Duplicação da BR-101: Sítio arqueológico é “culpado” por atraso

Amanda Menger
Tubarão

A concessão de licenças ambientais e o salvamento de sítios arqueológicos estão entre os argumentos utilizados pelo presidente da Comissão de Transportes da assembléia legislativa, deputado Reno Caramori (PP), para explicar o atraso das obras de duplicação da BR-101. O cronograma voltou a ser discutido ontem em uma audiência pública, em Florianópolis.

“Precisamos esclarecer de uma vez por todas qual é o problema das obras, porque não anda. Cansei de ouvir as pessoas reclamarem que os trabalhos estão parados porque não tem sambaqui e não podem mexer enquanto não forem retiradas as ossadas”, afirma Reno. Para o deputado, é importante observar o desenvolvimento do estado.

“Se fosse ossada de brasileiro, de branco, de negro, levavam para o cemitério direto, mas ossada de índio tem um tratamento especial. Enquanto salvam ossos, há pessoas morrendo, além disso, há um prejuízo financeiro muito grande com os acidentes”, critica.

O deputado afirma, ainda, que é necessário pressionar as empreiteiras. “As empresas têm que fazer a sua parte, até porque sem isso eles não recebem o pagamento. E dinheiro não falta, pelo menos é o que diz o governo federal e o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit)”, diz Reno.

Arqueóloga e Dnit rebatem críticas de deputado
As críticas feitas pelo deputado Reno Carmori (PP), presidente da Comissão de Transportes da assembléia legislativa, foram rebatidas pelo superintendente estadual do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), João José dos Santos, e pela doutora em arqueologia da Unisul, Deisi Scunderlick Eloy de Farias.

“Quando é feita uma obra como a construção de uma rodovia ou duplicação, é feito um estudo de impacto ambiental. Neste levantamento, são observados diversos aspectos ambientais, sociais e culturais, inclusive se há a presença de sambaquis, comunidades quilombolas”, aponta Deisi.

Com o estudo de impacto ambiental, são definidos os pontos em que é necessário fazer salvamentos arqueológicos e outras medidas necessárias. “Se é necessário fazer um salvamento de sítio como os sambaquis, isto já está previsto no cronograma da obra. Os índios habitavam a região muito antes da chegada dos colonizadores e sua cultura deve ser preservada e estudada”, afirma a professora.

Atualmente, são realizados três salvamentos, um na região de Imbituba. “Fizemos diversas audiências e palestras sobre o meio ambiente e os salvamentos arqueológicos estavam previstos. Não foi isso que atrasou a obra, aliás, não consideramos que o cronograma esteja com muitos problemas”, argumenta o superintendente do Dnit.

Para João José, a chuva atrapalhou o andamento das obras. “Janeiro e fevereiro foram meses de muita chuva. Agora, com a estiagem, as empresas estão conseguindo recuperar o tempo. Até mesmo a região de Araranguá, que teve problemas com a troca de construtora, deve finalizar tudo até meados do próximo ano”, assegura João José.