“Sem pessoas, não existem empresas”

Foto: Priscila Loch/notisul
Foto: Priscila Loch/notisul

Perfil
Prestes a deixar a presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas de Tubarão, Luciano Menezes em diversos momentos da entrevista fala que as pessoas precisam vir sempre em primeiro lugar, independente do assunto em questão. Ele afirma ainda que o período à frente da entidade mudou o seu modo de ver a vida e a cidade. Presidente municipal do PSD, Luciano destaca que as lideranças políticas precisam pensar regionalmente e coletivamente nas eleições do próximo ano, para que a Amurel não fique sem representatividade na Assembleia Legislativa.

Priscila Loch
TUBARÃO

Notisul – Você se despede da presidência da Câmara de Dirigentes Lojistas de Tubarão no fim de dezembro. O que os dois anos e meio no cargo significaram em sua vida?
Luciano –
Estou na CDL há oito anos. Para mim, foi um aprendizado muito grande. A eleição já aconteceu. O próximo presidente é o Harrison Marcon. Vai haver uma inovação importante. Foi um período muito importante para mim profissionalmente e também como pessoa. O empresário às vezes trabalha muito e não vive o dia a dia da cidade. A CDL fez eu me apaixonar pela instituição, ainda mais pelas pessoas, me fez ter uma outra visão e querer o melhor para minha cidade. Sou muito apaixonado por Tubarão e posso dizer que a CDL transformou a minha vida, transformou o meu modo de ver. Hoje, as pessoas estão em primeiro lugar, não é o lucro. Tenho muito orgulho de dizer que moro em Tubarão, que aqui tem pessoas voluntárias, que o calor humano aqui é importante. Desenho na minha cabeça a Tubarão que quero daqui a cinco ou seis anos, sei que somos a bola da vez, por tudo que já aconteceu, e a CDL tem uma importância grande, porque 70% da economia do município está no varejo.

Notisul – É uma parcela bem grande.
Luciano –
Muito. Tubarão tem mais de sete mil CNPJs. De certo modo, seria melhor que a cidade fosse mais dividida entre a indústria e o varejo, cada um com 50%. Como está muito no varejo, a gente não pode errar. Se errar, prejudica toda a cidade. As nossas três maiores empresas são a Unisul, a prefeitura e o Hospital Nossa Senhora da Conceição. O hospital gera muitos recursos que transformaram Tubarão em um polo. E por ser uma referência é que nós sempre procuramos desenvolver as lideranças por aqui. Não pensamos só na CDL como de Tubarão, pensamos na região.

Notisul – Quando se fala do comércio de Tubarão, é impossível pensar isoladamente. Tem que colocar toda a região no contexto.
Luciano –
Sim. Depende muito da região. Quero trabalhar para desenvolver também os outros municípios. Nesse meio-tempo, fiz muitos amigos. Então, posso dizer que o maior legado que tive como presidente foram as pessoas que conheci, uma outra visão da vida que eu não tinha e me despertou. Sou muito grato por tudo isso. Fazemos um trabalho voluntário, e as pessoas às vezes não entendem porque deixamos de trabalhar, viver um pouco menos com a família para se dedicar a uma causa sem ganhar nada. As pessoas que pensam dessa forma se enganam, porque ganhamos muito, ganhamos experiência, conhecimento, amizades, e fazendo a cidade se desenvolver vai ter retorno para a minha empresa. Somos referência em jornalismo, somos referência em voluntariado, em empreendedorismo, em política.

Notisul – A CDL encabeça a organização de atividades para que o comércio seja atrativo e supere as expectativas no período de Natal. Como estão os preparativos para o período e o que a população pode esperar para este ano?
Luciano –
Começamos a trabalhar com o Natal em fevereiro. Neste ano, o tripé é formado pela prefeitura, Unisul e CDL. Dia 3 de dezembro, vai ser o Uniluz, com a banda RPM, e vai haver diversas atrações. Dia 15 de novembro, vamos inaugurar a iluminação de Natal, às 21h, na Praça 7 Setembro. Neste sábado, vai ter a Camerata de Florianópolis, na Catedral, às 20h. Também no dia 15 vai ocorrer a abertura da Feira do Livro, que segue até o dia 25.  Dia 3, tem o Domingo na Rua Especial de Natal. E, do dia 6 a 22, vai ter uma programação completa de eventos, com dois desfiles. Esperamos fazer o melhor Natal de todos os tempos.

