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Das urnas à democracia

Ao chegar em um dos locais de votação no último domingo – como parte do plano de suporte e fiscalização do pleito eleitoral – o encontro de situação inusitada: mais de meia hora após o horário determinado para início do processo de votação, nenhum eleitor de determinada sessão fora admitido a votar.

Uma jovem e aflita presidenta de sessão e seu único auxiliar reclamavam a ausência dos outros dois mesários, entendo-se inábeis a iniciar o processo de votação sozinhos. Da extensa fila de eleitores que se formava, eram ouvidas as mais variadas reclamações: “Isso é um absurdo!”; “Alguém tem que tomar uma providência!”; “Isso é um falta de respeito”.

A “providência” era convocar alguém da fila. Diante da convocação já buscada pela presidenta da mesa receptora, porém, o ânimo furial daqueles murmuradores transformava-se na mesma desconsideração dos mesários faltosos (talvez não para eles, já que a omissão dos outros é sempre pior que a nossa). De tão “cheios de direitos” enquanto eleitores, não estavam dispostos a assumir alguma obrigação enquanto cidadãos (aliás, obrigação boa mesmo só a dos outros).

O espírito pouco cívico daqueles eleitores, todavia, não se refletiu naquelas demais centenas de pessoas que se uniram à 99ª zona eleitoral para que o pleito se tornasse, nas cidades de Armazém, Capivari de Baixo, Gravatal, São Martinho e Tubarão, no sopesar de tudo, uma festa da democracia.

Inicialmente, há que se destacar o trabalho dos servidores do cartório eleitoral, todos aqui homenageados nas pessoas de Maria Silvana Neves e Manuel Serafim Cabral. Graças ao trabalho diário de todos eles, preocupando-se mesmo que com os detalhes, é que toda a logística que envolve uma eleição saiu do mero planejamento para adentrar na realidade.
Ao Ministério Público Eleitoral, aqui reconhecido na pessoa do Dr. Sadi Brigido Jung, de se render louvor pela forma ponderada, porém firme, com que defendeu a segura e imparcial aplicação das normas eleitorais.

Sem a marcante presença da Polícia Militar nas proximidades dos principais locais de votação não se poderia dizer do clima de segurança, respeito e tranquilidade que regra geral se viu no decorrer do último domingo, mesmo diante do estado de ânimo mais acirrado de alguns, ainda típico do processo eleitoral em nossa região. Merecem sincero agradecimento o coronel Cancelier e o tenente-coronel Eduardo, extensivo aos bravos milicianos sob seus comandos.

Perdoados alguns excessos, há que se reconhecer o amadurecimento rumo à democracia apresentado pelos partidos, candidatos e coligações. De se saudar os “vencedores” do pleito sem esquecer do respeito àqueles que, ao menos desta vez, não foram os escolhidos; sem estes, a “vitória” daqueles não seria de todo legítima.
Merece reconhecimento, também, a maior parte dos órgãos de comunicação dos citados municípios; muito embora seus eventuais gostos políticos buscaram tratar com equidade os direitos de todos os candidatos.

Por força do que determina a Constituição, todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Há uma longa via a ser percorrida para se chegar próximo à efetividade deste mandamento constitucional, mas o caminho das urnas pode tornar a verdadeira democracia menos distante. Com prazer, pode-se dizer que as eleições deste último domingo, sob auxílio de todos os indicados, serviu para tornar aquela estrada um pouco menor.

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