Jonas Schneider apresenta o professor Geovan Martins Guimarães

Apresento o amigo pesquisador da semana, o professor Geovan Martins Guimarães. O trabalho do professor Geovan é de grande nobreza para a sociedade científica pois se concentra nos estudos históricos, arqueologia e educação patrimonial. Já participou de projetos de grande importância para a arqueologia regional, nacional e projetos internacionais. Atualmente é coordenador das atividades do GRUPEP – Grupo de Arqueologia e Educação Patrimonial da Unisul.

Para o professor Geovan, estar em um grupo de pesquisa como o Grupep possibilitou participar de pesquisa em várias partes do Brasil e no mundo. “Desenvolvemos nesse grupo pesquisas arqueológicas de cunho estritamente acadêmica e de contrato, essa última realizadas no âmbito do licenciamento ambiental. Algumas destas pesquisas foram divulgadas em diversos eventos nacionais e internacionais que tive a oportunidade de participar, algumas estão publicadas em capítulos de livro, em revistas acadêmicas de repercussão nacional, trabalhos em parceria com pesquisadores do Grupep e de outras instituições. Nessa trajetória conheci pesquisadores de toda parte, do Brasil e exterior. Atualmente desenvolvemos pesquisas juntamente com outras instituições brasileiras, uma delas é o MAE – Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Mais recentemente, passamos a integrar, como parceiros, o projeto Tradition, desenvolvido pela UAB – Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha, e, University of York, na Inglaterra, pesquisa coordenada pelo professor Colonese da UAB”.

O professor Geovan compreende que o ambiente favoreceu a sua formação acadêmica “Minha formação acadêmica somente foi possível porque tive um ambiente que me propiciou isso, participação em grupos de pesquisa, incentivo de meus orientadores, os professores que tive até aqui; a colaboração de colegas do Grupep, de docência e acadêmicos por onde passei; aos discentes, pelos quais tenho a oportunidade de aprender e melhorar minha prática docente; A minha família, especialmente minha irmã, Gislaine, tenho muito a agradecer”.

O professor Geovan é graduado em Turismo e Hospitalidade pela Universidade do Sul de Santa Catarina (2009), mestrado em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (2012) e doutorado em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí (2017). Atualmente é pesquisador da Universidade do Sul de Santa Catarina, professor titular da Universidade do Sul de Santa Catarina e conselheiro do Conselho Municipal de Patrimônio do Cultural de Tubarão. Atua na área de Turismo, com ênfase em Turismo Arqueológico, atuando principalmente nos seguintes temas: arqueologia, educação patrimonial, prospecção arqueológica, patrimônio arqueológico e arqueologia subaquática.

Esta semana o prof. Geovan descreve a importância do planejamento e gestão para potencializar o turismo arqueológico regional.

Planejamento e Gestão: a chave para o desenvolvimento de um potencial turismo arqueológico regional

O Turismo Arqueológico é um segmento que integra Turismo, Cultura e Arqueologia. Este tem por objetivo aproveitar o potencial turístico de sítios arqueológicos. Tal segmento se realiza quando o turista é motivado a se deslocar com o intuito de visitar os vestígios que podem ser considerados particularidades de cada cultura.

Todos os estados brasileiros possuem sítios arqueológicos cadastrados junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, órgão nacional responsável pela gestão do patrimônio arqueológico. Os sítios arqueológicos são vestígios da cultura de sociedades passadas com características diversificadas e singulares, que muitas vezes não são adequadamente integrados, socializados e aproveitados como atrativos turísticos. São poucos os casos no Brasil em que estes patrimônios são preparados para receber visitantes, cabe ressaltar para esse desenvolvimento somente deve ocorrer pautado em um planejamento, considerando as fragilidades do local, sem expor o local a mais riscos.

Compõem o mosaico de patrimônios arqueológico brasileiro numerosos e variados tipos de sítios, que possuem dimensões monumentais e uma inestimável importância histórica e científica. Atualmente, encontram-se registrados junto ao Iphan mais de 27 mil sítios arqueológicos, desde o período pré-histórico até aos períodos mais recentes. Este número de sítios arqueológicos vem crescendo à medida que há o incremento das pesquisas, possibilitando, dessa forma, o registro de novos sítios.

