“A Unisul tem um projeto, pessoas competentes e comprometidas para resolver esta situação”.

Perfil
Mauri Luiz Heerdt é professor universitário, atualmente reitor da Unisul, natural de São Martinho. Morador de Tubarão, casado com Ana Paula Rosso Dalla Rosa, pai de Arthur Heerdt, de 15 anos – e aguardam a chegada de mais um bebê nos próximos meses, que deverá nascer na Cidade Azul. Iniciou a sua carreira na docência há quase 30 anos. Já lecionou em escolas públicas e particulares. É graduado em Filosofia pela Unisul, especialista em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e Gestão Estratégica de Instituições de Ensino Superior (2008) pela Unisul/Fundação Dom Cabral; mestre e doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc). Iniciou a sua docência pela Unisul, em Florianópolis. A universidade tem 77 polos em todo o Brasil com três campi e seis unidades universitárias. Integrando as modalidades desde a infantil aos programas de doutorado. São 27 mil alunos no total, 22 mil só na graduação.

Jailson Vieira
TUBARÃO

Notisul – O contexto nacional e os efeitos da macroeconomia, dentre os quais a inadimplência, o desemprego e o atraso no repasse de recursos públicos de forma geral têm comprometido empresas, indústrias, instituições e famílias. Neste cenário, muito se fala, discute-se, especula-se; neste sentido, qual, de fato, é a realidade econômico-financeira da Unisul?
Mauri –
Olhando para a macroeconomia vamos perceber que todos estão se reorganizando de alguma forma. E todos foram afetados de alguma maneira. Uns foram afetados com muito mais força com o desemprego, outros foram cometidos de forma distinta, como, por exemplo, o aumento de combustível… é impossível dizer que ninguém foi prejudicado pelo momento que estamos vivendo. E na Unisul não foi diferente. O ambiente macroeconômico, o desencontro entre despesa e receita. Temos despesas que se iniciam no dia 1º de janeiro e alguns recursos de programas governamentais como, por exemplo, o Fies, eles começam a chegar em abril ou maio e, com isso, há um espaço entre a execução da despesa e o recebimento da receita. Tivemos também um grande aumento do número de bolsas em relação aos alunos pagantes. Se por um lado isso é excelente por que se tem um programa de inclusão fantástica, pois se permite e proporciona o acesso à educação superior a tantos jovens, adultos e a muitas famílias, do ponto de vista financeiro se tem um desafio porque tem toda uma estrutura à disposição da universidade em termos físicos e humanos, que devem estar à disposição indistintamente de todos. Tivemos também, deste primeiro semestre para o segundo, um percentual de estudantes que não se rematriculou, ou seja, veteranos que não renovaram a sua matrícula. E aí mais uma vez se tem a queda das receitas, além da concorrência em si, a que colabora com esse quadro todo. Por esses múltiplos fatores, a Unisul, desde o segundo semestre do ano passado vem enfrentado esse desequilíbrio entre receitas e despesas. Então a nossa grande missão atualmente é reequilibramos essa equação, porque é isso que permitirá a sustentabilidade financeira da universidade.

Notisul – A Unisul segue com inúmeros seletivos de ingresso e oportunidades de acesso e inclusão social, com bolsas e benefícios, inclusive. Há motivos para o futuro aluno se preocupar com a ‘saúde’ da instituição?
Mauri –
Todos os cursos da universidade em todos os níveis seguem a sua normalidade e todos esses benefícios questionados continuam concedidos normalmente, porque temos um ativo maior, o nosso estudante, o nosso professor e tudo que envolve esta relação. Desta forma, a vida acadêmica da Unisul segue com a sua normalidade como nos anos anteriores.

