Adaptar-se ou morrer

Quando se fala em valorização docente, a primeira coisa que vem à cabeça de quem está ouvindo é a necessidade de aumentar salários. Sim, isto faz parte e com certeza é um dos principais critérios para que possamos dar condições mínimas para que nossos educadores possam se dedicar a formação de seus educandos, mas não é tudo. Existem muitas outras necessidades que por vezes são ignoradas neste contexto, e uma delas é a formação continuada, seja por meio de cursos rápidos ou de formações mais completas.

Um exemplo disso é uma pós-graduação ofertada por uma instituição do Estado para seus docentes, intitulada de “MBI em Educação para o Profissional do Futuro”, que visa qualificar os docentes para os desafios de ser professor no século 21, onde a tecnologia se faz presente em tudo em nossa vida, inclusive em sala de aula, e que nosso aluno a cada dia que passa “exige” novas formas de aprendizado, além do tradicional “fala e giz”. No último dia 15, foi promovida uma aula especial com os alunos das turmas já iniciadas com transmissão online para todo Estado, e neste grande encontro foram convidados os palestrantes Murilo Gun e Luis Rasquilha para falar de tecnologia, educação e criatividade. Ao fim da fala de ambos, tive a honra de conduzir uma roda de conversa com eles. Como foram mais de três horas de muito aprendizado, neste texto vou apresentar as principais reflexões apresentadas pelo prof. Rasquilha.

Vivemos grandes mudanças no início deste século, além de, como afirma o físico e escritor americano Chris Anderson: “Não vivemos uma era de mudanças. Vivemos uma mudança de era!”. Isso é tão verdade que para efeitos de ilustração podemos citar o tempo necessário para dobrar o conhecimento gerado no mundo, se no ano de 1900 eram necessários 100 anos, e em 1945 somente 25 anos, já em 2013 isso acontecia a cada 13 meses e em 2020 deverá ser a cada 12h. Ou seja, será impossível qualquer ser humano acompanhar todo conhecimento gerado no mundo em apenas meio dia, o que dirá ao longo de sua vida inteira. Você acha que isso é exagero? Talvez até seja, mas já parou para pensar que em poucas décadas nós passamos da fita cassete para o CD, e depois para o mp3 e agora para a virtualização completa de músicas “na nuvem”? O mesmo pode ser dito sobre as fitas de vídeo e locadoras que deram lugar para o streaming de vídeo pela internet, e muitas outras coisas que deixaram de existir e nem sentimos falta, como por exemplo as máquinas fotográficas com filmes.

O grande ponto de virada pode ser considerado o ano de 2007, quanto Steves Jobs apresentou para o mundo o primeiro Smartphone, o iPhone. Nestes 11 anos, este “aparelhinho” evoluiu muito e hoje substitui inúmeros outros dispositivos eletroeletrônicos. Você já parou para refletir tudo que pode fazer com seu telefone hoje? E inclusive estudar? Veja a ilustração e com certeza encontrará outras funções a mais que seu telefone também faz.

Convergência de vários “gadgets” para apenas um smartphone
Nós que temos mais de 30 anos talvez sejamos os últimos indivíduos da espécie Homo Sapiens, pois para o palestrante os nascidos a partir do fim dos anos 1990 já estariam formando uma nova espécie, o homo algoritmos (geração conectada) cujos maiores medos são que a internet não conecte ou que a bateria acabe e não possam recarregá-la. Muitos jovens prefeririam ficar sem água em casa, mas não sem internet.

Os novos pesadelos das novas gerações
Estas mudanças todas transformam as relações, tanto que é possível hoje que o cliente saiba mais do que o vendedor, que o paciente vá até o médico sabendo sua docência, e também, que o aluno possa estar mais atualizado do que o próprio professor. Vejamos em números, em apenas 60 segundos são trocadas mais de 38 milhões de mensagens pelo WhatsApp, assistidos mais de 4,3 milhões de vídeos no YouTube e são gastos mais de U$ 862 mil em compras online em todo o planeta.

Então, professor, neste cenário de mudanças a uma velocidade nunca antes vista, temos que nos adaptar o mais rápido possível, pois caso contrário, correremos o risco de sermos os próximos substituídos pela tecnologia, inclusive por professores online de inteligência artificial que já existem e estão em teste.

Como um caminho possível a trilhar, foram apresentadas cinco megatendências em educação para os próximos anos, as quais devemos ficar atentos:

• Empoderamento: como o poder está cada vez mais no aluno, o papel do docente inspira a descoberta e não reproduzir a “verdade absoluta”;

• Experimentação: permitir que o aluno teste e inclusive falhe em sala de aula, só assim o aprendizado será mais completo;

• Ideação/cocriação: permitir que as ideias pulverizadas possam juntar-se e formar conceitos sólidos;

• Nanodegree: acesso a informações certas na hora certa, e não mais carregar grande quantidade de informações para quem sabe um dia utilizá-las;

• Edutech: fazer da tecnologia um aliado, não um inimigo, pois caso contrário ela vencerá.

E uma frase final para reflexão:
“Como você consegue ajudar o seu aluno a ser único?” – Luis Rasquilha

Luis Rasquilha
É natural de Portugal e já morou em oito países, é presidente e CEO da Inova Consulting e Inova Business School, professor convidado da FIA e colunista da Rádio CBN. Você pode acompanhar seus comentários por meio do podcast: CBN Profissional do Futuro.