quinta-feira, 28 março , 2024
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Juliana Mendes

Como abrir o coração

Mãe, quero fazer uma festa surpresa para você. Disse meu filho de 4 anos, do nada.
2 dias depois, chego do trabalho e.. Surpresa!! Docinhos coloridos, bandeirolas de unicórnio, bolo decorado em forma de coração e muitos abraços apertados.

Não era meu aniversário nem nada. Não havia um motivo especial para comemorar.
Tentei descobrir de onde ele tirou essa ideia, mas só soube que infernizou a todos ao redor para concretizar.

Eu não tinha entendido muito o que era até notar que ele, no seu pequeno grande corpinho de criança, estava apenas demonstrando o seu amor. E encontrou na festa, um jeito de se expressar. Não lembrava de ver esse amor tão de perto de forma tão pura.
E a gente ainda duvida da nossa própria capacidade de amar.

Im here for you. Estou aqui para você.

Essa frase martelava em minha cabeça, um dia depois de me esbaldar em salgadinhos em copos de unicórnio e aos poucos comecei a relembrar o que ela significava. Escutei essa frase na quarentena em 2020, quem falava era o monge budista e escritor
Thich Nhat Hanh, que para mim, resumiu totalmente o sentido verdadeiro do verbo amar.

Amar é estar disponível para o outro, inteiro. E mais nada. Essa é a forma mais clara que uma criança entende que é amada. Tem ligação direta com nossa capacidade de presença (de corpo e alma), só de corpo não resolve.

Bem, mas cada um aprendeu uma forma diferente de se expressar. Há quem faça bolos, há quem dê presentes. Talvez às vezes isso comunique algum sentimento. Mas o maior
presente que você pode dar, é a presença. E não quer dizer simplesmente estar junto, é
aceitar o outro como é e está.

Descobri também, que o ser humano já nasce com essa capacidade de amar.
Infelizmente são as experiências negativas que vivemos ao longo da nossa história que nos desviam do caminho de algo que é tão da nossa essência.

Tem quem ame demais e não se sinta retribuído. Tem quem pareça não amar. Alguns
ferem aqueles que amam e nem sabem explicar. E todas as versões são genuínas.
Por que na verdade, todas elas possuem alguma carência afetiva. Se sentiram em algum
momento da vida, cada um da sua forma, em falta daquele quentinho no coração, que não preciso nem explicar.

Ser amado é o que todo mundo procura a vida toda. A maioria de nós desvia, disfarça, coloca o trabalho, o álcool, roupas caras e várias outras coisas no lugar. Mas parece nunca se saciar.

Em todas as versões, entender que, mesmo que pareça que não tenha te faltado nada, nem sempre lembramos do que na nossa visão de criança pode ter parecido faltar. E mesmo que o passado não volte, ter consigo mesmo gentileza, ouvir os próprios
sentimentos acolhendo totalmente tudo o que há é uma boa forma de começar a se afagar.

Sim, todos temos capacidade de amar. Então olhe no espelho com seus olhinhos de
criança, diga a si mesmo o que foi difícil e pergunte para a sua versão adulta, o que você pode fazer agora por você, para te confortar?

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Hora de mudar de rota?

Como era bom passar os verões em nossa casa de praia. No começo não tinha luz, nem banheiro, nem água. Uma meia água perdida no meio do nada. Mas foi nela que vivi os momentos mais incríveis de minha infância.

Na época eu não entendia muito bem, mas algo que vivi lá aguçou minha percepção para mudanças. Da janela eu via o vento trocar, a maré encher e esvaziar, o sol nascer branco no leste e dormir, deixando um rastro de aquarela laranja rosado no oeste.

Lembro que eu ficava esperando ansiosamente a faixa de água azul do fundo do mar chegar na beirada, trocando o marrom gelado por um azul profundo com verde esmeralda.

E de repente tudo estava diferente. Renovado.

O mais curioso é que com o tempo fui aprendendo a antecipar as mudanças. O vento morno de oeste, tocava em minha pele e me avisava. Eu já sabia o que vinha e me preparava.

Mas será que a gente está sempre preparado? Ou a mudança chega às vezes silenciosa, sorrateira, desavisada? E quando a gente quer mudar mas parece que estamos ancoradas?

Uma mudança é menos dolorida quando negociada, pensada, sentida e planejada. Isso não tem como questionar. E de fato, nem sempre ela pode ser prevista, o que tende a ser difícil de lidar.

Por outro lado, o sentimento de estagnação que parece confortar, muitas vezes gera tanta angústia que começamos a nos questionar. De uma forma ou de outra, é importante estar atento às evidências e às oportunidades e sinais que a vida ou a nossa própria intuição nos dá.

