A Delegacia de Investigações Criminais (DIC) de Laguna finalizou nesta segunda-feira (28) uma investigação histórica que revelou um esquema organizado de corrupção eleitoral durante as eleições municipais de 2024. O trabalho, considerado um dos mais complexos já realizados pela unidade, reuniu cerca de 5.000 páginas de provas técnicas e testemunhais. O inquérito resultou no indiciamento de 14 pessoas, cujos nomes permanecem sob sigilo para garantir a presunção de inocência e a ampla defesa.
Trabalho técnico confirma articulação entre grupos para compra de votos
Ao longo de meses, a equipe da DIC ouviu 70 pessoas, analisou diversos aparelhos celulares, relatórios financeiros e apurou 55 possíveis crimes eleitorais e conexos. As investigações apontaram que o esquema era dividido em três eixos complementares que atuavam de forma coordenada para favorecer candidaturas específicas. A análise técnica detalhada permitiu identificar a movimentação de mais de R$ 1,7 milhão em transferências bancárias entre empresas e pessoas físicas sem justificativa comercial aparente. Em um dos casos, um empresário transferiu mais de R$ 730 mil para contas ligadas ao esquema. As investigações também revelaram uma grande incompatibilidade entre os rendimentos declarados e os valores movimentados, como no caso de um responsável jurídico de campanha que declarou R$ 2.600,00, mas movimentou R$ 302.540,00.
Dinheiro em espécie e imóveis usados para captação ilícita de votos
A segunda frente do esquema envolvia a distribuição de dinheiro em espécie, utilizando imóveis particulares como centros de operações para dificultar a fiscalização. Para evitar alertas dos órgãos de controle, os envolvidos realizavam saques abaixo de R$ 50.000,00. Mensagens extraídas de celulares apreendidos confirmaram a prática da compra de votos, com detalhes sobre o processo de abordagem aos eleitores e a distribuição dos valores.
Benefícios materiais foram usados para garantir apoio nas urnas
A terceira frente identificada na investigação mostrou a utilização de materiais de construção, como areia, brita e aterro, enviados diretamente para residências de eleitores em troca de votos. Também foi detectada a distribuição de aproximadamente R$ 6.000,00 em vales-alimentação por meio de um comércio local. Além disso, houve promessas de serviços públicos, como o conserto de iluminação, oferecidos em troca de apoio político, o que evidenciou a utilização de benefícios materiais para influenciar diretamente o resultado das eleições.
Indiciamentos incluem empresários, servidores e candidatos
Com o encerramento da investigação, 14 pessoas foram formalmente indiciadas pelos crimes de corrupção eleitoral, associação criminosa e falsidade ideológica eleitoral (caixa 2). Entre os indiciados estão empresários do setor imobiliário e de mineração, um policial militar da ativa, um advogado especialista em direito eleitoral, candidatos ao executivo e legislativo municipal, além de servidores públicos e funcionários de estabelecimentos comerciais. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Eleitoral para as providências cabíveis.