Devido às especificidades e a fragilidade do patrimônio arqueológico, o desenvolvimento deste segmento do turismo não poderá ser massificado, pois a exploração de todos os recursos poderá trazer resultados negativos. O turismo arqueológico, não tendo um plano para seu desenvolvimento, com medidas que primam pela utilização dos recursos de forma sustentável, terá como resultado uma atividade depredatória. Sempre que esta atividade for pautada em um planejamento baseado no estudo e na capacidade de carga que defina a utilização dos sítios arqueológicos sem que haja a degradação, o turismo poderá ser um canal para divulgar a importância histórica das culturas existentes ou que existiram no local. Nesse caso seria um meio para recuperar e manter acesa a memória do lugar.

Os sítios arqueológicos possuem um longo histórico de ações depredatórias, o que torna a situação do patrimônio arqueológico brasileiro bastante delicada. É ainda mais grave porque tais atos são registrados atualmente com certa frequência. As motivações para essas atitudes são variadas, mas o resultado é a perda parcial ou total do registro arqueológico. Tal situação se repete tanto em sítios históricos quanto em pré-históricos.

Para tomarmos como exemplo, o Estado de Santa Catarina possui relevante patrimônio arqueológico pré-histórico, com destaque para a grande quantidade de sambaquis, evidências dos grupos pescadores-caçadores-coletores que habitaram a região litorânea. Sua principal característica é a quantidade de conchas, depositadas por centenas de anos, e a forma monticular. Existem vários sítios sambaquis pesquisados e registrados no sul catarinense.

Esses sítios arqueológicos possuem ao longo dos anos um grande histórico de destruição. Os sambaquis foram destruídos das mais diferentes formas. Inicialmente, foram escavados pelas prefeituras locais, que utilizavam os sedimentos para aterrar estradas; após, indústrias mineradoras exploraram violentamente os sítios para a extração de calcário conchífero. Na década de 1960 promulgada a Lei Federal 3.924 de proteção do patrimônio arqueológico, mas as práticas de depredação se estenderam intensamente até o início da década de 1980. Ainda hoje há registros recentes de vandalismo ao patrimônio regional. 

Atualmente, a expansão imobiliária desordenada e o afã do poder público municipal, que busca apenas a ampliação da captação de Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, aliados aos ideais de modernidade urbana, geraram muitos loteamentos litorâneos implantados sem planejamento e/ou licenciamento ambiental, colocando em risco o meio ambiente e os patrimônios arqueológicos. Além disso, o aumento demográfico substancial durante o período de veraneio amplia os problemas. Muitos praticantes de esportes radicais, como motocross, jipe cross e sandboarding, que desenvolvem suas atividades diretamente sobre as dunas e sítios arqueológicos, agravam o quadro de destruição.

Por mais que os sítios arqueológicos estejam protegidos por lei e até mesmo cadastrados junto ao banco de dados do IPHAN, sua integridade não está garantida. É de fundamental importância a existência de um programa de gestão do patrimônio arqueológico. 

As pesquisas arqueológicas têm descoberto legados importantes sobre as sociedades humanas passadas. As investigações estão avançando e vêm trazendo à tona a complexidade sociocultural dos grupos que habitaram o território brasileiro. Ainda que algumas ações de educação patrimonial sejam desenvolvidas por parte dos pesquisadores, a população em geral desconhece o histórico dessa ocupação. Aliada às práticas de educação patrimonial, a gestão do turismo arqueológico poderá ser uma alternativa para a proteção dos sítios arqueológicos, auxiliando na difusão e valorização desse legado cultural.

Para a utilização do patrimônio arqueológico como atrativo turístico, é de fundamental importância o planejamento e a gestão da atividade. Os impactos ao meio deverão ser minimizados, para não colocarmos em risco o patrimônio que se insere em uma situação de fragilidade.

Um programa de gestão do turismo arqueológico é de fundamental importância, o processo de desenvolvimento do planejamento envolve diversos fatores. É imprescindível a participação de representantes de organizações públicas e privadas, planejadores e comunidade envolvida. 

Nesse sentido, o turismo arqueológico terá como finalidade o desenvolvimento de uma atividade turística que promova e preserve os sítios arqueológicos, integrando as comunidades locais. Essa integração possibilitará a difusão da cultura de grupos pré-históricos, e a consequente valorização e preservação dos sítios arqueológicos, bem como viabilizará o desenvolvimento econômico local de forma sustentável. 

Dessa forma, o turismo arqueológico será uma importante ferramenta para a valorização do patrimônio arqueológico, promovendo o desenvolvimento deste segmento por meio de planejamento e gestão da atividade, minimizando os impactos negativos, e maximizando a preservação dos bens arqueológicos e a valorização das comunidades locais que vivem nas proximidades dos sítios.