Tem momentos que é hora de partir. Tem momentos que vale a pena ficar ou esperar.
As estações mudam, as folhas caem e nascem novas. A renovação faz parte da nossa natureza. Mas fique atento, às vezes e preciso mudar primeiro a roupa da alma, se
olhar mais de perto, se escutar, para então saber para onde apontar.

Depois, é necessário se questionar: O que dói mais? Ficar ou se arriscar? O que desejo? O que quero de verdade? Seja lá qual for a resposta, sempre há tempo de recomeçar. Nem que seja começar de novo, fazendo o mesmo caminho, mas com uma nova forma de caminhar.

E todas as grandes mudanças começam com um pequeno passo. Qual será o primeiro que você precisa dar?

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A difícil missão de educar

Acabo de voltar de férias e depois do primeiro dia de retorno com uma mistura de preguiça
com empolgação por voltar à boa e velha rotina, uma crise de choro do meu filho de 4 anos
me desconcerta.

“Mamãe, não vá trabalhar. Não quero que você trabalhe nunca mais.”
Em segundos minha empolgação de um novo dia “organizado” se transforma em angústia e
frustração. O que eu digo agora?

Ignoro a situação, tento distrair e saio na pressa ou entro no drama e choro junto?
Imagine bem a cena. Quantas mães lidam com esse drama todos os dias ao sair de casa?
Como não sentir o coração apertado? É mole? Não é não. É bem duro na real.

Isso porque muitas vezes nossas emoções se misturam. É a preocupação da mãe em ser responsável e dar conta de trabalho e casa, com o sentimento de tristeza da ausência da mãe, para a criança, por que ela não entende ainda a medida de tempo e tem o desejo de amor incondicional (principalmente em pandemia e pós férias).

Nessas horas, vem à tona um sentimento de culpa, que não é nada consolador e que praticamente todas as mães carregam. Um triste legado das gerações anteriores. E tem mais por trás. Quando o seu filho manifesta alguma emoção ou reação mais intensa, alguma memória da sua criança (sim, você quando tinha a idade do seu filho ou outra idade), mesmo que inconsciente, emerge.

Como será que você se sentia quando tinha a idade de seu filho?
Pode ser difícil lembrar mas a forma que você reage hoje ou a história que é contada para você da sua história e de seus pais, dá pistas. Olhar para o sofrimento da sua criança interior é uma forma de se conectar melhor consigo mesmo, com o seu próprio sentimento e com seus filhos.

A compaixão pelo outro começa com a autocompaixão. Emoções precisam ser expressas, aceitas e acolhidas. Não negadas. Tanto as suas quanto as de seus filhos. Não é o caminho mais fácil mas com certeza é o mais produtivo.

Às vezes é mais fácil procurar uma distração dizendo “olha o passarinho” do que dizer “sim você está com raiva porque não te permiti fazer o que quer. Lamento meu anjo, mas nem sempre as coisas saem como queremos” em um tom de acolhimento e empatia.

Isso porque aprendemos que ter raiva é feio, não é? Que homens não podem chorar. E que as meninas tem que dar conta. E está tudo errado, por isso lidamos tão mal com esses sentimentos em nós e nos outros. A emoção existe, não podemos negar. Obviamente é um desafio administrar.

Mas calma. Mesmo que seja angustiante ou pareça que nunca iremos vencer esses dilemas, a vida ensina a viver um dia de cada vez. Aprender com os próprios erros. Investigar como a sua criança se sentiu e que sentimentos seus filhos despertam em você, já é um bom caminho trilhado.

Ler, fazer psicoterapia, conversar com outros pais e mães, tentativa, erro e reconciliação, também funciona. Não tem receita pronta. Procure ser sempre sincero consigo mesmo e com as crianças, reconheça seus próprios sentimentos e os de seus filhos e aceite que eles existem, sem julgar ou criticar.

Dia desses ouvi meu filho pedir desculpas depois de chamar a sua atenção por algo que fez errado. Achei tão fofo. Mais fofo ainda porque ele não fez drama ou se sentiu culpado. Foi um pedido de desculpas sincero. Aberto. Tranquilo.

Nesse momento lembrei do quanto fiz isso com ele nos últimos tempos. Do quanto reconheço quando faço algo errado, porque faço muito, como todos nós. Lembrei dos litros de saliva “gastas” para explicar coisas difíceis de serem explicadas mas ditas com honestidade. E vi o quanto vale a pena.

