sexta-feira, 19 abril , 2024
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Juliana Mendes

Difícil é não sair do lugar

Milhares de pessoas neste momento estão enfrentando momentos difíceis como perder o emprego ou tendo as fontes de sustento sendo impactadas. Quando passamos por esse tipo de dificuldade, sentimentos antigos como o medo da falta e a insegurança, são despertados como uma assombração que vem nos visitar.

Nessas horas é importante lembrar que o ser humano tem uma capacidade enorme de
vencer crises e se superar. Só precisamos confiar em nós mesmos e resgatar os recursos
que temos, mas esquecemos.

O que você faz bem? No que é necessário? Como você pode ser útil nesse momento? Nossos melhores talentos são tão óbvios que não conseguimos enxergar. E por esse motivo, os deixamos guardados. Inutilizados. E isso é um baita desperdício de
potencialidade.

Unir o que fazemos bem com uma necessidade do outro é um grande meio de sermos úteis
em uma pandemia. Olhe ao seu redor. O que as pessoas precisam? Como posso ajudar?
Quando nossas esperanças em autoridades vão embora, sobra a fé em nós mesmos e o
senso de coletividade. E de fato quero acreditar que venceremos.

Não soltemos as rédeas. Cada um de nós é importante, nem que seja fazendo a sua parte, de uma forma singela, como muitas pessoas que tem se isolado nesses tempos, mesmo quando há permissão para perambular.

Infelizmente às vezes ficamos presos a velhos padrões, nos achando impotentes ou fixos ao que funcionava mas esquecemos que momentos de mudança exigem adaptação. E se adaptar requer parar um pouco e repensar. Reorganizar. Experimentar de novo, de
outro jeito, se necessário.

Não precisamos nos comparar com os outros para encontrar o nosso valor. Na maior parte
das vezes olhar para si mesmo com vontade e interesse de dar o seu melhor para ajudar
alguém, da forma que você pode, já basta. E se você oferecer algo útil, merecerá receber
pelo que entrega. E assim o mundo gira. A vida anda. A sociedade retorna.

Nenhum talento é espetacular sem treino, sem busca, sem garra. É botando a mão na massa. Tentando. Errando e corrigindo que se chega em algum lugar. Se agora está difícil de emprego, procure trabalho. Se dedique a encontrar fontes alternativas de renda.

Disponibilize-se para ajudar a vizinha, se for o caso. Entregue o que você tem de valor para o mundo. É dessa forma que o seu propósito se realiza. E com tempo e dedicação, o mundo te compensará.

Do caos à serenidade em um segundo

De repente, tudo ficou incerto. Nossas rotinas conquistadas com tanto suor foram arrancadas à fórceps. Nossa liberdade tomada, nossos planos impedidos, nossa vida roubada.

É como se tivéssemos caído de paraquedas em um filme de ficção-científica. Um clima de medo e ansiedade assume o comando. Nos sentimos pequenos, vulneráveis, indefesos.

E como vivemos com isso? Sobreviveremos? Teremos emprego? O que será de nós?

Está muito próximo da meia noite. Meu estado de alerta acionado pelo contexto maluco não me deixa dormir.

Me aconchego no sofá em uma tentativa de me distrair. Dois músicos em um programa de televisão tocam juntos uma canção linda que diz “Buenas Brasil em Mexicano..”
Que voz leve e suave.. que sorriso.. e que incrível essa sincronia. Fico viajando nessa linda vibração até que juntos, cantando, eles se emocionam. Um clima de serenidade invade o espaço. Não demora muito, lágrimas mornas e soltas derramam por aqui também. Um sentimento de contentamento e conforto me invade. Uma janela de luz se abre.

Em uma fração de segundos, toda a negatividade que eu estava sentindo vai embora e da espaço para a fé.

Passa um filme em minha mente, lembro da maestria que é o ser humano. Lembro das artes, da ciência, da nossa capacidade criativa, da nossa resiliência e fico apegada a esse sentimento bom.

Desligo a TV, com essa esperança no peito. Lembro do que podemos e do que já alcançamos. Resgato a crença no nosso potencial para enfrentar o que for preciso.

Lembro que temos forças. Que temos capacidade de nos unir. Que conseguimos com a nossa criatividade e sensibilidade alcançar níveis que transcendem a racionalidade. Acredito na nossa capacidade de crescer na adversidade.

