Para ser feliz

Ler o noticiário é um desafio para o povo brasileiro ultimamente. Não por culpa dos jornalistas, que precisam reportar o que ocorre, mas pelo tipo de assunto destacado. Corrupção, dinheiro e poder. A tríade que leva os homens à loucura. O jeito que muitos indivíduos encontraram para justificar a própria existência, isto é, a vida medida pela quantidade de barras de ouro que se têm, mesmo que isso envolva sacrificar a própria ética. 

Lembro-me de ler belíssima história em livros que retratam o período do Império Brasileiro. José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, encerrou sua vida distante dos grandes palanques, apesar de sua contribuição imensurável para a história do país. Em um primeiro olhar, pode-se afirmar que faleceu em extrema penúria. Todavia, seu tesouro não estava na pujança das posses. Ao contrário, a riqueza do estadista era um grande volume de livros. 

Em janeiro, visitei Portugal. Observei atentamente a opulência dos castelos do país. Hoje, patrimônio nacional. Ontem, espaços de verão, de administração, de repouso. A magnitude de imensas edificações voltada para alguns grupos familiares os quais, durante muito tempo se acreditou, ganharam o direito divino de governar. Se Deus dá muito a poucos e pouco a muitos, trata-se de uma realidade pela qual devemos conviver. Considero que fazer o melhor com as ferramentas que se têm é o nosso principal desafio.

Se viver, para você, é ter um castelo de proporções, que sejas feliz. Entretanto, penso que a felicidade, a verdadeira felicidade, custa muito pouco. Ela está logo ali, no toque do amor, na interação com as pessoas, na perspectiva do agora. Superestimar vantagens materiais cria uma representação de bem-estar, mas não o bem-estar em si. Os reis da história lusa não levaram nenhuma de suas riquezas para a morte. Então quanto vale essa luta desenfreada pelo dinheiro, a qualquer custo? Não vale nada.

Desse modo, uso os exemplos dos livros de José Bonifácio como um orientador pessoal: acredito que tudo na vida passa. O conhecimento, entretanto, fica, repercute, reverbera ao longo das gerações. O conhecimento engrandece, é nossa maior riqueza, nosso maior segredo. Os castelos, por sua vez, viram ruínas. Pense nisso. Como dito, a felicidade custa muito pouco. Basta abrir os olhos ao que é verdadeiramente importante.