É.. Dói. Cansa. Mas vale. Vale muito. Cada esforço para educar é como uma moedinha depositada na fonte da esperança. Que sigamos com paciência, atenção e gentileza com esses pequenos seres humanos que esperam a nossa disponibilidade infinita, que nem sempre temos, mas que não podemos negar que é genuína.

Que possamos suprir como pudermos as necessidades delas. E sejamos assim também com a criança que vive no porão da nossa alma.

 

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Viver de peito aberto

Você consegue dizer o que pensa e sente, sem medo do julgamento? Consegue fazer
o que acredita sem se preocupar com expectativas alheias? Como ser mais
espontâneo e autêntico?

Dia desses me peguei encurralada entre falar ou deixar o barco levar. Fiquei com medo, confesso. Como serei interpretada? Me posiciono ou deixo estar? Bateu um desconforto no peito, um nó na garganta, um entorpecimento. Tentei ensaiar palavras e criar um enredo, mas logo percebi que era tudo muito confuso e resolvi deixar. Cedi ao medo por algum tempo, parecia haver uma laranja entalada em minha garganta. Hesitei e deixei passar.

Não demorou muito, algo veio me sinalizar que não era mais possível segurar. O sangue
subiu, o coração acelerou, as pernas tremiam e quando menos esperava, comecei a falar.
Uma voz meio engasgada, torta e descoordenada saiu, sem que eu pudesse controlar.
Não havia nada ensaiado, apenas um impulso e uma vontade de a verdade revelar e de me
livrar do que me afligia. De tentar me expressar.

Como me senti? Frágil, confusa, exposta. Minutos depois tive uma leve impressão de ter feito tudo errado. Mas volto a fita e me imagino do outro lado, calada e fico aliviada em optar por deixar a voz se soltar. Pronto, falei, nem consigo acreditar.

É simples abrir o coração? Claro que não. Temos medo da reação alheia. Do julgamento. Da percepção. Da distorção. Na maior parte das vezes o sentimento de medo é real, embora exista uma pequena chance de concretização do que nos assusta, pois na maior parte das vezes, o enredo que criamos é fruto apenas da nossa imaginação.

E por que não queremos nos expor? Porque muitos de nós já vivemos experiências
passadas de rejeição, por falta de autoconhecimento ou confiança, por dificuldades de
comunicação ou para não expor nossas fragilidades.

Pois bem, tempos depois desse momento, ouvi Ana Holanda, uma escritora maravilhosa
dizer algo que conectou muito com essa experiência: Escrever é um ato de coragem de
expor a própria vulnerabilidade. É se colocar no palco, nua e crua. É encarar a própria
verdade.

Receber isso me soou como um soco no estômago e ao mesmo tempo como um eco da
minha própria voz. A mais pura verdade. Eu apenas substituiria o “escrever” por “viver”, embora de fato, a fala dela também se aplique à escrita. Se colocar no palco, se expor ao julgamento é ser protagonista da própria história. É arriscar cantar encarando a possibilidade de ser vaiado, de levar tortas na cara. É falar, mesmo correndo o risco de ser mal interpretado. É se lançar na vida de peito aberto, se dando a oportunidade de sair da armadura que criamos e nos traz uma falsa sensação de proteção mas nos leva a viver na anestesia, na ilusão, encarcerados.

Optar por sair para saber o que tem do outro lado e decidir o que fazer, mesmo que o
resultado não seja o esperado, é sair da deriva e controlar o leme do barco. É sair da prisão
da dúvida. E se for difícil a escolha, pensa que na vida, tudo é uma questão de botar na balança e entender para onde ela pende. O que te dói mais? Arriscar ou ficar no mesmo lugar? Falar ou calar?

Outra dica é fazer experimentos em pequenas doses até entender o que funciona melhor ou até o novo ou a expressão da sua voz ficar mais confortável. Devagar se vai ao longe, como dizia minha mãe. E quem tem boca vai à Roma, ela dizia também.

E eu aprendi mais algo com a vida. A coragem vem no caminho então se há dúvidas, comece a caminhar. Quer aprender a falar em público? Comece falando. Abra mão da expectativa alheia, diminua a autocrítica, considere as emoções do outro mas
pare de se preocupar em sempre agradar ou ser perfeito e veja o que acontece.

Aposto que você descobrirá forças que não sabe que tem, se tornará mais espontâneo e
autêntico. E sabe mais? Você pode até se surpreender com o resultado.

Como lidar com nossas sombras

Quem nunca se viu imerso em uma maré ruim, onde tudo parece dar errado, se sentindo vulnerável e enfraquecido, como se estivesse passando por uma verdadeira tempestade?

Esses dias que parecem muito cinzentos, muitas vezes ocorrem, por que estamos experimentando o nosso lado sombra, que é como se fosse um lugar escuro que a gente não entende muito bem mas nos traz reações antagônicas.

