“Alguns empresários têm que evoluir”

Fernando Soares Nandi tem 34 anos. É presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Atacadista de Tubarão e Região (Sindilojas) gestão 2009/2013, empresário do ramo de materiais esportivos, onde também atua como gerente de loja. É casado, pai de Sophia, de 7 anos. Tem o ensino médio completo, não frequentou a faculdade. “Costumo dizer que a minha formação é a faculdade barriga no balcão. A minha universidade foi no trabalho do dia a dia. Fiz cursos de gerência, aprendo todo dia, até mesmo com os meus funcionários. Tudo é aprendizado”, afirma.

 

Maycon Vianna
Tubarão
 
 
Notisul – Como você avalia o desenvolvimento do comércio de Tubarão?
Fernando Soares Nandi – É um pouco prejudicado pela situação que a gente vive na cidade. Problema com a BR-101, que tem atrapalhado o sul, o aeroporto que ainda não saiu e algumas obras atrasadas que prejudicam a cidade. A nossa região tem muito a crescer com a conclusão destas obras, o porto é quase uma realidade, a BR, acredito que vai mais dois anos ainda e o aeroporto nós torcemos que saia o mais rápido possível e, concluindo, com certeza vamos ter um ganho grande na Amurel.
 
Notisul – Você considera importante a vinda de novas indústrias para a cidade?
Fernando – É a maior briga hoje dos prefeitos que passam pelo poder, infelizmente, nenhum tenha conseguido isso ainda, mas a importância de indústrias na nossa cidade é muito significativa. Vivemos muito do comércio e acredito que se nós tivéssemos mais indústrias por aqui, com certeza o número de empregos aumentaria e o próprio comércio ganharia mais em renda.
 
Notisul – Por que algumas empresas deixam de se instalar aqui na região e vão para outros municípios?
Fernando – Por falta de competência da nossa prefeitura, acredito que os gestores já poderiam ter colocado uma indústria aqui na nossa cidade, faltou um pouco de qualidade na administração dos prefeitos, alguns deles poderia ter batido no peito e ter trazido uma boa indústria para Tubarão.
 
Notisul – Qual o papel da Sindilojas para os empresários e qual o número de associados?
Fernando – O Sindilojas representa mais de duas mil lojas, temos em torno de 80 associados é um número muito pequeno perto do que temos de empresas. O Sindilojas representa também todo o patronal e toma decisões importantes que é decidir o calendário do ano e o reajuste salarial, as pessoas não têm noção da nossa importância e isso fica evidente no baixo número de associados.
 
Notisul – Por que a diretoria do Sindilojas sempre fica na linha de frente no que diz respeito a assuntos polêmicos como o horário de Natal e o reajuste de salário dos trabalhadores?
Fernando – É porque estas questões pertencem ao Sindilojas, por isso cabe a nós, da diretoria do Sindilojas, a responsabilidade para fazer essas negociações.
 
Notisul – Como é a parceira entre Sindilojas, Associação Comercial e Industrial de Tubarão (Acit) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL)?
Fernando – Esta parceria, há pouco tempo atrás, tinha algumas discussões e no meu mandato consegui me aproximar do Felipe Nascimento (presidente da CDL) e do Eduardo Nunes (presidente da Acit), e isso foi muito importante para mim porque quando assumi a presidência do Sindilojas peguei em uma situação difícil e ambos me deram um grande suporte, abraçaram-me para me auxiliar a encarar bastante obstáculos que tive no início.
 
Notisul – De que forma o Sindilojas presta consultoria para os seus associados?
Fernando – Hoje, o Sindilojas presta poucos serviços aos seus associados, o que temos disponível é um auditório para que eles possam fazer reuniões com os seus funcionários, mas buscamos melhorias, passamos a enfrentar a queda da obrigatoriedade de contribuição sindical das micro e pequenas empresas, o que abalou muito o nosso sindicato, por isso não podemos dar tanto suporte. Pelo menos, de fato, buscamos sempre agradar os lojistas com algum tipo de orientação necessária.
 
Notisul – Será que isso não prejudicará as novas adesões de empresas no Sindilojas?
Fernando – Os lojistas têm que passar a se interessar um pouco mais pelo Sindilojas, devido à representatividade que tem, pois decidimos o salário que o patrão pagará aos seus funcionários e o calendário que eles trabalharão durante o ano. O patrão tem a obrigação de estar junto e participar, além de ajustar alguns erros que ocorrem.
 
Notisul – Como você desenvolveu o seu espírito empreendedor?
Fernando – Meu pai tem comércio há 35 anos e tenho 34 de idade. Trabalho com o meu pai desde os 12 anos. No início, eu ia mais para brincar, pois ele tinha uma loja de brinquedos. Foi indo e tomei gosto, recebi algumas dicas da família. Aos poucos, fui fazendo cursos, treinamentos de gerência, acompanhava o dia a dia do negócio e hoje estou na gerência da loja.
 
