SOBRE RECEBER UM PRÊMIO DE INOVAÇÃO

No atual estágio “líquido” da modernidade, preconizado por Z. Bauman, retomar um fato ocorrido a algumas horas, por vezes denota descompasso com a velocidade dos fatos, falta de assunto ou prolixidade. Mesmo tendo consciência disso e, por acreditar que certos assuntos precisam ser mais detalhadamente discutidos, resolvi, ainda que já passados quase 15 dias, retomar o Prêmio Estadual de Inovação Casper Erich Stemmer 2019, com o qual fui agraciada no dia 19 de fevereiro de 2020, na categoria Agente de Inovação.  Sem dúvida, neste momento minha intenção não é dar foco a honra do reconhecimento recebido ou ao histórico e importância da premiação, mas trazer aspectos simples, porém por vezes esquecidos ou pouco debatidos na área de inovação e de forma geral, na sociedade: os aspectos humanos. 

Vejo que insistentemente, os indivíduos têm se comportado como se não fizessem parte da natureza ou não pertencessem a realidade social. Equivocadamente, cresce a crença de que os produtos tecnológicos têm o poder de expurgar da humanidade elementos do orgânico e do relacional, daquilo que comprova que o homem é apenas uma minúscula parte do mundo em que vive. Assim, nega-se (ou fecha-se os olhos) para sua interferência na existência humana e na vida social e sob este artifício, questões importantes da vida em sociedade são tratadas na superficialidade. 

Num momento histórico em que o fast e o light ganham destaque e o tempo é o “senhor dos senhores”, percebo que temos perdido valores e conhecimentos importantes para uma vida plena e consciente, ou seja, temos nos furtado de refletir e vivenciar “o ser”, a finitude das coisas, a importância do bem estar do outro para o meu bem-estar, os sentidos da vida… Não paramos sequer para pensar: para onde esta letargia está nos levando? O que estamos ganhando (ou perdendo) com esse apagamento/silenciamento? Infelizmente, mais do que felicidade e qualidade de vida (ou paralelamente), vejo crescerem os casos de depressão, isolamento, destruição ambiental, ganância, vaidade, competição… 

Por isso, acredito que precisamos transcender ao utilitarismo, ao pragmatismo e ao reducionismo, sair do entorpecimento e partir para uma convivência que além dos aparatos técnicos, do consumo, do desenvolvimento econômico, possibilite a preocupação, a compreensão e o envolvimento das pessoas com as pessoas, com a realidade e com as questões contemporâneas.

Minha trajetória com a inovação já tem mais de 10 anos e, ainda que muitas vezes tenha enfrentando “ventos contrários”, sempre mantive firme minha convicção de que, a ciência, a tecnologia, a inovação, o empreendedorismo só fazem sentido se, o ser humano e, por consequência a vida social equânime e de qualidade, forem o seu princípio e seu fim. Defender e, sobretudo viver isso, não é tarefa fácil. Propor o estudo desse engendramento em uma tese de doutoramento, menos ainda; afinal, como alerta Kourganoff (1990), “a via do esforço lúcido é árida e seca”. Portanto, receber o Prêmio Stemmer a partir de um trabalho concreto, consistente e persistente na inovação, é muito significativo. Mas, ver reconhecido um trabalho que é entrelaçado por ideias consideradas por muitos como sofismas ou utopias, tem um valor inestimável. 

Gratidão e congratulações aos avaliadores ad hoc, equipe e gestores da Fundação de Amparo a Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), pela consciência e imparcialidade. Gratidão a Unisul e especialmente aos colegas da Agetec, que assim como eu são incansáveis agentes de inovação. Gratidão ao Notisul pela liberdade de expressão e parceria.

Você sabia?

Com o objetivo de apoiar a realização de eventos científicos, tecnológicos e/ou de inovação, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina, FAPESC, informa que até 18 de março, está aberto o prazo para submissão de projetos de eventos  científicos que se enquadrem na Fase I – Eventos previstos entre 01 de julho de 2020 a 28 de fevereiro de 2021. Os eventos podem ter alcance local/regional, estadual, nacional e até mesmo internacional. O apoio é de R$ 15.000,00; R$ 25.000,00; R$ R$ 35.000,00 ou R$ 50.000,00, respectivamente. A programação deve incluir atividades como apresentação de trabalhos, mesas-redondas, conferências, debates, minicursos, entre outras formas de atualização e divulgação do conhecimento, visando ao avanço da pesquisa no estado.  O coordenador do evento deve ter a titulação mínima de Mestre e ser pesquisador vinculado a Instituição de CTI de Santa Catarina. Chamada completa: http://www.fapesc.sc.gov.br/edital-de-chamada-publica-fapesc-no-02-2020-proeventos-2020-2021/ 

Fique atento!

Estão abertas, até 24/abr/2020, as inscrições para o 40° Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica. O Prêmio, instituído em 1978, tem como objetivo revelar e reconhecer grandes nomes que contribuem significativamente para a formação de uma cultura científica e por tornar a Ciência, a Tecnologia e a Inovação conhecidas da sociedade. Nesta edição, a categoria contemplada é “Jornalista em Ciência e Tecnologia”, que premiará o jornalista profissional que se destaque na difusão da Ciência, da Tecnologia e da Inovação nos meios de comunicação em massa. A premiação consiste em 20 mil reais, diploma e passagens/diárias para permitir ao agraciado participar da cerimônia de premiação, na abertura da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho de 2020, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em Natal/RN. No endereço www.premiojosereis.cnpq.br encontram-se todas as informações sobre o Prêmio, inclusive o regulamento, ficha de inscrição e histórico.