“As secretarias não funcionam”

O vereador Dionísio Bressan Lemos (PP), 54 anos, é natural de Tubarão. Cursou medicina veterinária na Udesc, em Lages. Depois, fez MBA em gestão global pela Universidade Independente de Lisboa. Trabalhou na Cooperativa Agropecuária (Copagro), onde atualmente é presidente. Também exerceu a presidência na Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Afiliado ao PP desde 1981, sempre procurou atuar nas questões que envolviam o bem-estar da cidade. Em 1998, foi um dos coordenadores da campanha que elegeu Joares Ponticelli a deputado estadual. Em 2008, foi convidado pelo partido e, como ele mesmo conta, “convencido” pelo prefeito Manoel Bertoncini (PSDB) (na época candidato) a concorrer ao pleito. Hoje, ele se diz decepcionado com administração municipal.

Dionísio por Dionísio
Deus:
Meu Guia.
Família: Meu porto-seguro.
Trabalho: Honradez e dignidade.
Passado: Oportunidade de aprendizado.
Presente: Oportunidade de fazer alguma coisa.
Futuro: Esperança.

Karen Novochadlo
Tubarão

Notisul – O senhor foi o único vereador que votou contra o projeto de criação de uma das fundações, no caso a de Meio Ambiente…
Dionísio
– Eu tenho convicções muito claras. Independente de ser situação ou oposição, sempre as defenderei. O que eu entender não estar correto votarei contra, como é o caso da criação da fundação do meio ambiente e da defesa civil. Muito rapidamente, isto foi demonstrado que estava errado unir os dois. O prefeito Manoel Bertoncini (PSDB) já encaminhou para a câmara, em menos de 30 dias, um projeto de lei que altera a criação do conselho municipal do meio ambiente e defesa civil. Os dois serão desmembrados.

Notisul – Imagino que o senhor tenha uma relação maior com o meio ambiente por sua formação.
Dionísio
– Eu até acho que não seja a minha profissão que me influencie, mas a vida, que nos ensina isso. E, por eu ter sido membro do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e do Complexo Lagunar, trabalhei muitas questões relacionadas ao meio ambiente. Ter uma visão de sustentabilidade é fundamental.

Notisul – Nós vemos em Tubarão que há muito o que se fazer pelo meio ambiente, como a questão da Madre, por exemplo.
Dionísio
– Não vemos a preocupação com o meio ambiente na administração pública. A questão do lixo é um exemplo. Em outros municípios e estados, já caminham para o projeto lixo zero. Isto era uma bandeira nossa. O prefeito Manoel (Bertoncini – PSDB) pediu inclusive autorização para usar isso na campanha. Mas nada aconteceu. Tubarão também tem zero de tratamento de esgoto. A desculpa é que o plano municipal de água e esgoto é discutido no Tribunal de Contas do Estado. Quanto à questão da Madre, o comitê de bacia do Rio Tubarão fez um projeto e convenceu a diretoria da Tractebel de que era importante a transposição das águas de resfriamento dos seus equipamentos para a revitalização do Rio Seco. Isto, claro, depois de um estudo de impacto ambiental, com um relatório de impacto no meio ambiente. O comitê da bacia, junto com outros órgãos, elaborou o termo de referência que nortearia e regulamentaria o que deveria constar neste estudo. Isto tudo foi oferecido ao prefeito. Nada foi feito. A ocupação irregular existe há décadas. Mas o problema de renovação da água é recente, pós-dragagem do Rio Tubarão. Você não tem como exigir que os moradores façam a sua parte se o pode público não faz a sua. Nós não temos tido nenhum avanço no quesito ambiental, exceto pela criação da fundação.

