Badesc Cidades: politicagem substituída por critérios técnicos

Funcionário do Badesc há 13 anos, o novo presidente explica alguns dos planos dos primeiros 100 dias e os novos objetivos da agência de fomento  - Foto: Jaqueline Basseto/Ascom Badesc/Divulgação/Notisul
Funcionário do Badesc há 13 anos, o novo presidente explica alguns dos planos dos primeiros 100 dias e os novos objetivos da agência de fomento - Foto: Jaqueline Basseto/Ascom Badesc/Divulgação/Notisul

Eduardo Alexandre Corrêa de Machado, economista graduado (UFSC) e chegando ao final da graduação também em Contabilidade (Estácio), tem MBA em Administração Global pela Universidade de Lisboa (Portugal/ESAG), MBA em Investimentos e Mercado de Capitais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é mestre em Administração (Unisul). Há 13 anos é funcionário da Agência de Fomento do Estado, o Badesc, onde já foi analista de Planejamento e Financeiro, gerente de Auditoria Interna e de Planejamento e Inovação. Há quase 100 dias assumiu a presidência e emplacou um novo estilo, que se percebe até na hora da entrevista.

Ao invés de receber os jornalistas da ADI-SC e da Adjori-SC no gabinete da Presidência, recebe na sala de reunião. Simplesmente porque o gabinete da Presidência não existe mais, uma vez que foi transformado em um amplo espaço de trabalho ocupado pela diretoria, sem divisórias, sem diferenças hierárquicas.

Machado comemora os novos caminhos da agência de fomento catarinense.

 “Não me lembro de tamanha proximidade das secretarias com o Badesc e vice-versa. O trabalho é feito em sintonia e com muita colaboração pelo conjunto do governo.”

Andréa Leonora e Murici Balbinot
Florianópolis

ADI-SC/Adjori-SC – O senhor assumiu há três meses. Como foi a condução nesse período e o que pôde ser feito?
Eduardo Machado – Temos estabelecida uma agenda dos 100 dias de gestão da nova diretoria, período que vamos completar agora, em 16 de junho. Estabelecemos uma agenda de trabalho, externa e interna, com importantes entregas, em especial para a sociedade empresarial catarinense, que é o nosso carro-chefe, é para quem existimos. Trabalhamos intensamente nesses quase 100 dias e, por exemplo, já temos um novo modelo completamente reformulado para concessão de crédito aos municípios catarinenses, no programa Badesc Cidades. Ele consiste na troca de um modelo partidarista, digamos assim, para um modelo onde prevalecem critérios totalmente técnicos.

ADI/Adjori – Que critérios são esses e o que muda efetivamente?
Eduardo Machado –
Pontuamos o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município, a evasão populacional, quanto recebe de tributos federais e estaduais, se já foi cliente do Badesc, se tem contrato ativo nos últimos cinco anos com o banco… Estes e outros critérios técnicos nos ajudaram a ranquear os projetos que seriam prioritariamente atendidos. Fizemos um protocolo de intenções, algo igualmente inovador, fizemos contato com a Fecam (Federação Catarinense de Municípios) e, pessoalmente, com todas as prefeituras no sentido de convidá-las a apresentarem seus projetos para o Badesc. Esses projetos também foram pontuados de acordo com seu objetivo, enquadrados nos critérios o que nos levou ao ranking de prioridades. Recebemos R$ 246,5 milhões em projetos de 87 prefeituras. Na primeira etapa vamos atender 58 projetos, os mais bem pontuados, que somam quase R$ 60 milhões. Como a bandeira do governador Carlos Moisés é a da infraestrutura, nos pautamos por aí, dando mais pontos às propostas que favoreciam a infraestrutura municipal, como pavimentação, máquinas e equipamentos…

ADI/Adjori – Qual o perfil das cidades que tiveram os projetos selecionados?
Eduardo Machado –
Na sua grande maioria são pequenos e médios municípios. Nenhum grande município foi contemplado nessa primeira etapa. Apresentaram, mas não foram contemplados. Existe uma limitação de R$ 20 milhões por projeto e o valor para a primeira etapa está pulverizado, como falei, em pequenas e médias cidades catarinenses. Uma diferença importante da concentração dos recursos que antes se dava até por força de sigla partidária. Agora, vemos os pequenos municípios do Oeste do estado levando a maioria dos recursos contemplados. Independentemente de quem é o prefeito ou seu partido. Esse foi um desafio que o governador Moisés nos deu.
 
ADI/Adjori – Qual o desafio?
Eduardo Machado –
Quando fomos falar do Badesc Cidades para o governador, ele disse ‘esse programa pode ser melhorado’. E por isso entregamos esse novo modelo, que, eu diria, é um modelo revolucionário, porque privilegia o município que mais necessita de desenvolvimento, seja porque ocorreu uma evasão populacional muito grande, ou porque o IDH é abaixo do amplamente aceito, ou ainda porque nunca foi cliente do Badesc antes. E aqui vale um destaque: na história do Badesc Cidades, criado em 1999, só não atendemos 13 municípios. Desses 13, dois foram contemplados agora pelo critério técnico de nunca ter operado com o Badesc antes. Se fosse com outra metodologia, talvez continuassem de fora. E já colocamos como meta de diretoria visitar, até o final de agosto, os prefeitos dos onze municípios que nunca acessaram recursos com o Badesc. Outra vantagem que preciso destacar é que o novo modelo reduz o ticket médio com o setor público. Tínhamos uma concentração de recursos bastante significativa e essa concentração praticamente se desmanchou com esse novo modelo e a nova tecnologia. Se formos comparar como contratava antes de como contrato agora, antes a concentração de recursos era muito maior em alguns municípios do que temos hoje. Hoje eu tenho uma pulverização dos recursos, atendendo mais municípios com valores menores, mas com grande impacto em geração de empregos locais, em atividade econômica e em melhoria de qualidade de vida para as populações.

ADI/Adjori – Há uma mudança também nas gerências regionais. Elas deixarão de existir?
Eduardo Machado –
Essa foi outra importante entrega que temos para os 100 dias, que é remodelagem de atendimento aos clientes do setor privado. É um novo jeito de interagir com o mercado, que consiste em o Badesc estar mais presente e mais próximo do empreendedor catarinense. Como funcionava antes? Eu tinha seis escritórios nas principais mesorregiões – Florianópolis, Joinville, Criciúma, Lages, Chapecó e Blumenau. Nossos gerentes faziam algumas visitas, de acordo com a interação com as entidades empresariais, mas, sobretudo, ele lidava com trâmite interno dos processos dos clientes, lá na ponta. Ele atendia uma demanda espontânea do empresário em procurar o Badesc. No novo modelo, continuamos tendo a presença do gerente de negócios atendendo a mesma região, mas com uma agenda direcionada e elaborada pela sede.