A sombra é o lado oposto do nosso lugar mais iluminado. Pense em um dia que tudo parece ter dado certo e você se sentiu feliz e confiante. Essa é a sua luz, ou seja, o como você é, nas melhores condições. É você feliz em dias ensolarados.

Normalmente, o que nos faz entrar no modo “sombra” são gatilhos ou situações estressoras, internas ou externas. Por exemplo, uma pessoa que tem uma personalidade onde a segurança é basal, uma ameaça de perda de emprego pode levá-la para esse lugar
sombrio.

Ela pode se tornar extremamente irritada, fechada ou emotiva, dependendo do seu padrão de funcionamento. Uma outra pessoa cuja personalidade ou experiência de vida seja de amar intensamente, pode ter como gatilho, o medo da perda de pessoas queridas e qualquer fator que a lembre dessa possibilidade, sendo real ou não, pode ser suficiente para levar essa pessoa para um comportamento extremo como chorar intensamente, ou ter reações instintivas e fortes de proteção, mesmo diante de um medo irreal.

Uma pessoa que é bastante confiante de repente pode se tornar totalmente insegura, sem entender muito porquê. O que as pessoas geralmente não conhecem é que não somos essa pessoa, mas passamos a nos comportar de um jeito diferente quando entramos em
contato com algo que nos mexe profundamente, por isso buscar ajuda psicológica é fundamental.

Quando ficamos muito tempo na sombra, sem ajuda, podemos chegar a uma experiência crônica, que pode nos levar a desenvolver patologias mais sérias como crises de ansiedade, depressão, estresse e nossa saúde corre risco.

E como colocamos luz nesse lugar escuro? O primeiro passo sempre é o autoconhecimento. As pessoas acham que dão conta sozinhas e ficam tentando achar soluções paliativas. Mas é preciso mais que isso. É preciso entender seus gatilhos. É preciso entender como você se torna nesses momentos para reconhecer antes de chegar em um nível mais grave. É preciso conhecer a sua luz, para voltar ao seu melhor estado.

Além da ajuda psicológica, algumas experiências e atitudes podem contribuir. Parar de se cobrar, aceitar a própria vulnerabilidade e entender que você não é essa pessoa mas está sendo assim, na sombra, faz muita diferença.

Procurar ter momentos para resgatar energias como períodos de pausa na natureza ou conversar com quem você gosta e estima, também são boas maneiras de relembrar quem você é no seu modo normal.

Ter paciência consigo mesmo ou com quem você se relaciona e possa estar passando por um momento sombrio é fundamental. Depois do inverno vem a primavera e depois que as folhas caem, vem o espaço para as novas flores brotarem.

Os momentos de baixa, são inerentes à vida humana. Quanto mais você fortalece seus músculos do autoconhecimento, mais rapidamente tende a sair das crises. Mas a resiliência também é da nossa natureza, portanto é importante colocar fé na própria capacidade de superar essas fases. Afinal, tudo passa. Uma hora passa.

Que tenhamos sempre força, foco e fé para seguir em frente, apesar das quedas. E que possamos emergir dos momentos de escuridão.

O paradoxo da escolha

Será que fiz a coisa certa?
Tenho certeza de que esta é a melhor decisão?
E se eu tiver feito a escolha errada?

Quantas vezes nos questionamos depois de escolher ou ficamos inseguros antes de optar
por uma direção? O que realmente queremos? Normalmente quando isso acontece ficamos ansiosos ou angustiados, às vezes até paralisados.

E sabe por que isso acontece? Porque queremos tudo, não queremos perder nada. Mas você sabia que não escolher também pode nos levar a ficar paralisado? Se você voltasse atrás e fizesse escolhas diferentes das que optou no passado, o que mudaria? Seria mais ou menos feliz?

Independente da resposta, saiba que fazer essa análise pode ser uma boa reflexão para estar mais consciente em suas futuras decisões, não adianta remoer o passado. O que temos é o agora e o que está por vir.

O que nos leva a nos perder no paradoxo da escolha, na maior parte das vezes, é não querer abrir mão de opções, ou seja, ficamos presos em possibilidades, sem agir ou agindo por impulsividade.

Por exemplo, o que acontece quando você vai em um buffet que tem 30 variedades de salada ou quando você abre um cardápio de um restaurante com 50 opções de pratos? Na dúvida muitas vezes você faz uma escolha sem muito critério. Pede o mesmo que o amigo ou escolhe algo meio rápido.

