“A demanda da sociedade é infinita”

Foto: Priscila Loch/Notisul
Foto: Priscila Loch/Notisul

Perfil
A experiência em administração pública vem muito antes de ser eleito prefeito. José Benjamin Arent já foi servidor de carreira, contador e secretário municipal. Como a maioria dos prefeitos da Amurel, teve dificuldades financeiras no primeiro ano de mandato, mas conseguiu fechar com todas as contas pagas e espera que em 2018 a situação seja mais tranquila. Os seus maiores desafios são manter os cerca de 700 quilômetros de estrada de chão batido em boas condições de tráfego e buscar os recursos necessários para os investimentos e gastos necessários, principalmente na saúde.

Priscila Loch

Armazém

Notisul – Como foi o seu primeiro ano de mandato e como está sendo esse início do segundo?
Zé –
O primeiro ano é sempre difícil, uma gestão nova. Só que eu já tinha uma experiência porque trabalhei na prefeitura 30 anos. Fui servidor de carreira, contador, secretário. Eu já tinha certo conhecimento de administração, já tinha um domínio e isso facilitou a administração no ano passado. Apesar da crise política e econômica, a gente conseguiu atender a nossa população em todos os setores. Mas foi um ano bem difícil.

Notisul – Foi difícil para a maioria dos prefeitos, não é mesmo?
Zé –
Não é exclusividade nossa, foi geral. Tentamos enxugar a máquina, cortar gastos para poder fechar o ano, pagar o 13º salário, a folha e os fornecedores.

Notisul – Conseguiu fechar o ano com tudo em dia?
Zé –
Conseguimos, graças a Deus. Não ficamos devendo nada. Esse ano é outra batalha.

Notisul – O que foi mais difícil de resolver em 2017?
Zé –
Nosso município é agrícola, tem muitos quilômetros de estradas vicinais. Existe aqui muita produção de suínos, gado leiteiro, peixes, gado de corte, e as estradas têm que estar sempre em boas condições para atender os produtores. São cerca de 700 quilômetros de estrada de chão batido. Conseguimos passar os equipamentos da Secretaria de Transportes e Obras praticamente uma vez por ano em cada rua. Esse ano, teve bastante chuva, prejudicou bastante as estradas e a população quer que resolvamos tudo rápido, mas não tem como, tem que priorizar os piores para dar condições de tráfego ao pessoal do interior. Esse foi o grande desafio. Outro desafio é a saúde. A demanda da sociedade é infinita e os recursos são finitos. Não fecha a conta.

Notisul – Com a crise que estamos vivendo, muitas famílias cancelaram seus planos de saúde e migraram para a rede pública.
Zé –
Justamente. Nunca vi tanta demanda. E o povo quer ser atendido. Não quer saber se tem dinheiro ou não, se a situação está difícil, temos que resolver essa equação.

Notisul – A população paga impostos e quer ver respostas. Em contrapartida, a situação financeira das prefeituras está cada vez mais complicada.
Zé –
A demanda é grande, mas os recursos são os mesmos. Só para se ter uma ideia, a nossa arrecadação do ano passado, foi 1,9% a menos que a de 2016. Baixou quase 2% e tudo ficou mais caro. Tive que dar reposição salarial para todos os servidores, de 5,34% e não tive mais incremento nos recursos, principalmente com relação ao FPM, a maior receita nossa, que no ano passado foi baixa. O IPTU e o ICMS até cresceram, só que o FPM não.

Notisul – Essa questão do FPM é uma luta bastante antiga dos prefeitos.
Zé –
No início do ano, o fundo vem melhor, mas quando chega na metade do ano tem uma queda significante e temos que estar preparados para isso.

Notisul – E para esse ano, o que o senhor tem projetado?
Zé –
Estamos com obras. Fomos beneficiados com um prédio para o Cras, através da Secretaria de Estado da Assistência Social. O estado licitou essa obra, já foi dada a ordem de serviço e a empresa já está se instalando para construir essa sede para o Cras. Também estamos construindo uma quadra coberta, anexa à Escola Antônio Diomário da Rosa, na comunidade de Santa Terezinha, emenda do deputado Marco Tebaldi, com contrapartida da prefeitura. Também estamos recuperando a ponte do centro da cidade que apresentou problema de recalque no pilar, por meio de convênio com o governo do Estado. Já foi licitada, a empresa já se instalou e a ora inicia em breve. Outras obras de pavimentação também já estão encaminhadas e emendas de outros deputados que no decorrer do ano, junto com a Caixa, vamos aprovar os projetos para beneficiar nossa população.

