“A burocracia atrapalha o desenvolvimento”

Eric Westphal é tubaronense e está há 11 anos nos Estados Unidos (EUA). Com 22 anos é o único catarinense que estuda na Universidade de Harvard, onde está no terceiro ano do curso de economia. Filho dos comerciantes Walter e Bebel, que moram em Tubarão, Eric é casado com a americana Cheryl. Até a quinta série, Eric estudou no colégio Dehon e depois mudou-se com os pais para a região de Boston, nos EUA. Lá, estudou em duas escolas públicas da quinta a oitava série. Hoje, realiza trabalhos dentro da universidade e vai começar um estágio em um banco americano
 
 
Eduardo Zabot
Tubarão
 
Notisul – O que foi mais difícil na adaptação?
Eric – No começo foi extremamente difícil, eu fui com onze anos e não falava inglês. Em Tubarão, era muito ativo, tinha vários amigos, jogava bola na rua. Lá, meus pais estavam trabalhando e eu ficava em casa porque não conhecia ninguém. Ficava inseguro. Como não falava inglês, era difícil fazer amigos e não entendia a televisão. Começou a mudar quando mudei de cidade e conheci outros brasileiros que estavam por lá, em uma situação parecida com a minha. Mesmo assim, até hoje, eu não me sinto americano. Sou brasileiro e tive sorte de estar em um lugar com outros brasileiros.
 
Notisul – Qual foi a grande lição até agora?
Eric – As dificuldades do começo abriram minha cabeça sobre mobilidade. Tenho certeza que estaria mais preso no meu próprio desenvolvimento se seguisse os passos aqui, não desmerecendo ninguém, mas ter mudado para lá, tirou-me o “chão” no começo, mas fortaleceu para pensar em oportunidades. Talvez, se ficasse aqui, não teria aberto esse leque para aprender que oportunidade é tudo. E, por isso, a maior lição foi a mobilidade.
 
Notisul – Como foi aproveitar essa oportunidade que apareceu para você?
Eric – Acho que a maior benção e também “maldição” – vamos dizer assim, de estar lá -, de estudar em Harvard, é que as oportunidades são infinitas e parece sempre que todo mundo faz mais e melhor do que você. O segundo grau é mais puxado por lá. Uma cultura de preparação para o ensino superior, e não era o meu caso. Estudei em uma escola pequena do subúrbio de Boston, que não manda constantemente estudantes para universidades de grandes nomes, então, eu não estava preparado exatamente para aquilo que estava prestes a encarar. Acho que tomei as melhores decisões, e a oportunidade foi aparecendo. O fato de estar no EUA te abre muitas portas. São tantas oportunidades que me deixam até confuso.
 
Notisul – Como é o seu trabalho hoje?
Eric – Eu corrijo e superviso provas no departamento de economia da própria universidade. Trabalhei no escritório de estudos da América Latina, mas são poucas horas por semana porque a carga horária de estudo é muito alta. Também fiz estágio em um banco americano, aliás, quando voltar, darei continuidade ao estágio.
 
Notisul – Como foi chegar em Harvard?
Eric – É até uma pena falar, porque tem tanta gente que se empenha para chegar em Harvard.  Não pensava em chegar nessa universidade, até porque o processo de ingresso é diferente. Aqui você escolhe o curso e vai prestar o vestibular para em qualquer universidade. Lá, você escolhe o local e depois vai ver qual curso se identifica mais. Eu estudei, sempre me dediquei, tirava as melhores notas possíveis, mas sempre foi algo natural. Nunca tinha esse planejamento para estar onde me encontro agora. Esforcei-me muito. Um professor perguntou por que não ia aplicar para Harvard, foi então que fiz aplicação para 13 faculdades porque queria uma bolsa e, pensando nisso, acreditei que minhas chances seriam maiores. Mas, por incentivo desse professor, acabei aplicando para Harvard e deu certo.
 
Notisul – Como foi receber esse resultado?
Eric – Foi no dia 1° de abril de 2010, quando eu recebi a notícia que tinha entrando. Fiquei meio surpreso porque muitos entram pela lista de espera e eu entrei direto. Realmente, não estava e esperando. Daí então, comecei a me adaptar à ideia e pensar em qual carreira seguir, qual curso.
 
Notisul – Por que a escolha de economia?
Eric – Bom, lá é diferente, porque você mira uma universidade e depois vai ter a opção de escolher o curso. Eu tive muita flexibilidade no primeiro ano para fazer o que gostava. Fiz uma classe aqui, outra ali. Então, por ser um adepto da política, queria aprender a ler o jornal Folha de São Paulo para entender a bolsa de valores e a economia política. Foi aí que participei uma aula introdutória de economia e acabei gostando. Achei uma disciplina muito dinâmica, que tem uma base matemática que eu gostei.
 
Notisul – Qual a sua visão do Brasil hoje?
Eric – Há desenvolvimento, talvez não é aquilo que se pretendia, mas existe. O que eu percebo lá fora é que tem muita gente prestando atenção no Brasil. Vejo isso dentro da própria universidade. As aulas de português passaram as de italiano e dos americanos estudantes que se inscrevem em língua estrangeira. Em relação a Tubarão, penso que cresceu também. E no geral penso que o mundo está prestando atenção no Brasil. Acredito que é um bom motivo. Até porque falta muita coisa ainda, mas a infraestrutura cresceu rápido.
 