Minutos depois chega o prato do vizinho e você se dá conta de que o que queria mesmo não era espaguete à bolonhesa, mas o filé à parmegiana da pessoa decidida ao lado. Bem, nesse caso, se você tiver sorte, dá para mudar o pedido.

Mas e quando as escolhas são mais difíceis, como escolher o parceiro amoroso ou os rumos da carreira? Como decido se caso, compro uma bicicleta, faço um mochilão ou continuo no meu trabalho?

Em primeiro lugar, é preciso corrigir nossa crença disfuncional de que “felicidade é ter tudo”. Felicidade na verdade, é abrir mão do que você não quer ou precisa e seguir em frente buscando descobrir o que quer na verdade, sem se cobrar ter certeza.

Por que nessa vida não temos certeza de nada. Ou depois dessa pandemia você ainda
acha que tem? A escolha certa não existe. Existe a escolha que consideramos mais adequada para o que queremos e para as condições que temos no momento.

Elencar opções e eliminar o que você não quer já é um grande passo para ir na direção que pede seu coração. Depois disso você precisa se experimentar. Se testar. E se precisar mudar o caminho, tudo bem. É melhor do que ficar parado no mesmo lugar.

Racionalize, bote no papel. Faça análises. Depois disso, reflita, passe pelo filtro do sentimento e da intuição. Ouça sua razão mas também ouça seu coração. E então siga em frente, sem olhar para trás. E mantenha a mente positiva, acredite, bons ventos virão.

 

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O emprego dos sonhos existe?

Bom mesmo é trabalhar de qualquer lugar do mundo em algo que dá um entusiasmo danado, que você não vê a hora de começar e depende a penas de uma boa conexão com a internet. Mas será que isso é possível ou um sonho para lá de idealizado?

Bem, não resta dúvidas de que esse é o sonho de muitos jovens e adultos, principalmente dos nascidos após a década de 80, as chamadas gerações Y, Z e agora Alfa (crianças de até 9 anos de idade) que são nativos digitais, ou seja, já nasceram imersos na tecnologia.

Essa geração cresceu vendo seus pais trabalharem duro, bater cartão, levar bronca para casa sem muito tempo ou dinheiro para diversão.

Daí em diante veio um desejo de viver melhor e de fazer algo que tenha mais propósito e significado. Para eles, é inaceitável trabalhar duro para ganhar algo no fim do mês apenas para sobreviver nos fins de semana.

Mas como conseguir uma vaguinha no Google, virar blogueira ou um nômade digital (pessoas que trabalham viajando o mundo)?

Bem, sabemos que com a adesão das empresas ao digital principalmente nesse mundo pandêmico, houve um aumento das possibilidades de trabalho à distância. Mas nem sempre trabalhar remoto é sinônimo de amar o que faz, embora possibilite alguma mudança no estilo de vida.

E qual a chave então para encontrar esse match entre uma vida bem vivida e um emprego ideal? Como trabalhei por 15 anos em recursos humanos e entrevistei muitos profissionais de diversas áreas, vi gerações se relacionarem e notei essa mudança acontecendo. Vivi isso na pele, na verdade.

Depois desse tempo de muito trabalho, me vi estressada e frustrada em uma profissão que me sugava a alma, sem ver mais sentido no que eu fazia e sem ver um encaixe com a vida que eu queria e a fase em que eu estava.

Busquei o que me faltava e fiz uma virada. Hoje, como psicóloga e mentora de carreira, acompanho muitas pessoas com esse dilema e as ajudo a fazer as suas viradas. Meu trabalho se tornou muito mais significativo, leve, realizador e vantajoso, mas o caminho para chegar aqui foi construído com muitos desafios.

Obviamente não é fácil virar a chave, mas aos poucos e inclusive em tempos de vacas magras muitas pessoas estão se reinventando e achando um jeito de viver com mais propósito ou resgatando talentos escondidos. O que noto é que é preciso “desglamourizar” o “faça o que ama”.

Toda mudança em direção de um desejo requer um esforço para encontrar um novo caminho. Às vezes é preciso dar alguns passos para trás para depois dar passos novos na direção de algo melhor e maior.

Também é preciso estar disposto a sair da zona de conforto, enfrentar os próprios medos e entender que a insegurança faz parte pois a coragem vem no meio do caminho, e não antes.

Para descobrir o seu propósito precisa entender no que você é bom, quais são suas paixões, e também é necessário achar um jeito de entregar algo de valor para o outro e ganhar dinheiro com isso. É um exercício que exige esforço para se redescobrir, mas viabiliza caminhos possíveis, sem romantismo mas com muita inspiração.

Outro fato importante, principalmente para os jovens, é entender que a probabilidade de que as primeiras experiências profissionais sejam o emprego dos sonhos é muito pequena.