Notisul – Você acredita que Tubarão está preparado para dar suporte aos novos empresários?
Fernando – Primeiramente, precisamos capacitar melhor os funcionários para gerar lideranças, mas alguns empresários também precisam evoluir. Falta um pouco de união entre os lojistas, precisa um pouco mais de preocupação com o negócio. A realidade que a gente vive hoje é muito diferente de antigamente. Há alguns anos, o comércio era bom, agora temos fortes concorrentes, por exemplo, a própria internet. Temos que fortalecer cada vez mais o comércio para que os novos meios de vendas não prevaleçam.
 
Notisul – Qual a maior dificuldade dos empresários que atuam no comércio de Tubarão?
Fernando – A maior dificuldade é a carga de impostos. Isso tem prejudicado os comerciários. Se a nossa presidente Dilma Rousseff (PT) rever esses impostos, melhoraria não somente para os patrões, como também para os nossos consumidores.
 
Notisul – Não tem como fugir da polêmica dos últimos dias relacionada ao horário especial do comércio de Tubarão, o embate entre os dois sindicatos: dos comerciários e patronal. Na sua opinião, quem está certo: patrão ou empregado?
Fernando – É difícil responder essa pergunta, mas tudo que o Sindilojas faz é baseado em pesquisa, em números e se estamos lutando para abrir mais um domingo, a grande polêmica está em cima do dia 8 de dezembro, baseamo-nos em número de anos anteriores, nós já trabalhamos há quatro anos por três domingos e tivemos evoluções. Cada ano que passa, ganhamos mais. Respeito a opinião do Sindicato dos Comerciários. Na realidade, eles têm que lutar pelo objetivo deles. Neste ano, não conseguimos chegar a um acordo salarial e, talvez, por isso, também não chegamos a um consenso em relação ao horário de Natal. Ano passado, trabalhamos com uma carga horária maior do que este e eles fecharam acordo. Por que eles não fecham com três domingos? Será que não é um pouquinho de pirraça da parte do Sindicato dos Trabalhadores? Será que eles realmente ouvem os funcionários? Pela pesquisa que fizemos não é 100% a favor. Muito trabalhador está do nosso lado, a favor do nosso horário proposto, inclusive com essa nova alteração de abrir as lojas às 10 horas. Passei pelas ruas e muita gente veio apertar a minha mão. E ainda dizem: ‘que bom pensaram no nosso lado’! Mulheres vieram falar isso para mim. Volto a dizer que tenho cobrado dos lojistas que cumpram com a lei, se têm que pagar hora extra, paguem… se têm que dar folga, que deem! Temos cobrado do patronal de forma intensa.
 
Notisul – Por que praticamente todo ano ocorre este impasse do horário de Natal em Tubarão?
Fernando – Porque a data base de acordo salarial é em novembro. Eles querem vincular acordo salarial com horário de Natal. Quem define o horário é o sindicato patronal. Isso é lei, não temos que discutir com o Sindicato dos Trabalhadores, porém, já se tornou costume todos os anos sentar-se à mesa e discutir estes assuntos. Não faltou vontade do Sindilojas para negociar com o Sindicato dos Comerciários. Infelizmente, o sindicato patronal considerou que não era o momento de chegar a um acordo salarial. De 2008 para cá, fizemos um levantamento e nosso funcionário teve um ganho real de 21,8%, basta pegar o salário de 2008 com o de hoje e comparar. O comércio não acompanhou este ganho a mais. Poucos trabalhadores ganham estes R$ 840,00 que a Elizandra Anselmo (presidente do Sindicato dos Comerciários de Tubarão e Região) tanto comenta, o que não corresponde a realidade. É só fazer uma pesquisa e conferir. A média salarial de alguns é de R$ 1,5 mil. 
 
Notisul – E como resolver este impasse? Ainda há diálogo?
Fernando – Tentamos todo diálogo possível, inclusive tivemos um encontro com o prefeito Olavio Falchetti (PT) para tentar um acordo. Da parte do sindicato patronal foi dado quatro dias de folga (de 29 de dezembro a 1º de janeiro), são doze dias de trabalho até as 22 horas, são doze horas dadas e eles brigam por seis, por um domingo apenas para que não abra o comércio. Esta na hora do funcionário pegar o calendário deles e dos patrões e comparar qual é mais vantajoso.
 
Notisul – Qual a expectativa para as vendas de Natal deste ano?
Fernando – A expectativa é sempre positiva, ainda mais que 2013 vivemos um ano negativo, não muito bom para o comércio. Quando o ano inteiro não é legal, dizem que as vendas de Natal são boas. Sabemos que o nosso consumidor tubaronense e da Amurel gosta de vir ao comércio. Esperamos um Natal bem melhor do que o ano passado.
 
Fernando por Fernando

Deus – Essencial.
Família – Tudo.
Trabalho – Responsabilidade.
Passado – Bom.
Presente – Um símbolo.
Futuro – Que seja melhor!
 
"A maior dificuldade é a carga de impostos que tem prejudicado os comerciários. Se a presidente Dilma rever
esses impostos, melhoraria não somente para os patrões como também para os nossos consumidores".
 
"A decisão do sindicato patronal com relação ao horário especial de Natal deste ano foi unânime. É difícil voltar atrás"
 
"Aprendi muito neste tempo
em que estou a frente do
Sindilojas. Valeu a pena"!