E assim, com esse conforto no coração e com uma paz no peito intuo que passaremos por tudo isso. Que voltaremos a bailar por aí livremente. Com toda a nossa gente. E que nos reergueremos, por que somos grandes. Gigantes ao defender nossa vida. E por isso seguiremos em frente. Vamos Brasil!

Vida de Equilibrista

Logo que chego absorvo com um breve olhar o movimento das ondas turquesa com o amarelo pálido dos primeiros raios do sol. O vento sopra forte de maral, meus pés afundam na areia fofa e começo a me movimentar mais rapidamente em passos de corrida.

Procuro me trazer para o presente tentando sentir a alegria de estar em uma terça-feira de manhã correndo na praia, infelizmente, sem sucesso. Logo me pego pensando no meu mau humor às 5:00 quando meu filho de 3 anos, de repente, acorda querendo brincar. Um misto de irritação e culpa tomam conta de mim, “como posso não acordar sorrindo?”

Paro antes do idealizado e parto para a cidade e para o trabalho. No caminho penso sobre a minha irritação. E noto uma cobrança interna que diz algo como “uma boa mãe acordaria 5 da manhã sorrindo, brincaria com seu filho meia hora de bom humor, correria meia hora depois e estaria plena logo em seguida no escritório. E obviamente produziria tudo de forma excelente.. e por aí vai. Logo, sou uma péssima mãe e ando muito mal no quesito atividade física. Dois dias seguidos sem se exercitar já está passando dos limites, não posso perder o hábito…” Percebe como esse discurso interno vai longe? Aliás você já sabe que não é minha meta acordar cedo. Não nessa fase da vida.

Felizmente, em seguida, noto meu exagero e lembro de mim. Lembro de você. Do quanto somos exigentes ao querermos ser excelentes mães ou pais (em alguns casos os dois), profissionais letrados, pessoas plenas, produtivas, esportistas, bem sucedidas, belos, sarados,o tempo todo. Começo a rir sozinha no carro pois fico extasiada ao lembrar o quanto o ser humano alimenta expectativas irreais na cabeça.Esquecemos que ser o tempo todo excelente em tudo não é possível. Não lembramos que não somos máquinas e temos fases de altos e baixos. Perdemos a noção do que é ser humano.

Vivemos a era da excelência e da informação. Vemos o que o outro está fazendo o tempo todo. A autocobrança pelo alto desempenho redobra com o Big Brother alheio, evidente nas redes sociais, e isso gera um sentimento de sermos sempre falhos em algo. As pessoas se martirizam,correm para alcançar o outro ou se sentem frustradas ou fracassadas. E isso não faz bem. É cansativo, na verdade.

Imagine que você está carregando 25 quilos de arroz por uma estrada acidentada. De repente você coloca mais 25quilos e capengando, fica tentando equilibrar e carregar tudo isso nas costas. Assim é o dia a dia da maioria das pessoas. A autocobrança só piora a situação. Por isso preciso deixar um entendimento claro: Sempre haverá alguém melhor em algo que você e vice versa.

Livrar-se desse excesso significa assumir o que é bom ou ótimo em você e o que não é. E tudo bem. Tem papéis que a gente se esforça, não sai tão natural. Outros são mais fáceis e temos vantagem. Não por isso jogaremos a toalha e só faremos o que somos bons, tem áreas que precisamos nos dedicar, mas sem tanta cobrança, vai? Um passo por vez.

Com o tempo você vai aprendendo a viver com menos expectativas sobre si mesmo e isso torna a vida muito melhor. Torna a carga mais leve. Diminui os efeitos da sociedade do cansaço. E assim, vamos nos sentindo mais reais. Mais verdadeiros e francos com a gente mesmo. E consequentemente, com menos peso a leveza da vida abre mais espaços para você fazer o que quer. Voilà! É aí quevocê passa a atingir melhor seus objetivos, até no que não é tão bom.Quando baixa o excesso de cobrança. Faz sem grandes pretensões.

Certa vez ouvi de uma mãe de três filhos pequenos dizer que está indo pouco na academia. Duas vezes por semana. Hoje olho e digo, tenho um só, vou duas vezes, e acho que estou me saindo bem pra caramba. Você então.. está de parabéns!

