Saída de um beco sem saída – Parte 1

As crises….

Elas podem vir como uma torrente repentina de águas, um vento impetuoso que chega sem avisar. Nos sentimos, e os minutos se transformam em horas, quando cada movimento do relógio parece denunciar a sombra que lentamente recai sobre nós…

As crises…

Algumas são imprevisíveis como um ladrão na noite, prestes a se abater sobre sua vítima. E de uma hora para a outra, passamos a lutar com um intruso que procura roubar a nossa rotina, ocupando nossa mente com sua incômoda presença. 

Algumas vezes nós mesmos provocamos as crises, e nossos pensamentos rodam em torno do “E se eu não tivesse feito, falado…“? Sim, a situação torna-se, na maioria das vezes, insuportável.

Em certa ocasião, o rei Davi, após longo período de guerras e vitórias, resolve relaxar sua rotina e, ao invés de sair à guerra como sempre fizera, resolve ficar em casa. Esse invariavelmente é o começo de muitas crises – deixamos de lado nossas responsabilidades e permanecemos onde não deveríamos mais estar. 

O lugar de Davi era na guerra, mas ele resolve ficar em casa. Do mesmo modo, quantas vezes relaxamos demais com as nossas obrigações? Deveríamos estar trabalhando, mas jogamos paciência no computador… um sofá e uma TV ao invés de estudar… achar que a escola ou a igreja tem o papel disciplinar e ensinar os filhos, enquanto estamos ocupados demais conosco mesmos… deixar para terapeutas resolverem nossos problemas conjugais, e não tomamos providência alguma, a não ser pagar o analista…

Sua atitude o levou a desejar uma mulher casada, com o qual se relacionou e teve um filho. Para acobertar o adultério, ele envia o marido dela para a frente de batalha, onde ele é morto. No entanto, a criança é acometida de grave enfermidade, e Davi busca a Deus em busca da cura. 

E buscou a Davi a  Deus pela criança; e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra: então os anciãos da sua casa se levantaram e foram ter com ele, para o levantar da terra: porém ele não quis, e não comeu pão com eles“. 2Sm 12.16-17

O que se passava na cabeça de Davi? Teria ele revivido os momentos no terraço, onde contemplava aquela mulher? Quem sabe rememorando os momentos anteriores à ordem para a trazer diante de si… ou o conselho ignorado de Joabe (ela não é sua mulher, mas de Urias…). Quantas vezes já nos sentimos assim, olhando no espelho e pensando: se ao menos…. eu não atendesse aquele telefonema, ou não retribuísse o olhar… ou não aceitasse o suborno… ou não cedesse à pressão da maioria… Se ao menos…

Mas o fato é que, depois de confrontado pelo profeta Natã (cerca de 12 meses depois do fato) lá estava ele, enfrentando a realidade da sentença de morte que pairava sobre a criança e diante dAquele que poderia realizar o milagre. 

Interessante a atitude dos servos, apreensivos sobre o que fazer com o rei. “Será que podemos ajudar em algo? Quem sabe possamos fazer alguma coisa para amenizar sua aflição” …porém o rei prontamente recusa qualquer ajuda. A dor é grande o bastante para lhe roubar o sono, a fome e a companhia de seus amigos. Natã, seu conselheiro, profeta e amigo não aparece na cena. Ninguém estava em condições de ajudar Davi, assim como também estamos muitas vezes sozinhos em momentos como esses. Por mais bem intencionadas que sejam, a ajuda que precisamos não é humana, mas divina. E precisamos encarar isso de frente, pois tal atitude pode evitar um desastre maior ainda. Aliás, o que poderia ser pior do que contemplar os efeitos de nossas falhas? Creio que perder a fé e a esperança…

Mas não vamos adiantar o assunto… vejamos o desenrolar da cena: “E sucedeu que ao sétimo dia morreu a criança; e temiam os servos de Davi dizer-lhe que a criança era morta, porque diziam; Eis que, sendo a criança ainda viva, lhe falávamos, porém não dava ouvidos à nossa voz; como pois lhe diremos que a criança é morta? Porque mais mal lhe faria. Viu porém Davi que seus servos falavam baixo e entendeu Davi que a criança era morta, pelo que disse Davi a seus servos: É morta a criança? E eles disseram: é morta” 2Sm 12.18-19

Chega então a notícia de que a criança havia falecido. Nada mais se podia fazer. Que atitude nos sobra em situações assim? O grande perigo aqui é deixar-se arrastar ainda mais para o fundo do poço. O coração pode tornar-se cheio de medo e culpa e o amanhã passa a ser um quadro negro sem perspectiva alguma. Muitos aqui tornam-se tão amargurados consigo mesmos e com a vida que chegam ao ponto de não suportarem nem mais respirar, e acabam tirando sua própria vida. Realmente, o quandro é desesperador. 

As crises. O que fazer quando nosso mundo é virado, repentinamente, de cabeça para baixo?

Veremos isso na próxima semana.