Entrevista com Gilberto de Souza Marques: Exploração Econômica e Desmatamento na Amazônia

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil - Divulgação: Notisul Digital

Brasília (DF), 18/09/2024 – O professor de economia Gilberto de Souza Marques, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e autor do livro “Amazônia: riqueza, degradação e saque”, discute o impacto da exploração econômica no bioma amazônico. Marques explica como o desmatamento está interligado com interesses econômicos globais e destaca alternativas sustentáveis para o futuro da região.

Desmatamento e Exploração Econômica: Um Ciclo Perigoso

Marques aponta que os incêndios na Amazônia são uma etapa crucial da exploração econômica, impulsionada pela demanda global por matérias-primas baratas. “A Amazônia é explorada para fornecer ferro, soja e outros produtos que reduzem os custos de produção em economias centrais, como China e Europa,” afirma o professor.

Atividades Predatórias: Mineração e Agropecuária

A mineração, o agronegócio e a exploração madeireira são identificados como principais contribuintes para o desmatamento. Marques critica a prática de grilagem de terra, que facilita a exploração ilegal e prejudica a floresta. Ele destaca que mesmo produtos vindos de atividades ilegais acabam integrando cadeias de produção globais.

A Apropriação Ilegal da Terra

O processo de grilagem envolve a apropriação ilegal de terras públicas ou áreas de preservação, seguido pela venda para novos proprietários que buscam regularizar a terra. Marques aponta que essa prática tem raízes históricas e continua a estimular o desmatamento na região.

Soja e Economia Global

A expansão da soja na Amazônia é impulsionada pela redução dos custos de transporte e benefícios fiscais, como a isenção do ICMS. “A soja produzida na Amazônia tem um custo de transporte muito menor, o que aumenta a rentabilidade e alimenta a exploração da região,” explica Marques.

O Papel do Fogo no Desmatamento

Os incêndios na Amazônia frequentemente resultam da queima de áreas desmatadas para abrir espaço para pastagens e cultivos. Marques observa que a queima intencional é usada para transformar áreas florestais em pastos, especialmente nas regiões com forte presença do agronegócio.

Internacionalização da Amazônia

O especialista destaca que a Amazônia está internacionalizada devido ao controle das grandes multinacionais sobre a mineração e o agronegócio. “Empresas como a Hydro e a Vale do Rio Doce possuem grande parte do capital negociado internacionalmente,” afirma Marques.

Alternativas Sustentáveis

Marques defende alternativas sustentáveis, como a agroecologia e as atividades comunitárias, que valorizam a integração entre sociedade e natureza. Ele cita exemplos como a agrofloresta e a pesca comunitária do Mapará, que são formas de preservar a biodiversidade e garantir a sustentabilidade da região.

Conclusão: Esperança para o Futuro

Para o professor Marques, a Amazônia representa uma esperança vital para o planeta. “A floresta é a maior concentração de matéria viva do planeta e desempenha um papel crucial na captura de CO2. Precisamos apoiar e disseminar as experiências de integração sociedade-natureza para garantir a preservação da Amazônia e, por conseguinte, da humanidade.”

Fonte: Agência Brasil