Nos Estados Unidos, o protecionismo republicano visou revitalizar a indústria local e frear o crescimento de potências como a China. Embora os efeitos econômicos tenham sido polêmicos, a narrativa de Trump mobilizou milhões de eleitores descontentes com o establishment político, fato que garantiu a reeleição do ex-presidente no começo deste mês. No Brasil, essa fórmula encontrou paralelo na ascensão de Jair Bolsonaro, cuja base conservadora segue influente, mesmo com sua inelegibilidade. A direita brasileira enfrenta, contudo, desafios internos. Sem Bolsonaro como figura central, há uma disputa por protagonismo que inclui desde a tecnocracia de Tarcísio até o apelo popular de Michelle Bolsonaro.
O cenário argentino, com a vitória do economista Javier Milei, reforça o vigor da direita na América Latina. Milei propõe um liberalismo radical, corte de gastos públicos e enfrentamento ao que chama de “casta política”. A eleição do economista é um alerta para o Brasil, onde a esquerda, representada pelo governo atual, tem gerado preocupações quanto à responsabilidade fiscal. Os déficits nas contas públicas, os prejuízos recorrentes de empresas estatais e a constante elevação de impostos federais minam a confiança do mercado e aumentam a insatisfação popular.
As recentes eleições municipais de 2024 no Brasil evidenciaram uma tendência de declínio da esquerda no cenário político local. Partidos de esquerda, como o PT, elegeram o menor número de prefeitos nos últimos 20 anos, conquistando apenas 252 prefeituras, número inferior ao registrado em todas as disputas eleitorais de 2004 a 2020. Esse resultado reflete uma redução significativa na população governada por partidos de esquerda, indicando uma mudança no panorama político municipal.
Enquanto a direita global se reinventa, o Brasil parece estar em uma encruzilhada. De um lado, há os discursos de austeridade fiscal, protagonizados por Romeu Zema e seu alinhamento com princípios liberais; de outro, o pragmatismo de Tarcísio, que equilibra diálogo político com uma agenda conservadora. Michelle Bolsonaro, por sua vez, explora o capital simbólico do bolsonarismo, mas sem uma plataforma consolidada.
O futuro da direita brasileira depende de sua capacidade de unir essas vertentes em torno de uma agenda clara e eficaz. A experiência norte-americana e o recente movimento argentino mostram que o apelo popular é indispensável, mas não basta. É essencial uma política que combine conservadorismo moral com responsabilidade fiscal e um programa econômico convincente. O Brasil, desgastado por anos de crise, carece de lideranças que apontem caminhos concretos para o desenvolvimento sustentável, sem repetir erros do passado, como o descaso com as contas públicas e a dependência de soluções populistas.
A direita global oferece exemplos e alertas. Cabe ao Brasil aprender com eles, ajustando suas estratégias para um cenário político cada vez mais complexo e competitivo.