Notisul – O que a Universidade tem feito para inovar num cenário de permanentes transformações e mudanças? Em que vocês estão inovando, uma característica da Unisul?
Mauri –
Podemos falar de inovação em diversas dimensões. A primeira delas que gosto de citar a inovação organizacional. E quanto falamos de inovação organizacional em síntese se refere que queremos fazer cada vez mais e melhor, no entanto, com menos recurso. Se analisarmos a estruturação dessa gestão, podemos perceber uma estrutura menor. As mais enxutas são exatamente para podermos fazer mais com melhores processos e consequentemente impactarmos mais na sociedade. Em outra dimensão de inovação, podemos falar da pedagógica. E com isso o nosso enfoque é na formação dos docentes para o desenvolvimento de metodologias ativas, que coloquem o estudante como centro no processo de aprendizagem. Todo o nosso programa de capacitação, o Profoco, tem pautada essa perspectiva de inovação pedagógica. E em termos de inovação tecnológica, temos privilegiado a produção de conhecimento, porque somente a inauguração de um novo processo, produto ou a melhoria deles, se tivermos conhecimento forte nessas áreas. E sobre isso nunca tivemos nas áreas de pós-graduações Stricto Sensu tão consistentes como atualmente. Já na inovação social temos em Tubarão toda uma proposta de incubadoras, parque tecnológico, iniciativas, que envolvem o desenvolvimento de startups, em outras unidades nossas temos laboratórios de inovação, que privilegiam essa tendência de hoje, do desenvolvimento de empregos e negócios. E isso tudo tem como pano de fundo a inovação.

Notisul – Esta não é a primeira vez que a Universidade enfrenta desafios. Como vocês têm planejado as mudanças estruturantes para, novamente, prosseguir com sustentabilidade? A de maior impacto será uma possível redução de carga horária ou o desligamento de funcionários?
Mauri –
Estou como funcionário, professor na universidade desde 1998, e vinha acompanhando alguns períodos difíceis que a Unisul passou. E em cada momento adverso desses nos reinventamos e não seria diferente neste momento. Para o enfrentamento de agora estamos nos organizando em algumas frentes. A primeira delas, isso liderado via fórum parlamentar do Estado de Santa Catarina, queremos adequar alguns critérios existentes no Proies, que oferecem bolsas para os discentes. Exatamente para termos mais tempo para oferecer este benefício, e para que os nossos alunos de educação a distância possam receber esta bolsa, mas atualmente não podem. Essa é uma ação mais geral. Em uma segunda frente, temos atuado mais fortemente na redução de custos. Nela entra a renegociação de todos os contratos e temos feito isso desde o primeiro dia desta gestão. A revisão de todos os aluguéis nossos, além de outros custos, como energia elétrica, telefone, tecnologia da informação… De fato, estamos fazendo um ‘pente fino’ em tudo isso que implica em custos operacionais. E em uma terceira frente, temos atuado de maneira forte na redução de despesas com pessoal. Já diminuímos bastante desde o início do ano as horas administrativas, de estruturas e cargos. Entretanto, isso tudo não foi o suficiente e, por isso, temos que continuar com este processo de redução tanto de custos operacionais quanto de despesas com recursos humanos, justamente para que possamos ter equilíbrio entre receitas e despesas. E por último e não menos importante, tenho que frisar o enfoque na produção de receitas. Não adianta só diminuir despesas, mas temos também que ter receitas e neste item destacaria a criação de um novo polo no centro de Florianópolis, com autorização de diversos cursos pelo Ministério da Educação, a criação da nova unidade de Braço do Norte, que traz uma grande esperança de receita para nós. Além dos novos cursos chamados semipresenciais, que é uma nova metodologia, ela integra a educação presencial com a da distância. Em todas as nossas unidades terá, daqui a algumas semanas, o lançamento de um portfólio de cursos Lato Sensu, o maior dos últimos tempos. As notas boas do Stricto Sensu nos deram a oportunidade de ofertar doutorado em administração e também em educação, e isto não resultará em novos custos, pois os professores são os mesmos, a mesma estrutura dos nossos mestrados. Enviaremos esse planejamento para o próximo ano, além de uma série de ações e estratégias que têm esta função: de possibilitar o incremento de receitas. Essas têm sido as grandes frentes da universidade.