No começo da carreira temos pouca experiência de vida e autoconhecimento e se não houver o entendimento de que os primeiros obstáculos são aprendizado, há o risco de desistir antes da hora, perdendo a chance de se experimentar, aprender a lidar com a frustração e descobrir melhor o que gosta e o que não gosta.

Isso não quer dizer que seja impossível encontrar o trabalho dos sonhos cedo, mas claramente é mais provável conquistá-lo um pouco à frente quando já há mais condições de saber o que faz sentido e o que não.

E esse sonho não é exclusividade dos jovens. Muita gente chega em um ponto da vida e começa a se perguntar por que faz o que faz. Bate um vazio, como se a vida estivesse clamando por algo maior.

E o que fazer quando se está relativamente estável em uma carreira e um belo dia se percebe que não é o que quer fazer pelo o resto da vida?

É preciso repensar o caminho. E isso significa revisitar todos os seus valores, talentos, capacidades e descobrir um propósito que motive a ir atrás de uma mudança e te dê o foco necessário para não desistir, além de planejar os novos rumos.

Sendo assim, aos jovens, eu diria que é preciso ter calma e buscar experiências. Se você não está ainda no emprego dos sonhos, trace o caminho e persista até chegar lá, entendendo que um momento mais enfadonho, se planejado, pode ser um meio para chegar em outro objetivo.

Para a turma que já está em um ponto mais maduro da vida, eu diria, tenha calma e coragem. Porque não se reinventa a vida em 1 mês. A média de tempo para uma transição de carreira vai de 6 meses a 2 anos, às vezes mais. É preciso se estudar, aguçar a visão, se preparar para então se redirecionar.

E para todos que tem o sonho de uma vida com propósito, posso dizer que não é tão simples achar um jeito de ganhar dinheiro com algo que a gente ama, mas que iniciar uma procura vai no mínimo te levar a se sentir mais feliz no caminho e te dará mais segurança para fazer as suas escolhas, mesmo que você descubra que o melhor é ficar onde está.

Por que às vezes você só precisa ressignificar a jornada, fazendo pequenos ajustes. Outras vezes, o caminho é se transformar ou se redirecionar. Mas como você vai saber, se não começar a procurar?

Angustiados porém conectados

Um jovem programador é atormentado por estranhos pesadelos nos quais sempre está conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro. À medida que o sonho se repete, ele começa a levantar dúvidas sobre a realidade.

E quando encontra os misteriosos Morpheus e Trinity, ele descobre que é vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas e cria a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia.

Essa sinopse do filme Matrix, que já tem um tempo mas é incrivelmente atual pela semelhança com a nossa realidade, me despertou um olhar para o como estamos vivendo em tempos de tanta conectividade.

“Não sei o que faço, as redes sociais estão me deixando atordoado.”

“Como muda a vida, ficar desconectado”

Esses são relatos de pessoas que me contactaram dias atrás, divididos entre viver na matrix ou na realidade. Dias depois, passei um tempo desconectada, atenta demais às dores em recuperação a um mal real chamado Covid-19, e senti na pele. Caramba! Muda ficar conectado, mas qual é o problema?

Será que as redes sociais estão nos fazendo ter uma falsa impressão da realidade? Vejamos. Basta um rápido ​scrolling ​(deslizar o dedo e atualizar a rede), para sermos abduzidos para algo que tem a capacidade de sugar toda a nossa atenção.

Uma enxurrada de informações que disparam emoções antagônicas, uma relação de amor e ódio. Não queremos viver nelas (nas redes) mas não conseguimos mais viver sem, me parece claro. Quer saber por que?

Quando olhamos para o celular, é como se acendesse uma luz na nossa mente, é a sensação inconsciente de que tem algo ali para nos animar.

É a dopamina que o nosso cérebro libera quando recebemos uma curtida ou comentário, quando lembramos da interatividade ou quando os algoritmos nos trazem como se fosse mágica o vídeo que “estávamos precisando assistir”, inocente. E de repente, 30 minutos, 1h, 3h do nosso dia (vida), já eram.

Será que estamos viciados? Veja você, analise os seus atos. E como lidar com a vida real, que parece chata e monótona quando as redes nos trazem um caminhão de estímulos em alta velocidade?

Como desviamos os olhos dos nossos filhos das telas e o fazemos conversar conosco no jantar? Como eu sei o que é fake ou realidade? Será que aquela pessoa que parece extremamente feliz nos stories está feliz mesmo ou está triste?