Notisul – Em termos de vendas, qual é a expectativa?
Luciano –
O período de Natal representa 20% das vendas do comércio do ano todo. Viemos em uma crescente muito grande. A parceria da prefeitura é um investimento, pois ela dá uma contrapartida de R$ 200 mil, mas volta R$ 10 milhões em impostos. É uma receita muito considerável para a cidade, gerada inclusive de outras cidades, e nos tornamos também um ponto turístico. A CDL de Tubarão é uma referência hoje. Quando a atual diretoria assumiu, era uma das dez maiores do Estado e hoje está em terceiro lugar em termos de vendas. Este ano, temos expectativa de acréscimo de 10% a 15%.

Notisul – Que tipo de benefícios têm as empresas associadas à CDL?
Luciano –
Temos 760 associados. Todos ganham descontos em lojas, prevenção do crédito. Hoje, estamos trabalhando com o certificado digital com um preço especial para os nossos associados. Temos três auditórios, e o nosso carro-chefe é o SPC. Tem um leque de atrativos para que as pessoas sejam associadas.

Notisul – Ainda em relação ao Natal, como você avalia esse embate que ocorre todos os anos entre os sindicatos patronal e dos comerciários sobre a abertura das lojas em horário especial?
Luciano –
Sou uma pessoa de muito consenso, procuro sempre juntar os lados. Quem determina o horário de Natal é o Sindilojas. A CDL sugere datas, assim como o Sindicato dos Comerciários. Nem sempre as datas que sugerimos são atendidas. A entidade não tem o poder de interferir. A nossa obrigação é colocar o cliente dentro da loja. A partir do momento em que temos um calendário e horários, temos que divulgar. No futuro, quem sabe as três instituições possam sentar, conversar para entender que loja fechada não vende. Sou uma pessoa muito humana, muito pelos funcionários. Mas existe o momento de ganhar dinheiro, e o Natal é esse momento. Acredito que houve uma evolução desde que assumi em relação a tratativas de funcionários com patrões. O relacionamento melhorou muito. No passado, via muitas coisas com as quais não concordava. Hoje, posso dizer que entro nas lojas e vejo dois amigos.

Notisul – Acredito que essa discussão seja reflexo do fato de que alguns patrões não oferecem benefícios para os funcionários neste período de horário estendido. Em muitos casos, não se paga hora extra, são muitas horas ininterruptas de trabalho e falta uma alimentação adequada.
Luciano –
Na nossa empresa, digo sempre que sou colega de trabalho. Nessa filosofia de trabalhar junto, nós aprendemos mais. O patrão tem que dar liberdade, tem que deixar a porta sempre aberta. O funcionário não deve temer o patrão. Ele deve ser honesto. Aquele funcionário que teme o patrão não está no lugar certo. Todas as pessoas precisam evoluir e, quando estamos em um lugar em que não podemos opinar, não vamos conseguir aprender. E o tempo passa rápido. Não vejo esse problema acontecendo em Tubarão. Vejo patrões e empregados trabalhando juntos, comemorando juntos. No ano passado, em 16 de outubro, foi um momento em que juntamos as mãos. A nossa empresa ficou fechada enquanto nossa equipe não resolvia suas questões pessoais. Sem pessoas, não existem empresas. Sou muito pelas pessoas, muito mesmo.

Notisul – Estamos chegando ao fim de mais um ano difícil. Como você avalia o encaminhamento da nossa economia?
Luciano –
Temos uma ponte para passar. O Sul é um outro país dentro do Brasil. Os nossos números foram mais positivos. O novo gestor que vai ser eleito no ano que vem vai dar mais credibilidade para a nossa economia. Os indexadores são muito positivos, e 2018, com certeza, vai ser um ano muito bom.