Notisul – Hoje, grande parte dos projetos maiores vem do executivo. Como o senhor avalia hoje os trabalhos da câmara?
Dionísio
– Não há como negar que tivemos um período bastante conturbado de disputas político-administrativas dentro da câmara, motivadas pela conduta de alguns vereadores. No geral, a câmara não deixou de discutir questões muito importantes. Acho que o motivo dessas brigas é a existência de um grupo de vereadores que quer ver as coisas saírem mais claras e mais econômicas, para que a câmara dê melhor resultado com um menor custo. Isto gera conflito. Mas a câmara tem buscado a redução orçamentária. Já tivemos um orçamento, em 2008 e 2009, de quase R$ 6 milhões. Hoje, aproxima-se dos R$ 4,8 milhões. A câmara não deixou de discutir os grandes temas para a boa administração do executivo. Também tivemos leis propostas por vereadores, como transformação da questão do borrachudo em programa municipal. As leis aprovadas não foram colocadas em práticas. Um exemplo é a lei do uso de bebidas alcoólicas em postos de combustíveis. Hoje, você passa em qualquer posto à noite e vê pessoas ingerirem bebidas alcoólicas. Não adianta propor uma quantidade maior de leis do que já temos, se as que existem não são cumpridas.

Notisul – É interessante que o senhor aborde a questão do orçamento, quando o número de vereadores passará de 10 para 17…
Dionísio
– Não se serei candidato no próximo ano. Diria que meu índice de probabilidade seria de 90% de não ser. Restam 10% (risos). Eu entendo que Tubarão deva ter 17 vereadores para ter uma representatividade das comunidades no legislativo maior. Eu votei a favor desta lei. Mas isso deve ser acompanhado por uma redução de despesas.

Notisul – Por que somente 10% de chances de se candidatar?
Dionísio
– Os vereadores podem fazer muito pouco. O parlamento é bom, na origem de parlar, discutir. Essa é a finalidade do parlamento, além de fiscalizar e legislar. Mas, o laborar é muito pouco, porque quem define o que deve ser feito no município é o prefeito. Ele faz o que quer, como quer e quando quer. Por mais que a sugestão seja boa, quando não se tem um prefeito com a cabeça aberta, pouco adianta.

Notisul – Pensas em se candidatar a prefeito?
Dionísio
– Se for me dada a oportunidade. Mas não venderei a alma de jeito nenhum, e não farei grande esforço para isso.

Notisul – Qual a bandeira o senhor defenderia, caso fosse candidato a prefeito de Tubarão?
Dionísio
– Vamos considerar que as três grandes atribuições do executivo são: educação, saúde e segurança. Nossa educação é atrasada e ruim. Eu entrei pela primeira vez em uma sala de aula em 1964. A sala tinha uma estrutura física ruim, um quadro-negro, uma carteira dupla e uma professora comprometida com a educação. Mas continua igual, com as mesmas salas, o mesmo quadro-negro, apenas a carteira se tornou individual. Na frente, está uma professora, que por ser mal remunerada, nem sempre tem as condições de estar bem preparada.

Notisul – Como o senhor avalia da reforma administrativa?
Dionísio
– Necessária e importante. Teve o meu apoio e a minha defesa. À exceção da extinção da secretaria da agricultura, que foi pecado grande da administração.

Notisul – O argumento do executivo era de que a secretaria de agricultura não funcionava….
Dionísio
– E qual delas funciona? Se fosse por isso, teríamos que extinguir todas.

"Em dois anos, eu tive apenas um assessor. Defendo que façam isso na próxima legislatura. No total, seriam 17, mais uns 8 servidores para as questões operacionais da câmara, totalizaria 25. Hoje, com dez vereadores, nós temos 36."

"Um exemplo é que Tubarão anuncia um pacote de obras. Parece que irá revolucionar a administração pública. Só que Imbituba, Capivari e Criciúma já fizeram. Esta, nesse mesmo período, já fez todo esgoto sanitário, pluvial, investiu em educação, saúde, e agora anuncia pavimentação de 947 ruas em parceria com a comunidade. Tubarão, com todo esforço, fará entre 70 e 80 ruas. Se não cuidarmos, seremos ultrapassados por Braço do Norte, Imbituba, Capivari de Baixo. Pode ter certeza, daqui a 20 anos, Sangão fará frente a Tubarão."