“A prevenção ainda é o melhor remédio”

O médico cardiologista Armando Lemos Monteiro da Silva Filho está há 32 anos em Tubarão e atualmente é conselheiro da Unimed e Usimed, é coordenador da Sociedade Brasileira de Cardiologia na região sul e da Liga da Cardiologia da Unisul. Armando é natural do Rio de Janeiro, formou-se na Faculdade de Medicina de Petrópolis e especializou-se em cardiologia no Conselho Federal de Medicina e no Conselho Regional de Santa Catarina. É sócio-proprietário da clínica Cordis em Tubarão, onde tem consultório, faz parte do corpo clínico do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) e é professor no curso de medicina da Unisul. Armando tem 58 anos, é casado com a neuropsicóloga Rodinéia Medeiros Ferreira e tem cinco filhas: uma cursa na oitava fase de medicina, outra está no terceirão, a terceira odontóloga, uma arquiteta e outra economista.
 
 
Eduardo Zabot
Tubarão
 
Notisul – Como estão hoje os problemas do coração?
Armando – Nos caminhos que a cardiologia vem tomando hoje, já existem tratamentos da medicina genética. Isso possibilita que muitas cardiopatias possam ser curadas pela correção genética. Esse é o futuro. No presente, em 90% das doenças do coração você melhor trabalha com a prevenção.
 
Notisul – Como deve ser a prevenção?
Armando – Nossos hábitos não são os melhores para que você faça uma erradicação da doença ou uma melhora do número de atendimentos no hospital. Mas, se você tiver uma educação dentro dos conceitos, dentro das alterações orientadas, consegue diminuir muito a doença coronariana.
 
Notisul – Com que idade as doenças do coração começam a aparecer?
Armando – Antigamente, a gente encontrava placa de arteriosclerose em crianças de 15 anos. Hoje, em natimortos já existem placas, ou seja, já vem da vida intrauterina. Já vem de uma maneira muito precoce, por isso que hoje a doença está em uma faixa etária muito nova. Mulheres com 35, 40 anos estão infartando. A faixa de infarto no homem, há 20 anos, era de 60 anos, hoje já encontramos infarto em jovens de 19 anos. Então, nossa alimentação, nosso modo de vida, essa cobrança de metas, nosso estresse estão modificando muito a condição da vida do homem, deixando de ser apenas pelas doenças. O modo de vida interfere na precocidade da doença.
 
Notisul – Que exemplos de doenças podemos citar neste caso?
Armando – Se você tivesse um diabetes, uma arteriosclerose, então esse é um processo evolutivo por uma doença. Mas hoje o fumo provoca alterações de formação de placa, a bebida em excesso, a vida sedentária, a obesidade descontrolada e muitos fatores que você poderia preventivamente não deixar com que modificasse o seu estado de saúde.
 
Notisul – Nós falamos em doenças na vida intrauterina. Esses problemas podem ser passados também da mãe para o feto?
Armando – Às vezes, podem, mas tem o fator hereditário, que a gente não pode esquecer. A alimentação, a maneira de vida são o que mais prevalecem nas alterações de placas.
 
Notisul – Como são os tratamentos?
Armando – Na medicina atual, nós temos a angioplastia, na primeira geração de stent, que é aquela molinha colocada dentro da artéria para que não oclua. Então, você tinha um material, aí nasceu a segunda geração de stent, com uma cobertura melhor, uma longevidade maior da peça, vai ter uma sobrevida melhor. E chegamos à terceira geração dos stents, que são os absorvíveis, feitos de magnésio. Nessa geração já são feitos estudos avançados. Eu estive agora em São Paulo, participando de um grupo avançado com o professor Valentin Fuster, que veio de Boston, e ele mostrou já os estudos de oito meses, os stents têm uma ação maior. Mas isso ainda é um pouco de utopia para nossa saúde, enquanto nossos governantes só autorizam colocar stent da primeira geração, os de segunda geração não são autorizados. Já os convênios têm a colocação do stent de segunda geração, mas a maioria da população não tem acesso aos planos de saúde e nós já estamos na terceira geração. Por isso que temos que ter agilidade nos nossos meios de saúde, para que isso também evolua.
 
Notisul – Esses tratamentos são evolutivos com novas técnicas?
Armando – A técnica evolui de uma maneira muito rápida. Antes, um cateterismo você faria pelo braço direito ou pela virilha, hoje já fazemos pela radial. É feito só um pequeno furo, nem corte se faz mais, e isso melhorou muito as complicações que existiam. O stent, cateter para angioplastia e cateterismo estão com um material muito mais avançado, mais maleável, para que possa entrar nas coronárias e fazer um serviço com menos complicações. Apesar de toda cirurgia ter riscos, mas essas complicações e riscos diminuíram muito com esses novos materiais.
 
Notisul – E essa evolução dentro da cardiologia salvou vidas?
Armando – Sim, porque diminuem as estatísticas de morte e, se diminuem, então você está melhorando o tratamento de doenças.
 
Notisul – Isso mostra também que Tubarão está preparado?
Armando – Antes, há 20, 30 anos, só um local fazia angioplastia. Hoje nós temos um trabalho de primeira linha no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), com profissionais perfeitamente capacitados e habilitados para realizar esses mesmos procedimentos, com aparelhos de última geração.
 
