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Brasileiro gosta de reclamar?

Não é correta a afirmação de que brasileiro reclama de tudo. Devagar com o andor. Se você for imposto a sentar sobre um toco pontiagudo ou espinho, reclamará, naturalmente, se não for masoquista. Reclama-se e sempre se reclamará, em qualquer época, de nossos governantes e políticos pelas razões óbvias dos desvios de condutas no cumprimento de seus mandatos, os quais muitas vezes ultrapassam as raias da licitude e da política até chegar à maldita corrupção.

Se Tancredo Neves não tivesse falecido no início de seu governo e procedesse mal em sua gestão presidencial, o povo teria todo o direito de questioná-lo. Afinal, quem paga imposto – e como se paga neste país ! -, tem o dever de arguir qualquer mau político ou governante. E o povo, sem dúvida, continuará a reclamar dos atuais e dos novos políticos e governantes se eles não se conduzirem bem, porque não poderemos abrir mão de nossa prerrogativa de ser o agente principal de uma democracia.

O problema não está no povo, que muitos arguem que não têm educação ou cultura para as coisas mais primárias – como cuspir no chão, não respeitar as leis de trânsito – para justificar o seu despreparo em não saber escolher bem o seu representante político ou governante. A realidade negativa está em nossa Constituição, que peca ao consagrar o voto obrigatório ao cidadão, que é geralmente trocado por falsas promessas de candidatos.

A Constituição brasileira é a principal responsável pelo atual quadro político nacional. Por isso, o Paulo Maluf e muitos outros continuam sendo eleitos porque o voto de qualidade – o voto facultativo – não é instituído no Brasil como está consagrado e funcionando muito bem na América do Norte.

Falar que o povo é mal acostumado com o jeitinho de tirar vantagem ao sonegar imposto não está longe de ser uma realidade na medida em que a carga tributária brasileira é uma das mais altas do mundo, e o que é arrecadado não é devolvido em serviços públicos de alta qualidade como, por exemplo, o inoperante e vergonhoso sistema de saúde pública nacional.

Argumentar que o problema do Brasil não são os políticos, são os brasileiros, em tese poderíamos até concordar que o País tem os políticos que o povo merece. Mas nem por isso temos que absolver essa corja corrupta que denigre a política brasileira. Ela só sobrevive porque temos um judiciário pusilânime, frouxo, moroso e de indicação política – Supremo Tribunal Federal (STF) -, que não cumpre o seu papel de guardião constitucional, engaveta processos de certos políticos. Por exemplo: até agora os 40 envolvidos com o mensalão da câmara federal continuam impunes e muitos deles desempenhando mandatos.

Não se pode deixar de mencionar, com aplauso ao judiciário, uma grande exceção: 12 ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concordaram com a prisão do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal. Se os políticos não se elegem sozinhos, também é verdade que a maioria do eleitorado não vai pedir para eles se candidatarem. Ao contrário, em épocas de eleições se apresentam como uns cordeirinhos em busca de votos e depois desaparecem. Se político fizesse concurso público, a maioria certamente seria reprovada no ato de inscrição por falta de comprovação de conduta ilibada.

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