Notisul – E este enxugamento. Chegou a quantos por cento?
Mauri –
O que estamos discutindo atualmente com o sindicato é que precisaremos reduzir custos com pessoal. Podemos trabalhar em uma perspectiva de redução de número de funcionários ou da diminuição de um percentual de carga horária de alguns servidores. Não de todos. Estamos protegendo a sala de aula, o professor, o piso salarial daqueles que recebem menos. Então é esta a negociação a qual estamos fazendo com o sindicato, que na prática são duas propostas. A nossa intenção é sempre aquela que prejudique menos as pessoas e o contexto social, contudo, não podemos abrir mão de um resultado que precisamos ter. Desta maneira, a redução dependerá dessa negociação que estamos fazendo com a categoria.

Notisul – As pessoas se perguntam: a qualidade da universidade, a sala de aula, será ou está sendo afetada?
Mauri –
Estamos protegendo o nosso bem maior, essa relação entre o professor e o estudante, que são os principais atores para que tenhamos cursos e programas com qualidade. E se olharmos academicamente, nunca tivemos tão bem como agora. Todos os indicadores externos e os internos estão demonstrando essa qualidade. E essa será sempre a nossa meta, de reduzirmos custos, mas de mantermos e aumentarmos a nossa qualidade. 

Notisul – As pessoas que afirmam que há estruturas e pessoas subutilizadas na instituição; outras dizem que é preciso que os dirigentes também façam o seu papel – não só os funcionários (diminuindo também seus salários, por exemplo). Procedem?
Mauri –
Todas as estruturas foram ou serão revistas. A crise tem a sua dimensão ruim de impacto negativo na vida de uma organização e sociedade, porém, ela também traz a obrigatoriedade de nos repensarmos quanto instituição e isso nós estamos fazendo. Não conseguirmos colocar em prática ainda tudo o que queremos realizar, mas está muito claro que devemos atuar nesta perspectiva, de termos estruturas menores, processos mais ágeis e que tenhamos o respeito para com todos, privilegiando aqueles que mais precisam, porque isso é importante para que tenhamos relações mais igualitárias dentro da nossa casa. O momento de dificuldade financeira não vem de agora, mas de algum tempo, no entanto, neste instante a sociedade se sensibilizou mais e as pessoas estão mais preocupadas. As pessoas nos cobram que precisamos tomar mais medidas, além daquelas iniciativas que já tivemos. É isso que estamos fazendo. Não nos omitimos e a sociedade não tolera a omissão.

Notisul – Por que devemos acreditar que a Unisul vencerá mais este desafio?
Mauri –
Por uma razão muito simples, porque a Unisul tem um projeto e pessoas competentes e comprometidas para resolver esta situação. Pedimos que as pessoas confiem na Unisul e que deem o seu voto de credibilidade à universidade, assim como em outros momentos da nossa história, conseguimos ultrapassar as dificuldades, e não será diferente desta vez.  

Notisul – Há risco de insolvência financeira ou de que a Universidade ‘feche’ suas portas?
Mauri –
Jamais. A Unisul passou por outros períodos difíceis e soube dar as repostas, e neste momento nós estamos dando a resposta para que ninguém possa pensar desta maneira.

Notisul – Qual a importância do grupo de trabalho (formado pela Câmara) e da participação comunitária para auxiliar a Unisul neste momento?
Mauri –
A Câmara formou este grupo de trabalho justamente porque deseja saber mais informações e, sobretudo, porque almeja contribuir. E a Unisul está aberta à contribuição de todas as pessoas. Assim como o reitor recebe a todos em seu gabinete ou vai ao encontro de tantas pessoas, organizações em diversas regiões em que ela está, especialmente em Tubarão, onde reitor vai dialogar com esse grupo de trabalho da Câmara, e tem esse dever e sentido de escutar, analisar e de propor soluções que possam colaborar com a universidade. Qualquer organização deseja isso, a Unisul também almeja ser ajudada e por isso está de portas abertas para que as soluções possam ser encontradas.

