É preciso experimentar a descoberta

Prof. Dr. Marcos Marcelino Mazzucco
Coordenador dos cursos de Engenharia Química e Engenharia de Controle e Automação na UNISUL (marcos.mazzucco@unisul.br)

No dia 23 de março de 2010, li um texto que me motivou a assistir ao vídeo do navegador Amyr Klink. Tão provocador foi aquele momento que o registrei para usar nas minhas reflexões e, oportunamente, em apresentações em escolas e na universidade.

A seguinte passagem capturou meus pensamentos: “Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor, e o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.

Este texto, narrado pelo próprio navegador, com o sentimento angustioso daquela experiência vivida, há de encher a alma de qualquer um com a vontade de gritar. “O que estou fazendo? E que viagem é esta? Por que eu não vou?”. Na solidão da empreitada, Amyr Klink pôde extrair a essência da descoberta: a busca por si na humildade das limitações e na grandeza da capacidade de superação e adaptação.

Gosto de lembrar de minha infância e adolescência nas décadas de 1970 e 1980, porque nestes anos, eram poucas as pessoas que assinavam jornais e revistas e eu não era umas destas. O conhecimento atualizado, daquela época, era pouco acessível. Nas escolas os livros eram reutilizados e recortes de jornais e revistas eram materiais tão valorosos que mereciam ser guardados. As experiências literárias de ciências eram tão curiosas que, mesmo com insucessos, repeti-las eram um grande feito. O prazer de experimentar faz o cientista, o prazer de produzir algo útil para muitos ou necessário para alguém faz o empreendedor. Lembro que eram fabricadas e improvisadas máquinas para agricultura em pequenas oficinas, por pessoas com pouca escolaridade, mas muito criativas. Meu pai e minha mãe, com poucos anos de escolaridade, investiram muito em soluções para tornar suas tarefas mais rápidas e fáceis, e isto aguçava a curiosidade das crianças que estavam sempre em volta, querendo “ajudar” um pouco e atrapalhando bastante.

Hoje, pergunto-me se não estamos abreviando a curiosidade científica e o empreendedorismo das crianças e, principalmente, dos adolescentes, com o excesso de imagens e vídeos da Internet, tirando deles as experiências de “conhecer o frio para desfrutar o calor… Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto”.

Enfim, muitas ilustrações e poucas atitudes. Há experiências que dificilmente teremos no Brasil, porque parece que, aqui, simplificamos muito em tudo. A emoção de conhecer algo complexo é suplantada, pela maioria, pelo confortável prazer de estar informado acerca daquilo. Parece estar distante o dia em que nos emocionaremos com um foguete brasileiro cortando o espaço, porque a emoção da conquista científica não está nas raízes da maioria dos nossos colegas.
A música Countdown (1982), da banda canadense Rush, descreve a emoção da multidão ao assistir o lançamento de um ônibus espacial. Um trecho da música, livremente traduzido, conta: “O ar está carregado – uma massa úmida, sem movimento. A multidão e as câmeras. Os carros cheios de espectadores passam. Excitação tão densa que você poderia cortá-la com uma faca. Alta tecnologia, na fronteira mais importante da vida”.

Há muitas conquistas científicas que poderíamos comemorar e muitas vitórias futuras para desenhar, mas é preciso experimentar a descoberta. Imagine como seria possível “conhecer” o sabor e o cheiro de uma fruta por meio de imagens! Experimentar a descoberta é saborear com todos os sentidos e isto é fundamental para ativar a criatividade empreendedora que nos fará o país das vitórias científicas.

Você sabia?
Estão abertas, até 31 de julho, as inscrições para a Competição de Empreendedorismo Jovem Cidadão. É uma iniciativa da Unesco para ideias e projetos elaboradas por jovens (15 a 35 anos) para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Saiba mais em https://nacoesunidas.org/unesco-convida-jovens-empreendedores-para-concurso-sobre-sustentabilidade/.

Fique atento!

Entre esta segunda e quarta, os cursos de Química e Engenharia Química da Unisul promoverão a “Semana de Formação empreendedora”, com apresentações das propostas de seus alunos para novos negócios e para resolver problemas industriais por meio das atividades de estágio desenvolvidas em nossa região.