A criança que fui um dia

Lembro como se fosse hoje. Tenho sete anos de idade, estou no quintal da casa de meus pais e observo profundamente a cor púrpura e a textura lisa da azaleia como se eu entrasse em outra dimensão. Cantarolava de uma forma suave em um tom de voz baixo. Não via nada mais ao meu redor. Estava imersa. 

Muitos anos depois estou sentada na mesa do meu escritório exausta,olhando para as paredes amareladas e tentando resolver coisas através de umas dez janelas abertas no meu MAC. Está tudo muito sem graça e tenso ao mesmo tempo. As horas passam rápido mas a sensação é de peso nas costas. Horas depois estou em casa, meu filho ainda bebê chora, minha cabeça dói e lembro da pilha de coisas ainda por fazer. Um frio na espinha surge. Como será a madrugada? 

Depois disso, uma sequência de dias da mesma forma, uma exaustão sem tamanho,impaciência, irritabilidade e dores de cabeça insistentes. Reconheço o que está acontecendo, como perita no estudo de mim mesma, são os sintomas do ápice do stress. 

Está muito pesado. Resolvo encarar o espelho e as perguntas brotam instantaneamente. Por que diabos eu faço tudo isso? Por que é tão pesado?Precisa ser assim? Onde aquela menina espontânea e criativa foi parar? Não sei,mas eu preciso encontrar. 

Foi nesse momento que tomei uma importante decisão.Preciso fazer algo. Não me suporto mais. Chega! E foi assim parti. Parti para uma viagem maluca, um mergulho em mim. 

Comecei buscando tudo o que parecia útil. Perambulei por esse Brasil afora, fiz dezenas de cursos de imersão, li muitos livros, fiz muita terapia. Tinha horas que doía muito, mas não era uma opção deixar de procurar, eu estava confiante na minha missão. 

Choro, penso,analiso, sinto bastante dor. Mas aos poucos começo a entender o meu processo. E descubro algo revelador. Tem um grande vilão em toda essa história. E ele tem nome. Se chama Medo do fracasso. 

Errar para mim não era uma opção. Eu queria ser bem sucedida a todo custo. Tinha que ser a melhor em tudo. Com isso eu me tornava obstinada e perdia a conexão com meu eu mais puro. Vivia tensa e correndo. No meio dessa busca toda mais tarde fui descobrir que essa é a pior condição para se conseguir algo. É como andar na corda bamba com medo de cair. E o entendimento foi aparecendo. E aos poucos eu fui conduzindo a minha mudança. 

Muitas pessoas tem medo do fracasso, principalmente aquelas que buscam muito o sucesso. O problema é que junto com esse medo tem uma expectativa irreal de perfeição e com isso um fardo muito pesado para carregar e uma tensão enorme em tudo que se faz. 

Todos nós temos vilões e tentamos fugir deles incessantemente. Fazemos de tudo para não o encarar. Encontramos paliativos e nos tornamos mestres em despistar. Algumas pessoas trabalham demais. Outras amam incondicionalmente. Tem os que usam álcool, drogas, vaidade, luxúria e por aí vai. A grande maioria de nós exagera em algo para esconder o que não quer ver. 

Somos muito bons na arte de esconder nossa emoções. Só que chega um momento que a vida cobra, de cada um de um modo diferente e aí você se vê obrigado a se encarar. 

E como isso acontece: Por trás do que tememos existem sentimentos que rejeitamos. Medo, vergonha, fraqueza, ciúmes, inveja, raiva, etc. Não percebemos a sua presença e vivemos lutando por algo que parece nunca chegar. 

O fato é: Não precisamos e não devemos rejeitar nossos sentimentos e sim reconhecermos a sua presença e aceitar a nossa humanidade imperfeita. 

Certa vez conheci uma pessoa que era o retrato de uma pessoa do bem. Deixava de sentar para dar lugar aos outros. Não comia carne para não matar os animais, uma opção pessoal e não tenho absolutamente nada contra. Era lindo de se ver a sua bondade exteriorizada. Só que no contexto dela comecei a perceber que havia algo muito errado. Ele rejeitava profundamente o sentimento de raiva. E isso o estava consumindo, e ele não tinha noção do quanto. 

A raiva é um sentimento primário que todos nós sentimos. Como seres humanos civilizados aprendemos a canalizar nossa vontade de bater em alguém quando somos hostilizados, mas o sentimento existe, é real. Não aceitar que esse sentimento existe é como cultivar um vulcão dentro da gente. E é isso que muita gente faz. Até não aguentar mais e estourar sabe se lá onde ou em quem. 

