“Há espaço para o novo na política”

Foto: Priscila Loch/notisul
Foto: Priscila Loch/notisul

Perfil
Secretário de governo e chefe de gabinete da prefeitura de Tubarão,
Laércio Menegaz Júnior está sempre muito atento ao cenário político. Aliás, tem vasta experiência no assunto. Participou de diversas campanhas eleitorais no Brasil e também no exterior, seja na coordenação, na consultoria de marketing ou no planejamento estratégico. Formou-se em direito pela Unisul em 2000 e em 2008 foi aprovado na Associação Brasileira de Consultores Políticos do Brasil (Abcop). Também foi chefe de gabinete  de Joares Ponticelli quando era deputado estadual, de 2005 a 2013, e do deputado federal Jorge Boeira em Brasília, de 2014 a 2016. Acompanhou a delegação brasileira da Abcop no Seminário de Marketing Político em Washington, durante a eleição presidencial americana em 2012, na Argentina em 2011 e, neste ano, ampliou sua experiência na Angola, trabalhando na eleição presidencial.

Priscila Loch
Tubarão

Notisul – Falando de política nacional, você vislumbra uma nova bipolarização entre PT e PSDB na disputa presidencial?
Laércio –
É muito cedo para fazer qualquer avaliação, principalmente num cenário tão confuso. Não acredito que a eleição do próximo será bipolarizada necessariamente entre PT e PSDB, como ocorreu no último pleito. Vejo uma eleição muito mais aberta, com pré-candidaturas viáveis em outras siglas ou ainda a surgir, dado o momento político que o país vive. O descrédito da classe política e, principalmente, dos partidos, faz com que a população vote mais em pessoas e menos em partidos. Desde a eleição presidencial de 1994, PSDB e PT e se alternam no poder. O velho ainda não acabou e o novo ainda não começou.
 
Notisul – Hoje, as pesquisas mostram Lula e Bolsonaro se destacando. Acredita que Lula e a esquerda têm chances de retomar a presidência em 2018?
Laércio –
A esquerda está em constante queda, não apenas no Brasil. As últimas eleições presidenciais nos EUA, França, Chile e Argentina mostram isso. Não estou afirmando que a esquerda está acabando, mas é notório que vem perdendo força. Na Venezuela, se tivermos eleições diretas e isentas, a direita vence após anos do Chavismo. São ciclos e modelos, que funcionam ou não. No Brasil, a principal força de esquerda ainda é o PT, e a sigla vem perdendo sua base devido aos graves escândalos de corrupção envolvendo seus líderes. Basta analisarmos os resultados do pleito de 2016. De 630 prefeitos petistas eleitos em 2012, o partido reduziu para apenas 250 em 2016. Quase 400 prefeitos a menos. Mas é inegável a forca política do Lula, visto que ele foi bem avaliado pelas políticas sociais que promoveu durante seus oito anos de governo. Mesmo com todo o desgaste, não tenho dúvidas que ele é o grande nome da esquerda. Se ele conseguir ser candidato, tem sim chances.

Notisul – E como você avalia a pré-candidatura de Jair Bolsonaro?
Laércio –
Especialistas do eixo Rio-São Paulo costumam dizer que a pré-candidatura de Bolsonaro é “voo de galinha”, curto e baixo. Mas não é isso o que penso. Ele está consolidado. O que se discute é se cresce na hora da eleição ou não. São 45 dias e ele terá pouco tempo de TV e rádio, que são as mídias tradicionais. Quem não se lembra da última eleição americana, onde diziam que Trump não tinha chances até a véspera da votação? Acredito que a eleição presidencial está em aberto. Outro fator que vislumbro como favorável a Bolsonaro é a questão do voto ‘anti-Lula’. Com a sua consolidação na segunda posição em todas as pesquisas deste ano, os eleitores que não desejam um retorno de Lula ao poder começam a enxergar em Bolsonaro a única candidatura capaz de vencer o petista. Pelo menos momentaneamente.
 