Tenho mais perguntas do que respostas. Mas elas são o primeiro passo para acordarmos de algo. Uma coisa é fato. Tem muita gente com a saúde mental ameaçada, mas no mundo dos algoritmos e filtros, está tudo bem, obrigada.

Às vezes é um amigo nosso, que admiramos pela sua espontaneidade no TikTok mas que quando desliga a câmera tem vontade de se jogar da janela de tanta ansiedade. E a gente nem sabe.

Pode ser o seu filho, que começa a perder sua autoestima ao ver que o filtro não corresponde a como ele é no espelho. E chora escondido. E você também não sabe. É fato. O índice de suicídio e internações hospitalares por automutilação aumentou com o surgimento das redes sociais nos jovens da geração Z.

E será que estamos tendo sanidade o suficiente para olhar e conversar com quem nos importamos e entender como está a sua vida, fora das telas? A cada momento, notícias novas, milhares de vídeos, fotos nos trazem flashbacks, ou seja, funcionam como gatilhos que mexem com nossas emoções. Comece a notar, como isso te afeta?

Dia desses uma pessoa começa a chorar dentro de minha casa e eu pergunto: O que houve? Ela diz que teve um sonho horrível sobre a perda de alguém. Em segundos minha memória me lembra que cedo ela chegou na minha casa contando de uma notícia que viu de um acidente na cidade. Pelos detalhes que ela me falou, me pareceu óbvia a sincronicidade.

Algo distante parece que está dentro de casa e nos mexem profundamente porque nos remetem a medos e angústias que são muitas vezes inconscientes. E a maioria das pessoas não consegue ligar os fatos. Apenas reagem ao que vêem e ouvem. 70% dos brasileiros dormem e acordam grudados no celular. E como dormimos e acordamos, de verdade?

Temos parado para nos ouvir com atenção e cuidado das nossas dores e necessidades? Ou temos preferido nos distrair e ficamos “dormindo” para não precisarmos lidar com a nossa vida como ela é? Com suas imperfeições e instabilidades.

Espero que não seja tarde para pararmos de fazer essa comparação injusta, de egos off-line realistas com egos on-line idealizados. As redes não necessariamente são as vilãs, mas tem sua parcela de responsabilidade. Agora a mudança está nas nossas mãos.

Precisamos de mais consciência para que possamos controlar o que queremos em nossa vida e não para sermos controlados. Quer uma dica?

Desligue todas as notificações do seu celular. Modere o tempo que você passa nas redes. Acompanhe o que seu filho assiste. Não dê tanta liberdade. Se os adultos já se atrapalham, imagine quem não tem maturidade.

Como será o amanhã?

Em uma dessas segundas-feiras, nesse tempo louco, acordei meio vulnerável. Tento entender o que há e me deparo com muitas coisas flutuando. Decisões governamentais estranhas, saúde pedindo socorro, pessoas em dúvida se as notícias são fake ou verdade e com medo de ligar a TV e escutar coisas desagradáveis. Sinto sofrimento de todos os lados.

Instantes depois, olho para o calendário e tomo um susto. Chegamos exatamente na metade do ano. Vejo a metade que passou e não sei nem como definir. Reparo na outra metade. Vários pontos de interrogação. Minutos depois, olho para quem chega e percebo uma respiração descontrolada.

Pergunto: Está tudo bem?

Ouço .. não sei.

Fico sentindo essa experiência me tocar e como sempre procuro respostas, mas não acho.
A noite em meu quarto, resolvo continuar um livro, abro na metade que falta e me deparo com uma palavra que faz minhas pupilas dilatarem: IMPERMANÊNCIA.

Tenho uma epifania. É isso! Isso define tudo o que estamos vivendo, está tudo instável mesmo, impermanente, incerto. Parece uma boa explicação para tudo isso, na minha simples percepção. Leio mais um pouco e saio da empolgação para a realidade. Impermanente é A VIDA.

E percebo o quanto estamos cegos a isso. Precisamos clarear nossa visão e o que dificulta isso é o nosso alto grau de expectativa e apego. Vou explicar. Nós, seres humanos, queremos muitas coisas. Nunca estamos satisfeitos com o que temos. Já reparou?

Ou lutamos insanamente para ter o que não temos ainda ou estamos constantemente com medo de perder o que temos. Quando o momento está difícil a gente se debate querendo uma melhora imediata. Não nos permitimos sequer termos um dia triste, o que é completamente normal em tempos como esses.

Ou seja, não vivemos a nossa única certeza. O agora, como ele é. Então o sofrimento é constante. Queremos saber o amanhã para ter mais ou não perder sucesso, dinheiro, reconhecimento, relações. Queremos nos livrar agora de qualquer situação que não seja agradável.

