Vida de Equilibrista

Logo que chego absorvo com um breve olhar o movimento das ondas turquesa com o amarelo pálido dos primeiros raios do sol. O vento sopra forte de maral, meus pés afundam na areia fofa e começo a me movimentar mais rapidamente em passos de corrida.

Procuro me trazer para o presente tentando sentir a alegria de estar em uma terça-feira de manhã correndo na praia, infelizmente, sem sucesso. Logo me pego pensando no meu mau humor às 5:00 quando meu filho de 3 anos, de repente, acorda querendo brincar. Um misto de irritação e culpa tomam conta de mim, “como posso não acordar sorrindo?”

Paro antes do idealizado e parto para a cidade e para o trabalho. No caminho penso sobre a minha irritação. E noto uma cobrança interna que diz algo como “uma boa mãe acordaria 5 da manhã sorrindo, brincaria com seu filho meia hora de bom humor, correria meia hora depois e estaria plena logo em seguida no escritório. E obviamente produziria tudo de forma excelente.. e por aí vai. Logo, sou uma péssima mãe e ando muito mal no quesito atividade física. Dois dias seguidos sem se exercitar já está passando dos limites, não posso perder o hábito…” Percebe como esse discurso interno vai longe? Aliás você já sabe que não é minha meta acordar cedo. Não nessa fase da vida.

Felizmente, em seguida, noto meu exagero e lembro de mim. Lembro de você. Do quanto somos exigentes ao querermos ser excelentes mães ou pais (em alguns casos os dois), profissionais letrados, pessoas plenas, produtivas, esportistas, bem sucedidas, belos, sarados,o tempo todo. Começo a rir sozinha no carro pois fico extasiada ao lembrar o quanto o ser humano alimenta expectativas irreais na cabeça.Esquecemos que ser o tempo todo excelente em tudo não é possível. Não lembramos que não somos máquinas e temos fases de altos e baixos. Perdemos a noção do que é ser humano.

Vivemos a era da excelência e da informação. Vemos o que o outro está fazendo o tempo todo. A autocobrança pelo alto desempenho redobra com o Big Brother alheio, evidente nas redes sociais, e isso gera um sentimento de sermos sempre falhos em algo. As pessoas se martirizam,correm para alcançar o outro ou se sentem frustradas ou fracassadas. E isso não faz bem. É cansativo, na verdade.

Imagine que você está carregando 25 quilos de arroz por uma estrada acidentada. De repente você coloca mais 25quilos e capengando, fica tentando equilibrar e carregar tudo isso nas costas. Assim é o dia a dia da maioria das pessoas. A autocobrança só piora a situação. Por isso preciso deixar um entendimento claro: Sempre haverá alguém melhor em algo que você e vice versa.

Livrar-se desse excesso significa assumir o que é bom ou ótimo em você e o que não é. E tudo bem. Tem papéis que a gente se esforça, não sai tão natural. Outros são mais fáceis e temos vantagem. Não por isso jogaremos a toalha e só faremos o que somos bons, tem áreas que precisamos nos dedicar, mas sem tanta cobrança, vai? Um passo por vez.

Com o tempo você vai aprendendo a viver com menos expectativas sobre si mesmo e isso torna a vida muito melhor. Torna a carga mais leve. Diminui os efeitos da sociedade do cansaço. E assim, vamos nos sentindo mais reais. Mais verdadeiros e francos com a gente mesmo. E consequentemente, com menos peso a leveza da vida abre mais espaços para você fazer o que quer. Voilà! É aí quevocê passa a atingir melhor seus objetivos, até no que não é tão bom.Quando baixa o excesso de cobrança. Faz sem grandes pretensões.

Certa vez ouvi de uma mãe de três filhos pequenos dizer que está indo pouco na academia. Duas vezes por semana. Hoje olho e digo, tenho um só, vou duas vezes, e acho que estou me saindo bem pra caramba. Você então.. está de parabéns!