Precisamos parar de lutar contra nossos sentimentos e entender nossos vilões. Sem consciência deles, machucamos a nós mesmos ou aos outros. Autocrítica, agressões verbais, frieza, desprezo,ironia, tudo isso são formas de machucar que destroem a nós mesmos e acabam comas nossas relações. É preciso se enfrentar, antes que seja tarde e aceitar nossa parcela de auto responsabilidade. 

Chega de sofrer e de fazer os outros sofrerem. É hora de voltar para casa. A menina ou o menino que você foi apenas desaprendeu a sorrir mas continua dentro de você. Existe um caminho para resgatar a sua essência, que é como você nasceu antes de passar pelos percalços da vida, mas é preciso coragem para se investigar para então achar a porta que te traz de volta. 

Domingo, 18:00, fim de tarde. Sinto o mesmo sentimento que minha menina sentia quando entrava naquela outra dimensão. Estou totalmente imersa em algo que amo fazer. Estou em FLOW. Atenta de forma leve. Olho a escuridão na janela e me espanto. Anoiteceu muito rápido e eu não vi o tempo passar. Olho para trás e leio a placa colorida que comprei quando iniciei minha jornada fincada em meu jardim e penso ser uma boa forma de finalizar: O que FLOR pra ser FLORES SERÁ.

A jornada, o propósito e a chegada

Antes de embarcar para a África do Sul, li alguns posts que falavam da trilha da Table Mountain. É segura, dizia, mas é preciso prestar atenção nas placas. 3 horas de subida a pé e a descida de bondinho, parecia viável. Bora botar na lista.

Dia anterior do que programamos para enfrentar, um frio na barriga junto com uma vontade de explorar. Uma informação chega e avisa que o bondinho estava fechado e ao olhar para ela, majestosa, com uma nuvem enorme em seu entorno, que mais parecia um colchão de algodão, suave e aveludada, não era de se estranhar. Vento e neblina, algo que poderia atrapalhar. 

Mesmo sem saber como estaria no dia seguinte, resolvi encarar. Na noite anterior meu inconsciente protetor me acorda. E se eu me machucar, será que tem resgate? Meu Deus estou na África e se eu me deparar com uma cobra peçonhenta? Um leão? Menos Juliana, vamos parar. Apaga que logo o despertador vai tocar. Durmo aquele sono de pena. Pensando em uma estratégia para a missão abortar.

31/12/2019, 6:30 da manhã, uma boa aventura para fechar o ano com chave de ouro.

Bora lá! Acorda meu marido animado e eu com aquela cara de.. será? Está ventando bastante, alerto, tentando me escapar. Vamos, diz ele sem titubear. Engulo seco e enfio a roupa sem reclamar.

O dia está lindo, o sol brilha e começo a ver que o desafio não iria nos decepcionar. Ao descer do carro, paro um pouco e penso. Qual é a minha intensão em fazer isso? Não pode ser só a subida e logo entendo o que preciso. Mais calma, mais atenção à jornada. Mais paciência. Está ótimo assim! Fico feliz com a ideia de fazer algo que gosto muito e ainda com uma intensão maior por trás. Me animo mais e sigo nessa vibração.

Ao chegar, começamos a procurar o início. Nem mesmo começamos e a sensação era de já estarmos perdidos. Um frio na barriga e uma vontade de perguntar, até que tempos depois surge uma dupla de africanos. “Go ahead”, siga em frente, dizem eles com suas roupas engraçadas, o que me fez ficar um pouco mais tranquila embora ainda desconfiada. 

Chegamos! Uma placa indica. Ufa! Achamos o começo. E com uma rápida olhada já entendi o que iriamos enfrentar: Vá por sua conta e risco, ela indicava. Penso comigo, está certo, sem resgate, tudo bem, seguimos, não vai acontecer nada.

Um olhar para cima e já sinto o que nos espera. Uma subida íngreme, uma espécie de escadaria irregular de pedras bem desenhadas, o que não me assusta, a essa altura do campeonato, já estava mais do que empolgada. 

E assim trilhamos, passo por passo. Volta e meia cruzávamos com pessoas indo e vindo, duas delas com expressões bem cansadas nos avisam que a volta estava sendo a pé, confirmando a quebra do bondinho para a minha tristeza, pois eu pretendia ainda chegar em um bom estado para aproveitar a virada. Penso que tudo bem, continuamos, com sorte volta a funcionar até chegarmos lá. E me impressiono com meu otimismo.