Notisul – Embora a Unisul esteja com dificuldades, a universidade teve inúmeras conquistas só neste ano. O senhor poderia enumerá-las?
Mauri –
O nosso desempenho no Exame Nacional de Estudantes, o Enade, por exemplo, o curso de Medicina foi considerado o melhor de Santa Catarina e o 21º do Brasil. No Guia do Estudante, que ranqueia os cursos com estrelas, tivemos um aumento de cursos estrelados e reconhecidos. Nesta semana, recebemos o Prêmio de Gestão Universitária Inovadora. Nunca obtivemos notas tão boas em nossos programas de pós-graduação Stricto Sensu em mestrados e doutorados. Iniciamos um processo de recredenciamento, iniciativa que todas as universidades têm que passar e fomos muito bem avaliados com a nota máxima nesta primeira parte. Esse olhar de fora sobre nós foi formidável. O vigor da Unisul segue com muita fortaleza.

Notisul – Há risco de universidade deixar de atender, gratuitamente, a comunidade nos serviços que oferece (Sais, laboratórios, ambulatórios, etc.)?
Mauri –
Estes serviços fazem parte dos ambientes de aprendizagens e das atividades dos nossos cursos. Os cursos continuarão e consequentemente esses serviços também permanecerão. Porém, isso não significa dizer que alguns não serão repensados, mas são projetos que fazem parte da estrutura da modalidade. Não há nenhum receio que a população tenha perda dessas atividades.

Notisul – Qual o horizonte de tempo para a plena recuperação financeira da Universidade?
Mauri –
Nós não queremos fazer uma intervenção apenas pontual. Queremos gerir a universidade, permanentemente, com sustentabilidade. E esta será a nossa busca diária.

Notisul – A universidade perdeu muitos contratos?
Mauri –
Não que ela tenha perdido muitos contratos, porém há duas dificuldades. Uma delas é do próprio poder público de oferecer possibilidades de captação. Se olharmos em níveis nacional e estadual, principalmente no federal, onde está a maioria das possibilidades de participações em editais e captação de recursos via fomento externo, vamos perceber que isso reduziu bastante. As possibilidades diminuíram. A segunda questão, por exemplo, é que nós já conseguimos participar de alguns editais, fomos vencedores, mas ainda não recebemos. Um deles foi no Projeto Usinas Digitais, nesta semana liguei para o Ministério da Tecnologia e Inovação, entretanto, ainda não conseguimos receber, e são R$ 4 milhões somente este edital. É um recurso muito considerável para nós. E eles alegaram que há falta de verba no momento. 

Notisul – Qual tem sido a função dos conselhos superiores, da Fundação, enfim, dos órgãos que têm a função de deliberar e de fiscalizar a universidade, neste contexto, pois os desafios não são de hoje, certo?
Mauri –
Todos estes órgãos, Reitoria (Conselho Universitário, em nível de universidade) e na Fundação (o Conselho de Administração e Curador), têm cumprido o papel colaborativo de análise e deliberação sempre que necessário. 

Notisul – Qual ou quais edifícios não eram adequados para comportar a estrutura da Unisul?
Mauri –
Já revimos muitos aluguéis e vamos rever todos. Tínhamos um prédio no centro de Florianópolis, onde uma das torres não era adequada para sala de aula e desocupamos. A antiga sede da Unisul Virtual também. Em Tubarão, o edifício onde funciona a pós-graduação, Lato Sensu, o programa de mestrado, o arquivo central nós já revisamos aquele contrato para diminuirmos os nossos custos operacionais.

Notisul – Quais têm sido as premissas da sua gestão até aqui e o que o faz confiar de que o senhor e sua equipe estão no caminho certo?
Mauri –
A palavra de ordem é inovação, e desta maneira temos que fazer, a cada minuto, hora, dia… uma gestão com menos recursos e mais impacto. Este é o desafio para qualquer administração e isso nós vamos perseguir diariamente. Neste contexto, não podemos abrir mão da qualidade acadêmica, compromisso humanitário e sustentabilidade financeira, e é isso que vamos perseguir, sempre.