Notisul – Falando mais em médio prazo, qual o planejamento até o fim do mandato, independente do senhor tentar ou não a reeleição?
Zé –
Uma das nossas prioridades é ampliar as vagas nas creches. A demanda é alta. Na rede de ensino hoje, incluindo ensino infantil e fundamental, atendemos pouco mais de 800 crianças. Tínhamos certa falta de vagas nas creches. Temos parcerias com empresas privadas, que cedem o espaço. Inauguramos em mais uma empresa recentemente que criou cerca de 40 vagas. Também fizemos parceria com as APPs para promover melhorias em cinco escolas. As APPs têm nos ajudado muito, daí a coisa funciona. Estamos terminando a última. Isso é essencial para dar melhores condições para as crianças estudarem. Vamos procurar também atender as reivindicações de infraestrutura da população. Os moradores querem é calçamento. No verão, é muita poeira. Queremos pavimentar o maior número de ruas possível. Vamos agilizar os recursos. Teria o Fundam, que parece que agora não vai vir mais. Estávamos contando com isso. O governador Raimundo Colombo no ano passado esteve na Amurel, ouviu os prefeitos, perguntou quais eram as prioridades, cada um apresentou seu projeto e agora não sabemos mais o que vai acontecer. Criou uma grande expectativa, mas veio a ducha de água fria. Se não sair o Fundam, temos que buscar outros meios.

Notisul – Enquanto não houver uma distribuição mais justa dos recursos, os prefeitos têm que ser criativos né?
Zé –
Tem. Porque hoje está tudo centralizado lá em cima. Os prefeitos têm que ir de pires na mão em Brasília. Estivemos lá em fevereiro. Temos que ir lá, principalmente na época de distribuir as emendas. E às vezes conseguimos a emenda, mas o governo não paga. Depois, tem mais uma briga para liberar. Se não for assim, como é que vamos conseguir investir?

Notisul – Hoje, qual a arrecadação média de Armazém?
Zé –
No ano passado chegou em torno de 1,6 milhão. Temos 8,5 mil habitantes e hoje o que representa muito em retorno de ICMS é a agricultura. Mais de 60% do ICMS depende do movimento da agricultura, do agronegócio. A principal produção é de suíno, é o carro-chefe. A piscicultura está se destacando bastante também. Segundo a Epagri, Armazém é o segundo produtor de peixe do estado. O gado leiteiro e de corte vêm em seguida. Como esse pessoal é tudo do interior e tem muita estrada de chão, temos que dar condições para eles. Esse pessoal conseguiu vencer a crise e está se mantendo no mercado. Tem também o fumo, mas a produção caiu bastante, os produtores começaram a migrar para outras áreas.

Notisul – Outras ações que mereçam destaque?
Zé –
Temos mais de 200 estudantes, principalmente universitários e de cursos técnicos, que estudam em Capivari de Baixo, Tubarão e Orleans. Cadastramos todos eles e estamos disponibilizando transporte escolar desde o ano passado. Muitos são carentes e não teriam condições de se deslocar. Investindo na educação ganhamos também no social. Tem famílias que não são estruturas e os pais deixam a responsabilidade para o poder público.

Notisul – Armazém também se destaca no ramo de confecção. Como está esse setor?
Zé –
Temos bastante facções. Estão com dificuldades, mas conseguindo vencer a crise. Até estamos conseguindo ter mais admissões do que demissões. É esse setor que balança mais, pois são várias facções. Mas foi o setor que mais sofreu com a crise, passou apertado o ano passado. Felizmente, conseguiu vencer e está indo. Outras dificuldades que essas empresas tinham era com relação aos pontos facultativos. Nas facções, a maioria das funcionárias é mulher. Muitas não têm com quem deixar os filhos e nos pontos facultativos faltavam ao serviço. No ano passado, acabamos com os pontos facultativos. Não é justo os servidores estarem recebendo e ficarem de folga, enquanto na iniciativa privada a mãe quer trabalhar e não tem onde deixar o filho. Outras prefeituras da Amurel também tomaram essa medida. Tivemos o apoio dos empresários e saímos ganhando. Neste ano, se fosse para decretar ponto facultativo seriam quatro ou cinco. É um número muito alto. Reflete na economia e no ano letivo.

Notisul – Hoje, a Amurel está sem nenhum representante na Assembleia Legislativa e tambpem na Câmara dos Deputados. Como o senhor avalia essa situação?
Zé –
Vamos decidir em grupo no partido para ver que caminho vamos seguir nas próximas eleições. Eleger um representante da Amurel é muito importante. Essa falta reflete bastante. Daí temos que buscar nos outros deputados da região sul. Graças a Deus eles nos atendem bem, mas se tivéssemos deputados daqui seria bem melhor.

Notisul – Então, na sua avaliação, os eleitores precisam se conscientizar sobre a importância do voto regional?
Zé –
Sim. Na eleição para deputado, não baixa de 80 candidatos que levam votos em Armazém. É muito pulverizado. No fim, ficamos sem representante aqui. São feitas campanhas, mas a população tem que ficar mais atenta a esse fato. Independente de partido, vamos torcer para que alguém se eleja para representar a Amurel. 

Notisul – Não sei se a sua opinião é a mesma que a minha. Mas o grande número de candidatos atrapalha. Falta unidade.
Zé –
Verdade. São muitos candidatos. Eles dividem os votos e não conseguimos eleger ninguém. Se fechasse em torno de um candidato, mas tem a questão política né. Todo partido quer colocar seus candidatos, daí fica difícil chegar.