A cada trecho mais pesado, uma parada para tomar água. Uma olhada no horizonte estonteante e em seguida a retomada. Uma dupla de brasileiros passa e escuto a conversa. Parece que desistiram no meio da trilha, falavam que ao chegar lá iriam ver a mesma coisa que viam em outros lugares. Escutei atenta. Recriminei em pensamento, obviamente não tinham uma motivação maior para continuar. Que pena, lembrei do quanto seria valioso contar depois para as pessoas sobre o como a falta de um propósito claro na vida faz a gente desistir. E segui tentando não deixar aquela interrupção me desconcentrar.

Acompanho o relógio, reporto a localização para a família, mais uma parada para apreciar. Já foi uma hora. O ritmo segue bom, a mente tranquila e a temperatura do corpo começa a aumentar. 

Duas horas se passam. Olho para o topo, a nuvem, agora mais escura, parece nos abraçar. A temperatura muda, o ar fica frio, puxo o casaco e o cansaço começa a apertar. A pedras ficam úmidas, aumentando o risco de cair. O cansaço até parece estar mais forte, mas não deixo atrapalhar. Só mais um pouco. Olho para cima, e começo a escutar Vozes. Alguém lá do alto grita “Ô”e quem está embaixo, na sequência, continua a gritar, fazendo uma corrente de vozes que ia aumentando ao se aproximar. A energia me contagia. Em frente um grupo de mulheres com um timbre maravilhoso começa a cantar, o que trás uma atmosfera de alegria, todo mundo feliz com a sensação de perto do topo estar. 

O mundo poderia desabar na minha frente naquela hora, nada iria me abalar. Eu estava ali. Imersa. Penso como isso é estranho. Era para eu estar me sentindo cansada, meio irritada, mas estou em paz, calma, curtindo a jornada, feliz em ali estar.

Falta só mais um pouco, avisa um casal já no trajeto de volta. Dou um sorriso com o canto dos olhos e os deixo passar. Nem lembrei do bondinho perguntar. Um estado de tranquilidade com alegria parecia me acompanhar. 

Chegamos! E com apenas mais uns minutos de caminhamos a vista começava a desabrochar. Um mar azul esmeralda torneado pela cadeia de montanhas considerada uma das 7 maravilhas naturais da terra. Contemplo até cansar os olhos e até o corpo descansar. Não sinto fome nem sede. Está tudo bem. Ando mais um pouco e descubro o que não esperava se anunciar. O bondinho está aberto! Olha! Uma resposta do universo que lembra que às vezes o cenário é melhor do que podemos imaginar e infelizmente sofremos ao antecipar. 

E qual o propósito disso tudo? O propósito, não é sobre uma poção mágica que você encontra no final da jornada, é sobre ter um sentido maior no trajeto. É sobre apreciar o caminho, sabendo onde quer chegar. É sobre seguir adiante, mesmo diante dos desafios da vida. É encher os olhos de vida. É aproveitar e conquistar. 

Felicidade Autêntica

São cinco e trinta da madrugada que antecede o período de férias mais esperado dos últimos tempos. Acordo assustada, o travesseiro está úmido e o coração acelerado. 

Olho para o lado, meu filho querido dorme um sono angelical e o sol já bate quente na janela. Fico com aquela vontade de ficar ali mais um pouco e pegar novamente no sono, em uma tentativa meio frustrada. Começo a observar meus pensamentos e de repente percebo que, sem muito controle, estou fazendo um balanço daqueles que fazemos quando chegamos perto da contagem regressiva e do estouro dos fogos. 

Meus olhos já estão bem abertos e noto uma sensação de vazio no estômago. Será fome? Percebo que não. Será que falta algo? De repente um lapso de memória denuncia que assisti FRIENDS na noite anterior e isso já me dá uma pista do que ou de quem estou sentindo falta. Continuo me observando.

Obviamente me recrimino por desperdiçar o tempo com conteúdo de baixa intelectualidade e logo começo a rir de mim mesma, notando meu diálogo interno orgulhoso. Arrumo um auto perdão, afinal, os dias tem sido cansativos para terminar tudo no prazo idealizado e parto para entender o soco, ops, o vazio no estômago. 