Notisul – E a educação do Brasil, é a ideal?
Eric – Essa é uma das áreas que presto mais atenção, porque vejo o impacto que deu na minha vida. É algo que penso bastante quando voltar para o Brasil e trabalhar no setor público. Nos Estados Unidos, o sistema educacional estimula uma competitividade sadia para a economia. É mais dinâmico e as pessoas buscam oportunidades, mesmo aquelas que não têm muitas condições, recebem apoio e estrutura para estudar. Claro que o sistema de lá tem problemas, mas é diferente, elimina muitas barreiras. Falta atenção ao ensino, precisa mais de incentivo às buscas de oportunidades.
 
Notisul – Qual o futuro depois de formado?
Eric – Minha vida está um pouco aberta ainda. Hoje, a ideia é ficar mais uns dois no setor financeiro anos por lá, porque é um grande aprendizado com visão do mundo da economia globalizada. Depois disso, quero fazer uma pós-graduação em desenvolvimento econômico ou negócios, mas quero estudar mais um três anos e depois, quando tiver com 28 anos, penso que devo parar e tomar uma decisão mais centrada do que vou fazer, se volto para o Brasil ou não.
 
Notisul – Como é viver nos Estados Unidos?
Eric – No começo, quando ainda era menor, sentia medo porque recém tinha começado a guerra do Iraque, mas hoje não. A gente vive lá, sabe que tem conflitos com outros países, mas fica indiferente, isso porque as pessoas não se sentem em um estado de guerra. Agora, sinto-me seguro porque, apesar de terem ocorridos os ataques, os Estados Unidos são muito poderosos e isso passa tranquilidade.
 
Notisul – O novo modo de imigração pode prejudicar os brasileiros?
Eric – Os brasileiros estão entre os primeiros que vão aos Estados Unidos para consumir e comprar muito. Este número cresce ainda mais. Se olharmos para o setor de turismo, faz sentido. Acredito que o receio dos americanos é abrir a entrada como ocorreu na Europa, e teve problemas. Então, eliminando o visto, estimula o vínculo com o país. Em se tratando de estudo, penso que pode estimular a ideia de mobilidade para tentar estudar fora.
 
Notisul – Diante essas oportunidades, qual o maior sonho?
Eric – Gostaria de construir uma carreira com impacto positivo nas pessoas ao meu redor. E conseguir trabalhar nos setores de desenvolvimento econômico e planejamento no setor público, para, assim, poder colocar em prática o que aprendi nos Estados Unidos. Penso que isso me traria muita felicidade, mas desejo sim trabalhar com aquilo que eu goste, além, claro, de curtir minha família.
 
Notisul – Qual a diferença entre os dois países, principalmente no processo político?
Eric – A constituição brasileira é bastante semelhante a dos Estados Unidos. O sistema presidencial e legislativo em alto nível é idêntico. Mas assim, os partidos políticos lá são muito fragmentados, aqui tem muito partido e os políticos mudam muito suas siglas. Lembro que na última eleição presidencial fui votar lá e não tinha nenhuma plataforma política de administração, então aqui a maioria das pessoas vota na pessoa, partido, não olha a proposta do candidato. Nos EUA há uma camada maior de eleitores que votam pela ideologia, sobre as plataformas de governo. Isso é o diferencial. Penso que é fundamental para o cidadão, porque depois tem condição de cobrar Existe uma confiança maior no candidato.
 
Notisul – O que você espera do desenvolvimento do Brasil?
Eric – O que se percebe muito é que o país é extremamente burocrático e pelo nível de desenvolvimento, se você observar nos rankings dos países de abertura de negócios no Brasil é horrível. Tem muita fita vermelha, amarela para você passar no sistema burocrático, são órgãos públicos inflados com muitos interesses pessoais, além de não deixarem a coisa fluir como deveria, para fortalecer a economia. Isso é ruim! Com isso, o Brasil tem um risco real para o desenvolvimento. Além disso, o Brasil é um país economicamente atraente aos olhos externos. Há muita riqueza ainda inexplorada, principalmente no interior. Já somos a sexta economia do mundo e este ranking tende a melhorar para oi Brasil nos próximos 20 anos. No entanto, será muito difícil alcançar super-economias como a do Japão e do Próprio Estados Unidos. Mas, com a força do brasileiro e a sua expectativa de desenvolvimento, podemos vencer muitos obstáculos ainda.    
 
Eric por Eric
Deus – É tudo.
Família – Apoio, suporte e conforto.
Trabalho – Carreira de sucesso.
Passado – É algo inesquecível.
Presente – Oportunidade de aprender e realizar.
Futuro – Incerteza, mas deve ser feito com bons projetos.
 
 
"É preciso trabalhar a redução da pobreza e o próprio desenvolvimento do país”.
 
“Educação é fundamental. É um ticket para fazer algo para você e para o seu país”.