Notisul – A eleição então será um marco para o país sair dessa situação a que chegou?
Luciano –
A nossa questão hoje é muito mais política do que econômica. E essa situação está muito pesada para os bolsos de todos nós. A partir do momento em que os ajustes não são feitos e o Brasil para, têm que ser sobretaxados alguns impostos para cobrir o déficit que existe. O Brasil não está trabalhando da forma que deveria, está um pouco acuado até que ocorra a nova eleição. Com esse novo gestor, vão ocorrer as mudanças necessárias. Os números demonstram isso. As taxas de juros diminuíram bastante, a inadimplência reduziu também. Hoje, muitas pessoas que procuram a CDL querem deixar o nome limpo. Esses fatores são importantes. As pessoas vão voltar a comprar. Os bens de consumo ficam velhos, e começa a girar a economia. No ano de 2018, vai girar e vai ser um ano em que vamos comemorar muito.

Notisul – Agora, falando especificamente de política, você é presidente municipal do PSD. Quais os seus projetos, existe alguma possibilidade de sair dos bastidores e se candidatar a algum cargo?
Luciano –
Eu acredito naquela política do conjunto, do coletivo. Acho que tudo tem que ser construído. Estou dentro de um projeto político, à disposição do partido. Sou novato ainda, mas gostei muito, me identifiquei, e tenho certeza de que tenho muito a contribuir. Várias pessoas estão trabalhando comigo, me orientando. Esse ano é um momento de definição, até do quadro estadual, e o que temos feito é trabalhar os nossos talentos para fazer um grande time, porque com um grande time se vai mais longe.

Notisul – Então no momento você não tem nenhum projeto de candidatura?
Luciano –
Temos um projeto da região. O José Nei Ascari, nosso líder da região, foi empossado no TCE, e nos próximos dias começamos as reuniões para definir as lideranças, procurando nesse primeiro momento reter todo mundo e mostrar como vai ser o projeto. O meu nome vai estar à disposição do partido.

Notisul – Você com certeza deve ser do time que avalia como extremamente necessário a Amurel ter maior representatividade.
Luciano –
Sou uma pessoa que trabalha sempre por representatividade. Não quero perder lideranças. Não gostaria que saíssem sete candidatos a deputado em Tubarão, porque ninguém vai chegar a lugar nenhum. Vamos pegar um ou dois nomes para trabalharmos na nossa região. Perdemos um grande líder que foi o Zé Nei como deputado estadual. Estou contente como amigo, por ele ter chegado onde chegou, mas fica aquele vazio em termos de liderança. Acredito que a região tem condições de eleger três ou quatro deputados. Mas vamos ter que pensar em conjunto. Eu estou em um partido em que estou muito contente, mas as pessoas têm muito mais valor que um partido. Está na hora de as lideranças sentarem, conversarem e traçarem os objetivos. Temos bons nomes e precisamos trabalhar. Temos que fazer o dever de casa, porque estamos arriscados a ficar sem nenhum deputado no próximo pleito, o que seria muito ruim para nós, muito ruim mesmo.

Notisul – Você também está na presidência da Apae de Tubarão, cargo que ocupará até 2019. Como é o seu trabalho à frente da instituição?
Luciano –
Cada empresa em que atuamos trazemos conhecimento. Esse primeiro ano dentro da Apae foi de muito aprendizado para mim. Recebi a Apae das mãos de uma diretoria maravilhosa, com bons princípios. Precisamos tornar a Apae uma grande empresa, pois tem uma despesa muito grande. Possui 100 colaboradores. Faltam recursos para nos mantermos durante o ano. Temos que correr muito atrás desses recursos. A população acha que a Apae tem muito dinheiro. Essa é uma questão que precisamos trabalhar, porque não tem dinheiro. Precisamos vender cachorro-quente, vender pipoca, fazer festas, senão não fecha o orçamento no final do ano. Esses conhecimentos que vamos adquirindo vão tornando o trabalho mais fácil. O importante é estar com uma diretoria que tenha responsabilidade, porque fica mais fácil mostrar o nosso trabalho e solicitar ajuda. A credibilidade é muito importante. Queremos que a Apae, que tem 50 anos, sobreviva por mais 50, 100 anos. Por isso, vamos trabalhar na sucessão, na profissionalização, valores. Nesse curto prazo de um ano, conseguimos muitas realizações, algumas programadas só para o ano que vem, para 2019. Isso nos faz sonhar mais alto ainda. Eu, como cidadão, tenho aprendido muito com aquelas crianças, elas são muito especiais mesmo, nos ensinam muito mais do que ensinamos para elas.