Notisul – Tem espaço para o novo?
Laércio –
Tem espaço para o novo sim, porém, tem que ser um novo com viabilidade eleitoral. O apresentador Luciano Huck, por exemplo, apontou nas pesquisas como este novo, porém, já anunciou que não será candidato. Claro que ainda podem surgir fatos e nomes novos que nem estejam neste cenário. Uma possiblidade seria o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que mesmo sendo do PSD seria o candidato de Michel Temer, apostando suas fichas na possibilidade de melhoria da economia em 2018, para que possa utilizar isso como bandeira. Seria um candidato do dito “centrão”. Talvez o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), possa ser candidato nessa condição, também defendendo Temer.

Notisul – Os números das recentes pesquisas eleitorais divulgadas refletem o atual cenário político nacional e estadual, em sua opinião?
Laércio –
Pesquisa eleitoral é a fotografia do momento. Estamos a dez meses do próximo pleito e apenas dois dados das pesquisas são importantes tecnicamente para uma análise correta e concreta do cenário: as citações espontâneas e os índices de rejeição. Em nível nacional, a última pesquisa Datafolha mostrou que apenas Lula e Bolsonaro estão no subconsciente das pessoas, indicados na pesquisa espontânea por 17% e 11% dos entrevistados, respectivamente. Mas isso não é o bastante, também é preciso analisar a rejeição, que em ambos os casos é alta. Por isso identifico o espaço para o novo. Em Santa Catarina, acontece a mesma coisa. Dois pré-candidatos já estão no imaginário dos eleitores. Mas em política muita coisa muda de um dia para o outro. O que precisamos entender é que hoje a pauta das pessoas não é a eleição do ano que vem, e sim o seu dia a dia, trabalho, família, o futebol do fim de semana… O importante agora são as pesquisas qualitativas, para entendermos a cabeça do cidadão e o perfil de candidato que ele quer. Tivemos exemplo como em aqui em Tubarão. Um ano antes, Joares Ponticelli (PP) nem era candidato e muita gente já achava que a eleição estava decidida para Carlos Stüpp (PSDB). Em São Paulo, Celso Russomano seria prefeito se dependesse das pesquisas durante a pré-campanha. Deu Dória no primeiro turno.

Notisul – E o cenário eleitoral em Santa Catarina como está?
Laércio –
Não difere muito do nacional. As pesquisas mostram Esperidião Amin (PP) e Paulo Bauer (PSDB) como os pré-candidatos mais lembrados, devido a um recall das últimas eleições por eles disputadas. São os mais lembrados, por terem a maior exposição pública entre todos nas ultimas eleições. Mas temos outros candidatos que podem surpreender. O PSD, por exemplo, conta com dois fortes nomes, Gelson Merisio e João Rodrigues, e o mesmo ocorre com o PMDB, com Mauro Mariani e Eduardo Moreira, que assumirá o governo do estado no ano que vem. Falando de PP, além de Amin, tem também o deputado federal Jorge Boeira, que poderia ser um fato novo. Enfim, tudo em aberto também por aqui. Acredito que em abril, prazo final para mudanças de partido e também para o registro de novas filiações, teremos um cenário mais claro. Até lá, nos resta permanecer atentos aos movimentos de peças no tabuleiro político.

Notisul – Algum movimento especifico?
Laércio –
Alguns (risos)! O principal ponto a ser analisado com muita atenção é a decisão a ser tomada pelo governador Raimundo Colombo, mais especificamente se ele irá mesmo renunciar ao cargo. Se renunciar em janeiro, dará claros sinais de que sua intenção maior é manter a aliança com o PMDB, mesmo que para isso seu partido tenha que abrir mão da cabeça de chapa. Já renunciar em abril, prazo final para a deixar o governo se quiser ser candidato a senador,  ou nem renunciar, as dificuldades de manutenção da aliança entre PSD e PMDB aumentam consideravelmente.  As situações dos prefeitos de Joinville, Udo Döhler (PMDB), e de Blumenau, Napoleão Bernardes (PSDB), também precisam ser acompanhadas. Ambos possuem desejo de disputar a eleição do próximo ano e precisam renunciar seus cargos até abril.

Notisul – As redes sociais terão a mesma importância que nos pleitos anteriores?
Laércio –
Sempre digo que a rede social é uma importante ferramenta, desde que os candidatos a utilizem como canal de interação, não apenas de comunicação. As redes sociais precisam produzir conteúdos, interagir com os internautas e ainda monitorar sua influência e relevância. Penso que os políticos precisam dialogar e não apenas falar.

