Arqueologia e tecnologia: a inovação no ensino sobre os Sambaquis através do uso de um jogo eletrônico

Jéssica Mendes Cardoso

Arqueóloga do Grupep

Geovan Martins Guimarães
Arqueólogo Coordenador do Grupep

Sambaquis são sítios arqueológicos formados pelo acúmulo de vestígios de fauna, principalmente conchas de moluscos, que apresentam datações que vão de oito mil até mil anos atrás. No Brasil, eles ocorrem em todo o litoral, do Amapá até o Rio Grande do Sul, sempre localizados próximos a corpos d´água como rios, mangues, lagoas e oceano. A maioria deles é de cemitérios, que se mantiveram preservados ao longo de milhares de anos. Seu estudo permite que os arqueólogos desvendem o passado dos povos indígenas que habitavam o território brasileiro antes da colonização portuguesa.

No litoral Sul de Santa Catarina, contamos com alguns dos maiores sambaquis já registrados, parte deles chega a atingir 30 metros de altura, e por isso são chamados sambaquis monumentais. O maior fica no bairro de Garopaba do Sul, em Jaguaruna, com sete hectares. Na Amurel, existem pelo menos 120 sambaquis.

Ao longo do tempo, esses sítios foram desmontados para a retirada das conchas na produção de cal, bem como para utilização do material em aterros, principalmente na construção e manutenção de estradas. Atualmente, a integridade ainda é ameaçada, gradativamente a expansão urbana irregular em áreas costeiras e praticantes de esportes radicais (como o motocross), avançam sobre os sambaquis provocando a depredação do patrimônio.

Pensando na necessidade da preservação e disseminação do conhecimento sobre os sambaquis, pesquisadores do Grupo de Pesquisa Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas (Arise) do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia (Grupep) da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), desenvolveram o primeiro jogo eletrônico sobre a temática dos Sambaquis. O game se chama ‘Sambaquis: Uma História Antes do Brasil’, que foi programado e modelado em 3D por Alex Martire, coordenador do projeto. Tomás Partiti foi o responsável pela construção da história e narrativa; e Jéssica M. Cardoso e Renata Estevam foram supervisoras do conteúdo científico utilizado.

O jogo foi lançado durante a 13ª Semana dos Povos Indígenas, organizada pelo Grupep, em Tubarão, e na 6ª Semana Internacional de Arqueologia dos Discentes do MAE/USP, em São Paulo. No Sul de Santa Catarina, mais de dois mil estudantes dos ensinos Fundamental e Médio tiveram a oportunidade de conhecer o game. No Estado de São Paulo, 50 escolas estão o testando. Além do jogo, também foi disponibilizado um guia didático e um aplicativo de celular de Realidade Aumentada, que servem de apoio para os professores aplicarem o conteúdo em sala de aula.

O enredo é dividido em três partes: A primeira ocorre em dias atuais em uma escavação arqueológica de um sambaqui; a segunda acontece há três mil anos, na qual o jogador vivencia o ambiente pré-colonial, coletando recursos e vivenciando o cotidiano dos povos construtores de sambaquis; e a última é uma simulação de um museu contemporâneo, em que todos os objetos arqueológicos encontrados nas etapas anteriores passam a ser expostos, com suas respectivas informações científicas disponíveis.

Os materiais apresentados no jogo foram inspirados nos recuperados pelas pesquisas feitas na região Centro-Sul de Santa Catarina (Laguna, Jaguaruna e suas adjacências), sob a guarda do Grupep. Optou-se pela elaboração de um ambiente tridimensional de alta qualidade gráfica, para retratar, de maneira mais fiel, as atividades, interações e objetos. O pano de fundo do game é uma paisagem inspirada em um ambiente lagunar hipotético, baseado em informações arqueológicas, geológicas e paleoambientais. O jogador é livre para escolher a missão que desejar, porém, a realização de algumas fases depende da conclusão de outras. O jogo está disponível em português e inglês, amplificando a utilização e promoção desses sítios arqueológicos.

Os resultados observados com o jogo têm sido excelentes! A tecnologia atrai a atenção dos jovens, imersos em um ambiente eletrônico simulado, que vivenciam e interagem com o conhecimento produzido acerca dessa era da história do Brasil. O aplicativo, além de ser uma importante ferramenta didática a ser utilizada por professores no ambiente escolar, também se apresenta como um exímio instrumento para a socialização dos resultados de pesquisa e valorização do patrimônio arqueológico nacional.

Você sabia?
O Grupep Unisul desenvolve, há 19 anos, ações educativas visando a sensibilização para com o patrimônio arqueológico brasileiro. São desenvolvidas ações como: visitas monitoradas ao laboratório de pesquisa e aos sítios arqueológicos regionais; oficinas pedagógicas, exposições, cursos de formação para professores e eventos educativos. Essas atividades ocorrem durante todo o ano, de forma gratuita, tendo como público participante: estudantes do ensino básico, graduação, professores e comunidade geral. Para agendar basta entrar em contato por meio do telefone: (48) 3621-3195. Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho do Grupep, acesse nossas mídias sociais: facebook.com/grupeparqueologia e Instagram: @grupep.arqueologia.

Fique atento!
O jogo ‘Sambaquis: Uma História Antes do Brasil’ não possui fins comerciais, ou seja, é totalmente gratuito e pode ser utilizado por qualquer pessoa interessada na história e arqueologia brasileira. Ele foi desenvolvido para toda a rede de ensino público e privado, do ensino fundamental à pós-graduação. Faça o download no site: www.arise.mae.usp.br/sambaquis e aprenda mais sobre este patrimônio nacional.