‘Previdência é o grande défi cit do Brasil’

Renato Gama/Divulgação/Notisul
Renato Gama/Divulgação/Notisul

ADI/Adjori – Tivemos, até agora, um ano de crescimento na indústria e no comércio em Santa Catarina. Como a Facisc vê esse movimento?

Jonny Zulauf – O ano de 2019 foi um ano que frustrou muita gente. Até porque nós vínhamos no embalo da nova administração pública federal e estadual e todos apostaram numa retomada muito rápida que definitivamente não aconteceu. Entretanto o que se colhe é que tanto o governo federal quanto o governo estadual estão tomando concretas e reais medidas de reestruturação das políticas públicas. Isso é bem claro. A nível federal, não podemos deixar de destacar a grande vitória do que se desejou há décadas que é a reforma previdenciária. Não só por ela, mas o que ela representa em termos de imagem, de segurança para a economia do brasileiro e do mundo, sabendo que o Brasil está fazendo a lição de casa. É difícil fazer essa reforma. Ela seria a cereja do bolo das medidas que estão sendo tomadas de ordem econômica que a nós interessa. Empresas precisam de segurança, de estabilidade, segurança jurídica. A nível estadual, estamos sabendo de sérias mudanças internas na gestão públicas, de racionalidade, de medição, de controle, que é impressionante que quando o nosso governador anuncia o que está fazendo que isso não existia antes. Muitos controles, muitas medições. Então, é nesse sentido. Eu diria que é uma virtude do governo estadual: pouco populismo. Ações concretas, isso que interessa. E ações concretas implica em mexer na própria estrutura e onde nem tudo foi tão fácil. 

ADI/Adjori – Estamos está há dois ou três anos em processo de reformas e se esperava que esse ano teria um crescimento mais acelerado. Para 2020, o que garante que não seja frustrante de novo?

Zulauf – Primeiro, que essas medidas tinham que ser tomadas. Precisávamos acreditar no governo federal faria a lição de casa. A questão da Previdência é o grande déficit do Brasil e eles estão fazendo. E aí a implementação das propostas de Paulo Guedes. Elas vão trazer algumas coisas extremamente fortes para o Estado brasileiro, para a economia brasileira. Com essa segurança dessa estabilidade econômica, nós vamos ter investimentos do exterior. Nós vamos ter a liberação de recursos que estão parados de muito investidor brasileiro, que está esperando para ver o que vai acontecer. É a poupança nacional. E ela então começa a se liberar agora. O que nós temos do governo federal? A modificação do modal de transportes. Infelizmente em razão de mudanças de foco no Congresso Nacional, nós não conseguimos resolver. Teve essa confusão com o Supremo. Aliás, esse é o viés negativo do país. O desastre que foi a postura do Supremo Tribunal Federal por tudo o que fez. Essa insegurança. Essa polêmica em liberar pessoas que já foram julgadas em segunda instância. O que isso tem a ver com a economia? Tem que o Congresso Nacional parou o que ele tinha que fazer para estancar essa sangria que é complicadíssima e fizeram com que as reformas tributárias fossem jogadas para o ano que vem. E algo extremamente importante que vai acontecer no ano que vem está tudo sendo estruturado esse ano ainda é a desburocratização. Salim Matar [secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do governo federal] está fazendo um trabalho extraordinário. Se ele fizer metade do que ele anuncia, nós vamos ter um outro Brasil. Brasil enxuto, mais leve. Aquelas medidas de liberação econômicas ainda não foram assimiladas pela sociedade e são medidas extraordinárias, diminuindo burocracia, diminuindo cartórios, diminuindo as exigências documentais. Isso tudo está sendo facilitado, e principalmente para o micro e pequeno empresário. São vários aspectos. Nós estamos crescendo em termos de oportunidade de forma muito boa. Então, o que já foi de alguma forma fraco esse ano com certeza ano que vem vai ser positivo.

ADI/Adjori – Entre as reformas, tem duas delas em discussão no momento. A primeira delas é a questão do contrato de trabalho verde e amarelo. Qual a avaliação?

Zulauf – A proposta é excelente. Nós precisamos ter mais facilidade de contratar, para ser ágil. E se eu conseguir essa facilitação, naturalmente o jovem vai ter uma grande oportunidade. Vejo com alguma preocupação algumas amarras culturais que nós temos que eu chamo de injustiça do trabalho essa distorção ideológica pesadíssima no Brasil. O judiciário trabalhista infelizmente ainda inibe tudo isso. Implica em distorcer os propósitos legislativos e do Executivo para manter a sua retórica de controle total. A proposta não é algo para se festejar porque nós temos um revés delicadíssimo no país que é a Justiça do Trabalho.

ADI/Adjori – Seria importante também um investimento em formação?

Zulauf – É a primeira oportunidade que todos nós precisamos, seja para ter um emprego, para iniciar um trabalho. Essa condição aí de inclusão é fantástica. São os primeiros passos. A visão que o Ministério da Economia está tendo é fantástica, é por aí mesmo. Oportunidade para quem está começando. 

ADI/Adjori – A segunda reforma é a tributária. Das propostas que estão no Congresso, todas falam sobre tributação no destino. Isso pode ser maléfico para SC…

Zulauf – Nós estamos estudando, estamos presentes. Nós temos duas PECs e agora vem a proposta do governo. Nós num primeiro momento perderíamos, mas a transição é um processo que não vai levar menos de dez anos. Tem alguém que projeta até 50 anos. E todos estes processos vão ter sistemas de compensação. Nós não vamos perder. Claro, lá na frente vamos buscar uma ou outra alternativa, mas enquanto houver toda a transição, nós vamos ter sistemas de compensação desses estados que são mais produtores e menos consumidores. 

ADI/Adjori – A Facisc tem medido o avanço do PIB estadual. Qual a avaliação dos números?

Zulauf – Temos ainda a segurança para dizer que em relação a nível federal Santa Catarina ainda está muito na frente, pela característica de diversidade, de condição de reação diferente dos outros. O que nós temos curiosamente em Santa Catarina é que é disparatado de uma região para outra. Algumas regiões por causa da indústria. O Norte, na região de Joinville e Jaraguá, cresce espetacularmente. O Vale também. Mas o Planalto Serrano e o Planalto Norte, infelizmente, não conseguem reagir com a mesma facilidade. A boa notícia é o Oeste, que foi fortemente prejudicada na greve dos caminhoneiros, aquela questão da carne [Operação Carne Fraca], mas a retomada lá está sendo positiva.  

ADI/Adjori – 2020 é um ano de eleições municipais. Qual assunto deve ter mais importância?

Zulauf – Deliberamos que nós vamos repassar aos nossos secretários executivos… Uma das propostas que nós vamos apresentar a eles é estimular que façam, e nós vamos ceder a metodologia, o Voz Única. Para eles mesmo, localmente, fazerem o questionário. Cada associação empresarial poderá fazer isso e será, invariavelmente, uma contribuição muito grande para os candidatos. A grande reclamação que nós temos no Estado em geral é infraestrutura. O empresário catarinense quer condições para trabalhar e a infraestrutura é delicadíssima. A segurança já foi um ponto relevante, mas agora já reverteu. Méritos da gestão, que também não é só desse governo. Nós temos uma competentíssima lógica das nossas polícias. É preciso continuar investindo em inteligência e parcerias. A inteligência as empresas têm. Elas têm monitoramento, treinamento. A segurança não é só de bandido, pode ser de incêndio, pode ser de catástrofe.