Onde estão minhas amigas, o que estão fazendo, quais são minhas amigas de verdade, quando foi a última vez que marquei um café com elas? 

Emoticon do macaquinho tampando os olhos, três vezes.

Respiro fundo, em ritmo de autocontrole e volto para a mente racional. Analiso tudo, me entendo e reflito sobre como é comum nessa época ficarmos pensativos sobre a vida. 

Imagens compactadas passam como um filme ligeiro em nossa cabeça. Penso positivamente, usando uma técnica que treinei muito nos últimos tempos para melhorar o humor, depois de uma maternidade agitada, e vejo como é bom exercitarmos isso. É hora de pensar entre tantas coisas que fazemos, se estamos felizes. E se estamos cuidando de quem e do que nos traz felicidade.

Mas será que é possível ser feliz o tempo todo? Talvez Pollyanna moça, personagem otimista de um livro infanto-juvenil que fez muito sucesso, escrito por Eleanor H. Porter, que aliás me remete à minha best friend. 

Pollyanna contente, como era chamada, estava sempre alegre, um verdadeiro terror para os pessimistas, ou melhor, realistas, em minha defesa.

Sendo assim, indo de realidade, posso dizer que realmente, ninguém é feliz sempre, embora as redes sociais nos façam acreditar que todos são. Também posso dizer que buscar um estado de felicidade que nos acalente a maior parte do tempo é um ato possível e que é uma evolução pessoal que todos deveriam buscar.

Sendo bom ou ruim o balanço do ano, sendo Pollyanna ou realista é preciso compreender melhor esse conceito de felicidade, pois sem um entendimento fica bastante vago. 

Começamos por desmistificar que feliz é aquela pessoa que ri o tempo todo. Ledo engano. Nem todo mundo que parece feliz, de fato está. Acho que só cada pessoa para medir de fato como está a felicidade em seu coração. Então senta, que lá vem uma breve explicação.

Martin Seligman, psicólogo estadunidense, professor da Universidade da Pensilvânia, explica que existe um conjunto de fatores que devemos nos ater para ter um sentimento contínuo de Felicidade. A chamada Felicidade Autêntica. Esse estado de felicidade considera que nosso humor varia mas que é possível manter um estado geral de bem estar na maior parte do tempo.

Para atingir esse estado de felicidade precisamos investir no PERMA (acrônimo em inglês) que denota o conjunto de características que, quando presentes em sua maioria, nos traz esse estado maior de felicidade. 

Seguindo a sequência de letras, o P representa emoções positivas (positive emotions), ou seja, indica que é importante que tenhamos dedicação a situações que nos tragam paz, gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade ou amor. Somos responsáveis por gerar essas emoções, por incrível que pareça. 

E significa Engajamento, e apela para o nobre “faça o que você ama” ou orienta que quando isso não é possível “coloque amor no que você faz” e sugere que o ideal é que possamos nos dedicar ao máximo às atividades que nos colocam no estado de FLOW, ou seja, a sensação de estarmos imersos a alguma atividade tão estimulante para nós que perdemos a noção do tempo. 

Relacionamentos Positivos. Essa é a resposta para o meu vazio. Cultive suas amizades. Invista nos relacionamentos, dedique tempo para as pessoas queridas. Prepare momentos de felicidade com quem te faz feliz. 

M de significado (Meaning) tem relação com o que mais amo falar: ter um propósito claro. É entender o impacto maior que você deixa no mundo. Saber de fato a importância do que você faz. Deixar o seu legado.

O A é de Realização (Accomplishment). Sabe quando atingimos nossas metas e objetivos e fazemos o típico “Yes”?! isso então significa ter com certa frequência essa sensação de conquista de algo que tem importância para você. 

Pronto. Agora você já tem condições de fazer a sua auto avaliação. Checou como anda seu nível no PERMA? Se a análise não está muito boa saiba que, como tudo na vida, o que traz resultado é a prática. Algumas pessoas tem mais facilidade para alguns aspectos e menos para outros. Mas para mudar basta ter consciência e começar a fazer diferente. 

Logo que acordei chamei as meninas no grupo! Oi como estão vocês? Quando vamos nos encontrar? Dedico esse meu primeiro artigo para elas, que me entendem e sabem que vivem em meu coração, mesmo ele sendo assim, acelerado. E você, precisa investir no que para ser mais feliz? 

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