Estamos o tempo todo sentindo falta de algo. Lutando contra nós mesmos. Nos sentimos constantemente incompletos. Agora pensa o seguinte: O que você sabe sobre o dia de amanhã?

Talvez você tenha um planejamento ou uma expectativa sobre esse dia. Se você for um bom planejador é provável que você já durma sabendo o que fará em cada minuto do dia seguinte. Ou talvez tenha essa expectativa.

Mas e se acontecer tudo ao contrário? Se de repente a sua previsão não se concretizar? Se o que você gostaria que acontecesse fosse diferente? Se o seu pneu furar no meio do nada e você não tiver estepe?

Já ouviu o ditado que diz que quanto maior a expectativa, maior a queda? É isso. A verdade é que a gente esquece que praticamente tudo na vida é temporário. Qualquer coisa que tenhamos, em uma questão de segundos, pode mudar completamente, inclusive nós mesmos, nossas decisões, as decisões do outro.

Tudo muda o tempo todo e o único jeito de a gente lidar com esse momento e encontrar algum lugar de paz é vendo cada segundo como vêem os olhos de uma criança. Como se cada segundo fosse novo. Sem criar muitas expectativas de que seja diferente. Apenas nos permitindo sentir o que estamos sentindo, no momento.

Sabe quando a gente perde a chave e fica tenso, procurando? Aí quando relaxa, acha? Mais ou menos isso. Só que com um tempero a mais, o aprendizado de encarar a impermanência da vida. Simplesmente por que ela é assim.

Precisamos aceitar que o que temos é o hoje, esse segundo. E vivê-lo como se fosse o último. Precisamos aprender a apreciar o que já temos. Se começarmos a viver o que temos agora, não há espaço para brigas e mágoas intermináveis. Nem para deixar para amanhã o que é importante. Muito menos para deixarmos de lado o que temos agora, mesmo que não seja ainda tudo o que desejamos. É o que temos.

Se você fizer isso, quem sabe na hora que o pneu furar você aprenda a abraçar quem está contigo (ou se abraçar), começar a rir e chorar ao mesmo tempo, esperar passar e tudo bem. Talvez você sinta até um pouco de compaixão pelo mecânico que não checou seu step. Talvez ele não estivesse em um bom dia. E aos poucos vamos achando um caminho, sem nos culpar. Sem culpar o outro.

Porque no fim da vida, todo mundo vai olhar para trás e se perguntar o que significa tudo isso que ficamos correndo atrás a vida inteira. E pra ilustrar isso, trago um trecho da fala de um dos pacientes de Ana Claudia Quintana Arantes, médica que lida com pacientes terminais,que li dia desses em uma revista:

“A vida só tem duas páginas. A primeira deve ser lida quando tudo estiver dando errado. Lá estará escrito que tudo passará. A segunda, quando tudo estiver dando certo. Lá estará escrito que tudo irá passar. Viva todos os momentos por que eles têm fim.”

E segundo ela, isso foi um presente. Quem sabe seja para nós também.

* Por Juliana Mendes

Amor em tempos estranhos

Ela gostaria de estar em outro lugar, anda confusa, com medo e se sente solitária. Ele, sonha com aventuras, imagina que deita e rola, se entedia com a rotina, se frustra logo que acorda.

O que para uns é um momento de amor e união, para outros é mais provável que estejam em uma espécie de inferno astral. O fato é: se relacionamentos não são fáceis em tempos normais, imagine nos tempos de agora?

Nunca estivemos tão juntos e ao mesmo tempo tão separados de quem está ao nosso lado. Mesmo nos esforçando, qualquer tentativa de conexão parece ser em vão, afinal estamos perdidos na própria estrada.

Dentro de nós está difícil encontrar um caminho, a grande maioria das pessoas está exposta às suas vulnerabilidades e naturalmente acabamos em um movimento de contração ou dispersão, pois armamos nossas defesas e cada um cria algum tipo de fuga ou casulo para lidar com os próprios sentimentos e frustrações.

Com esse movimento surgem os conflitos ou distanciamento e o caminho mais sábio para trazer vida de volta a uma relação é baixar a guarda e abrir um espaço de diálogo e compreensão, onde cada um possa expor o que pensa e sente e o outro acolhe de coração, mesmo que tenha contradição. Afinal, momentos difíceis requerem atenção, calma, compreensão.

Há um clima no ar de apreensão que parece um fantasma invisível mas assola nosso coração. Que possamos cada vez mais voltar à nossa virtude inata de amor e paz. Não é esse o movimento que queremos para criarmos um futuro mais pacífico para nossos filhos e para o bem de toda a nação?

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