Cooperativismo de Crédito: Sicoob prevê crescimento de 10% em 2020

Andréa Leonora (ADI-SC) 

Florianópolis

Mais do que em qualquer outra região do país, o Sul brasileiro tem no cooperativismo um diferencial muito forte, em grande parte responsável pela força do setor rural em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Mas o setor não se dedica apenas à área rural. Consumo, transportes, educação, entre muitos outros, incluindo aí o cooperativismo de crédito.

O entrevistado dessa semana, Rui Schneider da Silva, é testemunha da evolução desse ramo específico. Nesta entrevista exclusiva, ele fala um pouco da importância das cooperativas para o desenvolvimento econômico e social do estado.

“Há gente que pensa que estamos na contramão da história.”

ADI-SC/Adjori-SC – O cooperativismo é muito forte em Santa Catarina e o ramo de Crédito não fica para trás. O que explica isso?

Rui Schneider da Silva – À medida que os bancos tradicionais vão deixando de atender micro e pequenos empresários, e se concentrando em grandes negócios, vão deixando de atender às pequenas localidades, regiões, lugarejos e mesmo bairros. Vimos as últimas notícias do Banco do Brasil fechando centenas de agências, Itaú, também; o Santander é uma exceção, continua crescendo. Nos anos 1980, quando o Banco Central nos autorizou a funcionar como cooperativa de crédito, começamos a trabalhar. Em Santa Catarina, a primeira cooperativa começou a operar em 8 de novembro de 1984, a Sicoob Crediauc, de Concórdia. Fui o primeiro presidente. Fez 35 anos agora. Dezessete dias depois, já surgiu outra em Chapecó, Joaçaba, Iporã do Oeste e assim foram crescendo. Fizemos sempre aquele trabalho formiguinha, vinculado aos nossos princípios cooperativistas. O cooperativismo tinha 13 ramos. O de crédito era um deles, e este continua crescendo. 

ADI/Adjori – O impulso observado mais recentemente está muito atrelado à saída do papel exclusivo de crédito rural para outro perfil de consumidor. Como foi essa mudança?

Schneider – O crescimento maior se deu a partir da autorização do Banco Central para trabalharmos com livre admissão, podendo atender qualquer cidadão. Isso provocou um boom, porque pudemos passar a atender qualquer pessoa, física ou jurídica. E quando as pessoas começam a receber os valores de sobra da cooperativa, ficam animadas. A meta é também capitalizar, precisamos crescer para podermos emprestar. 

ADI/Adjori – Meta alcançada?

Schneider – Sim. Quando sonhávamos em ter um banco cooperativo, nos anos 1980, não imaginávamos que hoje teríamos sobrando para emprestar R$ 1,4 bilhão, garantido o equilíbrio. Isso é dinheiro do nosso associado. Emprestamos parte desse valor e o restante está aí, para a gente trabalhar. O que não é emprestado, é aplicado em título do Tesouro Nacional. Como as cooperativas sobreviveram à crise de 2008, à inflação alta? Diversificando o crédito. Emprestar pouco para mais gente, em vez de muito para pouca gente. Isso deixa para os grandes bancos. 

“Em conversa com um dos gerentes do Banco Central, avaliávamos que, hoje, quem pratica mais a inclusão financeira são as cooperativas, presentes em todos os estados da Federação. São 4.367.000 associados no país, sendo 977 mil só no estado. Aí se vê que nosso percentual de crescimento é maior. É que temos um DNA da cultura cooperativista.” 

ADI/Adjori – O que explica esse DNA tão forte e diferenciado?

Schneider – Isso vem lá das origens das cooperativas de produção. Só citando alguns números, temos 39 cooperativas nos dois estados, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; 977,6 mil associados; 5,9 mil colaboradores; patrimônio consolidado é de R$ 2,4 bilhões; depósitos à vista e a prazo são pouco mais de R$ 11 bilhões; de operações de crédito são R$ 8,3 bilhões; e ativos, dinheiro de nosso associado, de R$ 16,1 bilhões. Estes são dados de 30 de setembro deste ano. A cada mês mudam esses números. Temos também 495 pontos de atendimento nos dois estados. 

ADI/Adjori – Qual o momento do Sicoob?

Schneider – Há gente que pensa que estamos na contramão da história, porque aumentamos nossa estrutura enquanto todos diminuem. Mas ainda estamos em fase de crescimento. Vai chegar um momento em que teremos que parar de crescer. Não podemos esquecer a era digital, com vários bancos digitais atuando no mercado. Essa geração que está vindo vai aderir a isso. Já está aderindo. Em 2020, vamos lançar nossa estrutura puramente digital, para atender a esse associado que não vai à cooperativa. Fazemos tudo pelo celular, pelo computador. Em 1984, sonhávamos com isso. Hoje temos dificuldade para emprestar. Ano passado, tivemos mais de R$ 280 milhões de sobras. Este ano, talvez tenhamos o mesmo valor. Mas não sabemos como ficará a economia.

ADI/Adjori – Qual a projeção para 2019 e para 2020?

Schneider – Acho que teremos um crescimento em torno de 15% a 16%. Em 2018 foram 16,02%. Não pretendemos muito mais do que isso, porque quando temos uma rentabilidade muito grande é que estamos cobrando demais dos nossos associados. E nossa meta é que o associado pague menos taxas, menos juros e ainda sobre algo para distribuir no final do ano. Como 2019 não vai ser muito diferente o crescimento, com relação a 2018, espero que haja um crescimento de 10% a mais em 2020. O governo não vai conseguir implantar tudo o que pretende. A economia caminha devagar. Tínhamos uma estimativa mais arrojada de abrir postos de atendimento. Vamos mais devagar. E tem a opção do atendimento digital. 

ADI/Adjori – O senhor citou esse objetivo, do atendimento digital, já por duas vezes. O que vem por aí?

Schneider – Teremos uma cooperativa digital, com postos de atendimento digitais. É igual ao que outros estão oferecendo. Em determinadas regiões dará muito mais, em outras menos, dependendo dos hábitos do local, também. Temos que ensinar nosso público a operar em muitos desses locais. O que quero destacar, ao final, é que o cooperativismo de crédito faz um trabalho muito sério, com competência, mais até do que fazíamos antigamente, sendo fiscalizados, procurando dar uma garantia para que o associado trabalhe com tranquilidade na área financeira, sem necessidade de buscar recursos em outras entidades. Estamos querendo oferecer um portfólio que atenda às necessidades dos associados em cada região. A região determina as demandas, as prioridades.