e fecharíamos o comércio, interditaríamos ruas e pontes.

Notisul – Quais os locais com maiores problemas?
Zé Luiz
– Não vejo o local com maior problema, vejo os problemas que atrapalharam como um todo. Um deles foi o refluxo da água do rio para as áreas mais baixas. Isso ocorreu no Pantanal, Humaitá, Morrotes e no Dehon, por exemplo. A drenagem feita em virtude das obras da BR-101 não foi concluída, o rio subiu e a água começou a voltar pela tubulação e alagar as comunidades. Outra preocupação era com o talude que cerca o Rio Capivari com a fazenda do Revoredo. Em 1996, este talude rompeu e toda a água do Capivari desceu e encheu o Revoredo inteiro. Desta vez, não tivemos problemas.

Notisul – Por que a água demorou tanto para baixar?
Zé Luiz
– O mar estava cheio, o rio estava cheio e não tinha por onde a água escoar. Mas o maior complicador é que na segunda calha do rio existe uma fileira de árvores plantadas. Isto dificulta ainda mais o escoamento da água porque engalha tudo ali. Agora vamos trabalhar para eliminar todas estas árvores. Documentamos tudo para argumentar junto ao Ministério Público.

Notisul – Sua casa alagou?
Zé Luiz
– Alagou. Perdi um monte de coisa. Sofá, geladeira, móveis. Minha família lá alagada e eu aqui, trabalhando. Minha mulher ligava e dizia: “Eu também sou flagelada, socorro!” (risos). Mas faz parte. Não tinha como atendê-los porque não posso preterir uns em detrimentos de outros. A responsabilidade é enorme. É com uma cidade inteira. É uma situação complicada e difícil de lidar. Afinal, é minha família né!?

Notisul – Qual o momento mais difícil?
Zé Luiz
– Foi na tarde de quarta-feira. Às 14 horas, os carros do Bombeiros, da Defesa Civil, PM, Exército e outros órgãos que prestavam socorro não conseguiam ajudar ninguém porque as pontes ficaram interditadas devido ao excesso de veículos. Por isso que batemos na tecla de que as pessoas devem escutar a orientação da Defesa Civil. Não devem sair de casa para ver o rio, nem passar informação não oficial para frente. Os boatos de que uma barreira rompeu em Lauro Müller e a hidrelétrica de Santa Rosa de Lima tinha rompido só deixaram todos desesperados. Um ato completamente irresponsável.

Notisul – Se o rio transbordar no centro, você tem uma noção do prejuízo?
Zé Luiz
– Se o rio transbordar no centro, 80% das áreas baixas alagam. A área central concentra a maior parte do comércio. O prejuízo seria alto. Esta semana houve bastante estragos. Neste momento (manhã de sexta-feira), seis equipes estão na rua para levantar todos os estragos para entregarmos à Defesa Civil Estadual. Na segunda-feira, teremos uma estimativa. Mas já sei que o estrago é grande, mesmo porque Tubarão já estava em situação de emergência desde o dia 5 de abril. Em 38 dias, o que estava ruim ficou pior.

vNotisul – Como você avalia a atuação da sua equipe neste episódio?
Zé Luiz – Boa. Todos aqui têm família, e ninguém arredou o pé um minuto sequer. Mas houve falhas e não posso fechar os olhos. Pelo contrário. Acho bom ver onde erramos para nos organizarmos melhor. Uma destas falhas foi quanto a comunicação. Demoramos para disseminar a informação para a imprensa. O resultado foi aqueles boatos irresponsáveis que deixaram a cidade um caos. Outra coisa que faria diferente é quanto a convocação do grupo de emergência. Chamamos o pessoal em etapas e aprendemos que isso deve ser feito de uma vez só. Também falhamos quanto ao sistema de alerta à população. Com o plano de contingência oficial, que fica pronto em julho, teremos seis sirenes espalhadas em pontos estratégicos da cidade. Mas agora você sabe como é feito este aviso? Pois é, ninguém sabe. Enquanto o plano oficial não fica pronto, o aviso de alerta máximo é feito pelas rádios, pelos sinos das igrejas e sirenes das polícia, da Guarda Municipal e da Defesa Civil.