Notisul – Então, considerar Tubarão como polo na saúde não é errado?
Armando – Não, a tecnologia que nós temos aqui em Tubarão já é de ponta. Apenas essa parte genética, de stent que está sendo implantado nos Estados Unidos, que ainda não chegou no Brasil para colocar em larga escala. Assim que for viável, também virão para o país e para Tubarão. Mas isso tem que ser de acordo com a medicina, com a evolução normal do tempo. E, se falar em aparelhagem, o nosso de cateterismo aqui só tem mais dois no estado, é de primeira linha.
Notisul – Qual a classificação de riscos para doenças do coração?
Armando – Existe uma classificação de riscos com relação à doença. Você só tendo diabetes é o risco três para doenças coronarianas, essa doença por si é o maior fator de risco do coração. Ou arteriosclerose, ou do cérebro, rim, olhos, as artérias. E aí você soma. Se você tem diabetes e hipertensão, seu risco aumenta; se tiver diabetes, hipertensão e fuma, o risco é maior. Vai somando e o risco vai aumentando.
 
Notisul – Por isso a prevenção é fundamental.
Armando – Sim, porque você faz prevenção e diminui esses riscos. Se você parou de fumar, diminuiu o colesterol, controlou o diabetes, diminuiu o peso. Ou seja, esses fatores de riscos diminuídos rendem uma saúde melhor no futuro. Essa é a importância da prevenção.
 
Notisul – Os exercícios também contribuem para evitar doenças do coração…
Armando – O exercício faz uma contribuição enorme para você manter este estado de saúde. Um tempo atrás, quando dava aula no curso de fisioterapia, eu fiz um projeto na Unisul que era o programa da caminhada. Aliás, é um projeto de extensão que continua ocorrendo. Foi uma grande soma, porque os pacientes, quando começavam o programa, todos controlando a pressão, frequência cardíaca, não conseguiam dar uma volta no campo. Três semanas depois, eles já estavam dando quatro voltas no campo. A doença não mudou, o que mudou no paciente foi a reserva cardíaca, ou seja, a sua maneira melhor de enfrentar um esforço.
 
Notisul – Existem exercícios ideais neste caso?
Armando – Qualquer exercício é bom, mas o que vai limitar, primeiro, é fazer uma boa investigação médica, para saber o que você tem. Para ver qual o problema sobre a parte cardiológica, ortopédica ou de coluna, e iniciar um programa em cima da sua condição física. Esse exercício anaeróbico, como caminhada, bicicleta, esteira e natação, é o melhor para se fazer.
 
Notisul – O homem ainda lidera o ranking de quem tem mais resistência a procurar o médico?
Armando – A mulher, desde nova, já se previne, tem o hábito da consulta. Agora o homem, para procurar um médico, só quando está muito mal, senão ele acha que é tudo bobagem. Isso só muda quando ele teve um amigo que passou mal e morreu, então, na semana seguinte, vai ao médico para saber se tem alguma coisa. Mas, normalmente, 90% das mulheres ainda têm mais educação para se prevenir.
 
Notisul – O futebol de fim de semana é correto?
Armando – O exercício só do futebol do fim de semana faz mais mal do que se você não praticasse nada, porque você não sabe nem o que está fazendo. Como que vai fazer um esforço uma única vez na semana sem controle nenhum? É preciso ter orientação médica antes de fazer qualquer exercício.
 
Notisul – Que sintomas podem identificar a doença no coração?
Armando – A doença coronariana é muito pobre em sintomas. No exame clínico, também é pobre. Mas tem os sintomas clássicos, como que a sudorese, palidez, dor no peito ao fim de esforços com 15 minutos de duração.
 
Notisul – A especialização é importante na cardiologia?
Armando – É muito importante. Eu estou indo em agosto para a Alemanha, onde vou participar do Congresso Europeu de Cardiologia. E em junho também vou para Lages, no 1º Encontro da Sociedade Catarinense de Cardiologia, participando de uma mesa redonda. São momentos que conseguimos trocar experiências com todos os outros médicos da região, do mundo e isso vai uniformizar os atendimentos em um melhor atendimento à população.
 
Notisul – As pesquisas na cardiologia são frequentes?
Armando – Todo ano, aparece algo diferente na cardiologia, tem gente no mundo todo estudando. Nos grandes centros, como Suíça, Estados Unidos, Inglaterra e Reino Unido, eles têm muita pesquisa, investem nisso. O Brasil investe muito pouco em pesquisa. É importante, é fundamental, porque reduz a mortalidade, são pesquisas que geraram equipamentos que vão servir para melhorar o atendimento e evitar mortes.
 
Notisul – Os exames preventivos devem começar quando?
Armando – O homem a partir dos 40 anos deve fazer os exames cardiológicos, o check up, e as mulheres a partir dos 45 anos não devem deixar de procurar o médico de confiança, um especialista quando sentir algo diferente.
 
Armando por Armando
Deus – Sem fé não existe nada.
Família – Tudo.
Trabalho – Ser feito sempre com muito amor.
Passado – Alicerce que se deixa para o futuro.
Presente – Dádiva de Deus.
Futuro – Baseado nas ações do presente.
 
"Não adianta 
tomar remédio 
e não fazer a parte preventiva"
 
"O exercício mal feito também prejudica. O ideal é ter um diagnóstico para que você tenha uma condição física para começar a se exercitar."