Notisul – A expectativa é que o próximo pleito seja um divisor de águas na política. A tendência é melhorar a situação?
Laércio –
Acredito que sim. O eleitor a cada dia se mostra mais consciente e atento à situação que o país vivencia. Temos no voto nossa principal arma contra os políticos desonestos e incompetentes, e precisamos utilizar com a maior responsabilidade. O eleitor que vem acompanhando o esforço do judiciário, Ministério Público e das polícias para combater os maus políticos está ciente de que terá em 2018 a oportunidade de poder fazer o seu julgamento, analisando o passado e as propostas dos candidatos, para poder escolher as melhores opções.

Notisul – Algumas regras da reforma política sancionada pelo presidente Michel Temer passam a valer já em 2018, como a criação de um fundo com recursos públicos para financiar as campanhas. Qual a sua avaliação a respeito?
Laércio –
A criação deste fundo eleitoral é uma grande vergonha. Serão quase R$ 2 bilhões destinados para a campanha eleitoral de 2018, enquanto nossa população sofre com a falta de recursos para saúde, educação e segurança pública. Estas verbas que agora serão destinadas para a campanha eleitoral seriam destinadas aos municípios e, com certeza, atenderiam muito mais ao interesse público. Outra mudança que nasce da nova legislação permite que candidatos impulsionem suas publicações nas redes sociais. Ou seja, os candidatos poderão pagar para ampliar o alcance de suas postagens na internet. Ainda não há, porém, modelo a ser seguido ou restrições a serem respeitadas. É a primeira vez que essa ferramenta será autorizada para campanhas. Até então, a propaganda online paga era expressamente proibida. Eu tenho estudado muito o tema e acompanhado atentamente o TSE para poder trabalhar em 2018.

Notisul – Você tem se mostrado um grande defensor do voto regional.
Laércio –
Eu nunca mudei de partido, sou filiado no mesmo há 20 anos. Digo isso porque já fui apaixonado partidariamente, hoje não. Quero cada vez mais participar de projetos de pessoas, independente do partido.  No atual modelo, temos que votar levando em consideração sim o aspecto regional, como aquele candidato vai poder contribuir, se eleito for, com meu município e a minha região. Atualmente, a Amurel está sem um representante sequer na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal, e todos nós sabemos o quanto isso faz falta. Temos na região aproximadamente 300 mil eleitores que precisam votar unidos para eleger representantes. Isso faz toda a diferença para o desenvolvimento de uma região. Acredito que este sentimento está surgindo cada vez mais forte.

Notisul – Agora falando da prefeitura de Tubarão, como você analisa o primeiro ano do governo de Joares Ponticelli? Continua ano que vem na função de chefe de gabinete?
Laércio –
Política se faz ouvindo as pessoas e trabalhando muito no dia a dia. A bagagem que o prefeito Joares tem é muito grande e ele tem feito isso. Pegou uma cidade com graves problemas financeiros e desafios gigantes e, em vez de reclamar, arregaçou as mangas e resolveu enfrentar tudo isso junto com a equipe. A capacidade e o ritmo de trabalho do prefeito, bem como o excelente trabalho de planejamento que fez na cidade, são os grandes legados neste primeiro ano. Barreiras foram vencidas, sementes foram plantadas. Além disso, seus relacionamentos na esfera estadual e nacional auxiliam muito. Relacionamentos na política são fundamentais para uma administração, assim como se superar e se reinventar. A última eleição fez isso com Ponticelli, que aproveitou o tempo para se qualificar e continuar a crescer como político. Eu vou decidir com ele minha participação no ano que vem, mas se depender de mim devo me afastar do governo em abril para me dedicar apenas às eleições.
 
Notisul – Com tantas notícias ruins todos os dias, ainda há esperanças na política?
Laércio –
Nunca tive mandato, mas sempre gostei de estudar sobre o tema e participar dos projetos com responsabilidade. Estou decepcionado com todos os partidos, inclusive com aquele que estou filiado. Aqui em Tubarão e Santa Catarina, o PP me dá orgulho. Mas em Brasília é de envergonhar. Acredito na democracia e que um novo modelo irá surgir. Fico feliz quando vejo a sociedade mobilizada, pedindo mais respeito ao dinheiro público e atenta aos movimentos na nossa cidade, no Brasil como um todo.